segunda-feira, 30 de abril de 2012

A causa real da crise financeira na Espanha

A grande debilidade do argumento neoliberal, que assume que o maior problema da economia espanhola é o déficit e a dívida pública do Estado espanhol, é que os dados, facilmente acessíveis, mostram a sua insustentabilidade. Quando a crise começou em Espanha, o Estado espanhol não tinha déficit. Antes pelo contrário, tinha um superávit, maior certamente que o que tinha o Estado alemão. Em 2007, o superavit do Estado espanhol era equivalente a 1,9% do PIB, mais de seis vezes superior ao alemão, 0,3% do PIB. E algo semelhante acontecia com a dívida pública, que representava em Espanha cerca de 27% do PIB, quase metade da dívida pública alemã, 50% do PIB. Na realidade, a Espanha era um “modelo” e exemplo de referência do pensamento neoliberal dado como exemplo de “ortodoxia” econômica pelos economistas neoliberais.

Ter um superávit muito superior e uma dívida pública muito inferior à da Alemanha não nos serviu de nada. Não nos protegeu da crise. Como pode, então, dizer-se agora que a maior causa da crise é o elevado déficit e a dívida excessiva, quando ter déficit zero e dívida pública baixa não evitou que tenhamos a crise que temos, com mais de 23% da força laboral no desemprego? E porque é que esta explicação da crise continua a ser dada quando a evidência existente é tão avassaladora, mostrando o seu erro?

Para responder a esta pergunta temos que ver quais são as vozes mais estridentes em defesa desta explicação da crise. E entre tais vozes aqueles que têm um lugar proeminente são o Banco Central Europeu (BCE) e a banca alemã, e o Banco de Espanha e a banca espanhola, que são precisamente quem criou a crise. Na realidade, a banca alemã desempenhou um papel chave na génese da crise e no seu desenvolvimento. Segundo o Banco de Pagamentos Internacionais (The Bank for International Settlements – BIS) (junho de 2010), a banca alemã emprestou 109.000 milhões de euros à banca espanhola, com os quais esta, em aliança com o setor imobiliário, investiu massivamente não na economia produtiva do país, mas sim na economia mais especulativa possível, criando a bolha imobiliária que, ao explodir, provocou a enorme crise e o enorme problema da dívida privada de Espanha que atingiu dimensões astronómicas (227% do PIB). 

A banca alemã conseguiu lucros enormes, lucros que, certamente, não investiu na Alemanha (como Oskar Lafontaine, então ministro da Economia e das Finanças do governo alemão, e hoje um dos economistas mais clarividentes na Europa, queria que se fizesse e que, ao não ser feito, rompeu com o chanceler Schröder, o presidente social-democrata alemão responsável, juntamente com a chanceler Merkel, pelas políticas de austeridade a nível alemão e europeu, políticas promovidas pela banca alemã). 

Em vez de estimular a procura alemã (e europeia), a Alemanha utilizou os grandes lucros, que conseguiu com a sua atividade especulativa em Espanha (e noutros países periféricos da Eurozona, como Grécia e Portugal), para acumular cada vez mais euros, convertendo-se na maior fonte de euros na Europa. O euro fez muito bem à banca alemã.

Agora, quando a bolha especulativa imobiliária explodiu, a banca alemã entrou em pânico, pois tinha grande parte do seu capital emprestado à banca espanhola e, em muito menor grau, ao Estado espanhol (cerca de 10% do seu investimento bancário). E começou a promover a falsa ideia de que o euro estava em perigo. O seu valor oscilou, mas não baixou substancialmente de valor em comparação com o dólar.

E daí derivam as políticas de austeridade, cujo único objetivo é que se pague aos bancos alemães (e franceses) a dívida tanto privada como pública que detêm. A mal chamada ajuda da União Europeia e do FMI aos países periféricos é ajuda para que se pague aos bancos alemães e franceses, principalmente.

Mas estas políticas de austeridade, com a baixa de salários, a diminuição da proteção social e os cortes do gasto público, estão a criar um problema gravíssimo que se chama Grande Recessão, causada pela enorme queda da procura interna e pela escassez de crédito, e que é a causa da diminuição da atividade econômica e com isso da descida das receitas do Estado (e o consequente aumento do défice da dívida pública). Está aqui o problema oculto que alguns de nós temos estado a denunciar desde o princípio (ver o livro “Hay alternativas”, de Navarro V., Torres J. e Garzón A. emvnavarro.org). A evidência científica que apoia este diagnóstico é avassaladora. As políticas que a banca alemã e francesa (e espanhola) e os seus porta-vozes políticos, incluindo Merkel-Sarkozy e Rajoy, estão impondo são um suicídio econômico.

Em seguida, deverá fazer-se a pergunta: porque continuam a promovê-la? Uma resposta é que os dogmas econômicos são tão irracionais como os dogmas religiosos. O pensamento neoliberal é um dogma impermeável aos dados e aos fatos. Mas continua a reproduzir-se porque isso serve determinados interesses, os interesses da banca, com a cumplicidade dos aliados políticos (o ministro da Economia do Estado espanhol, o presidente do BCE, assim como grande número de pessoas responsáveis de levar a cabo e estimular as políticas de austeridade são banqueiros ou próximos da banca), que assumem que os interesses particulares da banca coincidem com os interesses gerais do país, o que não é verdade, como bem documentam os estudos rigorosos que mostram que as causas da crise são o comportamento negativo do BCE e do Banco de Espanha, e dos bancos que em teoria supervisionam, mas que na prática lucram em detrimento do interesse geral.

Na realidade, as soluções são fáceis de ver. E consistem na aplicação de políticas de estímulo econômico, com um intervencionismo público que estimule a economia a criar emprego, juntamente com o estabelecimento de bancos públicos e uma regulação do setor bancário, forçando-o a recuperar a sua função social, a oferta de crédito. Mas, isso não acontece devido à enorme influência da banca e de outras componentes do capital financeiro nas instituições políticas e mediáticas de Espanha e da Europa.

Fonte: Agência Carta Maior por Vicenç Navarro
Artigo publicado no jornal “Público” de Espanha, disponível em vnavarro.org. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

domingo, 29 de abril de 2012

O senador, a mídia e o 'grand finale' da ópera


As relações naturalmente promíscuas entre membros do Congresso e a contravenção penal, só são uma novidade por terem se desvelado na atual conjuntura. No mais, que tudo tenha acontecido com um moralista de plantão, tido pela grande imprensa como o mais honesto dos congressistas, não chega a ser um enredo para novela de mau gosto. 
Somerset Maugham no seu conto "A Chuva" põe um pastor a ser flagrado numa relação mais que escandalosa com uma prostituta. Nada que seja pior do que o conluio entre o senador Demóstenes Torres e o contraventor Carlinhos Cachoeira. É que os enredos de novelas e de óperas, quando minimamente coerentes, podem ser inferiores à realidade. 
A tragédia da ópera "Carmen", de Bizet, baseado no romance homônimo de Prosper Merimée, não é que o protagonista se junta a um bando de contraventores -contrabandistas - para seguir a sua amada - mas o fato, mais que corriqueiro, de que, ao se tornar bandido, acaba também como um assassino. 

Não que os crimes que incluam políticos e contraventores estejam isentos de protagonizarem também mortes. O caso do prefeito Celso Daniel em Santo André prefigura a quantas mortes pode chegar o que, à primeira vista, seria um caso de corrupção, um "simples" caso de corrupção. A diferença para o episódio que gerou uma CPI parece residir na mediocridade de ambos os personagens do fato denunciado recentemente, ou, se quisermos, na sensaboria dos protagonistas. 

Na galeria de personagens literários brasileiros do século XIX, a convivência com o jogo do bicho não chegava a machucar ninguém. Mas não havia também qualquer proibição à prática. A contravenção, modernamente, considerada que tal, põe em relevo a mesma questão que se coloca para o caso dos tóxicos: quem nasceu primeiro, a oferta ou a demanda: o ovo ou a galinha? Um dos exemplos emblemáticos de Machado Assis - dos poucos em que ele assume diretamente uma questão política - se dá na sua peça "O Quase Ministro". O título já diz tudo, inclusive sobre a ironia do escritor. Mas a trama em si fala muito pouco para os nossos tempos: o que avulta é a ambição humana - nada de conchavos, tendo como pano de fundo o poder econômico. 

É claro que isso existia. O milagre de o Brasil ter se tornado uma única nação, parece não ter obedecido à lógica da distância da metrópole, como ocorreu na América Latina de fala espanhola. Não são poucos os historiadores que defendem a anterioridade da data da nossa independência; o Brasil teria se tornado um país desligado de Portugal, não em 1822, quando Dom Pedro I institucionalizou o que, de fato, já tinha acontecido em 1808. 
Ao dar ao Brasil o status de reino, Dom João VI sabia que o resto seria uma questão de tempo para os ajustes, como, de qualquer modo, aconteceu. Mas na América espanhola as diferenças e a lonjura da metrópole se fizeram consoante os interesses econômicos dos países europeus. A Inglaterra prescindiu de perder tempo com as possíveis dissidências brasileiras: um rei submisso à Coroa Britânica, como foi àquelas alturas com a monarquia portuguesa, era tudo que a Inglaterra queria depois da derrota de Napoleão.

Nada disso deve ter obstado as burlas, as grandes jogadas financeiras. A história do Brasil tem seus detratores e muitos historiadores sérios: falta, porém, contar o que só nos está sendo revelado agora, após o período militar -do qual aliás, só sabemos o que é público e notório - as torturas, a covardia de muitos, a coragem de outros - mas e a corrupção? Qual o custo real da Transamazônica, da ponte Rio-Niterói, de Itaipu, ou dos aeroportos como Viracopos, construídos justamente durante a ditadura? 

