quarta-feira, 30 de maio de 2012

A criminalização do enriquecimento ilícito


Com a proposta feita por um grupo seleto de renomados juristas que pretendem criminalizar o enriquecimento ilícito de servidores públicos dentro do contexto do novo Código Penal, estamos vivendo um momento sem precedentes.
Caso essa proposta seja aceita, pessoas que antes pretendiam ocupar cargos públicos com segundas intenções passarão a ter que pensar duas vezes. Atualmente não é crime enriquecer "sem fundamento", ou seja, sem que se tenha uma razão legal para tanto. Nos dias de hoje, pessoas mal intencionadas criam uma aparente razão para o seu estilo de vida incompatível com sua carreira profissional.
A carreira pública jamais deveria ser escolhida por aqueles que buscam riqueza. Deveriam se enveredar por esse caminho aqueles que o fazem por vocação, que buscam estabilidade profissional ou que não são afeitos às pressões e aos riscos da livre iniciativa.
O Brasil é um dos poucos países que não pune a empresa que corrompe as autoridades governamentais
É importante que se diga que todos os servidores públicos, sem exceção, estão sujeitos a princípios constitucionais que se traduzem, acima de tudo e de todos, em princípios éticos fundamentais que devem nortear o desempenho profissional dos mesmos, em estrita observância aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
No momento de sua posse, cabe ao servidor público fornecer cópia da sua declaração de bens por força da Lei nº 8.730/93. Significa dizer que se um servidor público vier a enriquecer por causa de atividades alheias à sua vida pública (direito este que não lhe está sendo tolhido), é justo e legal que o mesmo comprove a origem de seus recursos, observadas as formalidades existentes para garantir a confidencialidade destas informações. Ora, sendo lícita a atividade desempenhada por um cidadão, qual a dificuldade para provar sua renda? Aliás, não deveria ele fazer isso anualmente para o fisco nacional?
De acordo com o procurador da República Luiz Carlos Gonçalves, nosso ordenamento jurídico possui ferramentas capazes de punir indivíduos envolvidos em atos de corrupção e lavagem de dinheiro, faltando apenas criminalizar o enriquecimento ilícito na esfera pública. No entanto, especialistas no assunto afirmam que essa carência legislativa vai além.
Segundo a Controladoria Geral da União, não há corrupção sem que haja corruptor, e pelo que se vê das recentes leis anticorrupção adotadas por inúmeros países, inclusive por todas as outras nações que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), é fundamental punir o corruptor que se beneficia desse tipo de "vantagem".
O Brasil ainda é uma das poucas nações que se limita a responsabilizar - nas modalidades ativa e passiva - as pessoas físicas que praticam o crime de corrupção, deixando de punir a empresa corruptora. São essas empresas, e não simplesmente seus representantes, que buscam vantagens ilícitas para favorecer ou incrementar os seus negócios.
É disso que se trata o Projeto de Lei nº 6.826/2010, que agora está sendo chamado de Lei da Empresa Limpa (www.empresalimpa.org.br), em trâmite em Comissão Especial. Esse projeto responsabiliza, civil e administrativamente, a pessoa jurídica que - por meio de seus executivos, lobistas e representantes - corrompe autoridades governamentais de todos os escalões, de todos os poderes e em todas as esferas, tanto no Brasil quanto no exterior.
Em suma, é um dispositivo legal muito potente, similar à lei americana FCPA (do inglês, Foreign Corrupt Practices Act), que passou a existir em 1977 por causa do escândalo Watergate. Juntamente com a legislação UK Bribery Act, que passou a valer no Reino Unido em julho de 2011, essas leis anticorrupção são cada vez mais temidas no mundo corporativo pelas multas pesadíssimas impostas às empresas infratoras.
No próximo dia 23 de maio, está prevista uma importante votação na Comissão Especial formada pela Câmara Federal para dar prioridade e imprimir velocidade à tramitação do PL 6.826/2010. Especula-se, por outro lado, que aqueles que não desejam essa evolução social estejam tentando barrar a aprovação do texto final do projeto, postergando sua remessa para o Senado.
A Lei da Empresa Limpa é mais do que uma tendência global e, frise-se, foi um dos compromissos assumidos pelo Governo Federal quando da ratificação da Convenção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2000. Dos 39 países que ratificaram a Convenção Anticorrupção da OCDE, apenas Brasil, Argentina e Irlanda ainda não possuem em seu ordenamento jurídico esse tipo de lei que pune a empresa corruptora.
Enquanto o Brasil continuar deixando de cumprir com seus compromissos internacionais em áreas tão importantes como é o combate à corrupção, provavelmente continuará enfrentando dificuldades para receber o reconhecimento que almeja e - de fato - merece.
Por Leonardo Machado - sócio do escritório Machado Meyer Advogados.


Fonte: Valor Econômico

terça-feira, 29 de maio de 2012

Faça o que eu digo, mas não o que eu faço: as piores atitudes de um gestor

O dia de trabalho começa e seu gestor já chega com a corda toda: pede urgência na entrega dos relatórios e impõe prazos um tanto quanto absurdos para a execução de suas tarefas. E por mais chatas ou estressantes que tais solicitações possam parecer, nenhuma delas seria um problema, se não fosse por um pequeno detalhe: após delegar as atividades, seu supervisor tranquilamente toma um café, perde alguns minutos batendo um papo sobre amenidades com outro líder e se distrai na internet.
De enfurecer, não?
“A maioria não percebe quando faz isso e acha que está trabalhando de forma correta, pois não entende que as próprias atitudes costumam ser avaliadas de uma forma diferente pelos contratados”, alerta a consultora associada da Muttare, Roberta Yono Ebina.

Identifique

O gestor “folgado” como é popularmente conhecido, é o líder que adota o “faça o que eu falo, mas não o que eu faço” em seu dia a dia. Para ele, tudo pode. Já para os outros, não.
É dele, inclusive, a astúcia de sair do trabalho no meio da tarde de uma véspera de um feriado, por exemplo. “Existem gestores que, em feriados, já começam a emendar a folga com um dia de antecedência para evitar o trânsito”, comenta Roberta.
E acredite, esse tipo de comportamento não favorece nenhum pouco a reputação do líder. “Ao tomar essa atitude, ele entra em descrédito com a própria equipe que passa a não enxergá-lo com admiração”, diz a especialista em Soluções de RH da De Bernt Entschev Human Capital, Rosanne Martins, que afirma ainda que esse tipo de comportamento costuma resultar em uma insatisfação geral e até em uma insubordinação. 

Comportamentos trágicos

E engana-se quem imaginar que apenas essa atitude costuma se mostrar inadequada à um gestor. Outros exemplos, como a falta de cuidado com o dinheiro da empresa e a humilhação de alguns colaboradores, também são inaceitáveis.
“Existem gestores que afirmam o tempo todo que os colaboradores são peça-chave para o desenvolvimento da empresa, mas não perdem a oportunidade de humilhá-los quando é possível”, exemplifica.
Outro caso também comum costuma ser a falta de comedimento com os gastos da empresa, afinal, muitos pensam apenas no bem-estar próprio e não poupam um centavo da organização.
"Na compra de passagens aéreas é possível observar esse pensamento, já que muitos líderes não se preocupam em economizar nada e querem mesmo é viajar na melhor companhia", diz Roberta, que lembra que este comportamento também prevalece na reserva de hotéis.
“Os eventos para diretores acontecem em centros de convenções caríssimos, enquanto que os dos coordenadores e gerentes são programados para locais de qualidade inferior”, conta a consultora da Muttare.

Impactos

Hoje, os impactos de atitudes como as descritas anteriormente são diversos e não só contribuem para a piora do clima organizacional, mas também desmotivam a equipe e afetam os resultados da empresa.
“O colaborador passa a não se esforçar em suas tarefas, pois percebe que quem deveria ser o seu exemplo [o gestor] não faz o mesmo”, explica a consultora da Muttare.

