segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ferronorte vai escoar commodities agrícolas do Mato Grosso a partir de 2013


A expansão da Ferronorte até a cidade de Rondonópolis, no Mato Grosso, vai provocar um forte impacto econômico na região. Quando o trecho de 252 quilômetros de extensão estiver concluído em 2013, os dois novos terminais da ferrovia receberão mais 12 milhões de toneladas de carga por ano, escoando a produção de grãos do Estado até o Porto de Santos, com previsão de chegar a 17,5 milhões de toneladas em 2015.

"Inicialmente, vamos transportar grãos, especialmente de soja, mas também queremos cargas de óleo de soja, milho, algodão, madeira certificada, contêineres refrigerados e derivados de petróleo. Tudo vai depender da demanda futura", afirma Thiago Trevisan, gerente de Infraestrutura de Projetos da América Latina Logística (ALL), concessionária da ferrovia.

O custo total do projeto é de R$ 750 milhões, sem contar a construção dos terminais de Rondonópolis e Itiquira, sendo 90% financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A obra é dividida em três trechos. O primeiro, de apenas 13 quilômetros, já está concluído. O segundo, em andamento, possui 163 quilômetros de extensão e o último terá mais 76 quilômetros de trilhos. Para minimizar impactos ambientais da obra, a ALL implementou programas para controlar erosão, garantir a qualidade das águas e zelar pelas áreas úmidas, além de monitorar a fauna da região e recompor áreas degradadas.

Ao todo, 112 quilômetros já foram concluídos até o Terminal de Itiquira, onde as obras estão em fase de acabamento. Duas pontes, de 120 e 380 metros, foram construídas nessa fase do projeto, que consumiu mais de 190 mil dormentes, 16 mil toneladas de trilhos e aproximadamente 340 mil metros cúbicos de pedras. O terminal, por sua vez, terá aproximadamente seis quilômetros de extensão, com uma área de quase 70 hectares e deve receber mais 2,5 milhões de toneladas por ano de carga quando o trecho entrar em operação.

"Estamos aguardando o licenciamento do Ibama e a autorização daAgência Nacional de Transportes Terrestres para começar a operar esse trecho até o fim do ano", conta Trevisan.

Já o terminal de Rondonópolis deve se converter em um Complexo Intermodal, que segundo a ALL será o maior do país. Trata-se de um gigante de 400 hectares, com uma estrutura moderna de carga e descarga ferroviária. "Teremos capacidade para abastecer simultaneamente dois trens, com cargas diferentes, em até seis horas, num total de 120 vagões", diz Trevisan. "Será um ganho de produtividade enorme."

O projeto atrai importantes players do agronegócio, como o Noble Group, trading de commodities que já definiu uma área no Complexo de Rondonópolis para implantar uma indústria de biodiesel.

Além disso, o projeto prevê a implantação de uma área de serviços com 230 mil metros quadrados para atender os caminhoneiros e a população local. O complexo contará com shopping, banco, farmácia, supermercados, hotel, restaurante e posto de combustível e estrutura para receber até 1,5 mil caminhões por dia. Ao todo, a estrutura de expansão da Ferronorte vai gerar 3,5 mil empregos na região quando a obra estiver concluída.

Para Peter Wanke, coordenador do Centro de Estudos de Logística do Coppead, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a expansão da Ferronorte é um grande negócio para a ALL. "Com a perda de fôlego da Malha Sul, provocada pela redução no ritmo de crescimento da indústria, a empresa recupera terreno na Malha Norte, refletindo um movimento de especialização da economia brasileira em commodities", observa. Wanke acredita que a expansão da Ferronorte também estende ainda mais a área de influência do Porto de Santos. "Isso vai aumentar ainda mais o papel já hipertrofiado de Santos na logística do país", diz.

domingo, 30 de outubro de 2011

Hipocrisia da grande Mídia



O Ministério Público de São Paulo pedirá à justiça o afastamento do presidente do Metrô de São Paulo, Sérgio Avelleda, por superfaturamento de R$ 327 milhões em uma licitação de um lote de obras.

O metrô de São Paulo é uma estatal do governo paulista, há anos sob governos tucanos, atualmente nas mãos de Geraldo Alckmin (PSDB/SP).

A investigação do Ministério Público está na fase final, e um parecer técnico feito por uma perita avaliou o processo de licitação e conclui: "caso tivessem sido consideradas as propostas relativas aos menores preços, a economia do Metrô teria sido de R$ 326.915.754,40. Isso porque o Metrô não optou pelos preços menores oferecidos por uma construtora, que já tinha vencido uma das licitações".

Cronologia da corrupção tucana:

- Janeiro de 2009: um documento é registrado em cartório constando quem seriam os vencedores da licitação para concorrência dos lotes 3 a 8, com conhecimento do jornal Folha de São Paulo (PIG/SP), segundo informa o portal G1 da TV Globo. O governador tucano era José Serra (PSDB/SP) nesta época.

- Junho de 2009: o Metrô anunciou o vencedor do primeiro lote e as obras foram iniciadas; O governador tucano era Alberto Goldman

- Outubro de 2010: o jornalão divulgou o documento registrado em janeiro de 2009. Goldman, constrangido, suspendeu as obras e pediu uma investigação.

- Junho de 2011: as obras foram retomadas e os contratos, mantidos. O governador tucano é Geraldo Alckmin.

Por que a Folha demorou 1 ano e 4 meses para divulgar?

A corrupção parece não ser apenas do Metrô, e joga a própria Folha no rol de suspeitos. O G1 diz que o jornal sabia desde janeiro de 2009. Então que interesses escusos levaram a não publicar logo após o resultado da licitação em junho de 2009?

Porque só publicar em outubro de 2010?

O silêncio do jornal por longos 16 meses é algo inexplicável.

Algum interesse financeiro?

Algum interesse no calendário eleitoral?

sábado, 29 de outubro de 2011

PSDB cobra 25% de propina em Alagoas

MACEIÓ (AL) _ Cadê as provas? Toda vez que aparece uma denúncia de corrupção, a primeira providência do acusado é cobrar as provas do crime. Como ninguém costuma passar recibo registrado em cartório e com firma reconhecida para dar quitação da propina, na maioria dos casos não acontece nada e a maracutaia continua.

Pois aqui em Maceió, onde estou participando da V Bienal Internacional do livro de Alagoas, a Polícia Federal está investigando as provas de que o governo do PSDB cobrou 25% de propina para pagar uma dívida de R$ 3,3 milhões com o Banco Panamericano, a 60 dias das eleições de 2010, em que o governador Teotonio Vilela Filho foi reeleito.

"Wilson, na reunião realizada ontem a pedido do governo de Alagoas, o Dr. Luiz Otávio Gomes, Secretário de Estado, ratificou que a única forma de liquidarem o débito é efetuar o pagamento na forma abaixo, ou seja, retorno de 25% sobre o principal e devolução integral da correção monetária", diz um dos e-mails apreendidos pela PF, enviado por Luiz Carlos Parandin a Wilson Roberto de Aro, ambos dirigentes do Panamericano época em que o banco de Silvio sSantos quebrou, deixando um rombo de 4,3 bilhões de reais.

Comentário do analista da Polícia Federal que consta do inquérito: "(...e uma taxa chamada "RETORNO" que deverá ser paga pelo banco a cada repasse do governo alagoano na forma de doação de campanha para o PSDB mediante recibo ou emissão de nota fiscal por empresa que será indicada pelo secretário".

O nome de Luiz Otávio Gomes, secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Estado, chamado por aqui de "super-secretário" é citado várias vezes na troca de correspondências que fazem parte do inquérito da Polícia Federal aberto por determinação do juiz Douglas Camarinha,da 6ª Vara Criminal da Justiça Federal.

O superintendente da PF em Alagoas, delegado Amaro Vieira, informou à "Gazeta de Alagoas", o jornal da família Collor de Mello, que, se houver necessidade, o governador Teotonio Vilela Filho poderá ser chamado para prestar depoimento.

No acerto feito entre o governo e o banco para o pagamento da dívida de R$ 3,3 milhões em quatro parcelas, o PSDB ficaria com uma taxa de retorno de 25% sob a rubrica "doação, no total de R$ 678,5 mil destinados ao "caixa dois" do partido que deveria ser repassado em espécie, ou seja, em grana viva.

O objetivo do inquérito da PF é investigar "provável ocorrência de corrupção passiva e ativa". Não é o único caso que está dando trabalho para a PF em Alagoas, "quase sempre em primeiro lugar no Brasil nos piores índices de desenvolvimento social", como registra o jornal dos Collor. Dos 102 municíos do Estado, há investigações em curso em 91 deles _ 50 novos inquéritos foram abertos este ano.


texto de Ricardo Kotscho
Fonte: blogbalaiodokotscho

Hipocrisia do PIG e do PSDB

Governo de SP adia liberação de dados sobre emendas
Depois de a base do governo enterrar as investigações do Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo, agora é o próprio governo quem tenta esfriar o caso da venda de emendas parlamentares ao protelar a divulgação, na internet, dos dados referentes às indicações feitas pelos deputados entre 2007 e 2010.

Na terça-feira da semana passada, o secretário-chefe da Casa Civil, Sidney Beraldo (PSDB), assegurou que até o início desta semana o governo publicaria, pelo menos, as emendas relativas ao ano passado. "Penso que, em mais uma semana, no máximo, nós vamos disponibilizar isso. (As de) 2010 pelo menos eu garanto que poderemos ter em mãos", afirmou no dia 18.