São questões em aberto. Na peça de Machado, ser ministro não importava tanto como hoje . Quem mandava era o império e suas tenazes que parecem terem se estendido até a República Velha. 
Jorge Street, único empresário paulista que aceitou as reivindicações da primeira greve laboral conhecida no Brasil e que se deu, em 1917, em São Paulo, foi exemplarmente punido por sua abertura em relação aos problemas sociais. Teve cortado seu crédito pelos banqueiros da época. Nenhum problema de corrupção, em princípio - mas seja qual for o nome que se dê às maquinações de empresários com o estado, contra uma classe social, como a dos trabalhadores, o poder do capital foi usado de forma a suprimir a voz discordante do meio empresarial. 

Ao que parece, porém, o tema da corrupção era menos importante - ou um assunto irrelevante perante o poder efetivo, real. Napoleão sempre tolerou que Talleyrand - pai "natural" do grande pintor Eugène Delacroix - surrupiasse onde pudesse: julgava-o mais útil como diplomata, do que condenável por seus procedimentos, digamos, nada heterodoxos em relação ao dinheiro público. 

No Brasil atual, por conta e risco - quem sabe - de "um deixa pra lá" muito comum e leniente com a corrupção- chegou-se, por fim, ao inaceitável. As próprias relações do senador com o bicheiro, parece só se terem tornado um assunto nacional por esses "imbroglios" da história, ou antes, uma submissão paradoxalmente, momentânea digamos, da polícia com o governo. 
Essa, parece, a razão da surpresa da grande imprensa com o fato. O banco dos réus ocupado pelo senador Demóstenes Torres deveria, segundo a lógica da mídia, estar sendo tomado por alguém do governo; ou de esquerda. As capas e manchetes foram sempre monopolizadas pelo senador como "paladino" da moralidade, e portanto, do sistema. Só um erro de percurso explica os acontecimentos. Daí, porém, a busca quase desesperada da mídia: ao que parece, é preciso encontrar fatos que incriminem o governo e seus aliados. 

É isso que parece fazer da história e da arte o que elas são (se é que as duas sejam, afinal, muito diferentes): troquem-se os nomes e o filme será, sem tirar nem pôr, igualzinho à novela; ou à ópera, mas principalmente à realidade. Esse, aliás, parece o consolo consabido - uma alimenta a outra. O difícil agora é que o enredo siga o ramerrã. E que quem tenha de responder pelo mal feito não seja o governo - mas a oposição. A ver a ópera e esperar o "grand finale".

Por Enio Squeff -artista plástico e jornalista.

Fonte: Agência Carta Maoir

sábado, 28 de abril de 2012

Há uma nova classe média surgindo no Brasil?


O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann está lançando, pela Boitempo, um estudo sobre a mobilidade na base da pirâmide social brasileira durante o início do século XXI. Nova classe média? analisa as recentes transformações na sociedade e refuta a idéia de surgimento de uma nova classe no País, muito menos a de uma nova classe média.


O resgate da condição de pobreza e o aumento do padrão de consumo, afirma Pochmann, não tiram a maioria da população emergente da classe trabalhadora. Para ele é preciso a politização classista do fenômeno para aprofundar a transformação da estrutura social, sem a qual a massa popular em emergência ganha um caráter predominantemente mercadológico, individualista e conformista sobre a natureza e a dinâmica das mudanças socioeconômicas no Brasil.



Pochmann faz nesse livro “uma reflexão sobre transformações recentes ocorridas no país, com a volta do crescimento econômico, e as características das ocupações e das relações de trabalho na base da pirâmide social. E em cada um dos capítulos, defende pontos de vistas que não são consensuais entre os especialistas, o que torna ainda mais importante a sua leitura”, afirma José Dari Krein, professor do Instituto de Economia da Unicamp e autor do texto de orelha. 



Em contraposição à visão predominante, que busca explicar o atual processo pela emergência de uma nova classe média, o livro mostra que, apesar dos avanços recentes, a dinâmica das ocupações e do rendimento requer algo mais do que a inserção das pessoas no mercado de consumo.



A análise dos dados mais recentes mostra que a melhora dos indicadores na distribuição da renda do trabalho e de seu aumento na participação da riqueza gerada concentra-se, fundamentalmente, na base da pirâmide social, o que revela também os seus limites. 



O economista aponta que no Brasil as ocupações formais cresceram fortemente durante a primeira década de 2000, especialmente nos setores que têm uma remuneração muito próxima ao salário mínimo: 94% das vagas criadas entre 2004 e 2010 foram de até 1,5 salário mínimo. Juntamente com as políticas de apoio às rendas na base da pirâmide social brasileira, como elevação do valor real do salário mínimo e massificação da transferência de renda, houve o fortalecimento das classes populares assentadas no trabalho.



“O adicional de ocupados na base da pirâmide social reforçou o contingente da classe trabalhadora, equivocadamente identificada como uma nova classe média. Talvez não seja bem um mero equívoco conceitual, mas expressão da disputa que se instala em torno da concepção e condução das políticas públicas atuais”, sugere Pochmann na apresentação do livro. 



Nesse sentido, o autor aponta o fortalecimento dos planos privados de saúde, educação, assistência e previdência, entre outros, como consequência de uma reorientação das políticas públicas para a perspectiva fundamentalmente mercantil, baseada na interpretação da classe média (nova). Com isso, recoloca-se a necessidade de construir serviços públicos de qualidades e de uma efetiva estruturação do mercado de trabalho (emprego de qualidade e protegido) em nosso país, aspectos decisivos para enfrentar a precariedade no setor.



Trecho da apresentação
“Mesmo com o contido nível educacional e a limitada experiência profissional, as novas ocupações de serviços, absorvedoras de enormes massas humanas resgatadas da condição de pobreza, permitem inegável ascensão social, embora ainda distante de qualquer configuração que não a da classe trabalhadora. Seja pelo nível de rendimento, seja pelo tipo de ocupação, seja pelo perfil e atributos pessoais, o grosso da população emergente não se encaixa em critérios sérios e objetivos que possam ser claramente identificados como classe média. 

Associam-se, sim, às características gerais das classes populares, que, por elevar o rendimento, ampliam imediatamente o padrão de consumo. Não há, nesse sentido, qualquer novidade, pois se trata de um fenômeno comum, uma vez que trabalhador não poupa, e sim gasta tudo o que ganha. Em grande medida, o segmento das classes populares em emergência apresenta-se despolitizado, individualista e aparentemente racional à medida que busca estabelecer a sociabilidade capitalista. 

(...) Percebe-se sinteticamente que a despolitizadora emergência de segmentos novos na base da pirâmide social resulta do despreparo de instituições democráticas atualmente existentes para envolver e canalizar ações de interesses para a classe trabalhadora ampliada. Isto é, o escasso papel estratégico e renovado do sindicalismo, das associações estudantis e de bairros, das comunidades e base, dos partidos políticos, entre outros.”



Sobre o autor
Desde 2007 Marcio Pochmann preside o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em 2012 deixará a instituição para disputar a prefeitura de Campinas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições municipais. Professor licenciado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é também pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia da mesma instituição e autor de vários livros, entre os quais O emprego na globalização: a nova divisão internacional do trabalho e os caminhos que o Brasil escolheu (Boitempo Editorial, 2001).


Fonte; Agência Carta Maior

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Desemprego sobe para 6,2%, mas ainda é o menor em 10 anos


A taxa de desemprego apurada pelo IBGE nas seis principais regiões metropolitanas do País ficou em 6,2% em março ante 5,7% em fevereiro, segundo divulgou há pouco o instituto. O resultado ficou no teto do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções, que iam de 5,80% a 6,20%, com mediana de 6,00%. Apesar da alta, a taxa de desemprego atingiu o menor patamar para o mês de março.
O total dos trabalhadores registrou variação positiva de 1,6% em março ante fevereiro e aumento de 5,6% na comparação com março do ano passado.
A massa de renda real habitual dos trabalhadores ocupados no País totalizou R$ 39,4 bilhões em março, o que representa um aumento de 2% em relação a fevereiro, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Em relação a um ano antes,a alta foi de 7,0%.
Já a massa de renda real efetiva paga aos ocupados em fevereiro foi de R$ 38,9 bilhões, equivalente a um avanço de 1,2% ante janeiro, e crescimento de 6,2% em relação a fevereiro de 2011.
A PME é realizada nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Efeito sazonal
O aumento da taxa de desemprego em março indica uma continuidade na dispensa de trabalhadores temporários, iniciada em janeiro, segundo o IBGE. Segundo o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, Cimar Azeredo, a série histórica mostra que há um efeito sazonal no mercado de trabalho que pode se prolongar até março.
"Em janeiro, fevereiro e março é comum a taxa (de desemprego) subir, porque não costuma ter contratação de trabalhadores. Pelo contrário, costuma haver dispensa de temporários", afirmou Azeredo.
O pesquisador alerta que só é possível verificar a tendência do mercado de trabalho a partir de abril, quando há aumento no ritmo de contratações de trabalhadores diante de um cenário econômico favorável.
"Nos anos em que a economia não estava favorável, aumentou a desocupação no segundo trimestre. Mas, na maioria das vezes em que a economia estava favorável, já em abril a gente tem uma recuperação, uma resposta do mercado de trabalho", lembrou Azeredo.
"Se subir a taxa em abril, você pode dizer que houve uma demora na resposta do mercado de trabalho em relação ao cenário econômico. Não é mais dispensa de temporários, aí já é uma demora do mercado de voltar a contratar".
População desocupada
A população desocupada cresceu 8,8% no confronto com fevereiro, totalizando 1,5 milhão de pessoas, o equivalente a 122 mil pessoas a mais procurando trabalho, informou o IBGE. Na comparação com março do ano passado, no entanto, a estimativa permaneceu estável.
Já a população ocupada totalizou 22,6 milhões, montante estável na comparação com fevereiro. Porém, na comparação com março de 2011, houve aumento de 1,6%, o equivalente a 367 mil ocupados a mais.
O número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado ficou em 11,1 milhões em março, estável ante fevereiro. Na comparação com março do ano passado, houve alta de 3,7% no número de trabalhadores com carteira, o mesmo que 394 mil postos a mais.