Hora da vingança

Como consolo, saiba que essa política costuma prevalecer na empresa por muito tempo, afinal, os colaboradores sempre estão de olho em seus superiores e, não raro, têm a chance de dar o troco.
“Eles sempre se vingam dos chefes na avaliação de clima da empresa. Para identificar os gestores com esse perfil, basta avaliar os que estão bem abaixo da média. Quem pratica os valores da companhia, costuma ter um resultado positivo”, conta Roberta.

domingo, 27 de maio de 2012

Apontamentos sobre o caso Gilmar Mendes


1- Gilmar Mendes não tem poder para adiar o julgamento do mensalão. Os únicos ministros do STF que podem alterar a data do julgamento são Ayres Brito (Presidente), Joaquim Barbosa (Relator) e Ricardo Lewandowski (Revisor). Alguém acha Lula ingênuo a ponto de buscar apoio em quem não apita nada sobre o assunto?

2- O único Ministro do STF nomeado por FHC é Gilmar Mendes. Os demais foram indicados por Lula, Dilma, Sarney e Collor. Alguém acha Lula ingênuo a ponto de buscar apoio justo em alguém da oposição?

3- São fortes os rumores de que Gilmar foi a Berlim para se encontrar com Demóstenes (DEM) às custas de Cachoeira. Gilmar parece ter piscado ao fazer essa parceria com a Veja, demonstrando ter culpa no cartório. A matéria de Veja deste fim de semana sugere uma tabelinha com Gilmar para blindá-lo de seu comprometimento com a máfia de Cachoeira.

4- Gilmar Mendes também já viajou em voo fretado de São Paulo para Goiás, junto com Demóstenes Torres, com tudo pago por Cachoeira. Notícias dão conta de que está gravado e transcrito pela Polícia Federal.Foi divulgado nos meios jornalísticos que Gilmar Mendes contratou um membro da quadrilha de Cachoeira (Jairo Martins) para ser seu “personal araponga”.

5- Gilmar Mendes já fez dobradinha com a Veja em outras matérias suspeitíssimas. O episódio do “grampo sem áudio”, em que chamou Lula “às falas” até hoje não teve nenhuma comprovação material. Em outro episódio, técnicos varreram todos os equipamentos do Supremo e descartaram a hipótese de qualquer tipo de escuta eletrônica no Supremo. A matéria de Veja causou sérios danos ao governo Lula. Bem mais tarde, já feito o estrago na Abin, a matéria virou piada.

6- Em entrevista ao Estadão, o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, que se reuniu com Lula e Gilmar, negou enfaticamente a tal proposta indecente inventada pela Veja.

“O quê? De forma nenhuma, não se falou nada disso", reagiu Jobim, questionado pelo Estadão. "O Lula fez uma visita para mim, o Gilmar estava lá. Não houve conversa sobre o mensalão", reiterou.

7- Jobim também disse que em nenhum momento Gilmar e o ex-presidente estiveram sozinhos ou falaram na cozinha do escritório, como relatou Veja. "Tomamos um café na minha sala. O tempo todo foi dentro da minha sala, o Lula saiu antes, durante todo o tempo nós ficamos juntos", assegurou.

8- Veja disse que Lula acionaria o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência, Sepúlveda Pertence para apoiar a estratégia de adiar o julgamento. Procurado pelo Estadão, Pertence negou: "Não fui procurado e não creio que o ex-presidente Lula pretendesse falar alguma coisa comigo a esse respeito".

9- Inúmeras gravações feitas pela Polícia Federal revelam cumplicidade entre o Editor Chefe de Veja em Brasília, Policarpo Jr., e os membros da quadrilha de Cachoeira. Arapongas plantavam denúncias na revista com o objetivo de favorecer os negócios da máfia de Cachoeira. A CPMI vai investigar as ligações do crime organizado com jornalistas (Veja, Organizações Globo, Correio Brasiliense, e outros meios de comunicação aparecem em ligações comprometedoras). Veja sabe disso e tenta melar o jogo.

10- Gilmar Mendes pode ser denunciado por falta de decoro, por sustentar falso grampo, por ter envolvido outros ministros nessa farsa de agora, por ter caluniado o ex-presidente Lula. São fatos graves que indicariam até mesmo um pedido de impeachment do magistrado.

Fonte: Enviado por luisnassif;  Autor: Johnny Gonçalves; Por Johnnygo

Cachoeira grampeou o Supremo?

Texto de Luís Nassif

À medida que as peças do quebra-cabeça Cachoeira vão se juntando, vislumbra-se um quadro inédito na história do país. Tão inédito que ainda não caiu à ficha de parte relevante da opinião pública e, especialmente, do Judiciário. O desenho que se monta é uma conspiração contra o Estado brasileiro (não contra o governo Lula, especificamente), através de três vértices principais.

Havia o chefe de quadrilha Carlinhos Cachoeira. Sua principal arma era a capacidade de plantar matérias e escândalos, falsos ou verdadeiros, na revista Veja – o outro elo da corrente.

Durante algum tempo, graças ao Ministro Gilmar Mendes, seu principal operador – o araponga Jairo Martins – monitorou o sistema de telefonia do Supremo. E Cachoeira dispunha da revista Veja para escandalizar qualquer conversa, fuzilar qualquer reputação.

Essa é a conclusão objetiva dos fatos revelados até agora.

O que não se sabe é a extensão das gravações. Veja demonstrou em várias matérias – especialmente no caso Opportunity – seu poder de atacar magistrados que votavam contra as causas bancadas pela revista.

A falta de discernimento das denúncias, o fato da revista escandalizar qualquer conversa, a perspectiva de virar capa em uma nova denúncia da revista, seria capaz de intimidar o magistrado mais sólido.

A dúvida que fica: qual a extensão das conversas do STF monitoradas e gravadas por Jairo? Que Ministros podem ter sido submetidos a ameaças de denúncia e/ou constrangimento? 

Gilmar colocou a mais alta Corte do país ao alcance de um bicheiro.

Fonte: blog do Nassif

sábado, 26 de maio de 2012

O Brasil resiste


Passamos os últimos dias ouvindo advertências em tom sisudo sobre a economia brasileira. Comentei ontem que não faltam consultores ligados à oposição que enxergam uma catástrofe do tamanho de seus interesses e não da realidade. Erraram de novo.

Os dados divulgados pelo IBGE mostram que o desemprego em abril ficou em 6%, uma taxa um pouco menor do que março e uma das menores da história.

Já a renda média do trabalhador sofreu uma contração de 0,4% em um mês, mas chegou a um patamar 6,2% superior ao de abril de 2011.

Estes dados mostram um país que resiste e não quer entrar em recessão. São números que devem ser levados em conta pelo governo, pela oposição e pela população em geral.

Embora num ritmo menor, o crescimento continua. Se há um consenso de que no início de 2011 o governo exagerou nas medidas macro prudenciais de combate à inflação e esfriou a economia sem necessidade, os números do IBGE mostram uma recuperação.

Nesse ambiente, as medidas de estímulo que vem sido anunciadas  nos últimos dias têm chances de funcionar, para decepção dos comentaristas que se tornaram especialistas em ironizar os 4,5% de crescimento anunciados por Guido Mantega no início do ano.

Parece cada vez mais difícil que o país consiga crescer 4,5% em 2012. Mas a insistência dos adversários do governo em apresentar qualquer  número abaixo deste como uma derrota tem outra finalidade.

O objetivo é pressionar o governo para afastar-se dos compromissos que garantiram a aprovação popular de Lula e Dilma: crescimento e melhora na renda.

Em relação aos salários, nas seis maiores regiões metropolitanas a alta foi de 8%. O vencimento de empregadas domésticas subiu 11%, os chamados “outros serviços” cresceu 10% e no comércio a alta foi de 9%.

Quem acompanha o debate entre empresários, economistas e analistas em geral, já ouviu o argumento de que a situação chegou a um limite e que não é possível manter a mesma política. Acham que cederam demais. Já falam em mudar a legislação trabalhista sem oferecer contrapartidas aceitáveis para os assalariados.

