domingo, 22 de julho de 2012

A greve nas Federais na visão de um não ativista


Depoimento de um professor de federal não ativista e cientista reputado.
Grosso modo, podem-se dividir os trabalhadores das Universidades federais em três grupos: os funcionários, os professores ativistas e os acadêmicos não ativistas.
A estabilidade de emprego é uma necessidade, em alguns casos, e uma praga em outros. Justifica-se para permitir ao professor liberdade de pensamento. Não se justifica para funcionários. Mesmo no caso de professores, a estabilidade não os obriga a submeter-se a critérios de avaliação que permitam premiar os eficientes e punir os displicentes.
Na militância acadêmica, a ANDES sempre foi vista como carbonária. Para contrapor-se a ela, surgiu o PROINFES, de início mais moderado. A falta de disposição dos não-ativistas acabou fazendo com que os ativistas assumissem também o controle dela.
No atual movimento grevista, velhos guerreiros da ANDES limparam o pó das armaduras e caíram de cabeça na agitação.
Há um combustível que dá força para a ANDES: nas federais as conquistas salariais só acontecem em ambiente de greve. Mesmo assim, nos últimos anos sempre houve espaço para diálogos com o governo, ajudando a fortalecer o bom senso e os que não pensam a Universidade como palco de lutas políticas.
Desta vez, não houve interlocução. O governo demorou a se manifestar e o Ministro da Educação sumiu. Essa atitude enfraqueceu substancialmente os grupos moderados, que acabaram aderindo à greve.
Esse professor mesmo, fez questão de adiantar os trabalhos com alunos, praticamente fechou as notas para não prejudicá-los. Mas entrará em greve no segundo semestre também.
Para ele, a proposta do MEC é ótima. Como professor antigo e titulado, teria um aumento substancial. Defende também modelos flexíveis de remuneração que estimulem a produtividade e o aprimoramento. Mas reconhece que a proposta não resolve o problema dos professores mais novos.
Segundo ele - leve-se em contra que é a posição de um professor -, o maior problema da Universidade ainda é a questão da estabilidade dos funcionários.
No seu departamento, o laboratório contava com cinco funcionários estáveis. Chegaram a levar uma mesa de ping-pong para o laboratório e recusavam qualquer incumbência mais pesada. Para conseguir avançar nos trabalhos, precisou contratar dois funcionários de fora, engatados em projetos acadêmicos. Mas não teve como nem punir nem dispensar os funcionários relapsos. Restou-lhe apenas o falso consolo de impedi-los de entrar no laboratório.
Fonte: blog do nassif