sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Sigla Bric conseguiu se estabelecer dez anos após sua criação

Um bom marketing é essencial. Disso, Jim O'Neill já sabia em 2001, quando anunciou a tese de que Brasil, Rússia, Índia e China desempenhariam um papel importante no futuro. A partir das iniciais dos países, o então economista-chefe do grupo financeiro Goldman Sachs criou a sigla Bric e declarou os quatro como os tijolos (brick, em inglês) que construiriam a economia global.

O sucesso do neologismo de O'Neill foi imediato. Hoje, dez anos depois, a sigla é uma componente fixa das previsões econômicas e empresariais. Até mesmo pequenos investidores podem investir em fundos do Bric, oferecidos por quase todos os bancos.

APENAS UMA JOGADA DE MARKETING?

"Em termos de marketing foi algo muito inteligente", diz Markus Jäger, analista do centro de pesquisa Deutsche Bank Research em Nova York (EUA)), que elaborou diversos relatórios sobre o desenvolvimento dos países do Bric. "Mas há também algo por trás disso. Os países ganham cada vez mais importância, não apenas econômica, mas também política", diz Jäger.

No entanto, desde o início houve controvérsias sobre se há ou não sentido em reunir os quatro países em uma sigla. Juntos, eles respondem por 40% da população mundial e um quarto da superfície terrestre.

Os quatro Estados são, porém, economicamente muito diferentes, segundo Rolf Langhammer, professor e vice-presidente do Instituto de Economia Mundial de Kiel, no norte da Alemanha. "A China é um exportador de bens industriais, e a Rússia, um exportador exclusivo de matérias-primas. Em comparação com os demais, a Índia continua sendo uma economia fechada", explica. O Brasil, por sua vez, exporta tanto matérias-primas como bens industriais. "Esses países têm em comum o fato de serem países emergentes e mercados atraentes, já devido à sua dimensão. Trata-se de grandes economias", afirma Langhammer.

População numerosa e elevado crescimento econômico -- essa combinação torna os quatro países interessantes para os investidores. E justamente para investidores foi escrita a análise sobre os países do Bric por O'Neil.

Desde a crise econômica de 2008, o crescimento nos países do Bric também diminuiu. Porém, comparados com o crescimento das tradicionais nações industriais, os números dos emergentes ainda são impressionantes, considera Jäger. Para os próximos cinco a dez anos, ele prevê um crescimento anual de 8% para a China, 7% para a Índia, e cerca de 4% para o Brasil e a Rússia. Em comparação, de acordo com cálculos do Banco Mundial, os países industriais crescem uma média de 1,6% neste ano.

CRESCIMENTO ELEVADO APESAR DA CRISE



A crise econômica mostrou que os países do Bric ainda estão longe de assumir a liderança da economia mundial, diz o professor de economia Langhammer. Não é como se os quatro substituíssem os países industriais como motor de crescimento global.

"Isso não funcionou. Os países estão muito ligados à economia mundial e aos países industriais através dos fluxos financeiros", segundo Langhammer. "E a crise mostra que esses países ainda não têm mercados financeiros desenvolvidos o suficiente" para passar segurança aos investidores.

Cada um dos quatro países enfrenta problemas no momento. No Brasil, o crescimento estagnou. A Rússia é fortemente dependente de matérias-primas, e não tem uma indústria competitiva. A abertura econômica da Índia ocorre mais lentamente do que o esperado pelos investidores, como mostra a decisão contra investimentos estrangeiros diretos no comércio varejista. E, com suas exportações, a China é altamente dependente do desenvolvimento na Europa e nos Estados Unidos, além de seu mercado interno estar ameaçado por uma bolha imobiliária. Por isso, especialistas preveem para os quatro países emergentes um crescimento menor que anteriormente.

O criador da sigla Bric acredita, entretanto, que os quatro Estados em breve serão as potências econômicas mais importantes no cenário mundial. Isso acontecerá o mais tardar até 2050, talvez até antes.

China E OS DEMAIS

O problema em tais prognósticos é, porém, a dominância da China, aponta Jäger. "As exportações chinesas são maiores que as dos demais países do Bric juntos. A economia chinesa é maior que a dos demais países do Bric juntos. As reservas cambiais chinesas são maiores que as dos demais países do Bric juntos", diz.

Por isso, não seria apropriado falar de um grupo formado pelos quatro países. "Na realidade, trata-se da China e dos demais", considera Jäger. "Sem a China, os Bric são apenas Bri", afirma o analista norte-americano David Rothkopf.

Outros analistas argumentam que países emergentes em crescimento acelerado não são levados em consideração. Por exemplo, a Indonésia -- cuja economia com mais de 200 milhões de habitantes cresce em torno de 6% ao ano --, o Vietnã ou a Turquia. É improvável, porém que siglas como BricIVT tornem-se populares. "Uma vantagem da sigla Bric é que se pronuncia com facilidade", diz Langhammer.

O'Neill, o criador do Bric, acaba de escrever um livro sobre os grupos de países que ele nomeou. Ele já encontrou um nome para os 11 países que vê como as próximas estrelas do crescimento econômico: NextEleven (próximos onze, em inglês).

Desde 2006, os representantes dos países do Bric encontram-se em cúpulas do grupo. Em 2010, o bloco ganhou um novo membro, a África do Sul, cujo desempenho econômico corresponde a apenas um quarto da economia da Rússia -- até então o país mais fraco dos países do Bric. Com a África do Sul, pelo menos a sigla permanece, ganhando apenas um S para o novo integrante: Brics.

FONTE: Deutsche Welle - Autor: Andreas Becker (lpf)- Revisão: Carlos Albuquerque