Podemos aguardar pela nova fase do debate. Com sua popularidade recorde, Dilma será acusada de não tomar medidas impopulares para não perder apoio.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Novas estratégias para novos comportamentos


Mais do que nunca, para entender empresas e pessoas é preciso compreender o que as motivam, desde seus clientes, distribuidores, fornecedores e colaboradores.

Motivar equipes não é algo novo, tampouco reconhecer e premiar talentos. O que muda constantemente são as nossas reflexões sobre as gerações, os jovens que estamos motivando. Eles mudam tudo, representam novas linguagens, comportamentos e influenciam diretamente nossas empresas, e consequentemente, a idealização das campanhas de incentivo.

Se essa chamada geração "Y" já mudou a percepção das estratégias comerciais e de mercado, certamente elas foram afetadas, anteriormente, pelas gerações anteriores. Os primeiros a conquistarem o direito da juventude, inventando um novo jeito de viver, vestir e se apresentar foram os Baby Boomers, nascidos após a II Guerra Mundial, entre as décadas de 40 e 50. Eles receberam as chaves da internacionalização das empresas e romperam as barreiras físicas. Deixaram nossos escritórios mais descontraídos e revolucionários. Por causa disso, influenciam ainda hoje as nossas decisões.

Já a geração X, dos nascidos entre os anos 60 e 70, chegou com os direitos conquistados e promoveram a liberdade de expressão influenciada pelo avanço do marketing e da publicidade.

No meio corporativo, trouxeram a competitividade, o que libertou a criatividade que antes era permitida somente nas escolas. E essas transformações continuam refletindo na nossa forma de gerenciar pessoas e, por conseguinte, em como as motivamos e buscamos melhores resultados.

De anos para cá, inúmeros fatores representaram mudanças na gestão, nas estruturas hierárquicas e, portanto, nas aspirações profissionais de cada indivíduo. O sentimento que cada um carrega também não é imune ao progresso. É esse desejo, único e individual, que nos interessa, que instiga escolhas e nos mobiliza a superar desafios.

Atualmente, falamos de equipes interligadas, a primeira geração completamente globalizada por uma rede que ampliou e aproximou pessoas, lugares e companhias. É o acesso total. Não só o comportamento evoluiu, como as relações de negócio já não são as mesmas. Na era industrial, por exemplo, quem tinha o conhecimento, detinha o poder. Hoje, as administrações são participativas, o conhecimento é partilhado, multiplicado, e o poder segue a mesma relação.

Se hoje as mudanças do comportamento humano são orgânicas, são elas também que determinam o direcionamento das estratégias a serem adotadas nas campanhas de incentivo. Estamos falando de uma era, a mais pluralista da história comportamental, em que reconhecer as diferenças e as particularidades é um gesto natural. É orgânico, e nos permite mostrar que onde houver pessoas e objetivos a serem alcançados, uma campanha pode fazer a diferença. E o que vai garantir o sucesso delas é o pragmatismo, o realismo e a proximidade da campanha com o alvo.

A tendência para o setor de incentivo é um aumento dessa conscientização que depende de capacitação, motivação e bem-estar das equipes, para que possam desenvolver o melhor de suas performances. Se sua empresa consegue entender esses movimentos e toma parte disso, ela está no caminho certo.

Do contrário, a conformidade puxará uma estagnação geral. No início, pode parecer duvidoso, mas no final as grandes perguntas desses jovens se tornarão nossas ações, que cada vez mais estão conscientes e sustentáveis em todos os sentidos. Mais do que nunca, para entender empresas e pessoas é preciso compreender o que as motivam, desde seus clientes, distribuidores, fornecedores e colaboradores, que são os catalisadores das próximas mudanças, dos resultados e da realização profissional.

Por Sueli Brusco –  especialista em comportamento humano e como diretora da SimGroup inspira equipes a inovar e a realizarem sonhos. 

quinta-feira, 24 de maio de 2012

A internet e os filtros-bolha: não somos tão livres assim


O modelo de comunicação em rede, onde os usuários podem se conectar uns aos outros em qualquer canto do planeta, certamente provocou um profundo impacto na política, na economia, na cultura e nos negócios. Conceitos como Ciberdemocracia, wiki, Creative Commons e outros só existem porque a nossa comunicação não é mais mediada apenas por grupos editoriais por trás dos jornais e programas de TV, mas sim por servidores, operadoras de telefonia e motores de busca. A comunicação ficou mais horizontal, interativa, abrangente, inclusiva e participativa.

A evolução das tecnologias mediadoras - bem como dos interesses corporativos por trás da galáxia internet - estão enviesando essa pretensa liberdade sem que, muitas vezes, ninguém perceba. As operadoras podem copiar seus dados de navegação para fins publicitários na surdina, por exemplo - vide o caso da parceria entre a Oi e a Phorm. Outras vezes, somos nós quem concedemos essa liberdade - quando um aplicativo do Facebook solicita muitas permissões, digamos, e não nos preocupamos em revogar ou questionar.

Eli Parisier, jovem CEO de uma empresa de tecnologia, aponta outra vereda pela qual a Web está trilhando. E tem a ver com moderação espontânea e algorítmica de conteúdo nos mecanismos de busca e redes sociais. Quanto mais a Grande Teia se torna semântica, quanto mais ela busca evoluir no sentido de identificar o comportamento do usuário e levar conteúdo classificado pelas equações como relevantes, mais nós nos isolamos em uma bolha de interesses. E isso nos atinge de uma maneira imperceptível e entorpecente, um lacre informacional manobrado por algoritmos que quantificam e qualificam a vida online do usuário.

Há mais de uma década, o sociólogo Manuel Castells identificou esse tipo de comportamento ao relatar que existe uma tensão, uma dualidade entre a identidade do usuário e a Rede.

Em uma palestra no TED (confira o vídeo abaixo), Parisier aponta como esse fenômeno está se manifestando de forma imperceptível, porém bastante incisiva. "Aconteceu uma mudança na forma como a comunicação está fluindo online. Ela é imperceptível. E se não tomarmos cuidado, isso poderá vir a ser um grande problema", diz.

Se você não tem tempo ou paciência de assistir os 10 minutos de vídeo, eu explico: só aparecem na timeline do Facebook as postagens de perfis com os quais o usuário tem maior interatividade - seja através de comentários, curtidas, compartilhadas ou cliques. Mas quem decide isso não é o usuário. Da mesma maneira se dá a classificação de relevância no motor de busca do Google. O termo "Egito" para um determinado usuário pode redirecioná-lo a resultados genéricos, enquanto para outro aparece toda a cobertura sobre os protestos e a queda de Hosni Mubarak. Segundo Parisier, existem até 57 sinais que o Google observa sobre o usuário antes de determinar o que é interessante ou não (conte-me mais sobre o Mac que você está utilizando, ou sobre esses sites que você visitou semana passada). E aqueles filmes sugeridos na Netflix não são aleatórios, mas baseados na sua classificação de outros títulos e gêneros.

"Não é apenas o Google ou o Facebook. É algo que está varrendo a internet. Há uma série de empresas que estão fazendo esse tipo de personalização [...] E isto nos leva muito rapidamente para um mundo no qual a internet nos mostra aquilo que ela pensa que queremos ver, mas não necessariamente o que precisamos ver"

O conjunto desses filtros de personalização forma o filtro-bolha, segundo Parisier, o seu "universo pessoal" de informação.

De certa forma isso é bom. Já li e ouvi várias críticas ao imenso universo de informações relacionadas a apenas um termo, e como isso acabava "desinformando" o usuário - ninguém vai verificar cada um dos 100 mil resultados da busca no Google, por isso os engenheiros trabalham para colocar na primeira página os resultados mais interessantes para nós. Como empresa, os caras atuam para atender as necessidades do usuário, tomando a liberdade de classificar o que é mais relevante e, com isso, gerar lucro. O Facebook, mais do que nunca, precisa provar para os investidores que é uma plataforma lucrativa e, com isso, a rede vai definir quais são os posts prioritários na nossa timeline com base em quem paga. A linha editorial agora é exercida por algoritmos, não mais por editores de carne e osso.