Texto de Daniela Amorim, da Agência Estado
Fonte: blog do Nassif

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Dieese ‘desmonta’ justificativas de bancos para manterem alto spread

Um estudo divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese) desmonta alguns dos principais argumentos dos bancos brasileiros para manterem spreads elevados na intermediação financeira.

No início deste mês, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), pressionada pelo governo federal, condicionara a queda do spread a uma série de medidas a serem tomadas pelo governo, como redução do compulsório e de impostos.

Como se sabe, a resistência durou pouco. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, sob ordens do governo, cortaram os spreads, obrigando as instituições privadas a fazerem o mesmo para não perderem mercado – ainda que os benefícios permaneçam restritos a alguns pacotes de serviços e segmentos de clientes.

O que o estudo da subseção do Dieese no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região confirma agora, com base em dados do Banco Central (BC), é que o spread é alto no Brasil por conta das altas margens de lucro embutidas na taxa.

Em 2010, última pesquisa feita pelo BC, o spread era formado por 32,7% de margem líquida, 28,7% de inadimplência, 21,9% de impostos diretos, 12,6% de custo administrativo e 4,1% de despesas referentes ao compulsório, subsídio cruzado e fundo garantidor de crédito.

“Alguns analistas dizem que é preciso reduzir o compulsório para cortar o spread, mas isso é um desvio de foco, porque o compulsório representa apenas quatro pontos do spread”, afirma o economista do Dieese Gustavo Cavarzan, um dos autores do trabalho.

Ele lembra ainda que está embutido no spread um custo administrativo de mais de 12 pontos percentuais, apesar de os bancos já obterem uma remuneração via tarifas de 130% do valor das despesas com pessoal.

Por fim, com relação à inadimplência cobrada via spread, ele aponta que o valor é uma estimativa, e não a “inadimplência real”. Isso sugere que em determinados períodos os bancos cobram um valor referente à taxa de inadimplência que, na verdade, poderia ser menor.

Antes da atual onda de corte nos spreads, os bancos brasileiros eram um ponto fora da curva no mundo, onde alguns países chegavam a ter “spreads negativos”. Em janeiro de 2012, enquanto a taxa média paga para aplicações financeiras no Brasil estava em 38% ao ano, a taxa média de captação era de 10,2% anuais, resultando em um spread de cerca de 27,8 pontos percentuais ao ano. 

Na Argentina, esse número estava em 3,39 pontos, no Chile, em 4,49, no México, em 3,82, na Colômbia, em 7,37, e na Bolívia, em 9,61. Agora, aguarda-se um novo estudo para confirmar se os spreads no Brasil convergem rumo a padrões normais.

Apesar das novidades, Cavarzan afirma que não acredita que os bancos do país deixarão de registrar lucros relativamente mais elevados do que em outros países. “Eles vão deixar de ganhar na margem, mas vão ganhar na escala,”, diz.

O mercado de crédito no país realmente tem um amplo potencial de crescimento. Enquanto por aqui o volume de crédito alcança patamares de 48% (metodologia do BC, em janeiro de 2012) ou 57% (metodologia do Banco Mundial, em 2010), esse número chega a 225% na Dinamarca, 169,2% no Japão, 145,5% na África do Sul e 130,0% na China - conforme dados do Banco Mundial.


Fonte: Agência Carta Maior

terça-feira, 24 de abril de 2012

Os desafios da esquerda na gestão municipal, segundo Pochmann

A intervenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições dos dois mais importantes municípios paulistas - São Paulo, capital e Campinas – tem um objetivo que transcende o pleito de outubro. Lula colocou em andamento uma estratégia que consiste em oxigenar o PT via seu núcleo paulista, estruturado a partir dos movimentos sindicais dos anos 80, e trazê-lo para uma realidade de democracia consolidada no país, mas de onde emerge uma classe desgarrada do sindicalismo, das associações de base ou da militância em movimentos sociais.


Essa visão dos desafios que o partido terá que enfrentar para se adequar a esse novo ciclo político foi exposta por Lula ao economista Márcio Pochmann, no ano passado, quando o chamou para conversar sobre a possibilidade de aceitar a candidatura petista à prefeitura de Campinas. Simultaneamente, Lula investiu no seu ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, para que assumisse igual papel, em outubro, na disputa pela prefeitura da maior cidade do país e da América Latina, São Paulo.


Pochmann e Haddad têm biografias parecidas. Ambos, muito jovens, estavam nas articulações que resultaram na fundação do PT. Os dois, em algum momento, tornaram-se quadros intelectuais do partido, ao seguirem carreira acadêmica. Ambos integraram a administração de Marta Suplicy (2001-2004) - Pochmann comandou a pasta do Trabalho e Haddad foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças, cujo titular era João Sayad. Haddad foi ministro de Lula; Pochmann assumiu, em 2007, a presidência do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). 


Ambos podem ser enquadrados na classificação de "técnicos", por terem feito carreiras mais ligadas à academia do que à política institucional, mas não há como negar que, também por essas qualidades, foram parte e articuladores de políticas de gestão pública importantes.


"O PT é muito grande e terá candidatos a prefeitos de diversas origens. Haddad e eu somos os únicos que viemos do sistema universitário e com experiências mais intelectuais", afirmou Pochmann, em entrevista à Carta Maior. A escolha de dois acadêmicos que tiveram experiências na gestão pública federal, na opinião do pré-candidato em Campinas, é uma inversão na ideia de que uma prefeitura é apenas o início de uma carreira política: o espaço municipal é retomado como um elemento fundamental para o êxito de políticas públicas. “O sucesso do governo federal em políticas públicas decorre de experiências exitosas de prefeituras, como os bancos populares municipais, o orçamento participativo, políticas de distribuição de renda e o próprio Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirma Pochmann.


O movimento municipalista dos anos 70 e 80, se foi fundamental para a inovação da gestão, vive hoje uma fase de esgotamento, pela “pasteurização das políticas públicas”, afirma o economista. As inovações daquele período foram absorvidas indistintamente pelas administrações municipais, independentemente dos partidos políticos a que pertenciam os gestores. Pochmann acredita que desafio para ele e Haddad é propor um novo ciclo de renovação de políticas públicas, numa realidade econômica em que o país tem uma melhor distribuição de renda e adquire maior importância no cenário internacional.


Pochmann, que se intitula da “esquerda democrática, que tem como valor fundante a radicalização da democracia”, considera que essa vertente ideológica tem desafios próprios. O primeiro deles é o de reconhecer “um certo esgotamento da experiência democrática representiva” e, a partir daí, avançar e propor novos instrumentos de participação da população na gestão municipal. Um avanço seria associar os conselhos municipais, que hoje existem em todas as áreas da administração, a orçamentos participativos territorializados. “Hoje há áreas geográficas enormes, com grandes populações, e a ideia de um município centralizado na prefeitura, em um único espaço, distancia a participação popular”, afirma o presidente do Ipea.


Outro desafio, segundo o pré-candidato, será lidar com cidades que tiveram uma forte experiência industrial e hoje se transformam em municípios de serviços. A cidade industrial empurrou as pessoas mais pobres para as periferias e comprometeu uma grande parte do tempo das pessoas com todos tipos de deslacamento. A cidade de serviços, com o avanço das tecnologias de informação e comunicação, não pressuporá grandes deslocamentos “se houver uma mudança da centralidade da cidade”. O novo modelo é aquele em que o trabalho e a residência são mais próximos, “com forte presença do espaço público e da educação, que é o principal ativo dessa sociedade”, diz Pochmann.


O outro grande desafio é a alteração na demografia das grandes cidades brasileiras. “Estamos vivendo uma transformação importante na queda da fertilidade brasileira e em duas décadas teremos uma regressão absoluta no número de habitantes e um aumento na proporção de pessoas idosas”, observa. Esta é uma realidade para a qual o país não está preparado. “Vão sobrar escolas, haverá uma mudança no perfil profissional da população e será uma sociedade de jovens e adultos muito complexa, com forte dependência do conhecimento”.


Por Maria Inês Nassif
Fonte:http://www.cartamaior.com.br

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O ativismo keynesiano no Brasil

Não há dúvida de que a adoção da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (2004), da Política de Desenvolvimento Produtivo (2009) e do Plano Brasil Maior (2011) marcou a tentativa de resgate da política industrial no Brasil, depois de mais de uma década de difusão da ideia de que reformas econômicas liberalizantes per se seriam condição suficiente para restabelecer o desenvolvimento econômico brasileiro.

 Apesar de repetida à exaustão a ideia da inexistência de argumentos para a defesa de políticas industriais setoriais na década de 1990, a verdade é que há uma abundante literatura teórica e empírica defendendo a tese contrária.