Antes disso, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), pressionado pela bancada de seu próprio partido, que havia enviado um ofício à Casa Civil exigindo que a secretaria divulgasse as emendas tucanas desde 2007, sustentou, em 12 de outubro, que o governo publicaria todas as indicações já feitas no Estado.

Até agora, no entanto, nenhuma emenda paga de 2010 para trás foi divulgada. Trinta e seis dias depois de o Estado ter publicado a acusação do deputado Roque Barbiere (PTB) de que cerca de 30% dos colegas de Assembleia vendiam emendas, tudo o que o governo tornou público são os restos a pagar de 2010 e as emendas pagas em 2011 - 11% do valor total que o governo reservou nos dois anos somados para o pagamento das indicações.

Questionada, a Casa Civil não quis informar o novo prazo para a divulgação dos dados. Limitou-se a dizer que "os convênios firmados pelo governo de São Paulo entre 2007 e 2010, oriundos de indicação parlamentar, serão divulgados de forma conjunta no site da secretaria da Fazenda".

Desorganização
O deputado Ênio Tatto, líder do PT na Assembleia, sustentou que a demora se deve a problemas na base do governo e a desorganização da Casa Civil. "Gerou muito problema a divulgação da primeira lista, por causa dos privilégios a alguns partidos", disse. "E também a Casa Civil não tem controle disso".

Major Olímpio (PDT), que fez um requerimento de informações ao governo solicitando as mesmas informações há mais de 20 dias, afirma que não recebeu resposta até agora. "Demonstra o quanto isso é uma caixa preta. Na minha opinião estão tentando fazer uma grande maquiagem para deixar todos os parlamentares com R$ 2 milhões de emendas", afirmou o deputado, segundo quem os parlamentares da base são contemplado com um valor maior de emendas.

O líder do PSDB, deputado Orlando Morando, opinou que o processo "está dentro de um prazo natural". "São muitos anos e um modelo novo. O governo nunca esteve preparado para fazer a divulgação. Mas o importante é que será divulgado."

Fonte jornal a cidade e O Estado de S. Paulo.

WikiLeaks aponta Wiliam Waack como informante do governo dos EUA patrocinado pela CIA


O repórter William Waack, daRede Globo de Televisão, foi apontado como informante do governo norte-americano, segundo post do blog Brasil que Vai – que citou documentos sigilosos trazidos a público pelo site WikiLeakshá pouco menos de dois meses. De acordo com o texto, Waack foi indicado por membros do governo dos EUA para “sustentar posições na mídia brasileira afinadas com as grandes linhas da política externa americana”.

Por essa razão, ainda segundo o texto, é que se sentiu à vontade para protagonizar insólitos episódios na programação que conduz, nos quais não faltaram sequer palavrões dirigidos a autoridades do governo brasileiro.

O post informa ainda que a política externa brasileira tem “novas orientações” que “não mais se coadunam nem com os interesses norte-americanos, que se preocupam com o cosmopolitismo nacional, nem com os do Estado de Israel, influente no ‘stablishment’ norte- americano”. Por isso, o Departamento de Estado dos EUA “buscou fincar estacas nos meios de comunicação especializados em política internacional do Brasil” – no que seria um caso de “infiltração da CIA (a agência norte-americana de inteligência) nas instituições do país”.

O post do blog afirma ainda que os documentos divulgados pelo Wikileaksde encontros regulares de Waack com o embaixador do EUA no Brasil e com autoridades do Departamento de Estado e da Embaixada de Israel “mostram que sua atuação atende a outro comando que não aquele instalado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro”.

Fonte: correiodobrasil

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

TRÊS ANOS DEPOIS Crise, os mesmos fatores de sempre


Foi há três anos, em um desses momentos de incerteza nos quais tudo estremece, tudo é sacudido e ninguém mais tem dúvida de que a coisa toda vai virar de ponta-cabeça. Em 7 de setembro de 2008, o governo norte-americanoassumiu a tutela da Fannie Mae e da Freddie Mac, dois mastodontes do crédito hipotecário. No dia 15 daquele mês, o venerável banco de negócios Lehman Brothers anunciou falência. No dia seguinte, chamada pelo Wall Street Journala lhe prestar socorro, Washington comprou o American International Group (AIG), primeira seguradora do país. O resultado foi inevitável: as bolsas despencaram. O poder público norte-americano nacionalizou boa parte do setor automobilístico e injetou centenas de milhares de dólares na economia. Keynes, o New Deale o Estado planejador estavam novamente em primeiro plano.

Em um ato de contrição universal, a burguesia do meio de negócios jurou que “nunca mais nada seria como antes”. O primeiro-ministro francês, François Fillon, falou de “um mundo à beira do abismo”; a capa da Newsweek anunciou, quase que aterrorizada, que “atualmente somos todos socialistas”; a Time Magazine conclamou a que se “repensasse Marx”para “encontrar os meios de salvar o capitalismo”; uma saída (satisfatória) que não parecia convencer o Washington Post,que perguntava, na forma de um editorial de tom mais macabro do que divertido: “Estará o capitalismo morto?”.1

Mas depois tudo voltou para o lugar. É fato que houve um breve intervalo, no qual as elites políticas e financeiras, outrora cobertas de glória e que tinham levado a economia mundial à beira do abismo, fizeram uma verdadeira travessia do deserto (que lhes permitiu, mais tarde, se dizerem perseguidas), mas elas se recuperaram bastante bem. Foram feitas declarações e montanhas de promessas – que não passaram disso. Finalmente, leis foram votadas, mas sua aplicação concreta – quer fossem novas estruturas de supervisão, de reforço de regras de prevenção, de enquadramento dos bônus ou de proteção do consumidor – revelou-se mais do que modesta.2

Resultado: a economia foi parar novamente na beira do abismo. Meados de 2011 lembravam o segundo semestre de 2008, começando com boas notícias para os mercados. O Comitê Bancário Europeu, encarregado de avaliar a solidez do setor financeiro em caso de nova crise, emitiu um comunicado tranquilizador: das noventa instituições financeiras europeias, 82 tinham revelado resultados positivos nos testes efetuados. Alguns dias depois, a Grécia foi salva da falência por um plano econômico que aliava sacrifícios a serem feitos por parte da população ao socorro financeiro por parte dos bancos europeus. O acordo não desencadeou o acerto dos contratos de cobertura contra o default de pagamento − os famosos Credit Default Swaps(CDS) −, o que teria sido desastroso para os bancos. E para o futuro, foi feita uma nova promessa de austeridade, uma “regra de ouro” de rigor orçamentário, destinada aos dezessete países da zona do euro. Nos Estados Unidos, um compromisso relativo ao teto da dívida, assinado in extremis antes do vencimento do prazo de 2 de agosto entre o presidente Barack Obama e a oposição republicana, previa o corte de gastos sem aumento de impostos.



Eterno recomeço

Mas não adiantou. A agência de classificação de risco Standard and Poor’s decidiu rebaixar a nota da dívida norte-americana, que passou de AAA para AA+. Apesar de ter se baseado em números não realistas (por erro, ao déficit budgetário em seis anos a agência acrescentou US$ 2 trilhões), a decisão provocou novo pânico nos mercados, mirando, em especial – o que não fazia o menor sentido –, os principais bancos europeus, que um mês antes tinham sido declarado sadios...

O peso da financeirização é tamanho, que uma inversão da tendência parece impossível. Por um lado, a relação de força entre Estados e mercado é mais do que nunca desfavorável aos primeiros; por outro, os dogmas estabelecidos ao longo das últimas três décadas de desregulamentação financeira parecem indestrutíveis. Quase todas as intervenções públicas procuram em primeiro lugar tranquilizar os mercados e proteger o setor financeiro, que brutaliza os Estados e suas dívidas. O fracasso dessas estratégias não impede seu eterno recomeço, pois em vez de desaparecerem para dar lugar a outras, mais pertinentes, essas ideias – que deveriam ter sido eliminadas, para não provocar mais danos – reaparecem sempre, como zumbis em filmes de terror, guiadas por seus guardiões, fazendo novos estragos.3

Os que estavam no comando em 2008 continuam controlando o sistema, armados com o mesmo arsenal ideológico. Os gigantes das finanças, salvos porque eram “grandes demais para quebrar” (“too big to fail”), são hoje mais gigantescos do que nunca. E continuam frágeis. O economista Paul Krugman ressalta: “As lições da crise financeira de 2008 foram esquecidas a uma velocidade vertiginosa, e essas mesmas ideias estão hoje na origem da crise – toda regulamentação é nociva, o que é bom para os bancos é bom para os Estados Unidos, a queda de impostos é a solução para o problema – e dominam novamente o debate”.4

A esse respeito, o percurso dos heróis diante da crise é revelador. Alan Greenspan, Robert Rubin e Larry Summers − respectivamente presidente do Banco Central norte-americano, secretário e secretário adjunto do Tesouro dos Estados Unidos, em fevereiro de 1999, quando a revista semanal Time, em uma capa que ficou famosa ao consagrar o trio como o “comitê de salvação do mundo” – passaram por um rápido eclipse. O primeiro era republicano, os dois outros democratas, e os três simbolizavam a supremacia inconteste da esfera financeira sobre o mundo da política.