Parisier defende que essas empresas tenham uma postura mais cívica em relação às informações para evitar a formação de bolhas viciosas em torno do umbigo dos usuários, impedindo que eles tenham acesso a outras informações, a outros filmes, a outras notícias que não fazem parte do seu escopo de relevância. Baseado em como agem os gigantes da comunicação midiática há décadas, eu não seria muito otimista em relação ao cumprimento desse dever cívico. As empresas de internet estão assumindo o bastão da velha mídia, e não acredito que serão mais éticos do que o grupo de Rupert Murdoch.

O que eu defendo é que os usuários sejam mais protagonistas em relação à sua própria vida online e saibam utilizar a tecnologia sem se tornar dependente das classificações de relevância impostas por essas empresas. Existem dezenas de comandos na programação do mecanismo de buscas do próprio Google que, se forem utilizados corretamente, podem levantar exatamente a informação que o usuário realmente precisa. Quer informações? Vá atrás por diversos meios, visite bibliotecas físicas, consulte jornais impressos e compare com os resultados que você obteve - não espere que as empresas façam isso por você, elas não têm essa obrigação.

Além disso, mais do que nunca as pessoas precisam conversar, trocar oralmente experiências e informações. Esse ainda é o meio mais eficaz para você conhecer novas bandas, novos escritores preferidos, novos filmes. Se você já leu tudo de Stephenie Meyer, talvez seja a hora de conhecer algo mais Douglas Adams ou Charles Dickens. Depois de assistir uma maratona das 10 temporadas de Friends, que mal há em conferir Firefly? Não deixe que a internet viva a sua liberdade.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

10 dicas para não perder tempo com as redes sociais


1 – Seja seletivo nas suas redes – Quantidade de redes não é qualidade. Para que participar de redes sociais que não sejam relevantes? O ideal é focar nas principais redes onde seus amigos e interesses estão localizados. Eu por exemplo, uso apenas 4 redes (Facebook, LinkedIn, Twitter e Orkut -> nessa ordem de importância).
2 – Cancele e-mails de notificações – Todas as redes permitem configurar o aviso de recebimento de e-mails, o melhor é cancelar todos, assim você comanda a rede e acessa quando quiser, caso contrário vai ser difícil controlar a vontade de saber porque você foi "taggeado" na foto da sua amiga.
3 – Determine um foco nas redes – Quem tenta agradar a gregos e troianos ao mesmo tempo se complica com um dos lados. Crie uma estratégia para cada rede que você tiver, por exemplo, se você for utilizar o twitter para fins profissionais, não misture com coisas pessoais. Muitas empresas utilizam as redes sociais na hora de contratar um profissional e vai pegar muito mal se houver fotos suas bêbado depois da balada. Mantenha coerência no perfil que você definir, com fotos, textos e comentários! Muita gente tem se queimado sem perceber por falta de estratégia!
4 – Determine horários – Eu não sou contra ver seu Facebook durante o horário de expediente, sou contra o abuso desse uso. Utilize seus horários antes ou após o expediente e seu horário de almoço para caso queira acessar as redes no trabalho para fins pessoais. Eu costumo ver e responder minhas redes no final do dia, em casa.
5 – Siga poucas pessoas, mas relevantes – Para que seguir gente que não tem nada a ver ou que o conteúdo se tornou irrelevante? Faça uma dieta de pessoas que você segue, repare nos próximos dias quem não tem agregado valor e simplesmente deixe de seguir esta pessoa.
6 – Utilize agregadores – Existem sites e softwares que permitem centralizar suas redes sociais ou atualizar a partir de um único post. Eu tenho utilizado o Tweetdeck que me permite atualizar meu Facebook, Twitter e Linkedin de uma só vez. Um site que vale a pena dar uma olhada é o http://www.threadsy.com/ que junta e-mails e suas redes em um só lugar.
7 – Seja relevante nas suas redes – As pessoas gostam de seguir pessoas que fornecem um conteúdo relevante, na medida certa e com periodicidade. Aquele chato que "twitta" muito de uma vez só, acaba perdendo seguidores. E o que "twitta" posts dizendo que acordou de mau humor também não agrega.
8 – Aproveite seu tempo de espera – Eu gosto muito de atualizar minhas redes quanto estou no aeroporto ou esperando para começar um evento. Aproveitar esse tempinho é muito válido desde que seu celular ou tablet estejam habilitados para tal. Existem centenas de softwares para esses dispositivos que mandam muito bem!
9 – Rede social não requer "real time answer" – Não sinta-se obrigado a responder uma mensagem na mesma hora que a pessoa te enviou. Se fosse urgente de verdade, ela encontraria outra forma de falar com você. Se você cria esse péssimo hábito de responder assim que chega, além de acostumar mal as pessoas, vai perder muito tempo desnecessariamente!
10 – Existe vida lá fora – Não é porque a vida social se tornou digital que você vai se esconder atrás de um computador em seus relacionamentos. É preciso reservar um tempo para estar junto com os amigos e família presencialmente.


Texto Original de Christian Barbosa - http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/10-dicas-para-nao-perder-tempo-com-as-redes-sociais/63609/

Fonte: administradores.com.br

terça-feira, 22 de maio de 2012

Geração Y: ideologia do mercado volta-se contra o mercado


Em meados da década de 1990, surgiu uma onda no setor da educação profissional que ficou conhecida pelo sintomático nome de "profissionalização".
Nessa ideologia, exacerbadamente individualista, o desemprego passou a ser responsabilidade de cada pessoa em particular, que não haveria conseguido atingir "as exigências do mercado".
Assim, para não ficar de fora do mercado, passou a valer tudo para alcançar os próprios objetivos.
Agora, esse mesmo "mercado" está às voltas com uma geração de profissionais que cresceu acreditando que isto era verdade e que nunca recebeu lições de trabalho em equipe.
O grupo é tão característico que já recebeu até um nome, Geração Y.
"Só eu"
Segundo analistas de recursos humanos, esses jovens que agora estão chegando ao mercado de trabalho são, sem nenhuma surpresa, individualistas, imediatistas e ambiciosos.
Um dos maiores problemas é que, criados pensando somente em si mesmos, é difícil conciliar seu comportamento com o trabalho em equipe das empresas.
Um estudo da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP aponta que, para as empresas, o grande desafio é aproveitar características como a rápida adaptação a mudanças e o questionamento constante aos gestores.
Ao mesmo tempo, a Geração Y precisa lidar com a ansiedade excessiva em ascender na carreira e ganhar altos salários.
Feiticeiro enfeitiçado
André Laizo dos Santos entrevistou profissionais de recursos humanos e gestores de 12 empresas de vários setores, incluindo multinacionais.
Sua conclusão é que não basta a companhia estar alinhada com os valores da Geração Y. Para lidar bem com os jovens profissionais, o setor de recursos humanos precisa estar preparado com ferramentas e programas estruturados para apoiar os gestores na condução dos jovens profissionais, considerados arredios a regras, procedimentos e hierarquias.
Por exemplo, esses jovens individualistas devem aprender a conviver com uma estrutura definida de cargos e salários, plano de carreira, avaliação de desempenho e avaliação de competências - numa palavra, precisam aprender que uma empresa é uma equipe.
Estratégias como essas podem ajudar a aproveitar pontos positivos da geração, como saber focar-se no resultado e ter compromisso com metas, dinamismo e interesse em colocar ideias e participar das decisões.
Quando mal gerenciadas, as mesmas características levam a trabalhos desenvolvidos de modo superficial, que podem deixar clientes insatisfeitos.
Sem amor à camisa
E não adianta tentar enganar a Geração Y com falsas promessas para a carreira. Quando elas não se se concretizam, os profissionais logo optam por sair da organização.
"Essa geração cresceu num contexto de muita competitividade. Desde pequenos, foram treinados para serem os melhores. Fizeram cursos de língua, intercâmbio e ingressaram em boas faculdades," diz Santos, que fez sua pesquisa em conjunto com a professora Marisa Pereira Eboli.
Essa alta qualificação, assim como a facilidade em obter informações pela tecnologia, é requerida pelas organizações, hoje inseridas num contexto que exige estruturas mais complexas.
Mas pode reverter-se em arrogância dos profissionais, que passam a se achar essenciais para o empregador e pressionam demais por desafios mais avançados, promoções e salários.
"A ansiedade em ganhar autonomia e receber bons salários é fruto do estilo de vida com regalias durante a adolescência e, em alguns casos, também na infância. É diferente das gerações anteriores, que tiveram mais trabalho para obter o básico", diz Santos.
Sem compromisso             
A garantia recebida da família faz com que a Geração Y tenha menos pressa em cumprir os ritos de passagem, como entrar no mercado de trabalho e constituir família. Com menos responsabilidades, não precisam ter tanto compromisso com as organizações.
Para os entrevistados da pesquisa, a característica mais relacionada à Geração Y é o individualismo.
"Eles fazem as escolhas com base no que é melhor para eles. Se precisarem sair da organização, saem. A relação é como a de um casamento: quando não está bom para os dois lados, termina", aponta um profissional de RH ouvido pelos pesquisadores.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