O economista Dani Rodrik, de Harvard, procurou dar cabo à controvérsia utilizando a expressão "política industrial, não me perguntem por que, mas como", que pode ser interpretada em dois sentidos: primeiro, não basta apenas justificar a necessidade, mas é preciso contar com um diagnóstico preciso dos gargalos e setores prioritários, além de uma eficiente execução e acompanhamento dos resultados; segundo, a política industrial deve ser adotada nas instâncias micro, meso e macroeconômicas, que se encarregam de sua coordenação com as políticas tecnológica, de comércio exterior, monetária, fiscal e cambial.

Estudos apontam que valor do dólar adequado ao desenvolvimento deveria estar entre R$ 2,40 e R$ 2,90 Ainda que o atual governo venha fazendo um enorme esforço, por enquanto sem sucesso, para consolidar tal coordenação, desde 2004 o real tem mostrado tendência persistente de excessiva sobrevalorização.

Embora a política monetária ultraexpansionista praticada nos países desenvolvidos em resposta à crise de 2008-2009 tenha agravado o problema do desalinhamento cambial no Brasil, convertendo a enorme liquidez internacional pré-crise no atual "tsunami monetário", o fato é que a questão cambial não é apenas um problema externo, mas principalmente doméstico.

Da mesma forma que os países ricos têm adotado medidas radicais para defender o crescimento e o emprego, nós também deveríamos encontrar meios igualmente radicais, se necessário, para deter o processo de semiestagnação que nos acompanha desde o início da década de 1980.

Dependendo dos conceitos utilizados para definir a taxa de câmbio real mais adequada para o desenvolvimento, os estudos empíricos apontam que o dólar deveria estar entre R$ 2,40 e R$ 2,90.

Tamanho nível de desalinhamento cambial evidencia que os incentivos governamentais divulgados no início de abril, cujos impactos podem conceder apenas algum alívio temporário à indústria, não serão capazes de deter o processo em curso de desindustrialização no Brasil e muito menos assegurar taxas de crescimento significativamente superiores e sustentáveis no curto ou no longo prazo.

Com efeito, os empresários sempre considerarão elevados os custos de oportunidade para ampliar os investimentos se observarem que as taxas de juros reais continuam muito superiores às internacionais e a moeda doméstica com tendência persistente à sobrevalorização.

 Embora o problema cambial não seja recente, o Brasil tem sido fortemente afetado pelas expectativas negativas do cenário internacional adverso, que refreia a demanda privada por novos projetos, situação agravada pela avalanche de capitais externos de curto prazo que reafirmam a tendência à sobrevalorização.

Os incentivos governamentais adotados no início do mês, por focarem basicamente o lado da oferta, só seriam efetivos para acelerar o crescimento se o contexto macroeconômico corrente fosse favorável à demanda privada orientada para projetos de investimento, de inovações e de exportações.

Mas como o problema é de expectativas negativas e de fraca coordenação entre as políticas monetária, fiscal e cambial, a agenda prioritária deveria estar localizada na esfera da política macroeconômica, e não da política industrial. O Banco Central (BC) tem procurado melhorar a coordenação com a Fazenda no sentido de reduzir as taxas de juros e reverter a convenção dos agentes com respeito às expectativas futuras das taxas de juros.

A equipe econômica, por sua vez, tem tentado impor medidas ad hoc e homeopáticas de controle de capitais, mesmo sabendo que estas só podem impor um piso para a moeda brasileira apreciada, mas não são capazes de restaurar um nível de taxa de câmbio real pró-crescimento.

 Embora autoridades do governo relembrem que possuem um arsenal bélico à disposição para deter o "tsunami monetário", é preciso sangue frio e coragem para dispará-lo. Afinal, dado o contexto de expectativas negativas e com um déficit em conta corrente projetado para cerca de US$ 69 bilhões em 2012 (em torno de 3% do PIB), dificilmente teremos uma saída organizada para o realinhamento cambial, com ou sem nova crise global.

Então, a agenda da política macroeconômica deveria priorizar dois alvos: primeiro, o fiscal, no sentido de reduzir temporariamente as metas de superávit primário, direcionando maior parcela do orçamento público para investimentos em infraestrutura (além dos já previstos para a Copa do Mundo e Olimpíada).

Ainda que estes não tenham a pretensão de compensar a baixa taxa de investimento privado, poderiam induzir à decisão de investimento dos empresários por meio do efeito multiplicador de renda keynesiano e pela melhoria do estado de confiança futura, que impulsiona o animal spirits empresarial; e, segundo, o cambial.

Neste caso, o arsenal bélico deve ser corajosamente ativado: adoção de "quarentena" de um ano a todo novo influxo de capital, seja de curto, médio ou longo prazo. Muitos poderiam afirmar que essa medida acarretaria forte depreciação da moeda brasileira e inflação.

No entanto, enquanto a depreciação do real seria a solução definitiva para realinhar os preços relativos em direção ao crescimento e ao aumento das exportações e aí, sim, tornar efetivas as medidas de política industrial já adotadas, não há qualquer razão teórica ou empírica para esperar que o efeito inflacionário decorrente seja permanente, desde que mantida a atuação do Banco Central no sentido de inverter a antiga convenção das expectativas inflacionárias.

Se isso implicará a mudança ou mesmo a eliminação do regime de metas de inflação, as autoridades econômicas melhor dirão.

 Por André Nassif - professor de economia internacional da Universidade Federal Fluminense e economista do BNDES no Fonte: Valor Econômico e blog do Nassif

sábado, 21 de abril de 2012

Estudo traz luz à questão do preço dos pedágios

O estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) “Rodovias brasileiras: Investimentos, concessões e tarifas de pedágio”, agora divulgado, tem o mérito de colocar luz sobre a questão das tarifas de pegágio cobradas nas concessões de rodovias no Brasil.

O criterioso levantamento nos sete Estados em que houve concessões, comprova as diferenças gritantes entre o modelo de privatização das rodovias federais adotado nas gestões de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e no de concessões do ex-presidente Lula (2003-2010), seguido pelo governo da presidenta Dilma Rousseff. p>Não é preciso dizer muito, os números falam por si.

Na primeira etapa de concessões federais entre 1995-1997, era FHC, a tarifa média cobrada por 100 km rodados foi de R$ 9,86. Naquele modelo, privilegiou-se o maior preço pago pela rodovia. Na era Lula, entre 2008 e 2009, a tarifa é significativamente inferior, de R$ 2,96 pagos pelos mesmos 100 km. Neste caso, as conessões foram dadas às empresas que ofereceram menor pedágio.

Entre as concessões feitas pelos Estados que seguiram o mesmo modelo de FHC, chamam a atenção as do governo de São Paulo. A tarifa média por km no Estado é de R$ 12,76, muito superior à média brasileira de R$ 9,04. Na 1ª etapa das concessões, 1997/1998 (gestão Mário Covas), o valor da tarifa bateu em R$ 13,65 por 100 km. Uma década depois, nas concessões do período de 2008/2009, mesmo com a inflação em queda e a Selic em um patamar inferior, ainda assim, o governo de José Serra persistiu no erro.

 "Experiência não foi aproveitada" Pedágio da Imigrantes em São Paulo (SP) “A experiência acumulada durante a 1ª etapa de concessão (em São Paulo) pouco foi aproveitada para realizar aperfeiçoamentos nos contratos na questão tarifária, diferentemente do que fez o governo federal”, afirma o texto da pesquisa do IPEA. Nesta 2ª etapa, enquanto as rodovias federais concedidas cobravam tarifas de R$ 2,96 (100 km), o governo tucano paulista consolidou uma tarifa média de R$ 10,62 pelo mesmo trecho, três vezes mais.

O IPEA também traz luz sobre como as tarifas de pedágio são reajustadas. Há uma miríade de critérios, conforme a concessão. Na primeira etapa de concessões do governo federal (1995-1997), época de inflação e Selic altas, as tarifas de pedágio partiram de patamares elevados. Assim, em 2011, o valor médio dessas tarifas foi de R$ 9,86/100 km.

Em geral, o índice adotado foi o IGP-M, com grande prejuízo aos usuários. De maio de 1995, início da cobrança do pedágio pelo governo federal a janeiro de 2011, a variação foi de 300%, ante 197% do IPCA. Ou seja, as tarifas cresceram, em média, 121% acima da inflação medida pelo IPCA para os últimos 15 anos. Na 2ª etapa de concessões federais o cenário econômico nacional havia se alterado e o governo Lula adotou o IPCA como base para indicador de reajustes anuais, além de outros critérios.

Veja o estudo completo acessando http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/120419_comunicadoipea0144.pdf Fonte: http://www.advivo.com.br

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Brasil é o 'queridinho' dos mercados globais, diz Nobel de Economia

O Brasil é o destino favorito dos investimentos globais. Assim o prêmio Nobel de economia Paul Krugman definiu a posição do país em relação ao mundo, em palestra promovida na capital paulista pelo Sebrae, serviço de apoio à empresa.

Ele destacou que a tendência histórica de os países emergentes sofrerem com as crises mundiais não se confirma no cenário atual.

"Sempre que houve problema no G7, os emergentes sofriam mais, mas o mundo mudou. Isso não ocorre mais e os emergentes, principalmente o Brasil, foram bastante resilientes com relação à crise."
Segundo Krugman, enquanto os EUA acabam de atingir só agora, quatro anos depois, o patamar de PIB de 2008, o Brasil demonstra crescimento sólido e razoável. "Desde 2000, o país vive período muito bom, pela estabilidade e crescimento econômico que vem sendo melhor em relação ao passado, associado à redução da desigualdade, com políticas como o Bolsa Família, juntamente com a melhoria dos níveis de educação. Isso é uma história feliz."