Pouco depois de ser eleito, em 1992, Bill Clinton tomou a decisão de se dobrar aos ditames do mercado. O boom sem precedentes que se seguiu parecia confirmar as virtudes da financeirização, o que levou os dois partidos daquele país a se livrar a uma corrida desenfreada, para ver quem conseguia recolher mais contribuições eleitorais por parte das grandes instituições financeiras e para ver quais eram as que lhes concederiam mais vantagens. Sob a administração democrata foram realizadas, em 1999 e 2000, as grandes reformas que abriram caminho para a criação dos chamados produtos “tóxicos” que estiveram na origem do terremoto financeiro.5 O governo republicano de George W. Bush, ainda mais próximo de Wall Street, não perdeu tempo para destruir o que tinha sobrado dos mecanismos de controle, nomeando para postos-chave zelosos “desregulamentadores”. O arrimo dos governos às decisões das agências de notação se deu dentro desse quadro.6

Após a onda de pânico do segundo semestre de 2008, as elites financeiras foram apontadas como culpadas, mas seu poder efetivo nem por isso foi abalado. Em outubro de 2008, com ar abatido, Greenspan, o herói inconteste do boom econômico, admitiu diante da comissão econômica do Senado norte-americano que acabava de se dar conta de que suas convicções econômicas se baseavam em um “erro”. A contrição foi rápida e sem continuidade: dois anos depois, ele já tinha recuperado a soberba de sempre, criticando a legislação “Dodd- Frank”,que tentava – mesmo que bem timidamente – colocar um pouco de ordem no sistema.7 Quanto a Rubin, ele manteve ligações estreitas e lucrativas com o establishment financeiro, o que não impediu que se dedicasse a dar conselhos financeiros a seus compatriotas, no Financial Times.8 Summers, por sua vez, nem chegou a sair realmente de cena. Por ocasião da eleição presidencial norte-americana de 2008, ele foi um dos principais conselheiros do candidato Obama, e quando este último foi eleito ele passou a ocupar nada mais, nada menos, do que a presidência do Conselho Econômico da Casa Branca. Quando de sua demissão, no final de 2010, ele voltou a ocupar a cátedra de professor de Economia em Harvard. Mesmo depois do desmoronar financeiro, explica o jornalista Michael Hirsh, “o regime anterior e as construções intelectuais – mescla de friedmanismo, de greenspanismo e de rubinismo – ainda continuam imperando, por default”.9

Assim, mesmo que em toda parte (como recentemente na Grécia, ou nos Estados Unidos, na indústria automobilística) governos e empresas revoguem sem dificuldade o contrato social que os liga à população ou aos funcionários, Summers, então conselheiro de Barack Obama, explicou que os bônus astronômicos da seguradora AIG (socorrida pelo governo norte-americano) eram intocáveis: “Somos um país que tem leis. São contratos, e o governo não pode simplesmente revogar contratos”.10

Em um livro que explica “por que o mercado fracassa”, John Cassidy, jornalista econômico do New Yorker, vê nessa ideologia não o cumprimento do liberalismo econômico clássico, mas sua perversão. Ele lembra ainda que “o conceito dos mercados financeiros racionais e autorreguladores é uma invenção dos últimos quarenta anos”.11 Quando os profissionais de finanças tentam se situar na linha de Adam Smith, um autor que costuma ser venerado sem ser lido, eles violam despreocupadamente os princípios por ele enunciados, em termos de regulamentação financeira.

Alguns anos antes da publicação de seu famoso livro A riqueza das nações(1776), o pai da economia clássica havia assistido ao desabrochar de uma bolha financeira que provocaria a quebra de 27 dos trinta bancos de Edimburgo. Por isso, Adam Smith sabia que, quando entregue unicamente às forças do mercado, o mundo financeiro fazia a sociedade correr graves riscos. Por mais favorável que fosse ao princípio da “mão invisível”, ele estipulou que a lógica de um mercado livre e concorrencial não deveria se estender à esfera financeira. “Sob certa ótica, essas regras podem parecer uma violação da liberdade natural de alguns indivíduos, mas essa liberdade de alguns pode comprometer a segurança de toda a sociedade. Da mesma forma que é obrigatório construir paredes para impedir a propagação de incêndios, assim também os governos, tanto nos países livres quanto nos despóticos, são responsáveis por regulamentar o comércio de serviços bancários”.12



Alinhando-se à cólera popular

Se fosse o caso de buscar uma ascendência intelectual para o fundamentalismo desprovido de base empírica que impera atualmente, nós a encontraríamos relacionada a Ayn Rand (1905-1982).13 Dogmática e sectária, pregando o egoísmo como virtude suprema e fustigando toda e qualquer forma de intervencionismo do poder público, a publicista e romancista russo-americana tem entre seus discípulos um certo Alan Greenspan. Em 1963, ele já não aceitava como “mito coletivista” a ideia segundo a qual os homens de negócios, quando entregues a si mesmos venderiam alimentos ou medicamentos perigosos, títulos fraudulentos ou prédios de baixa qualidade. “Ao contrário, é do interesse de cada homem de negócios ter a fama de ser honesto e só vender produtos de qualidade.” Ou seja, se o mercado não funciona corretamente, é porque não existe mercado suficiente.

Os discursos entusiasmados que se ouvem atualmente, contra os “excessos” do mundo das finanças, oferecem aos políticos um meio de se alinhar de modo satisfatório à cólera dos cidadãos; eles soam como constatação da impotência. No dia 17 de agosto, depois da minicúpula dedicada à crise da dívida, Nicolas Sarkozy e Angela Merkel anunciaram em termos sibilinos a adoção de uma taxa sobre as transações financeiras, a famosa taxa Tobin, de dar calafrios ao setor financeiro.14 Todavia, essa decisão, que primeiro precisa ser aprovada pelos demais membros da União Europeia, é bem menos ousada do que parece. Ela não tem o objetivo de jogar areia na engrenagem da especulação financeira nem de gerar fundos para ajuda ao desenvolvimento, e sim, na melhor das hipóteses, de fazer os bancos pagarem (adiantado) uma ínfima parte de seus lucros futuros. Que eles não deixarão de auferir, como bem sabemos...

Texto de Ibrahim Warde é professor associado na Universidade Tufts (Medford, Massachusetts, EUA). Autor de Propagande impériale & guerre financière contre le terrorisme, Marselha-Paris, Agone - Le Monde Diplomatique, 2007.

http://diplomatique.uol.com.br/artigo.php?id=1001

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O fim da lua-de-mel com o Ocidente ?

No dia 24 de outubro de 2011, toda a esperança que a Primavera Árabe trouxe aos dirigentes ocidentais se desmoronou. Quando a população saiu às ruas para protestar contra regimes repressores e derrubou um a um os ditadores do Oriente Médio e Norte da África, os europeus e americanos não pouparam elogios públicos. O apoio moral se tornou até financeiro e bélico na revolução líbia. Todos juntos contra o mal, mais conhecido como Muammar Kadafi. E quando esse foi brutalmente executado, Barack Obama, Nicolas Sarkozy, David Cameron e outros tantos chefes de Estado, comemoraram o nascimento de uma nova Era.

Mas a lua-de-mel entre Oriente e Ocidente durou pouco. Ontem, duas notícias lembraram à comunidade internacional que no mundo árabe quem dita as regras é a religião.

Aliados, aliados, Islã a parte. O discurso extremista, mantido em banho-maria durante a ofensiva, está de volta. Talvez um pouco mais moderno e articulado, mas desprovido de qualquer timidez.

A lição de maturidade política dada pela Tunísia, estopim da Primavera Árabe, na sua primeira eleição livre mascarou a volta de um regime conservador. Por mais que o partido eleito Ennahda – « renascimento » em português – tente se desvincular da imagem integrista que ganhou no reinado de Ben Ali, ele é baseado no islamismo.

No seu retorno do exílio no final de janeiro, o chefe Rached Ghannouchi afirmou que não iria impor as leis da religião na política e respeitaria o estatuto da mulher tunisiana, o mais avançado do mundo árabe. Mesmo assim, seu nítido discurso ambíguo fez a comunidade internacional ficar de cabelo em pé.

Se a Tunísia ainda tenta esconder o jogo, a Líbia faz questão de ostentá-lo, agora que Muammar Kadafi é apenas um cadáver em putrefação no chão de uma frigorífica. No primeiro discurso pós-revolução, Moustapha Adbeljalil, presidente do Conselho Nacional de Transição líbio, anunciou : "Como uma nação muçulmana, adotamos a Sharia islâmica como base do Direito, então qualquer lei que contradiz os princípios do Islã é ilegal."

Segundo a definição, a Sharia é o corpo da lei religiosa islâmica, na qual os aspectos públicos e privados da vida do adepto são regulados. Não há separação entre a religião e o direito. Todas as leis são religiosas e baseadas nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos.

A declaração deixou a Federação Internacional da Liga dos Direitos do Homem inquieta com a ameaça de uma regressão na Líbia. Milhares de pessoas não morreram para que hoje haja uma volta ao passado assim como no Irã, disse a presidente da FIDH, Souhayr Belhassen. O ministro das Relações Estrangeiras, Alain Juppé, também demonstrou preocupação da França com o assunto e disse que o País será vigilante no respeito dos valores democráticos.

Assim como a União Europeia jamais vai funcionar porque os seus integrantes se recusam a deixar sua cultura e manias políticas pra trás, o mundo árabe não vai abandonar o modelo de sociedade baseado no Corão. Exigir concessões pelo bem universal é fácil. O difícil é praticá-las.