‘‘Optar por crescer menos não significa abrir mão de progredir”


José Eli da Veiga, professor da FEA-USP e especialista em desenvolvimento sustentável, acredita que o futuro das nações depende do abandono do modelo de crescimento econômico a qualquer custo.

O mundo ainda não convivia com as ameaças do aquecimento global e o professor José Eli da Veiga, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), em São Paulo, que é agrônomo e economista, já se empenhava na discussão sobre uma economia mais parceira do meio ambiente. Ele criou o Núcleo de Economia Socioambiental da universidade e escreveu 13 livros sobre o tema. José Eli insiste no caminho do meio, aquele que leva em conta o desenvolvimento de um país baseado em modelos que não ponham em risco os recursos naturais.
Globo Rural >>> Foi tempo perdido a reunião dos líderes na COP15 (a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em dezembro em Copenhague, na Dinamarca), para traçar metas que combatam as mudanças climáticas? 
José Eli da Veiga >>> Foi um desastre. No começo, havia um sentimento de otimismo, quando países poluidores como China e Índia sinalizaram uma possível negociação. Mas as expectativas não se consolidaram, em parte, porque os países reunidos, em especial os que compõem o G20 e que são responsáveis por 70% das emissões de gases do efeito estufa na atmosfera, não tinham uma concordância prévia. E isso colaborou para o resultado pífio. Além do mais, o Protocolo de Kyoto (acordo assinado no Japão, em 1997, que propôs que países industrializados reduzissem suas emissões em 5,2% entre 2008 e 2012) dividiu o mundo em nações desenvolvidas e o resto, uma classificação que não condiz com a realidade. Existem os chamados países emergentes, de desenvolvimento médio, como China e Índia, e outros do Oriente Médio, que poluem muito. Kyoto os protegeu. Por isso, eles não querem abrir mão desse amparo nem aceitar metas de redução.
GR >>> O Brasil poderia ter exercido um papel melhor na COP15?
José Eli >>>
 O país ficou numa boa posição, porque levou metas definidas (redução de 80% do desmatamento na Amazônia até 2020) e talvez tenha papel de liderança para quem possui problemas semelhantes na reunião do México, no final de 2010. O problema do Brasil é daqui uma década, pois o grosso das emissões virá da agropecuária, das termelétricas e dos transportes. Se o país não fizer investimentos significaticos em ciência e tecnologia para permitir uma superação da era fóssil, aí sim nós vamos estar perdidos. Infelizmente, sinto que o Brasil não está consciente disso. E a corrida tecnológica em busca de energias limpas faz com que os países se movimentem de acordo com a esperança de dominá-las no futuro.
GR >>> A importância ambiental para o futuro da humanidade ainda não foi assimilada no mundo?
José Eli >>>
 Se fizermos uma retrospectiva dos últimos 30 anos, essa questão veio ocupando um lugar importante na agenda. Mas é certo que ainda é uma minoria no mundo que põe a causa ambiental em primeiro lugar, que pensa na manutenção dos recursos naturais para as futuras gerações. A verdade é que a economia sempre passa na frente. Você nunca vai convencer um país de que ele tem de abrir mão do conforto material de sua população em nome da importância ambiental. Veja o caso da Índia, onde milhões de habitantes vivem sem eletricidade. Como você vai impedir que não se faça eletricidade com o carvão, a matriz energética deles?
GR >>> Em seu recente livro, Mundo em transe, o senhor ressalta que as empresas estão adiantadas na economia de baixo carbono. A agricultura é o patinho feio dessa história?
José Eli >>>
 Só se os agricultores quiserem. Existem produtores tecnificados, informados, e eles se deram conta de que precisam se antecipar nessa questão ambiental. Mas existe uma imensa maioria que não tem essa consciência. O desmatamento é o ponto crítico do Brasil. Um estudo do Banco Mundial, publicado no ano passado, mostra que a pecuária está vinculada à derrubada da madeira para a formação de pasto e depois para a entrada do gado. É errado falar "o madeireiro" e "o pecuarista", pois existe uma conexão entre eles. O grosso do desmatamento da Amazônia resultou em pasto. A madeira é efêmera, o corte é só uma vez, e a expectativa é implantar um setor - o de carnes - que dura gerações. Mas veja bem, não quero tachar a pecuária de vilã, porque ofenderia muitos produtores sérios e capazes, que seguem modelos opostos a esse exemplo. Só que a cobrança do comércio internacional está ficando cada vez mais forte. E esses pecuaristas que fazem um trabalho correto serão penalizados pela má imagem do Brasil lá fora.
GR >>> Qual é sua expectativa na área ambiental para os dois principais candidatos à Presidência da República?
José Eli >>>
 O papel da Dilma Rousseff é zero se eu pegar pelo histórico dela. A atuação da ministra foi terrível em Copenhague. O José Serra é mais pragmático, presta muita atenção à opinião pública e tem uma visão mais avançada que a Dilma. Basta lembrar que o governo dele sancionou uma lei ousada, em 2009, que prevê corte de CO2 em 20% no estado. Mas ambos pensam no PIB, no crescimento a qualquer custo. Só que optar por crescer menos não significa abrir mão de progredir.
GR >>> Como o senhor analisa a polêmica entre ambientalistas e ruralistas sobre as mudanças no Código Florestal?
José Eli >>>
 Eu acho que seria muito importante pressionar por uma discussão aberta sobre esse problema do zoneamento ecológico econômico. Se ela avançasse, 80% da questão estaria resolvida. Existem diferenças entre os agricultores do interior de Santa Catarina que se estabeleceram lá na época da imigração e os estados novos, como Mato Grosso do Sul. Por isso, sou favorável a uma revisão das áreas de preservação, de plantio. Não dá para fechar questão e não querer mexer em nada.
Fonte: Por Assis Ribeiro - De Globo Rural - blog do nassif

domingo, 20 de maio de 2012

‘Bons companheiros’ de Serra


Em 2005, o então vice-prefeito, Gilberto Kassab, indicou ao então prefeito José Serra, o nome de Hussain Aref Saab para chefiar o Departamento de Aprovação das Edificações (APROV), na Secretaria Municipal de Habitação. A indicação foi aprovada mesmo depois de Aref ter sido indicado no relatório final numa CPI, realizada pela Câmara Municipal, como suspeito de irregularidade em 71 processos de regularização de antenas de celulares, instaladas entre 1999 e 2002.