No entanto, deve-se olhar a migração dos investimentos do eixo Norte para o Sul com cautela. "O mercado agora adora o Brasil, mas na última década eram a Espanha e Grécia os queridos do capital". Os dois países encontram-se hoje no epicentro da crise Europeia.

Outra razão para o país ficar alerta é a consequente sobrevalorização do real, que não é sustentável para os negócios da iniciativa privada, segundo ele. "Se o Brasil pudesse voltar à taxa de cambio de 2008, sem grandes disrupções seria bom."

Com relação à crise internacional, o economista acredita que uma solução ainda possível de ser adotada na Europa é a exclusão de países da zona do euro. Já com relação aos EUA, a produção poderia ser cerca de US$ 1 trilhão superior ao que se registra hoje. "As pessoas estão há mais de um ano desempregadas e nosso sistema não está pronto para isso, os jovens estão tendo dificuldade para encontrar trabalho."

Fonte: Por Izabela Ferreira Alves UOL SP

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mensalão versus CPI

Nossa “grande imprensa” está reagindo de forma curiosa à instalação da CPI do Cachoeira. Salvo uma ou outra voz discordante, anda cheia de desconfianças. No mínimo.

Em alguns casos, sua má vontade é clara. Em outros, mostra-se furiosa.

Cabe a pergunta: o que esperava do Congresso? O que deveriam senadores e deputados fazer frente às denúncias de que Demóstenes Torres está afundado até a raiz dos (poucos) cabelos em gravíssimas irregularidades, assim como, em escala menor, alguns deputados e lideranças de vários partidos?

E quanto às suspeitas que alcançam os governos de Goiás e do Distrito Federal, a revista Veja - um dos baluartes da imprensa de direita - e grandes empresas privadas? Agora que pipocam indícios de todos os lados?

O certo seria que cruzassem os braços e fingissem que nada acontece?

Quando Lula e as lideranças do PT no Congresso entraram em campo para defender a criação da CPI se comportaram como é natural na política: perceberam que seus adversários estavam fragilizados e agiram.

As atuais oposições fizeram a mesma coisa quando tiveram a oportunidade. Assim como os próprios petistas no passado, quando eram oposição e não deixavam escapar qualquer chance de atingir o governo.

A desconfiança da maioria dos comentaristas - e a fúria de alguns - tem a ver com a ideia de que a CPI do Cachoeira é útil ao PT.

Existem CPIs que não são políticas - as que investigam e propõem medidas para enfrentar problemas sociais relevantes. Hoje, por exemplo, há três dessas na Câmara - uma a respeito do abuso infantil, outra do trabalho escravo e uma terceira sobre o tráfico de pessoas. Por mais meritórias que sejam, alguém acompanha seus trabalhos e se interessa por elas, a não ser (talvez) os especialistas?

Resultam de consensos, o inverso do que ocorre nas CPIs políticas. Essas são invariavelmente contra algo ou alguém - governo, governante, partido.

Se nossos comentaristas estão desconfiados - ou apopléticos - com a CPI do Cachoeira por ela ser política, deveriam ficar assim sempre. Todas têm “motivos secretos”, todas visam a alcançar objetivos estratégicos.

Ingênuo é achar que o PT deixaria um escândalo como esse passar em branco, sem se aproveitar dele politicamente.

E a hipótese de a CPI do Cachoeira “nada mais” ser que uma manobra para desviar a atenção do mensalão e livrar os acusados?

Seria um ardil extraordinário, no qual teriam que estar envolvidos Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira - para não falar dos asseclas. Sem suas centenas de conversas, sem os fogões, geladeiras e celulares que um recebeu do outro, ninguém nem pensaria em CPI. Ou, quem sabe, o senador seria um criptopetista?

Fora sua pouca lógica, a tese de que a motivação última da CPI é distrair o interesse das pessoas do julgamento do mensalão implica supor que esse interesse existe e que o tema, para elas, é relevante. O que não faz sentido. O assunto perdeu, há tempo, a capacidade de motivá-las.

Implica, também, imaginar que o Supremo julga conjunturalmente, ao sabor dos humores ocasionais da população e de acordo com o modo como a imprensa o pauta. Se as pessoas forem “desviadas” do mensalão, será leniente. Se for pressionado, será rigoroso. Ou seja: não age. Somente reage.
Implica acreditar que o Supremo não decide de acordo com a Lei.

No fundo, quem cultiva essas fantasias tem pequeno apreço por nossa Justiça e pela opinião pública. Ou as conhece mal.

Fonte: Por Marcos Coimbra - sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi - Blog do Noblat

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A armadilha brasileira

Baseado na expansão do consumo, o modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil condena a indústria a um papel menor. Esse modelo contribui para valorizar o real frente a outras moedas, prejudicando a competitividade industrial. A apreciação do real também é resultado da forma como o país se inseriu na economia mundial na última década, ao transformar-se em competidor imbatível no setor de commodities, principalmente, agrícolas e minerais.

Estimular o consumo e ser um produtor eficiente de commodities foram escolhas da sociedade, uma possível consequência da Constituição de 1988 e, portanto, das políticas adotadas pelos governantes eleitos desde então. O país pode conviver bem com essas opções, o Brasil não está em crise, muito pelo contrário, mas encontrar um caminho para a indústria, defende Luiz Guilherme Schymura, diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é uma necessidade, mais do que um capricho.

O debate proposto por Schymura é sofisticado e foge um pouco do clima de Fla-Flu com que o tema vem sendo tratado ultimamente. Sua preocupação é com uma possível reversão, embora neste momento remota, das condições que permitiram ao país viver a atual fase de solidez.

Schymura argumenta que a economia brasileira atingiu um novo padrão de equilíbrio nas contas externas. O déficit em conta-corrente, inferior hoje a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), não representa risco. O "credit default swap" (CDS) da dívida soberana, uma medida de risco, caiu de 3.500 pontos base (35%) em 2002 para algo próximo de 200 pontos (2%) hoje. As reservas cambiais somam US$ 367,3 bilhões e seguem crescendo.

No ano passado, o país foi, no mercado emergente, o segundo maior beneficiário de investimento estrangeiro direto, com US$ 66,6 bilhões, dinheiro mais que suficiente para cobrir o déficit externo. Os preços das exportações de bens primários subiram quase 260% entre 2001 e 2011, evidenciando a melhora nos termos de troca do país, isto é, na relação entre preços dos produtos exportados e os dos bens importados.

A base dessa solidez, assinala Schymura, está no setor exportador de commodities. É ele o alicerce da confiança do mundo no Brasil, o que diminui o risco-país e torna a economia mais atrativa a fluxos de capitais. A futura exploração de petróleo na camada pré-sal apenas acentuará essa característica. Num mundo com abundância de capitais e com as economias avançadas crescendo pouco, o Brasil tornou-se um polo de atração tanto para capital especulativo, movido pelo diferencial de taxas de juros, quanto para produtivo.

Esse quadro de fartura pode mudar. "Seria muito perigoso se o Brasil se acomodasse com os louros da atual bonança de forma pouco crítica. Afinal, a conjugação de fatores externos e internos pode se alterar, e, mesmo havendo o mecanismo de ajuste do câmbio flutuante, mudanças muito bruscas podem trazer transtornos e deslocamentos com fortes impactos econômicos, políticos e sociais", alega Schymura, que tratará do tema na próxima Carta do Ibre.

O modelo de desenvolvimento brasileiro é amparado na forte expansão do consumo. Entre 2004 e 2011, a demanda cresceu 40,1%, enquanto, no mesmo período, o PIB avançou 31,8%. Segundo o diretor do Ibre, desse hiato gerado ao longo de sete anos, 61% podem ser atribuídos à elevação da absorção de poupança externa - o país importa capitais porque não gera poupança doméstica suficiente para financiar os investimentos - e 39% aos ganhos nos termos de troca.

A ênfase no consumo aumenta, por sua vez, a demanda no setor de serviços, intensivo em trabalho. Decorre daí, portanto, a pressão sobre os salários da economia, que têm crescido acima dos níveis de elevação da produtividade do trabalho no setor industrial.

"Outro ângulo do problema é que a absorção de poupança externa provocada pelo excesso do consumo e do investimento em relação à renda nacional leva necessariamente a déficits comerciais no setor de produtos comercializáveis internacionalmente. Diante da hipercompetitividade das commodities, os déficits atrelados à absorção de poupança externa recaem inevitavelmente sobre os bens industriais", explica o diretor do Ibre. "Assim, o consumo turbinado é uma das raízes mais profundas dos problemas da indústria, da qual o câmbio valorizado é um reflexo."

Para Schymura, é equivocada a ideia de que políticas sistêmicas de redução do custo Brasil possam ser benéficas para a indústria. Segundo ele, é preciso verificar se essas políticas afetam positivamente as fábricas em comparação com os demais setores da economia que competem por fatores de produção. Por exemplo, a elevada carga tributária do setor de energia elétrica e o custo do gás natural, além das altas alíquotas de tributos como o ICMS, prejudicam mais a indústria do que outros setores.

A melhoria da logística e dos grandes eixos de transporte, por sua vez, sustenta Schymura, não beneficia tanto a indústria. Seus efeitos positivos são mais visíveis para o setor de commodities, que movimenta cargas maiores e geralmente por percursos mais longos. Na opinião do economista, as grandes obras de escoamento de commodities agrícolas e minerais deveriam ser preferencialmente financiadas com dinheiro privado por meio de contratos de concessão, liberando o Estado para gastos que gerem benefícios mais disseminados na economia.