Ingênuos foram aqueles, que como eu, comemoraram o fim da repressão no Egito, com a queda de Hosni Mubarak. A Primavera Árabe serviu apenas para a troca de comando. De fato, um regime como o de Ben Ali e Muammar Kadafi dificilmente voltará. Pequenos progressos de liberdade foram conquistados para impedir que isso aconteça. Mas no fundo, a eleição do partido conservador na Tunísia demonstra que os árabes e magrebinos não querem cortar suas raízes repressoras.

Texto de Roberta Namour

Fonte brasil 247

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Os grandes males pedem grandes remédios

O título deste artigo remete ao Sermão de São Roque, de Padre Vieira, proferido em 1659. Serve-nos de inspiração para ver, julgar e agir sobre um dos maiores males de nosso tempo, a corrupção.

Infelizmente, o Brasil frequenta, desde que se mede a corrupção mundial, há 16 anos, a incômoda faixa da 60ª à 80ª posição no ranking da percepção da corrupção entre as nações (no ano passado, o País ocupou a 69ª, entre os 178 países, devendo estar próximo disso no relatório que, provavelmente, será apresentado em outubro pela TransparencyInternational).

A nota que o Brasil vem tirando anda, sistematicamente, perto de 3,5 (3,7 no ano passado) – numa escala de 0 a 10 -, o que nos deixa muito longe dos países nórdicos, com suas invejáveis notas ao redor de 9,5.

Esse índice é bem conhecido e amplamente divulgado e discutido a cada ano, quando a Transparency lança seu novo relatório. O que se discute menos é outro índice, o que mede a percepção da corrupção nacional pelos próprios cidadãos.

No último levantamento, de 2010, apenas 4% dos mil brasileiros entrevistados pelo Ibope para a TransparencyInternational reportaram que já pagaram propina a algum dos prestadores de serviço elencados na entrevista – funcionários públicos, policiais, políticos, etc. – para a obtenção ou aceleração de algum favor ou serviço. Isso nos deixaria na seleta lista dos países menos corruptos do mundo.

Ou então, mais preocupante, essa discrepância entre a corrupção medida e a sua percepção pela população poderia estar demonstrando o despreparo com que o cidadão brasileiro encara a corrupção e a necessidade de combatê-la.

Teríamos, então, um problema de raiz, tão profundo, que todas as intenções governamentais e o impressionante instrumental hoje colocado à disposição do cidadão – tal como portais da transparência, contas públicas abertas, jornalismo investigativo, procuradores independentes e dinâmicos – não bastariam para nos tirar desse patamar.

A Presidente Dilma Rousseff, por ocasião de sua participação na Assembleia Geral das Nações Unidas, reafirmou seu compromisso com a transparência e o combate aos “malfeitos” – entenda-se, à corrupção. Trata-se de atitude admirável, principalmente vinda da líder maior da nação, eleita com mais de 55 milhões de votos e que deve, portanto, servir de exemplo para o seu País.

Ver e julgar. Não há como desconsiderar que a corrupção corrói setores públicos e privados. Vamos ao agir. No mesmo “Sermão de São Roque”, afirma Vieira, “o maior perigo não é quando se teme o perigo, é quando se teme o remédio”. E o remédio é o agir.

É preciso incutir em cada um dos brasileiros a consciência de que o comportamento ético começa em casa, no exemplo que os pais dão aos filhos. Segue na escola, onde professores preparados e valorizados devem ensinar e discutir os valores com os alunos desde as primeiras incursões nesse espaço de paz. É assunto de responsabilidade de todas as esferas da administração – municipal, estadual e federal, de todos os poderes e de toda a sociedade organizada.

Se a educação demora a surtir efeitos, usemos, imediatamente, a tecnologia. Aí está a solução mais rápida – transparência, eficiência de sistemas, vigilância de ações e punição justa aos responsáveis.

É preciso usar os remédios sem medo. Os que temem os remédios preferem conviver com os “malfeitos” e desperdiçam a oportunidade de exercício do poder, seja público ou privado, para fazer o bem.

A ética se constrói tijolo a tijolo no cotidiano, no hábito. E o seu exercício é o grande remédio para este grande mal: a corrupção.

Texto de Gabriel Chalita, escritor, professor e doutor em Filosofia do Direito e em Comunicação e Semiótica, é Deputado Federal (PMDB/SP). Foi Secretário de Estado da Educação de São Paulo (2003-2006).

Fonte:brasil247

domingo, 23 de outubro de 2011

Que justiça?

Amigos eu neste momento tento sinceramente compreender o sistema de justiça internacional, ou ao menos o que dizem ser isso. Ao observar os fatos recentes de nossa história humana, nos deparamos com casos e casos, algo tipo "um peso e duas medidas" nas penalidades internacionais e o julgamento dos crimes de guerra e contra a humanidade.

O que vem a ser realmente um crime contra a humanidade? Será que acusar e invadir um país sem provas concretas, ocupa-lo e matar milhares de civis com bombardeios e ataques militares não e um crime contra a humanidade? Será que isolar um povo, como assistimos na Faixa de Gaza, e promover uma estratégia de extermínio de civis inocentes com ataques contra hospitais e escolas, não é um crime contra a humanidade e de guerra? Será que deter em uma prisão sem direitos pessoas acusadas sem provas concretas de envolvimento com terrorismo e tortura-las não é motivo para se levar tal Estado á julgamento?

Bem amigos, sinceramente eu não sei mais o que dizer após assistir ao assassinato de Muamar Kadafi, acusado de crimes contra a humanidade, e diversos outros crimes pelo tribunal internacional, pelos seus algozes, não constitui um crime internacional ao qual deva ser investigado e julgado.

Muamar Kadafi ao longo de sua trajetória de líder líbio ao longo de 42 anos no poder, realmente pode e cometeu algumas transgressões ás leis internacionais, mas que atire a primeira pedra o país da OTAN, ou aliado dos EUA que não tenham cometido algum dos crimes imputados a Kadafi.

O interesse político-econômico internacional é o que realmente pauta o direcionamento da "justiça", afinal, como condenar Kadafi por reprimir uma revolta armada contra seu governo e lançar sobre ele toneladas de bombas em uma dita operação de proteção dos civis, onde tais bombas vitimaram centenas de civis inocentes, enquanto no Bahrein manifestantes desarmados são presos e executados pelo governo daquele país, contando ainda com apoio de tropas sauditas na repressão? Isso sem citarmos o que ocorre no Iêmen.

Justamente devido à atual conjuntura geopolítica e as ambições desenfreadas dos EUA e seus aliados que eu defendo sim que o Irã detenha domínio da tecnologia nuclear e possua capacidade de produzir caso necessário para sua autodefesa um modesto arsenal nuclear, pois seu vizinho Israel possui um arsenal nuclear potêncial desconhecido, ao qual o mundo fecha os olhos e não exibe qualquer interesse em inspecioná-lo, ou mesmo pressionar para que o Estado israelense venha a se desfazer de tais artefatos que desequilibram de forma considerável a balança de poder no Oriente Médio.

Sinceramente, eu adoraria ver realmente a justiça internacional funcionar, á começar pelo julgamento do ex-presidente americano George W. Bush e seus parceiros na invasão do Iraque, o julgamamento e condenação de Israel pelos crimes contra a humanidade cometidos em Gaza, a condenação da Geórgia pelos crimes cometidos durante o ataque a Ossétia do Sul, isso só para citar alguns casos.

Mas como o mundo é movido por interesses econômicos e pelo poderio bélico, acredito que a chance de vermos a lei se aplicar a todos tem uma remota chance de ser contemplada, afinal quem somos nós meros cidadãos do mundo, que sustentamos nossos países e pagamos a conta de guerras insanas e atos de violência desmedida para cobrar consciência e justiça para todos?

Bem vou encerrar por aqui, pedindo apenas que se abra a visão para essa realidade que vos apresento, e passemos a ser mais ativos em nossos atos enquanto cidadãos que definem os rumos de nossos governos através de pequenos atos, começando pela consciência ao definir que irá conduzir a política de nossos governos.

texto de Angelo D. Nicolaci - Editor GeoPolítica Brasil

sábado, 22 de outubro de 2011

Grande produtora de petróleo, Líbia vê seu futuro nas mãos de potências mundiais

O anúncio da morte de Muammar Gaddafi foi comemorado por parte da população líbia, que saiu para festejar nas em Trípoli e Benghazi. Nas ruas da capital, centenas de pessoas levaram bandeiras do país e cantaram gritos de louvor a Deus. Ao mesmo tempo, muitos se perguntam sobre o futuro daLíbia, que há até pouco tempo sequer podia imaginar que deixaria de ser governado pelo ex-líder.

No campo internacional, o momento também é de inquietação. Acredita-se que a Otan, principal parceira do Conselho Nacional de Transição (CNT) na derrubada do governo de Gaddafi, deve realizar uma reunião nas próximas horas, anuncie o fim de sua ofensiva aérea na Líbia. O secretário-geral da aliança, Anders Fogh Rasmussen, disse que, com a morte de Gaddafi, “o encerramento da campanha militar ficou muito mais próximo”, e afirmou que irá coordenar o fim de sua missão com a ONU e o governo provisório.
O Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU pediu na sexta-feira uma investigação completa sobre a morte de Gaddafi.