E mesmo depois de o Ministério Público tê-lo indiciado com a acusação de que, ao não analisar os pedidos de alvará em 90 dias, teria permitido que essas antenas fossem ligadas sem autorização e de forma irregular.
Coincidentemente, ou não, nos anos em que Aref esteve no comando do APROV, São Paulo viveu uma “explosão” imobiliária. Tanto no que diz respeito as operações urbanas, que sob o pretexto de reurbanizar áreas degradadas beneficiam o mercado imobiliário, como também com a multiplicação de grandes empreendimentos na cidade.

Por confiar plenamente no “companheiro”, Serra e Kassab não perceberam que os fatos que se seguem aconteciam bem abaixo dos seus narizes, como se costuma dizer no populacho.

Em 2010, um grupo empresarial transferiu seis apartamentos, na região do Parque Ibirapuera, para o nome da SB4, empresa de Hussain Aref Saab. A Servcenter, que integra o grupo empresarial, registrou o repasse dos imóveis para Aref em novembro de 2010 como pagamento por “prestação de serviços de assessoria empresarial”. Depois da transferência, empresas do mesmo grupo conseguiram liberações de alvarás na prefeitura. Um mês depois, o centro de convenções do WTC, do mesmo grupo, obteve a renovação de seu alvará de funcionamento na marginal Pinheiros – o processo estava parado há mais de um ano. Já em fevereiro de 2011, outra empresa do grupo, a Servlease, obteve o alvará de reforma de um salão de eventos nos Jardins. A aprovação saiu em cerca de um mês, quando o procedimento “normal” é muito mais demorado.

O empresário Gilberto Bousquet Bomeny, responsável pelo grupo que “pagou” a empresa de Aref com seis apartamentos, nega qualquer irregularidade. Por meio de sua assessoria de imprensa, alega que “a transação imobiliária feita não tem vínculos com o que está sendo noticiado pela imprensa”.

Ou seja, o fato de Aref ser do Aprov não é indício de nada, mesmo ele tendo recebido seis apartamentos do WTC que conseguiu sucesso na aprovação dos seus empreendimentos. Por outro lado, o fato de o ex-ministro José Dirceu ter recebido 20 mil reais de por uma consultoria para a Construtora Delta quer dizer muita coisa. Claro, evidente, uma coisa é uma coisa e outra é outra.Além disso, documentos obtidos pelo jornal Estado de S. Paulo mostram que a construção de seis torres em uma área contaminada por produtos químicos na Granja Julieta, área nobre na zona sul, foi autorizada contrariando um ofício do Departamento de Controle Ambiental da Prefeitura, órgão ligado à Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que alertava que o alvará foi emitido sem a aprovação das autoridades ambientais.

Além do problema da contaminação, após moradores da região entrarem com ação civil pública contra a obra, o MP alertou Aref que o empreendimento seria construído em um terreno de 10 mil m2 previsto para virar parque linear e onde existia um córrego.

O engenheiro agrônomo Eduardo Pereira Lustosa, perito do MP, enviou ofício alertando para a suspeita de que a Esser Empreendimentos, responsável pela obra, teria aterrado o córrego Maria Joaquina para erguer as torres. Todos estes pareceres oficiais foram ignorados e o alvará foi emitido.Em 2004, a então diretora do APROV, Paula Maria Motta Lara, paralisou a construção de um edifício de 9 andares no Morumbi. Um laudo do Instituto Geológico mostrava que o terreno estava em uma Área de Preservação Permanente (APP) porque parte era em área de Mata Atlântica. Ao assumir a direção do APROV, em 2005, quando Serra assume a prefeitura, Aref libera o alvará e a construção retomada.Mas a lambança não para por aí. A SB4 Patrimonial, empresa que administra os bens de Aref, afinal um funcionário público precisa de uma empresa para administrar seus bens, comprou, em 2009, por R$ 50 mil um apartamento na Rua Coriolano, na Lapa. O imóvel havia sido vendido, por R$ 141 mil, um mês antes, ao engenheiro Eduardo Midega pela construtora SBTEC Engenharia e Instalações.

Um mês após Aref comprar o imóvel na Lapa por 1/3 do valor que ele havia sido negociado um mês antes, o vendedor, Eduardo Midega, conseguiu o Habite-se para um empreendimento na região da Raposo Tavares.

Como diretor do Aprov, como já disse lá em na parte superior deste texto, Aref tinha vaga de suplente nas reuniões do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio (Conpresp) e não raro substituía o secretário municipal de Habitação, Ricardo Pereira Leite. O Conpresp estava debatendo no último período a revisão da Resolução 06, de 1997, que definiu o limite máximo para construção de prédios em volta do Parque Ibirapuera a até dez metros de altura. Caso essa proposta de revisão fosse aprovada, seria permitida a construção de edifícios com até 54 metros de altura na região. O que evidentemente levaria a algumas construtoras a ganhar muito, mas muito dinheiro. E só Aref sabia disso. Serra e Kassab, não. Mas o SPressoSP sabia.

A votação estava prevista para acontecer no último dia 10 de abril, mas foi adiada. O motivo do adiamento foi o pedido de vista do processo feito por um conselheiro. Quatro dias depois, Aref foi exonerado do cargo de diretor da APROV porque o prefeito percebeu que o mar de lama contra ele estava insuportável. E que o Ministério Público ou a PF em breve levariam seu assessor às barras do tribunal.

Ainda há mais lama nessa história, como a compra de um imóvel, em 2008, por Aref, por R$ 242 mil do empresário David Carlos Antonio. O mesmo apartamento havia comprador três anos antes por R$ 1,2 milhões. David, que na época tinha um processo de anistia encalhado na prefeitura havia cinco anos, viu o mesmo voltar a tramitar 4 meses depois da negociação. E recerbeu o alvará da APROV um ano depois.

Mas Kassab nem desconfiava de nada. Muito menos Serra. Aliás, Serra é um gestor que confia plenamente nos seus assessores. Foi assim com Paulo Preto. E também com Aref. Ninguém pode negar que ele é um bom companheiro. Ninguém pode negar…

Fonte: Correio do Brasil - 

As armações criminosas da Veja

A quem aproveita o crime? A campanha contra o então ministro dos Transportes, senador Alfredo Nascimento, perpetrada pela “Veja” em julho do ano passado, beneficiou a empreiteira Delta e seu associado Carlos Cachoeira.

A Delta queria se livrar da fiscalização do Ministério dos Transportes, que já tomara várias medidas para sanar irregularidades:,

1) O Ministério, através do DNIT, abrira um processo administrativo contra a Delta, porque esta, sem autorização, subcontratara outra empresa na recuperação da BR-116, no Ceará.

2) A Delta fora obrigada a repavimentar um trecho da BR-163, em Mato Grosso, porque, em sua obra original, a espessura do concreto era menor que a prevista no contrato.

3) A Delta, contra o edital, atrasara o início das obras na BR-101, no Rio de Janeiro, sem apresentar justificativa.

4) A Delta, líder de um dos consórcios que vencera a licitação, queria aumentar o preço nas obras na BR-060, em Goiás, o que era negado pelo Ministério.

“Veja” sabia, desde maio de 2011 – portanto, dois meses antes de começar sua campanha – da associação entre Cachoeira e a Delta, porque o contraventor a revelou ao redator-chefe de “Veja”, Policarpo Jr. (o “Poli”, “PJ” ou “JR”, como a quadrilha o chamava). Cachoeira marcou um encontro de Policarpo Jr. com Cláudio Abreu, diretor da Delta, e depois disso começou a campanha contra Nascimento e a cúpula do Ministério dos Transportes.

Em uma das gravações feitas pela Polícia Federal, Cachoeira diz: “Eu sou a Delta”. O assunto é algo sem importância – um patrocínio futebolístico –, mas ele não estava muito distante da realidade.