Reformas que barateiem e ampliem o financiamento de longo prazo beneficiam, porém, mais a indústria, uma vez que esta, ao contrário do setor agrícola, tem maior dificuldade em se financiar. A melhora da educação também ajuda essencialmente o setor industrial, mais dependente de mão de obra, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, do que o agronegócio.

"Diante desse quadro, parece correta e sem maiores riscos a adoção imediata de uma agenda de medidas tributárias, financeiras e de aprimoramento de capital humano, que mitigue as pressões sobre as manufaturas", diz Schymura. Em certa medida, é o que o governo está fazendo, embora de uma forma um tanto atabalhoada. É possível avançar, como têm demonstrado países como o México, sem risco de retrocesso em conquistas obtidas na última década e meia.

Por Cristiano Romero

Fonte: Valor Econômico

terça-feira, 17 de abril de 2012

Como lidar com o excesso de informações

Gostamos e necessitamos de informações, quanto mais variadas forem, com qualidade e dentro de temas que nos interessem, contribuem para nossa formação intelectual, para nossa criatividade e uma vida mais sociável. No entanto, informações em excesso e sem controle podem se tornar um problema de tempo e saúde. Pesquisas recentes mostram o efeito de consumo de glicose no cérebro ao longo do dia, devido esse consumo que temos de informações. Sem glicose, tomamos piores decisões, procrastinamos e não temos paciência para ler aquele e-mail longo no fim do dia, que acaba sendo marcado como não lido para o dia seguinte.

A tecnologia enlouqueceu nossa vida com a facilidade de acesso a milhões de fontes sobre o mesmo assunto, mas também pode ser nosso salvador da pátria. No meu próximo livro (Resultados & Equilíbrio – Por que as pessoas não fazem o que deveriam fazer?), que lanço em maio, acumulei um volume de informação gigantesco ao longo de dois anos para compilar dados relevantes para o livro. Vou compartilhar o que apliquei nesse processo, que na verdade é um pequeno método de processamento de informação que consiste em 4 etapas:


1 – Filtrar
Eu acessava 113 blogs sobre produtividade, tecnologia, qualidade de vida e empreendedorismo. Irreal, mas a gente vai colocando nos favoritos e quando dá conta perde o controle. Eu simplesmente cancelei minha conta no Google Reader e comecei uma do zero com a missão de não ter mais de 10 blogs, o que me gera uma média de 4 posts/dia, bem mais razoável.

2 – Capturar
Eu tenho usado o Feedly no Ipad e Chrome para ler esses posts, o que faço sempre que estou no avião. Agora o que tem sido uma coisa fantástica é o Voice Reader que lê os meus blogs enquanto estou no trânsito, integrado ao meu bluetooth do carro. Ou seja, enquanto estou parado ele vai lendo os feeds para mim, algo tipo um audiobook! Isso salva um tempão (não funciona para posts em português). Além dos blogs, eu tenho usado bastante o Instapaper que grava o conteúdo para uma leitura posterior.

3 – Processar
Com essas fontes de informação centralizadas e capturadas eu reservo algum tempo na agenda semanal para ler essas informações. Além de horários de voo e trânsito, eu costumo reservar um período no final de semana para colocar a leitura em dia. Também gosto de ler um pouco todo dia pela manha. O que eu começo a ler e não é legal, nem termino, descarto direto. O que é bacana eu mando para o armazenamento e deleto do leitor.

4 – Armazenar
Para guardar as informações que realmente me interessaram de tudo que processei e recuperar posteriormente eu prefiro usar o Neotriad, na parte de conhecimento. Assim classifico, coloco no papel, faço um resumo e fica fácil achar e reutilizar.

Sem dúvida a informação é o vírus que vai matar o tempo da humanidade, seja por excesso ou seja por falta da informação correta. Ou você aprende a controlar a informação ou ela vai contaminar você!

Fonte:Por Christian Barbosa - http://www.administradores.com.br

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Dilma e o rompimento de um dogma

Rompeu-se um dogma na política. Havia um tema raramente examinado pelas personalidades públicas. Ou pelos meios de comunicação. Falava-se sobre todos os temas. Um só era tratado de maneira ufanista.

Análises em profundidade não apareciam nos jornais ou nos noticiários das televisões e rádios. Apenas exames superficiais e complacentes. Uma aparente inexplicável situação.

Rompeu-se o silêncio. A presidente Dilma Rousseff trouxe ao debate a política monetária. Esta sempre ficou restrita aos fechados escaninhos do Banco Central.

os iniciados podiam tratar da moeda. O vulgo deveria receber lições e aceitar as regras. Quando qualquer movimento se esboçava, surgia a afirmação da autonomia do Banco Central.
Esta é importante. Mas, as autoridades monetárias precisam conhecer as múltiplas opiniões sobre tão relevante tema. Sabe-se a importância de um sistema financeira sólido.

Este deve ser altamente capitalizado para vencer as conjunturas adversas. No entanto, esta verdade não pode ser superior ao debate democrático. Inexistem, nas democracias, cantos escuros.

Tudo deve ser debatido com racionalidade. A busca de eficiência é comando constitucional. Todos devem procurar este objetivo. Não podem determinados agentes sobrepor a outros, por mais significativos que se apresentem.

Ao propor um grande debate sobre os juros, a presidente Dilma atinge um novo patamar na política nacional. Luta-se pela decência nos negócios públicos. Avança-se nos temas sociais.

Agora é hora de se analisar este patrimônio coletivo que é a moeda. Ela se coloca como um dos maiores atributos da soberania. É símbolo do grau econômico conquistado por um país.

Não podia, pois, tão importante elemento do Estado nacional ficar longe das discussões públicas. Ao trazer para arena política a moeda, o governo federal inova e se qualifica.

Lamenta-se que os partidos políticos silenciem. Nenhum líder partidário se pronunciou sobre o debate a respeito dos juros. Há uma inexplicável paralisia.

Os bancos, como agentes privilegiados da economia, têm se movimentado. Ainda na semana que passou em Brasília representante do sistema bancário fez exposição às autoridades fazendárias.

Consta que ocorreram críticas à fala do representante do sistema bancário. Teria demonstrado números que levaram à perplexidade, quando tratou do chamado spread bancário.

Não se conhecem pormenores do acontecimento. Certamente, os bancos estão examinando o tema com preocupação. Até agora, nenhum sinal de atendimento aos apelos governamentais.

Compreende-se o silêncio e a cuidadosa posição dos empresários financeiros. Os bancos são instituições sensíveis. Estão sujeitas à observação continua dos mercados.

Qualquer movimento precipitado não é positivo para a higidez das instituições. Coloca a sensibilidade da sociedade em exposição. Daí o cuidadoso silêncio dos administradores bancários.

O assunto, contudo, está na pauta dos debates públicos. É melhor enfrentá-lo com objetividade e respeito à opinião pública. Esta já se encontra exaurida só de boas imagens.

É momento de boas atitudes. Coragem e firmeza para enfrentar a questão. Espera-se um posicionamento efetivo dos agentes financeiros. As autoridades já disseram o que querem.

Por Cláudio Lembo - Terra Magazine

Fonte: blog do Nassif

sábado, 14 de abril de 2012

O poder da mídia na política e no crime

A mídia enquanto poder, já é visada por políticos, e isso não é de hoje. Algo que gerou a compra de rádios e retransmissoras, hoje a publicação de blog's, e ainda, a relação pecaminosa entre comunicadores/colunistas e políticos para propagar temas, ocultar outros, promover interpretações e minimizar outras, provocar integras em grupos opositores etc. Com a maior acesso a dados gerados pela Internet e o esforço de publicização e transparência demanda pela sociedade, percebe-se que a articulação antes pouco sabida ou ocultada, está sendo recriada sobre novas formas, que parece mais com a associação e troca de favores, não sendo uma relação hierarquizada puramente, mas comercial, capitalista.

Assim como terroristas utilizam a propagação e divulgação do terror como "ideia", "chamamento" ou "ideologia" para que indivíduos vários, incalculáveis e anônimos, dos mais impensáveis locais façam atos de terror e alimente o poder de ação de um grupo. A mídia tem se aproveitado desse modus operandi, onde jornais, revistas, tv's, jornalistas e colunistas se associam a uma "ideia", propagada por um grupo tido como referencial, e a alimentam visando um objetivo.

A mídia muitas vezes teleguiou políticos da opção fazendo com que o discurso deles fossem similares a pauta escrita por membros da mídia. Jornalistas e editores específicos e centrais jogam, em artigos e matérias, qual deve ser a estratégia de ação para determinado assunto e os demais captam a mensagem e rapidamente se "associam" a esta "ideia", alimentando-a.

Para mim, este jogo ganhou uma cara nova quando pela "Monte Carlo", percebeu-se que por trás das ações de certos jornais, revistas e profissionais (tidos como referenciais) estava o interesse de grupos e pessoas com atividades criminosas. Não era uma associação puramente conjuntural. Esses profissionais e empresas se prestavam, para propagar e fortificar seus interesses e ideais políticos, a fazer o jogo de criminosos, na verdade a encobertar crimes e pessoas, para que estes não perdessem a sua áurea de credibilidade que construíram mentirosamente. Luis Nassif mostrou como para a quadrilha de Carlinhos tomar conta dos Correios, foi necessário de usar dos serviços da Veja para derrubar a quadrilha inimiga lá instalada. A matéria da CPI da Loterj é outro caso, e a valorização do passe de Demóstenes é nítido.