-Não está claro como ele morreu. Existe a necessidade de uma investigação-, afirmou o porta-voz Rupert Colville a jornalistas em Genebra, na Suíça.

Citando as fotos de celular feitas na quinta-feira em Sirte, que mostram Gaddafi inicialmente ferido, e depois morto em meio a um enxame de combatentes inimigos, Colville acrescentou: “Analisadas conjuntamente, elas são muito perturbadoras”.
Uma comissão internacional de inquérito, criada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, já está investigando assassinatos, torturas e outros crimes na Líbia.
Colville disse que espera que a equipe examine também as circunstâncias da morte de Gaddafi.

-É um princípio fundamental do direito internacional que pessoas acusadas de crimes graves devem ser julgadas, se possível. Execuções sumárias são estritamente ilegais. É diferente se alguém é morto em combate-, afirmou à agência inglesa de notícias Reuters.

Repercussão internacional
Em visita a Angola, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, disse que “o Brasil espera que a violência na Líbia cesse, que as operações militares se encerrem e que o povo líbio siga nas suas aspirações e anseios, no espírito de diálogo e de reconstrução”.

No início da semana, durante o Fórum do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), em Pretória, a presidenta Dilma se manifestou contra a ação armada da comunidade internacional na Líbia. “Na Líbia, atuamos orientados pela certeza de que intervenções armadas e especialmente as realizadas à margem do direito internacional não trazem a paz, nem protegem os direitos humanos”, disse a presidenta.

Exaltação europeia
Líderes estrangeiros, como o presidente da França, Nicolas Sarkozy e o premiê britânico, David Cameron exaltaram a captura de Gaddafi e pediram união à Líbia.
-O desaparecimento de Muammar Gaddafi é um grande passo na luta conduzida há mais de oito meses pelo povo líbio para livrar-se do regime ditatorial e violento imposto durante mais de 40 anos-, declarou Sarkozy em um comunicado.

Cameron reagiu à morte do líder com entusiasmo, dizendo que as pessoas devem se lembrar de todas as vítimas que “morrem nas mãos do ditador brutal”. O premiê relembrou particularmente dois casos: o atentado de Lockerbie, quando um avião que decolou de Londres com destino à Nova York explodiu sobre a cidade escocesa matando 270 pessoas, em 1988, e a morte da policial britânica Yvonne Joyce Fletcher durante uma manifestação na Embaixada da Líbia em Londres, em 1984.

Obama
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que a morte de Gaddafi “encerra um capítulo doloroso” para a Líbia, mas destacou que o país tem um caminho “tortuoso” rumo à democracia plena.

Segundo Obama, os líbios têm agora a responsabilidade de construir um país tolerante, democrático e inclusivo.

-Nós aguardamos ansiosamente o anúncio da liberação do país, da formação rápida de um governo interino e de uma transição estável para as primeiras eleições livres e justas na Líbia-, disse o presidente.

Obama pediu que os líbios continuem a trabalhar com a comunidade internacional para garantir a segurança de armas perigosas em território líbio, e garantiu que os Estados Unidos serão parceiros do povo líbio nesta nova fase do país.

O presidente deixou claro que vê a morte de Gaddafi como algo que veio comprovar o acerto de sua estratégia de “liderar desde atrás”, que foi criticada nos EUA por deixar o país em um papel de apoio nos ataques da Otan na Líbia.

-Sem colocar um único militar norte-americano em campo, alcançamos nossos objetivos-, disse Obama em discurso televisionado para os norte-americanos, já exaustos das guerras prolongadas no Iraque e Afeganistão.

Obama disse também que a morte de Gaddafi deve servir de aviso a outros líderes autoritários no Oriente Médio, onde revoltas já depuseram líderes que passaram muitos anos no poder no Egito e na Tunísia.

Washington está fazendo pressão por mais sanções contra o presidente da Síria, Bashar al-Assad, devido à repressão brutal dos protestos pró-democracia nesse país.

Guerra ao Terror
Desde os atentados ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos estão envolvidos em guerras em todo o mundo árabe, onde regimes fundamentalistas seriam berço de movimentos terroristas que colocam o mundo em risco.
O Watson Institute, da Brown University lançou neste ano estudo que ilustra em números os prejuízos causados pela chamada Guerra ao Terror.

Os dados revelam que as consequências foram globais, resultando num conflito que ao longo da última década deixou mais de 250 mil mortos. Dentre eles, cerca de 130 mil eram civis.

O número de mortes no Afeganistão, país invadido por tropas norte-americanas, aumentou desde que a guerra começou, há dez anos. Mais vidas estão sendo perdidas na guerra do que quando o Talebã estava no controle do país. Hoje, o saldo anual de mortos chega a 12000.

No Paquistão, a situação não é diferente. Desde 2004, conflitos armados devastam o país. Ataques de aviões não-tripulados dos EUA mataram cerca de duas mil pessoas, em grande parte mulheres e crianças. O número total de mortos no país é de 35.600. Já as vítimas do 11/09 não chegam a 3 mil.

Estima-se que na última década os EUA tenham gasto cerca de US$4 trilhões na Guerra ao Terror.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Produtividade: dá para conciliar trabalho e estudos?

A maioria das pessoas tem o primeiro contato com a real necessidade de administrar o tempo e suas atividades, de maneira mais efetiva e rigorosa, ao conquistar o primeiro emprego e, ao mesmo tempo, iniciar em um curso de graduação – alguns alunos lidam com isso ainda no ensino médio. É nessa fase que o número de tarefas aumenta e que muitos alunos pensam em desistir do primeiro estágio, para dedicarem tempo somente aos estudos. Não é fácil, mas é possível ter tempo para trabalho e estudos, e abdicar do trabalho pode não ser uma boa alternativa logo de começo.

Primeiro porque, ao terminar o curso, vai ser mais difícil achar vaga para profissionais que não tiveram nenhuma experiência de estágio ou qualquer tipo de vivência prévia. Segundo, quem deixa de trabalhar, acaba tendo a tendência de abusar de atividades circunstanciais (afinal, você não estuda todos os dias, não é verdade?) como as redes sociais, passeios com a mãe, baladas fora de hora, etc. E terceiro: não adianta deixar para depois, mais cedo ou mais tarde você terá de aprender a se organizar e ser mais produtivo em menos tempo, do contrário, esqueça a ideia de ser um profissional de resultados no mercado de trabalho.

Sabendo disso, não enlouqueça! Existem métodos de planejamento que ajudam a lidar com o volume de tarefas e auxiliam você a manter o equilíbrio. Veja cinco passes básicos para que trabalho e estudos entrem em harmonia:

1- Escreva suas atividades: não deixe nada na cabeça, registre o que tem para fazer em uma agenda, caderno, celular ou um software de planejamento. Se você não anota, fica impossível de planejar e logo de arrumar tempo! A dica é ter apenas um lugar para registrar, ou você vai se perder! Registre tudo, da vida, escola, trabalhos, TCC e outras atividades que precisam ser realizadas no trabalho;

2- Trace seu planejamento: com todas as atividades em mãos (tente conseguir o máximo que puder de um semestre), passe para o seu método de anotações todas as tarefas, distribuindo-as com a antecedência de ao menos três dias do termino do prazo. Isso lhe dará mais mobilidade no dia a dia, fazendo com que cumpra tudo no prazo e ainda ganhe um tempo para descansar ou adiantar novas tarefas;

3- Cuidado com as urgências: atividades urgentes são aquelas que não estavam programadas para acontecerem, e o tempo para realizá-las está curto, ou já acabou. São as atividades que chegam em cima da hora, que não podem ser previstas, mas que geralmente causam estresse. Para evitá-las, reserve de 30 minutos a 1 hora do seu dia para esses imprevistos. Não esqueça de colocar tempo nas suas anotações!

4- Evite as atividades circunstanciais: sabe aquela atividade que, se você não tivesse perdido seu tempo com ela, não faria a menor diferença? Essas são as tarefas circunstanciais, aquelas que nos fazem perder tempo a toa, como navegar por horas na internet sem propósito. Lute contra elas! Dica: a noite, ao chegar em casa, vá direto para o banho e comece a se preparar para o próximo dia. Evite deitar no sofá para assistir TV – com o cansaço e a preguiça, certamente você passará horas em frente a TV e irá dormir mais tarde do que realmente precisa, sem ter produzido nada neste período, nem ter descansado;

5- Foco! Mas nenhuma dessas dicas pode ser realmente eficaz se você não tiver definido de maneira clara quais são os seus objetivos (ex. conquistar determina vaga dentro da empresa, ou terminar no menor tempo possível o curso, para iniciar outro). Além disso, é de extrema importância que você esteja 100% focado em conquistar esses objetivos, o que significa que, algumas vezes, a preguiça pode até aparecer, mas você terá de ser mais forte e seguir com o seu planejamento.

Preparado para iniciar sua vida profissional e acadêmica de uma maneira mais produtiva? Foco nos estudos e objetivo claro no trabalho, essas são as peças chaves para conciliar ambas as atividades de maneira equilibrada e sem estresse.

Texto de Christian Barbosa

Fonte: www.administradores.com.br

A fantasia da reforma política

Durante toda a sua história, o Brasil foi uma sucessão de períodos autoritários intercalados por fases de redemocratização. A instabilidade institucional, aliada à ideia emprestada dos períodos ditatoriais de que o Estado tudo pode, inclusive mudar costumes e culturas, fazem a sociedade trilhar movimentos curiosos em momentos de crise política.