Nas gravações que conseguimos ouvir, ou ler a transcrição, a Delta é mencionada 387 vezes. Mas ainda faltam mais 32 volumes do inquérito e a maior parte das gravações anexadas (a Operação Vegas gravou 60 mil horas de conversas do bando; a Operação Monte Carlo, 250 mil horas). Cachoeira era tão íntimo da Delta, comparecendo quase diariamente aos seus escritórios, que os delegados da PF anotaram: “Será que Carlinhos teria sala dentro da Delta?” (cf. pág. 73, apenso 02, volume 1, Op. Monte Carlo, Auto Circunstanciado De Encontros Fortuitos, DPF/SRDF).

No dia 10 de maio, Cachoeira comunicou ao diretor da Delta, Cláudio Abreu, sua conversa com Policarpo Jr., da “Veja”. O assunto era a edição da revista, três dias antes, em que o ex-ministro José Dirceu era acusado de ser o responsável pela expansão dos negócios da Delta. Policarpo queria que Cachoeira arrumasse ou fabricasse provas para o que a “Veja”, no dia 07, publicara sem nenhuma prova. Mas Cachoeira estava associado à Delta. A transcrição abaixo é uma síntese:

Abreu: (…) cê falou pro Policarpo?
Cachoeira: (…) Rapaz, falei: “vocês erraram, Zé Dirceu não tava”. [Policarpo responde:] “Tem sim e eu tô atrás de uma coisa só, ô Carlin, é... teve uma reunião em Itajubá do Fernando [Cavendish, dono da Delta]com o Zé Dirceu e o Arruda, os três juntos,viu? Itajubá. Foi aí que fechou para Delta entrar em Brasília. Foi pedido. O Zé Dirceu pediu para o Arruda para o Fernando entrar em Brasília”.

(…)
Cachoeira: (…) [Policarpo] perguntou se tinha fita, a história que tá lá na Veja, sabe até o local que foi (…) gravado dando dinheiro vivo. Eu falei: “Ô Policarpo, você acredita mesmo nisso?” Ele: “acredito”. Então, “pelos meus filhos eu to falando pro cê, não existiu essa reunião, esqueça, esqueça”.

(…)
Cachoeira: Eu falei [para Policarpo]: “inclusive vou te apresentar depois, Policarpo, o Cláudio eu sou amigo”. Eu falei que era amigo do cê de infância. “Então, ele trabalha na sua empresa”, falou assim, “vai me contar que você tem ligação com ele”. Sabia de tudo. “Eu não vou esconder nada de você não, Policarpo, o Cláudio é meu irmão, rapaz”. (…). Aí ele virou e falou assim: “(...) Cê me garante?” Eu: “garanto, rapaz”. Você confia nele? “Confio”.

São trechos bastante claros. Cachoeira fala de sua ligação com a Delta, através de Abreu, Policarpo, que “sabia de tudo”, retruca: “vai me contar que você tem ligação com ele”. Cachoeira responde: “Eu não vou esconder nada de você não, Policarpo, o Cláudio é meu irmão, rapaz”.

Há mais uma coisa interessante nesse telefonema: as referências a Luiz Antonio Pagot, então diretor-geral do DNIT, principal órgão do Ministério dos Transportes:

Abreu: (…) Quem chamou?

Cachoeira: Policarpo, pô. (…) você lembra que eu te fiz umas perguntas do Pagot? Enfiei tudo no rabo do Pagot, aquela hora o Policarpo tava na minha frente. (…) o que eu plantei do Pagot aquela hora. Ele anotou tudo, viu. Uma beleza agora, Pagot tá fudido com ele.

Portanto, Policarpo sabia da associação entre a Delta e Cachoeira, sabia da hostilidade destes em relação à cúpula do Ministério dos Transportes e sabia que estava tratando com um contraventor. Era muito fácil, inclusive, saber o motivo dessa hostilidade. Essa conversa foi no dia 10 de maio, dois meses antes de começar a campanha contra o Ministério dos Transportes. Numa conversa posterior, no dia 11 de julho, o notório Dadá diz a Cachoeira: “Tem mais de um ano que o tal do Pagot tá no grampo”. O objetivo, claramente, era derrubar a cúpula dos Transportes para favorecer a Delta.

Foi exatamente o que “Veja” fez: no dia 2 de julho, ela colocou em sua versão online uma suposta denúncia de que no Ministério cobrava-se uma propina das empreiteiras de 4% do valor das obras e 5% das empresas de consultoria. Na edição impressa de 6 de julho, falava-se num suposto “mensalão do PR”, que seria recolhido pelo deputado Valdemar Costa Neto.

Estranhamente, não havia denunciantes – tudo é atribuído a “parlamentares, assessores presidenciais, policiais e empresários, consultores e empreiteiros”, sem um nome, um único nome, sequer. Por exemplo: “'um parlamentar da direção do PR me disse que ele [Luiz Tito Barbosa, assessor do ministro] agora é o caixa oficial. Não é mais para pagar nada diretamente a deputados ou senadores. Os envelopes seguem direto para ele', diz um empreiteiro”.

Que parlamentar? Que empreiteiro?

Outro trecho: “'O Mauro [Barbosa, secretário-executivo do Ministério] é o dono da chave do cofre, e o Luiz Tito o cara da mala', explicou um empresário”.

Que empresário?

Ninguém.

Além disso, nem Nascimento nem Pagot eram ligados ao deputado Valdemar Costa Neto. Do último nem mesmo pode-se dizer que suas relações com Costa Neto fossem amistosas.

Em suma, “Veja” fabricou uma denúncia sem denunciantes – sabendo que a saída de Nascimento do Ministério iria beneficiar a Delta, que estava sob investigação, e também de sua parceria com Cachoeira – até porque ela somente confeccionou essa difamação depois que Cachoeira apresentou Policarpo Jr. a Cláudio Abreu.

Fonte: altamiroborges.blogspot.com.b

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Howard Gardner: o psicólogo que mudou a forma de pensar a inteligência


Professor da Universidade de Harvard e da Boston School of Medicine, Gardner balançou as bases da Educação ao defender um método novo e ousado para medir o grau de inteligência nas pessoas. Seus mais de vinte livros e centenas de artigos vêm, ao longo de décadas, influenciando acadêmicos e educadores de todo o mundo. E ele não quer parar...

Os critérios para determinar se alguém é inteligente mudaram radicalmente nos últimos 20 anos. E um dos responsáveis por essa transformação, sem sombra de dúvida, foi o psicólogo americano Howard Gardner. Ele desafiou a sabedoria convencional sobre a compreensão da inteligência humana ao concluir que a mente é composta de múltiplas capacidades independentes entre si, ao invés de apenas uma. Para Gardner, a inteligência não pode ser medida só pelo raciocínio lógico-matemático, geralmente o mais valorizado na escola.
Porém, seus estudos vão além. Gardner também desenvolveu uma tese daquilo que chama de "Cinco mentes para o futuro", ao demarcar os tipos de competências que são necessárias para alcançar o sucesso pessoal e profissional no século 21. Ele promove, ainda, o grupo de pesquisa Good Work Project, com atuação pelo mundo, que defende o comportamento ético e a melhora na autoestima profissional. O psicólogo conversou com a Administradores sobre o seu trabalho realizado desde meados de 1980, e também sobre os novos caminhos da sociedade para a educação e para o trabalho.
Em sua teoria das Inteligências Múltiplas, você destaca que cada pessoa possui uma mistura singular de vários tipos de inteligência. Mas como exatamente funciona esse processo?
Todos os seres humanos possuem oito ou nove inteligências principais - linguística, lógica,
musical, espacial, corporal, interpessoal, intrapessoal e naturalista. Além disso, existe a possibilidade de possuirmos uma inteligência existencial - a inteligência de refletimos sobre grandes questões.