Para aqueles que se associavam a estratégia de ação de certos profissionais e empresas jornalísticas (vamos dizer: "de graça"), essa descoberta soa como uma traição, como uma desconfiguração dos "ideais" que deveriam guiar o grupo. Assim, a estratégia da Veja parece ser de jogar cortina de fumaça sobre a monte Carlo para, ironicamente, acabar uma pretensa cortina de fumaça do mensalão. Mas vai além, parece ser uma ação para recuperar a credibilidade perdida perante um "grupo" de associados de ocasião, para mostrar que suas associações criminosas seriam justificáveis diante de conseguir uma grande derrota ao governo e diante do mensalão. É minimizar, ocultar e justificar suas associações intencionais e do submundo.

É claro que o grosso da mídia, assim como os congressistas, não vão "votar" contra si. Eles nunca vão reconhecer seus erros, dar transparência a suas ações e equilibrar seu poder. Caso não haja uma reação de fora para dentro, nada vai mudar, e um caso que igual ou pior do que Murdoch na Inglaterra vira pizza no Brasil.

Fonte: Por José Bezerra Blog do Nassif

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Por que o silêncio sobre a Islândia?

Se há quem acredite que nos dias de hoje não existe censura, então que nos esclareça porque é ficamos a saber tanta coisa acerca do que se passa no Egito e porque é que os jornais não têm dito absolutamente nada sobre o que se passa na Islândia.

Após a crise econõmico-financeira que arrasou o país, o povo islandês deu uma lição à Europa, enfrentando o sistema e dando um exemplo de democracia ao mundo.

Na Islândia:
- o povo obrigou à demissão em bloco do governo;

- os principais bancos foram nacionalizados e foi decidido não pagar as dívidas que eles tinham contraído junto dos bancos do Reino Unido e da Holanda, dívidas que tinham sido geradas pelas suas más políticas financeiras;

- foi constituída uma assembleia popular para reescrever a Constituição.

Tudo isto pacificamente.


Uma autêntica revolução contra o poder que conduziu a esta crise. E aí está a razão pela qual nada tem sido noticiado no decurso dos últimos dois anos. O que é que poderia acontecer se os cidadãos europeus lhe viessem a seguir o exemplo?

Sinteticamente, eis a sucessão histórica dos fatos:

- 2008: o principal banco do país é nacionalizado. A moeda afunda-se, a Bolsa suspende a atividade. O país está em bancarrota.

- 2009: os protestos populares contra o Parlamento levam à convocação de eleições antecipadas, das quais resulta a demissão do primeiro-ministro e de todo o governo.

A desastrosa situação econômica do país mantém-se.

É proposto ao Reino Unido e à Holanda, através de um processo legislativo, o reembolso da dívida por meio do pagamento de 3,5 bilhões de euros, montante suportado mensalmente por todas as famílias islandesas durante os próximos 15 anos, a uma taxa de juro de 5%.

- 2010: o povo sai novamente às ruas, exigindo que essa lei seja submetida a referendo.

Em janeiro de 2010, o presidente recusa ratificar a lei e anuncia uma consulta popular.

O referendo tem lugar em março. O NÃO ao pagamento da dívida alcança 93% dos votos.

Entretanto, o governo dera início a uma investigação no sentido de enquadrar juridicamente as responsabilidades pela crise.

Tem início a detenção de numerosos banqueiros e quadros superiores.

A Interpol abre uma investigação e todos os banqueiros implicados abandonam o país.

Neste contexto de crise, é eleita uma nova assembleia encarregada de redigir a nova Constituição, que acolha as lições retiradas da crise e que substitua a atual, que é uma cópia da constituição dinamarquesa.

Com esse objetivo, o povo soberano é diretamente chamado a se pronunciar.

São eleitos 25 cidadãos sem filiação política, dentre os 522 que apresentaram candidatura. Para esse processo é necessário ser maior de idade e ser apoiado por 30 pessoas.

- A assembleia constituinte inicia os seus trabalhos emfeevereiro de 2011 a fim de apresentar, a partir das opiniões recolhidas nas assembleias que tiveram lugar em todo o país, um projeto de Carta Magna.

Esse projeto deverá passar pela aprovação do parlamento atual bem como do que vier a ser constituído após as próximas eleições legislativas.

Eis, portanto, em resumo a história da revolução islandesa:

- Demissão em bloco de um governo inteiro;

- Nacionalização da banca;

- Referendo, de modo a que o povo se pronuncie sobre as decisões econômicas fundamentais;

- Prisão dos responsáveis pela crise e

- reescrita da Constituição pelos cidadãos:

Ouvimos falar disto nos grandes media europeus?

Ouvimos falar disto nos debates políticos radiofônicos?

Vimos alguma imagem destes fatos na televisão?

Evidentemente que não!

O povo islandês deu uma lição à Europa inteira, enfrentando o sistema e dando um exemplo de democracia a todo o mundo.

Por Theo Buss - Revista Fórum - blog do Nassif

quinta-feira, 12 de abril de 2012

JUROS: A DESFAÇATEZ DO SINDICATO DOS BANCOS

Murilo Portugal, o presidente do sindicato brasileiro dos bancos (a Febraban), resolveu peitar a prioridade da Presidenta Dilma Rousseff no decisivo braço-de-ferro para derrubar os juros. Em vez de apresentar um cronograma de corte das taxas, como esperava o governo, cobrou 'incentivos e desonerações' ao setor mais lucrativo da economia para baixar o spread. Com a soberba típica dos centuriões da plutocracia, divulgou a lista das 'condicionalidades' através do dispositivo midiático, ao mesmo tempo em que a entregava em Brasília e sentenciou: 'A bola agora está com o governo'.

Murilo Portugal acha que a diferença entre o que os bancos lucram captando a 9,5% numa ponta do guichê,e as taxas siderais de 50% a até 80% ao ano que cobram quando o recurso vira crédito é estreita. O spread médio brasileiro é o mais alto do mundo, da ordem de 37%. O spread alto, alega o dirigente da Febraban, embute tributos, custos de inadimplência e a 'insegurança jurídica' do país. Portugal fala como se impostos e riscos fossem uma singularidade da esfera bancária. Levada ao pé da letra sua lenga-lenga conduz a um capitalismo dotado de todas as salvaguardas aos detentores de liquidez, mas absolutamente desregulado no que tange à acumulação de lucros pelo capital a juro. Um paraíso neoliberal.

Murilo Portugal é um veterano da piscina ortodoxa onde se nada a contrapelo dos interesses do país. Tem uma estante fornida de troféus conquistados nessa modalidade. Secretário do Tesouro entre 1992 e 1996, nos governos Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, tornou-se famoso pela sanha em cortar gastos na esfera pública. Vem daí o mimoso apelido que despejam nas suas costas até os mais cordias companheiros de ministério desse tempo: 'Murilinho -mãos -de-tesoura'.

Indicado pelo tucanato como representante brasileiro junto ao FMI, valeu-se de suas relações para manter-se no cargo no início do governo Lula. Quando Nestor Kirchner decretou a renegociação unilateral da dívida argentina de US$ 145 bilhões, em 2003, ele perfilou ao lado dos caças rentistas. Agindo como se falasse em nome do Brasil, pilotou vôos rasantes para derrotar o mau exemplo da Casa Rosada. Depois se soube: Murilo tinha a cobertura do então ministro da Fazenda Antonio Palocci (a quem posteriormente serviria como Secretário Executivo do Ministério da Fazenda, de 2005 até a queda do aliado, em 2006).

Obsessivos em manter uma distancia sanitária entre Brasília e a heterodoxia argentina, chegaram a operar então para que o Presidente Lula não atendesse a chamados telefônicos insistentes de Nestor Kirchner em busca de apoio. A moratória deu certo. A economia argentina foi a que mais cresceu no hemisfério ocidental na última década. Lula penitenciou-se tornando-se um dos mais empenhados defensores do governo de Cristina Kirchner.

Quando Palocci caiu, em 2006, uma coalizão midiático-mercadista ainda tentou fazer do secretário-executivo seu sucessor 'natural'. Não vingou. Guido Mantega assumiu.O Brasil iniciou a longa travessia para uma política econômica heterodoxa. Murilo seria então resgatado pelos mercados de volta ao FMI, onde ocuparia o posto de vice-diretor-gerente do Fundo, o terceiro posto mais importante na hierarquia do organismo. Em janeiro de 2011 saiu de lá para se tornar o primeiro presidente não banqueiro (juridicamente falando) do sindicato brasileiros de bancos.

A trajetória ajuda a entender a raiz política de sua resposta ao esforço do governo para reduzir os juros e preservar o crescimento do país em meio à desordem econômica planetária. A desfaçatez torna-se mais transparente quando se sabe que a banca brasileira é uma das mais lucrativas e menos tributadas. Pesquisa do Inesc, de 2007, mostra que o lucro dos bancos brasileiros aumentou 446% entre 2000 e 2006, enquanto o IR do setor só cresceu 211%.

Em termos absolutos os assalariados brasileiros pagam quatro vezes mais imposto do que os bancos no país. Sempre que a sociedade precisou do sistema financeiro privado a supremacia do interesse leonino predominou sobre o compromisso compartilhado. No colapso de 2008, os bancos estatais mais que dobraram seus empréstimos para compensar a contração da liquidez internacional.

Entre 2008 e 2011, o saldo das carteiras do BB, Caixa Econômica e BNDES, entre outros, cresceu 123%; o desempenho da banca privada foi inferior à metade disso: 55%. Não fosse o contrapeso do crédito estatal o país teria mergulhado na recessão. A justificativa dada então pela Febraban para o arrocho revelou-se um gigantesco erro de prognóstico. Em vez de aumentar, como previa, a inadimplência diminuiu no período.