Os aparelhos públicos de coerção – justiça, polícia, ministério público e outros órgãos de controle e punição – apenas são considerados eficientes se apresentam imediatamente um culpado e um castigo, uma exigência que, não raro, induz a erros policiais e judiciários. É a expectativa de que as instituições democráticas e os mecanismos legais ganhem a cerelidade própria dos regimes de exceção e um poder semelhante de decidir sobre a vida das pessoas.

A outra deturpação decorrente do passado autoritário é a ideia de que tudo se resolve com uma nova lei. Uma pena mais rigorosa sempre é a solução para tudo. Se ela não resolver, é porque as instituições de controle e punição não foram suficientemente ágeis. Se, depois de algum tempo, se chegar à conclusão de que esse não é necessariamente o problema, a varinha de condão de novos instrumentos legais é acionada, individual ou coletivamente, e preverá punições mais duras.

Não que inexistam imperfeições legais que devam ser resolvidas; e longe está o momento em que as instituições de controle e punição sejam tão perfeitas que insusceptíveis de críticas. O problema é que esse caldo de cultura, não raro, acaba por inibir qualquer diagnóstico mais profundo sobre os reais problemas da democracia brasileira.

A discussão meramente formal sobre a lei, e a ideia de que ela tudo resolve, desde que alterada, pode causar grandes frustrações. Falta também absorver a realidade de que as leis têm lado. Não são panaceia para todos os males, nem curam igualmente doenças que acometem um ou outro lado.

Nas páginas de “Coronelismo, Enxada e Voto”, de Victor Nunes Leal (uma das mais importantes reflexões sobre as origens políticas do Brasil moderno, escrito em 1946 e, atenção editores, esgotado: encontrá-lo, só em exaustivos périplos ao mundo dos sebos e a alto preço), o autor consegue de tal forma entender o debate enviesado sobre o ovo e a galinha da política brasileira que é um exemplo de método e diagnóstico.

O detalhado relato do funcionamento da política brasileira nos rincões do poder municipal não o levam à conclusão precipitada de que, se a política municipal é a base da política de favores que sustenta o poder nacional, a solução é destituir o poder do município.

Nunes Leal relata debates ocorridos, ao longo da história republicana, sobre os poderes locais, que resguardaram, desde a monarquia, sua característica de eletividade. O problema não era a assunção ao poder pelo voto, concluiu ele, quando, na Constituinte de 1946, forças conservadoras defendiam o fim da elegibilidade nos municípios e a transformação desses entes federativos em departamentos técnicos, de nomeação pelos governadores.

Para derrubar a tese conservadora, o autor historiou em seu livro como, ao longo dos tempos, a solução “técnica” de intervenção nos municípios serviu politicamente aos senhores do momento de forma mais efetiva do que quando os prefeitos eram eleitos. O desequilíbrio, ensinava Nunes Leal, não era dado pela autonomia dos municípios, mas pela ausência dela. O sistema político representava uma aliança de conveniência entre uma oligarquia rural decadente e o poder estadual, e só se mantinha devido à dependência econômica dos municípios aos Estados e ao governo federal.

O entendimento de que a autonomia municipal seria muito mais eficiente para combater relações deletérias entre agentes politicos acabou prevalecendo nas ciências sociais brasileiras e na Constituinte de 1988, que levou isso tão à risca que hoje as partes demandam soluções novas – e efetivamente técnicas – para áreas conurbadas.

Da mesma forma, é preciso tomar cuidado com alguns debates que decorrem das reiteradas crises políticas vividas pelo país. Existe um diagnóstico comum:
- o quadro partidário brasileiro é deficiente;
- é alta a taxa de corrupção não apenas nas instituições públicas, mas na sociedade; - a política é pouco atrativa para pessoas que efetivamente têm condições de representar politicamente, e com honestidade, uma parcela da população brasileira;
- existe pouco vínculo orgânico dos partidos com seus representados;
- a profusão de legendas obriga a convivência de partidos ideológicos com os partidos de negócios ou de aluguel;
- o poder econômico prevalece…

A lista é longa. Não se pode, contudo, imaginar que leis simplificadoras resolvam, por mágica, toda a nossa penúria política, acumulada em períodos autoritários e alimentada por uma elite versada em manipulação do voto do pobre.

É hora, é certo, de pensar numa reforma política, mas é bom que se evite que ela sirva a outras finalidades que não o aprofundamento da democracia brasileira. É impensável que, num debate como esse, se coloque na mesa o voto majoritário para a escolha de integrantes do Legislativo, sob a justificativa que distritos eleitorais menores podem ajudar os eleitores a fiscalizar os eleitos.

O voto proporcional é o único que abre espaço, nas democracias representativas, às minorias partidárias.

Essa é uma qualidade do sistema brasileiro, não um defeito. As regiões onde o voto é concentrado, se o voto distrital for aprovado, privilegiará partidos pouco ideológicos e a extinguirá legendas mais orgânicas, que tendem a ter um voto mais disperso.

No debate sobre a reforma política é, de fato, necessário incluir as fontes de financiamento eleitoral e partidário, para que se elimine essa grave deficiência na representação política brasileira. Outras coisas mais devem ser discutidas. O que não se pode fazer é estreitar o debate para questões meramente eleitorais.

As eleições são apenas um capítulo na vida de uma nação. A política é feita todo dia. Por exemplo, nesse debate todo não se pode esquecer que o programa Bolsa Família foi muito mais eficiente, em termos de modernização política dos bolsões de pobreza, do que propriamente uma mudança na lei. O voto eletrônico cumpriu um papel importantíssimo de reduzir a fraude em grotões eleitorais. O voto do analfabeto incluiu um elemento vital na representação eleitoral brasileira.

A expansão de direitos de cidadania – educação, saúde, previdência, renda mínima e o direito sem restrições ao voto – são muito mais eficientes na mudança de qualidade de nossa democracia do que reforçar oligarquias regionais com o voto distrital.

O abuso econômico nas eleições não se resolve barateando artificalmente o pleito, como foi feito há quatro anos, ao impedir o uso de propaganda mais variada e formatá-la de forma espartana. Isso apenas torna a política mais chata aos olhos de um eleitor já pouco motivado.

O mesmo ocorre com a Justiça Eleitoral: aparência de rigor não é necessariamente sinal de que a justiça está sendo feita. Mas isso é assunto para outra coluna.

Texto de Inês Nassif(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Veja o que está por trás da denúncia contra o ministro dos esportes

A batata na chaleira esportiva
A Reuters, finalmente, “levanta a bola” de uma jogada à qual ninguém estava dando atenção e publica hoje a seguinte matéria: Governo vai recrudescer negociações com Fifa e CBF, diz fonte.

O governo avalia que a denúncia contra o ministro do Esporte, Orlando Silva, traz benefícios para Fifa e CBF, como na negociação da Lei Geral da Copa, que começou a tramitar na Câmara dos Deputados na semana passada, disse à Reuters uma fonte do governo.

A aprovação dessa legislação é cobrada pela federação internacional para realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014 e inclui normas desde o valor dos ingressos até a proteção das marcas de patrocinadores no país, por exemplo.

Essa fonte, que pediu para não ter seu nome revelado, afirmou que o clima no governo em relação às duas entidades é de beligerância e que o Executivo não tentará impedir a criação de uma regra que permita a cobrança de meia-entrada para estudantes nos jogos da Copa de 2014.

Essa era uma das principais reclamações da Fifa e até agora o governo vinha argumentando que a meia-entrada para estudantes era determinada por legislações estaduais. Deixar livre para o Congresso a criação de uma legislação federal sobre o tema seria o primeiro gesto político para o governo mostrar que será mais firme na negociação com a Fifa a partir de agora.

A indignação do governo com o tratamento recebido das duas entidades é crescente, segundo relato dessa fonte, e a relação chegou no seu pior momento agora.

No fim de semana, a revista Veja publicou reportagem segundo a qual organizações não-governamentais que realizam convênios com o Ministério dos Esportes no âmbito do programa Segundo Tempo só receberiam os recursos destinados ao acordo após pagamento de até 20 por cento do valor do convênio a pessoas ligadas ao PCdoB, partido do ministro.”

Os jornalistas brasileiros são muito bem informados e inteligentes, em geral. E quando escrevem fora dos grandes jornais começam a achar as estopas com que se pregam certos pregos…

Em tese, o enfraquecimento do Governo, com as acusações ao Ministro do Esporte, facilita a imposição dos apetites leoninos da Fifa. E tira de cena as investigações sobre o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

Já dizia o antigo comentarista Ruy Porto, da TV Tupi, que a melhor defesa é o ataque, não é?

Ainda mais quando está o que está em jogo não é a bola, mas uma bolada.

Fonte: blog Tijolaço do Brizola Neto

terça-feira, 18 de outubro de 2011

MPF pede investigação sobre preço de carros no Brasil

Após perceber que um carro no Brasil pode custar o dobro que um do mesmo modelo nos Estados Unidos, o Ministério Público Federal resolveu enviar ofício para o Ministério da Fazenda pedindo que uma investigação seja feita no setor. Os promotores querem saber se há lucro abusivo por parte das montadoras de automóveis ou se há regulamentação obsoleta do mercado.

O pedido de investigação ao Ministério da Fazenda partiu da 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, um órgão de cúpula da instituição, responsável pela defesa dos direitos do consumidor.