No entanto, duas pessoas não possuem exatamente o mesmo perfil de inteligências - nem mesmo gêmeos idênticos. Isso acontece porque nós temos experiências e motivações diferentes, e não queremos ser como os outros.
Conhecidas essas diferenças, educadores e pessoas de negócios têm uma escolha. Cada um de nós pode tentar fazer o mesmo, ou podemos celebrar as diferenças e tentar ajudar indivíduos a encontrarem seu próprio nicho, de acordo com seus potenciais e interesses.
Se pensarmos nos administradores pelo mundo e nos tipos de inteligência que descreve, quais seriam as inteligências mais necessárias para saber administrar? Por quê?
Isso depende da natureza do trabalho. Se você trabalha em algum tipo de organização artística (museus ou moda), você lida com inteligências diferentes das quais lidaria se trabalhasse em uma companhia manufatureira, financeira ou tecnológica. É claro que o papel que você exerce na organização também importa. Se você trabalha com cálculo e orçamento, a inteligência lógica é importante. Caso a pessoa trabalhe na área de recursos humanos, as inteligências pessoais se tornam mais relevantes. Já para quem pretende atuar com comunicação, a inteligência linguística é crucial.

É claro que cada gestor precisa ser capaz de trabalhar com diferentes indivíduos e, neste caso, ambas as inteligências - a interpessoal (compreender os outros) e a intrapessoal (compreender a si mesmo) são vitais.
Você tem uma análise bem crítica sobre os testes padronizados e os famosos testes de QI. Qual seria o motivo?
Há 100 anos, os testes de QI tinham o objetivo de predizer quem melhor se encaixaria em um determinado tipo de escola. Eles fazem isso muito bem, mas eu tenho um preditor muito melhor - a performance no último ano de escola. O problema com testes de QI é que eles fazem um trabalho racional de análise das inteligências linguística e lógica, mas não testam as outras inteligências que, inclusive, são muito importantes para o trabalho no século 21.

Quanto a testes padronizados, o que realmente contesto são as respostas curtas e opções de múltipla escolha, que primeiramente observam o conhecimento factual. A vida não consiste em testes de múltipla escolha - você precisa decidir o que é importante e como lidar com isso. Usar padrões é muito bom, mas padrões precisam ser apropriados às tarefas imediatas.
Agora com computadores, podemos olhar diretamente para as performances, através de simulações diretas das capacidades que são necessárias. Essa é uma maneira muito melhor de avaliar competências que um teste de múltipla escolha.
Além disso, não existe mais a necessidade de memorizar fatos. Eles podem ser rapidamente obtidos em computadores pessoais e smartphones. Precisamos de pessoas para entender como aqueles fatos são apurados - os métodos que são usados por diferentes disciplinas e diferentes profissões... e que se alega não terem nenhum mérito.
Você acredita que a educação ao longo do tempo vem sofrendo problemas pela maioria das escolas tratarem todos os alunos da mesma maneira?
Sim, mas quando você tem aulas extensas e professores que não são versáteis, isso é inevitável. No passado, apenas um grupo tinha educação individual - os muito ricos, que podiam contratar tutores. Agora, vivemos pela primeira vez na história da humanidade um tempo em que educação individual pode ser amplamente distribuída, através dos computadores. Se existem dez maneiras de se aprender álgebra, ou como consertar uma máquina, ou como dar sentido a uma guerra civil, todas essas respostas podem ser obtidas on-line ou por aprendizado a distância. A perspectiva é muito animadora!

Analisando os países emergentes, como o Brasil poderia melhorar a educação nas escolas para potencializar as habilidades e os tipos de inteligências dos nossos alunos?
A teoria das inteligências múltiplas recomenda dois passos: individuação e pluralização. Individuação significa que devemos ensinar a cada indivíduo de modo que ele possa aprender facilmente, e avaliar esta pessoa de maneiras que sejam cômodas. Pluralização significa que devemos ensinar assuntos importantes de mais de uma maneira. Se você pode lecionar um assunto de diferentes modos, você recebe duas recompensas importantes:

1) você alcança mais estudantes, porque alguns aprendem melhor através de histórias, outros por meio da lógica, ou trabalhos artísticos, ou esquemas; 2) você tem uma demonstração do que significa compreender bem alguma coisa. Se você compreende bem qualquer assunto ou ofício, você pode apresentá-lo de diferentes maneiras.
Nós temos uma vasta experiência em treinar a mente disciplinada, muito menor que nas mentes sintética ou ética. E então aqueles países que podem buscar esses tipos de mentes com êxito terão uma grande vantagem. Muito do que é errado nos Estados Unidos, e em países influenciados pelos Estados Unidos, é que estamos preparando nossos jovens para os séculos 19 ou 20.
Você também desenvolveu a tese das "Cinco mentes para o futuro", na qual ressalta como essenciais para o século 21 a mente sintética, disciplinada, criativa, respeitosa e ética. Quais foram as razões que o levaram a escolher essas cinco abordagens como fundamentais?
Em meu trabalho com inteligências, eu operei como um pesquisador, tentei definir as inteligências humanas essenciais. Quando recomendo cinco mentes para o futuro, estou agindo como um diplomata. Não existe nada mágico sobre as cinco mentes. Eu poderia ter escrito sobre a 'mente tecnológica' ou 'a mente digital' ou 'a mente intercultural'. Escrevi sobre mentes que considerei importantes e acredito que contribuí para coisas importantes.

Mas qual delas é a mais importante?
Acredito que todas elas são necessárias, mas a respeitosa e a ética são as mais importantes. Se não tivermos respeito pelos indivíduos, particularmente aqueles aparentemente diferentes de nossas famílias, e se não nos comportarmos de um modo ético, o planeta que conhecemos não existirá. As pessoas no Brasil têm a imensa vantagem de viver em uma cultura muito diversa. Isso é muito mais difícil para pessoas que vivem em uma cultura mais homogênea, como na área agrária da China, ou Escandinávia.

Quanto às outras três mentes, existem mais opções: algumas pessoas serão peritas sintéticas e algumas pessoas serão criativas/empresariais. Mas todas as pessoas precisam ter habilidade em alguma área, e esse é o aspecto onde a mente disciplinada se torna crucial.
Ainda sobre as cinco mentes, você poderia nos apontar pessoas que seriam excelentes exemplos por possuírem com desenvoltura uma dessas mentes?
Existem exemplos em abundância de indivíduos com mentes disciplinadas - bons estudiosos, artistas, profissionais. Como um grande sintético, menciono o biólogo Charles Darwin. Na era contemporânea, dois grandes biólogos sintéticos são E. O. Wilson e Stephen Jay Gould, ambos colegas em Harvard.

Eu escrevi um livro chamado "Criando Mentes", sobre sete grandes criadores da era moderna: o físico Albert Einstein, o poeta T. S. Eliot, o pintor Pablo Picasso, o músico Igor Stravinsky, o psicanalista Sigmund Freud, a dançarina Martha Graham, e o líder religioso-político Mahatma Gandhi.
O presidente Barack Obama exemplifica uma mente respeitosa, enquanto o presidente Abraham Lincoln tinha uma mente ética. Desculpem-me por esses exemplos não incluírem indivíduos do Brasil, pois tive que mencionar pessoas que conheço bem.
Quais são seus próximos passos em relação a pesquisas? No momento, está trabalhando alguma nova pesquisa que poderia nos contar?
Meu trabalho atual representa um esforço em dar condições ao meu país e a outras localidades. Nos últimos cinquenta anos, os mercados também se tornaram poderosos em demasia nos Estados Unidos e acabaram trazendo uma situação em que a maioria da população é impulsionada pelo medo, de um lado, ou pela ganância, por outro. Então, colegas e eu temos tentado promover o bom trabalho, ou seja, o trabalho que é excelente, engajado e ético.

Além disso, pregamos a boa cidadania, sendo ela, que consta em membros que conhecem as leis e regulamentos de uma sociedade, preocupam-se com eles e tentam fazer o que é certo para uma convivência mais plena. Nós também estamos empreendendo esforços para aumentar a incidência do bom trabalho nos Estados Unidos. Você pode aprender mais sobre esse projeto visitando os sites goodworkproject.org e hgoodworktoolkit.org

Fonte:Por Fábio Bandeira de Mello, Revista Administradores