No caso do BNDEs, por exemplo, o maior banco estatal de desenvolvimento do Ocidente, alvo permanente da fuzilaria dos 'Murilos mãos e tesoura' contrários aos critérios desenvolvimentistas do banco, a taxa de inadimplência acima de 90 dias é de irrisórios 0,12%. Na média,a inadimplência no sistema financeiro estatal é hoje inferior à metade da registrada nas corporações de crédito privadas (2,1% e 4,8%). Como se vê, Murilo e o sindicato dos bancos devem explicações ao país. O episódio do spread é só mais uma delas.

Fonte: Agência Carta Maior - Postado por Saul Leblon

terça-feira, 10 de abril de 2012

Você sabe o que é prioridade na sua empresa?

Ao escrever este artigo minha intenção é justamente colocar o tema na pauta de todo empreendedor, diretor e CEO. Um dos maiores problemas de produtividade que enfrento em consultoria para empresas de qualquer porte e estágio de desenvolvimento é a falta clara de estratégias de priorização. Em geral tudo é para ontem e prioritário. As empresas estão sofrendo do "mal da prioridade", sem essa clareza, muito se trabalha, muito estresse é gerado e no final pouca execução e resultado acontece de verdade.

Imagine a seguinte situação corriqueira: um membro da sua equipe está trabalhando quando surge uma demanda urgente para ser atendida. Dois clientes com urgências pedem uma solução ao mesmo tempo (entenda cliente como interno ou externo). O primeiro cliente é tranquilo, calmo e expressa sua urgência de forma mais educada. Já o segundo cliente é extremamente mal humorado, indelicado, grosso e fica gritando.

Qual dos clientes você acha que seu colaborador vai atender primeiro? O calmo ou o nervosinho? Se ele estiver em uma empresa sem estratégias de priorização, com certeza o cliente nervosinho será priorizado. Isso é porque as pessoas dentro de empresas sem prioridade, acabam por definir a ordem de execução através da gritaria e não de prioridades.

É papel do líder ajudar o time a definir o que deve ser feito primeiro e o que deve ser feito depois. Sem essa definição, tudo é priorizado de forma empírica, por gritaria ou de forma errada. E pode ter a certeza, de que a culpa não é do time.

Existem dois níveis de prioridades que precisam ser definidas: as corporativas e as departamentais. Há algum tempo extingui as prioridades de unidades de negócios, por não se tornarem práticas no dia a dia. As prioridades corporativas têm ligação direta com a estratégia, missão, visão e decisões do board para o período em exercício. Prioridades corporativas devem ser específicas, ter uma ordem de importância, e não devem ultrapassar três ou quatro prioridades.

As prioridades departamentais têm obviamente ligação com as prioridades corporativas, mas tem ligação com o dia a dia do departamento, de uma forma bem prática e objetiva.

A partir do momento em que as prioridades estiverem definidas é preciso comunicá-las da forma adequada. Todos na empresa precisam saber exatamente o que deve ser feito quando duas coisas urgentes exigirem atenção imediata. Não pela gritaria, coleguismo, nível hierárquico de quem está pedindo, mas de acordo com o que é mais importante para a empresa, que ajuda os objetivos a serem alcançados e coloca o time focado no senso de importância e não nas urgências.

Um cliente nosso da área de IT definiu suas prioridades corporativas e departamentais. A escala de prioridades foi customizada no sistema de CRM, que facilita a visualização da prioridade de atendimento através de um score. Nenhum cliente fica sem atendimento, mas eles são priorizados de acordo com o que é realmente foco da empresa.

Sem produtividade, nenhuma empresa consegue permanecer competitiva no mercado por muito tempo. Que tal começar com o assunto de prioridades? Pense nisso!

Por Christian Barbosa

Fonte:www.administradores.com.b

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Demóstenes e o” duplipensar” da grande imprensa

Qualquer pessoa de bom senso, que tenha lido os articulistas da grande imprensa, desde o surgimento dos escândalos envolvendo o senador Demóstenes Torres, concluirá facilmente que os trabalhadores das oficinas de consenso, aturdidos com o que lhes parece um ponto fora da curva, uma desconstrução dispendiosa e extemporânea, são como aqueles motoristas que imaginam poder dirigir um veículo com os olhos presos ao retrovisor.

Não enxergam a clareza da realidade. O círculo do jornalismo de encomenda, minúsculo e cego, está só, murado no seu isolamento.

A pedagogia dos fatos, inexorável nas suas evidências, parece passar ao largo das redações. O que se faz ali não é jornalismo, mas um simulacro de literatura de antecipação marcada por profundo pessimismo e cenários de devastação. Talvez George Orwell e seu clássico 1984 expliquem melhor o suporte narrativo da fábula que não deixa de trazer uma concepção de história autoritária e retrógada.

As delicadas relações do senador goiano com o bicheiro Carlinhos Cachoeira – e a possibilidade de que o governador tucano Marconi Perillo venha a ser o próximo alvo – pôs em operação o “duplipensar” orwelliano que, desde a posse de Lula, está incorporado aos manuais de redação.

Como o objetivo é afastar o ex-varão de Plutarco de cena, para prosseguir atacando o governo da presidente Dilma, os “cães de guarda” cumprem a tarefa com afinco.

No reduzido vocabulário da “Novilíngua”, o “duplipensamento” é assim explicado por um dos personagens de 1984: “capacidade de manter simultaneamente duas crenças opostas, acreditado igualmente em ambas(…). Saber que está brincando com a realidade mas, mediante o exercício de tal raciocínio, convencer a si próprio, que não está violentando a realidade.

O processo deve ser consciente, pois do contrário não funcionará com a previsão necessária: mas, ao mesmo tempo, deve ser inconsciente para não produzir sensação de falsidade e culpa”. Com esse trecho, cremos ter decifrado os sorrisos de Merval Pereira, Dora Kramer, Augusto Nunes, Eliane Catanhede, entre outros, quando confrontados com a palavra “ética”.

Para eternizar a ordem que defendem com unhas e dentes o cenário político, submetido ao pensamento único, passa por processos de ocultamento e simplificação, visando a eliminar todas as possibilidades de pensar dos membros do Partido Imprensa.

Outra implicação do “duplipensar” da mídia corporativa é a constante alteração do passado. O registro – e consequentemente a memória – dos fatos ocorridos devem ser refeitos sempre, a fim de adaptarem-se ao presente. O trabalho de um “bom” editorialista é reescrever a visão dos veículos em que trabalha para que não contradiga a realidade de hoje.

Assim, por exemplo, Folha, Globo e Estadão podem condenar o golpe de 1964, mesmo o tendo apoiado ostensivamente. Se um livro denuncia um líder político como Serra e outras figuras no seu entorno, a solução é simples: Ele nunca foi escrito e, portanto, jamais será resenhado, sendo passível de punição severa quem não entender como funcionam as “leis naturais”.

Além da eliminação do passado como elemento de desarmonia com o presente e como instrumento de verificação das afirmações do Partido Imprensa, este recorre a outros meios, bem mais convencionais, para moldar a consciência de seus filiados e simpatizantes (leitores e telespectadores): educação permanente assegurada pela propriedade cruzada dos meios de comunicação, atividade coletiva sem intervalos, o que pode ser obtido mediante ampla oferta de blogs, sites, jornais e redes que digam sempre o mais do mesmo. Para concluir, vem a valorização do poder político como fim, não como meio.

O incômodo Demóstenes deve, após a sequência de denúncias, ter um diagnóstico clínico que despolitize o seu desvio. Merece, pelos serviços prestados, um roteiro que conte a tragédia do Catão caído, até que, finalmente, desapareça na lata de lixo reservada aos que fugiram da trama original. Assim agem os bons autores ao tomar como ponto de partida uma realidade familiar e palpável e transformá-la em espetáculo perecível.

Em tempo: o DEM, assim como o PFL, nunca contou com o apoio das corporações midiáticas por um simples motivo: nunca existiu.

Vejam como operam nossos talentosos colunistas. Orwell ficaria tão contente que, com certeza, lhes arrumaria um lugar no Ministério da Verdade.

“Em um mês, o senador Demóstenes Torres passou de acima de qualquer suspeita para abaixo de qualquer certeza, num episódio que desafia os romances policiais mais surpreendentes. Além da atuação implacável contra a corrupção, ele tinha a cara, vestia o figurino e se comportava como um incorruptível homem de bem – e talvez seja mesmo sócio da holding criminosa de Cachoeira (Nélson Motta, 6/04/2012, o Globo).

“Demóstenes Torres não seria beneficiado pelo “vício insanável da amizade” – expressão usada pelo notório Edmar Moreira (o deputado do “castelo”) para definir o principal obstáculo a punições -, pois os amigos que fez ali estão entre as exceções e os demais confirmam a regra.

Por terem sido alvos do senador na face clara de sua vida agora descoberta dupla, podem querer mostrar-se ao público em brios. O problema, porém, é a falta de credibilidade” (Dora Kramer, 6/04/2012, Estado de São Paulo.

“Esse personagem que o senador criou para si próprio não era uma mentira de Demóstenes, ele incorporou esse personagem e acreditava nele. Podia acusar com veemência seus colegas senadores apanhados em desvios, como Renan Calheiros, enquanto mantinha o relacionamento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira porque, como todo psicopata, não misturava as personalidades “(Merval Pereira, reproduzindo argumento do psicanalista Joel Birman, 30/03/2012, O Globo. Admiráveis funcionários de um jornalismo inqualificável.

Texto de Gilson Caroni Filho - professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Correio do Brasil e do Jornal do Brasil.

Fonte: Correio do Brasil