Num voto coletivo, aprovado pela 3ª Câmara, além da investigação sobre lucro abusivo por parte das montadoras, os procuradores também solicitam que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) desenvolva estudos para verificar se a Lei Ferrari - que dispõe sobre a concessão comercial entre produtores e distribuidores de veículos automotores no país – deve ser mantida.

Devido à Lei Ferrari, concessionárias mantém exclusividade comercial em seus territórios - chamados de áreas operacionais. A lei também determina que montadoras que romperem o contrato com concessionárias de forma unilateral tenham que comprar o estoque de peças e veículos pelo preço de mercado.

"A Lei Ferrari pode ter tido algum papel, há 30 anos, na época da reestruturação dos mercados de veículos no Brasil, numa época em que vigia uma economia de controle de preços. Mas hoje existem fortes suspeitas de que essa lei é desnecessária e até prejudicial”, diz trecho do voto coletivo da 3ª Câmara.

O pedido feito ao Ministério da Fazenda também dá 180 dias para que a investigação seja concluída.

“Dentro da atribuição de zelar pelos princípios constitucionais relativos à atividade econômica e à defesa do consumidor, cabe ao MPF provocar os órgãos federais competentes a voltar sua atenção para o tema”, disse o subprocurador-geral da República Antonio Fonseca.

Montadoras

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) informou através de sua assessoria de imprensa, que só se manifestará se for notificada judicialmente a respeito do assunto.

Fonte: Último Segundo e blog geopolítica do Brasil

É preciso salvar o capitalismo dos capitalistas

Deve ser duro ocupar Wall Street. O cara sái de casa, apanha da polícia, pode ser preso e, quando abre o jornal, é obrigado a ler que o protesto é bonito mas ele não apresentou uma saída para a crise. Piada.
Os protestos da Europa e dos Estados Unidos falam como as passeatas falam: com cartazes, palavras-de-ordem, formulas simplificadas. A rua é assim.
Mas quem sabe ler e ouvir já percebeu que as passeatas não colocam problemas que se
resolvem numa conversinha de gabinete nem num estalo acadêmico. Não por
culpa dos manifestantes mas em função do caráter profundo da crise dos países
desenvolvidos.
Os problemas exigem visão ampla e respostas dramáticas. Cobram, acima de tudo, coragem política. Poucas pessoas se atrevem a olhar para elas. Os mais medrosos são aqueles que repetem formulações padronizadas, dizendo que é preciso reduzir salários, piorar o consumo, aplicar planos de austeridade. Esses não entenderam nada.

No plano da teoria, Nouriel Roubini anda dizendo que a crise mostra que Karl Marx,
aquele que queria acabar com o capitalismo, “estava certo.” Roubini não é nenhum
revolucionário. É um consultor que cobrou caro para dar conselhos para grandes investidores que não querem perder um centavo com sugestões erradas. Nem sempre acerta. Tanto que sua consultoria acaba de pedir falencia.

Pois este sujeito afirma que o pai do comunismo tem mais a ensinar do que nossos sábios de visão convencional e fórmulas prontas. Deveria dar o que pensar, concorda?

O megainvestidor George Soros tem uma idéia que faz sentido. Ele chegou a conclusão de que os governos dos países desenvolvidos devem assumir a gestão do sistema financeiro, capitalizar instituições quebradas e reanimar a economia. Isso quer dizer: afastar os capitalistas para salvar o capitalismo. É uma medida mais dura do que se fez em 2008 mas tem sua razão de ser. A situação exige medidas de salvação nacional — ou global.

A América do Norte e o Velho Mundo estão naufragando. Seus trabalhadores não
tem mais emprego, o seguro-desemprego está sendo reduzido, as aposentadorias
serão diminuídas. O mais grave é que todos sabem que não há nenhuma luz no fim
de tanto sacrifício. Só mais pesadelo e falta de perspectiva.

Sem estimulo ao consumo, não haverá retorno do crescimento. Sem isso não
haverá criação de empregos nem receitas para pagar direitos históricos, como
saúde pública, escolas, aposentadorias.

As idéias estão aí. Os ativistas estão fazendo sua parte. Já deixaram claro o que
desejam e o que não desejam. Quem precisa oferecer propostas é quem assumiu
essa responsabilidade, pediu voto nas urnas e se apresenta como responsável
pelo destinos de seus povos. A crise tem origem na economia mas se tornou
política. Está na hora da resposta.

Texto de Paulo Moreira Leite
Fonte: http://colunas.epoca.globo.com

domingo, 16 de outubro de 2011

A ocupação de Washington DC por rebeldes do movimento contra a opressão do capitalismo

Num país em que os diretores executivos das empresas ganham 185 vezes a mais que seus trabalhadores, a mensagem da ocupação atrai muita gente. Joanne Quinn viajou do outro lado do país – Seattle, Washington – para participar do protesto.

Ela trabalha como enfermeira e explicou que, depois de anos vendo que seus pacientes estão perdendo o seguro saúde por não poder trabalhar, estava farta com o sistema.
O movimento de protesto que começou em Wall Street chegou à capital dos Estados Unidos. Centenas de pessoas de diferentes idades estão acampando na Praça Liberdade – entre a Casa Branca e o Capitólio – clamando por uma mudança na política e na economia do país.

Organizaram-se em zonas distintas da praça para preparar e servir comida, pintar cartazes e construir bonecos, tocar tambores, dar informação aos meios de comunicação e administrar os primeiros socorros aos feridos. Muitas pessoas dormem cada noite na praça em barracas ou sacos de dormir. E, a cada dia, os participantes realizam uma assembleia geral na qual discutem quais são suas demandas e como vão conseguir a mudança que querem.

Na primeira noite de protesto, 6 de outubro, o escritor e colunista Tim Rall disse à multidão que nada menos que uma revolução é aceitável.

“Não estou falando de ‘revolução’ entre aspas. Estou falando da revolução verdadeira”, gritou. “Sempre me dizem que o sistema é grande e poderoso demais para ser enfrentado. ‘Eles podem escutar sua conversa, assassiná-lo onde você esteja. Você tem o maior estado policial do mundo”. Mas eu respondo: “Em todas as revoluções na história foi batalhada por um povo mais débil e com menos gente que o Estado que derrubou”.

As ocupações estão crescendo em centenas de cidades ao longo dos Estados Unidos, de São Francisco, Califórnia, a Boston, Massachussets. A multidão em D.C. – que inclui veteranos de guerra, sindicalistas, pobres e profissionais liberais – está voltanda contra a influência das corporações sobre as eleições. Mas assim como o protesto em Wall Street, fala-se também da ganância corporativa, do aquecimento global e da desigualdade social.

Num país em que os diretores executivos das empresas ganham 185 vezes a mais que seus trabalhadores, a mensagem da ocupação atrai muita gente. Joanne Quinn viajou do outro lado do país – Seattle, Washington – para participar do protesto. Ela trabalha como enfermeira e explicou que, depois de anos vendo que seus pacientes estão perdendo o seguro saúde por não poder trabalhar, estava farta com o sistema:

– É uma grande injustiça o que se passa nos EUA. Estamos muito obedientes, aqui, mas temos de começar a ser desobedientes.

Apesar da imagem popular das ocupações ser de jovens, Quinn e sua geração estão muito bem envolvidas.

– Tenho visto décadas de desemprego, velhos que não conseguem se aposentar, e por isso esta manifestação me atraiu – contou.

Shane Dillingham, que nasceu em Whashington, D.C., tem 30 anos e está de acordo com que o movimento se junte a um grupo diverso.

– Tem uma crítica muito interessante: que somos 99% e eles são 1%. Creio que esta mensagem está ressoando nas pessoas – constata.

Dillingham, que trabalha como camareiro, chegou a Praça 6 de outubro – um dia antes do décimo aniversário da guerra contra o Afeganistão. Ele vê uma conexão muito forte entre o movimento contra a guerra e o movimento contra a pobreza.

– Quando estamos falando da crise econômica, ninguém fala das guerras, das ocupações e de todo o gasto militar em todo o mundo. Por isso estamos nos mobilizando em torno desse assunto – acrescentou.

Dillingham trabalhou em campanhas progressistas por muitos anos, mas agora está sofrendo um desencanto com o sistema político.

– Há muito pouco apoio popular para as reformas, mas não escutamos nada [a seu respeito] na discussão política atual. Não temos políticos nem partidos que estejam trabalhando com sinceridade para impor essas reformas. Portanto, penso que as pessoas estão experimentando uma nova maneira de participação – ocupando espaços públicos – porque a maneira tradicional, de votar, não está funcionando. Os dois partidos aqui têm mais em comum – defender seus interesses – que (têm em comum) com a maioria dos norte-americanos – afirmou.

Quinn concorda. “Nós perdemos nossa democracia”, disse.

O colunista progressista Chris Hedges, do site Truthdig.com descreveu os problemas atuais da sociedade estadunidense:
“As leis são mentiras. Vivemos um golpe corporativo. Os pobres e a classe trabalhadora sofrem desemprego e fome. A guerra é o único negócio do estado”.

Os moradores de Washington D.C. sentem fortemente a escassez de democracia em suas avidas – porque o distrito não tem os mesmos direitos dos estados. Embora os seus cidadãos paguem impostos, D.C. não tem representação no Congresso Federal, e a cidade não tem controle sobre suas próprias leis nem orçamento. Muita gente se queixa, dizendo que se trata de uma “colônia moderna”.

Dillingham disse que, crescer em Washington – especialmente durante a presidência de George W. Bush – foi uma experiência “formadora”. Mas via que muitos ativistas estavam mais cínicos. Por isso está muito emocionada, vendo o oposto do cinismo nas ruas de sua cidade.

Quinn também está muito feliz, observando o ânimo na Praça Liberdade.
– Sou velha o bastante para recordar dos protestos contra a guerra no Vietnã e me parece que agora há muita apatia. Há muitas coisas que nos distraem. As corporações querem que estejamos distraídos. Levamos tempo demais para chegar a este ponto, de montar um protesto na Praça Liberdade ou em Wall Street. Mas oxalá que ele esteja ganhando velocidade – disse.

Muita gente disse que o país está vivendo um momento crítico – enfrentando o poder corporativo sem precedentes, os ataques contra os direitos civis e a destruição do meio ambiente. Nestes tempos, é impossível assumir uma posição neutra.

Quando pegou o microfone, o escritor Hedges deu um ultimato à multidão:
– Vocês são rebeldes ou escravos?!.

Fonte: correiodobrasil

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

PSDB impede investigações da "máfia das emendas" em SP

Alesp: Conselho de Ética não avança em investigações

Após quatro reuniões em três semanas, o Conselho de Ética da Assembleia de SP não aprovou nenhuma medida para investigar a acusação de venda de emendas parlamentares feita pelo deputado Roque Barbiere (PTB). A base governista já barrou a convocação de cinco secretários ou ex-secretários do governo estadual.

Ontem, por 7 votos a 2, o conselho rejeitou o convite para que o titular do Planejamento, Emanuel Fernandes, e a subsecretária de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Rosmary Correa, prestassem depoimento.

Os integrantes da comissão também derrubaram o convite para que o ex-deputado José Bruno (DEM), acusado por dois ex-funcionários de cobrar propinas para a destinação de emendas, prestasse esclarecimentos.

O conselho rejeitou ainda requerimento do PT que pedia que o órgão solicitasse ao governo a lista de todas as emendas de R$ 50 mil feitas desde 2007 pelo deputado licenciado e secretário de Meio Ambiente, Bruno Covas (PSDB).

O deputado Carlos Giannazi (PSOL) solicitou ao conselho que tome medidas para que Barbiere seja explícito sobre a denúncia, revelando nomes, ou responda a processo disciplinar. Mas a investigação foi protelada por um pedido de vista do deputado tucano Cauê Macris.

Em reuniões anteriores, a base governista rejeitou convites para a convocação dos ex-secretários estaduais Luiz Antonio Marrey, Frederico Luna e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), atual senador. Até agora, o conselho somente aceitou dois depoimentos por escrito, um de Barbiere e outro de Bruno Covas. Nenhum dos dois revelou nomes ou caminhos que possam ajudar a comissão a prosseguir com a investigação.

O presidente do conselho, Hélio Nishimoto (PSDB), atribuiu a inoperância ao fato de o pivô do escândalo não ter ainda fornecido nomes. O líder do PT, Ênio Tatto, rebateu: "A base do governo atua para não ter apuração".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Jornal A Cidade de Ribeirão

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Como a "América" pode aprender com sua própria história?


Em 1932, a taxa de desemprego nos EUA era de quase 25%, um em cada quatro norte-americanos estava desempregado. Havia inquietação nas ruas. Protestos brotavam nas cidades. Marchas arrebanhavam descontentes.

Mas um acontecimento mais que qualquer outro marcou a radicalização que definiria a disputa presidencial no ano seguinte e com ela a politização da crise. Em Washington, veteranos da primeira guerra, pobres e desempregados, indignados com a recusa do governo em adiantar-lhes o bônus de ex-combatentes, montaram um acampamento nas praças e ruas da avenida principal.

A ocupação começou repentinamente. Acabou reunindo milhares. Foi duramente reprimida pelo governo do Presidente Hoover , cujo secretário do Tesouro, Andrew Mellow --a exemplo do extremismo neoliberal dos dias de hoje-- opunha-se tenazmente a qualquer intervenção do Estado na economia.Mellow acreditava mesmo que a recessão seria benéfica-- 'Ela limpará a podridão do sistema', dizia.

A repressão aos ocupantes de Washington rachou a própria direita. Uma parte apoiaria o democrata Franklin Roosevelt que venceria as eleições no ano seguinte. Roosevelt tomou posse em 3 de março de 1933. Seis dias depois, fez o Congresso discutir e aprovar, em um único dia, uma Lei de Emergência Bancária que colocava a banca sob custódia federal.

A estatização branca do sistema permitiu-lhe erradicar a especulação e a jogatina subordinando o crédito aos desígnios da produção, do emprego e do consumo. Em 1933 surgiria o termo 'macroeconomia', em contraponto à visão pontual e mercadista predominante então, exceto entre os marxistas. Em 36, Keynes lançaria seu livro 'Teoria Geral do Emprego , do Salário e do Lucro' que sancionaria a intervenção do Estado para estabilizar a curva do investimento e modular as expectativas do capital.

A ocupação de Washington não propôs a lei Bancária a Roosevelt, nem pautou a Teoria Geral, de Keynes. Mas ajudou a promover a ocupação política da agenda da crise que mudaria a história dos EUA e a do século XX.

Fonte: editorial da Carta Maior

Sobre Corruptos e Corruptores

As denúncias de corrupção que assolam o governo Dilma nesse seu início têm sido divulgadas pela grande mídia como se fossem uma característica do atual agrupamento político que está no poder.

Tudo se passa como se pessoas de caráter duvidoso se aproveitassem do Estado em favor de seus interesses pessoais e grupais.

Essa forma de veicular denúncias e indícios e, sobretudo, de interpretá-los, não apenas contribui para estigmatizar grupos políticos – no limite de sua criminalização, o que é um claro atentado à democracia – como, fundamentalmente, reafirma muitos dos mitos acerca do fenômeno da corrupção.

Deve-se notar que tais mitos são de variada ordem e se encontram espalhados pelo chamado senso comum e entre as elites, a começar pela mídia, que os espraia seletivamente. Sem a pretensão de esgotar todos eles, podem-se inventariar alguns:

• a colonização portuguesa, que seria essencialmente patrimonialista, em contraposição ao “poder local” e ao “espírito de comunidade” da tradição anglo-saxã, notabilizada por Tocqueville. Nessa imagem, haveria uma “inferioridade” da cultura e dos povos ibéricos, comparativamente a seus congêneres anglo-saxões, com consequências políticas nefastas a suas colônias. Assim, o patrimonialismo seria um legado do qual as ex-colônias jamais conseguiriam se livrar;

• a cultura brasileira, que não teria, mesmo após a independência e a República, conseguido separar o público do privado, mantendo as “raízes do Brasil”, conforme a análise culturalista de Sérgio Buarque de Holanda. Aqui, o universo miscigenado brasileiro, tão criticado por perspectivas eugenistas do início do século XX e mesmo por pensadores como Oliveira Viana, impregnaria as instituições com sua “amoralidade macunaímica” (a obra de Mario de Andrade é, nesse sentido, ironicamente sintética e crítica dessa perspectiva);

• o caráter (i)moral de grupos específicos que alçam ao poder, versão notabilizada pela UDN de Carlos Lacerda, intérprete da política à luz da moral (seletiva, diga-se) das relações pessoais: essa versão é bastante divulgada pela mídia contemporânea brasileira, com a mesma seletividade de então. Um exemplo dessa seletividade foi o processo de privatização, que, apesar de um sem-número de denúncias e indícios de corrupção no processo e na modelagem, foi sistematicamente negligenciado pela grande imprensa brasileira, em razão de seu apoio incondicional a ela.De toda forma, o fato é que a análise moralista aparece como fator explicativo dos processos de corrupção, mas seus intérpretes a invocam seletivamente;

• a disjunção entre elites políticas e sociedade, como se as primeiras não fossem reflexo, direto e/ou indireto, da última. Trata-se de visão simplista, mas bastante difundida, quanto à desconexão entre eleitos e eleitores, em razão ou da “corrupção inescapável” dos que chegam ao poder, ou de uma inexplicável autonomia dessas elites perante o corpo de eleitores;

• a ausência de uma base educacional formal sólida como explicação para comportamentos não republicanos. Nessa perspectiva, desconsideram-se o chamado “crime do colarinho branco” e as diversas formas de “tráfico de influência”, típicos das elites, como os atos mais graves e praticados por pessoas “educadas”, em termos de educação formal. Assim, o mote do senso comum – “a educação é a base de tudo” – concede à educação formal um poder equalizador, republicano e democrático que decididamente ela não tem e não pode ter, dado que a escola é também reflexo da sociedade, com todas as suas virtudes e mazelas, mesmo que seja um ambiente mais propício, em tese, à reflexão. Com isso, de forma alguma se está advogando a desimportância da escola, e sim seu papel real na sociedade, particularmente no Brasil. Nesse sentido, os meios de comunicação de massa são claramente concorrentes, com enorme superioridade quanto aos impactos, à escola, pois sua capacidade de incutir comportamentos e valores, inclusive estéticos, é brutal, ainda mais em países como o Brasil, em que não há qualquer responsabilização desses meios, embora sejam concessões públicas;

• por fim, a ausência e/ou fragilidade de leis e de instituições capazes de fiscalizar, controlar e punir os casos de malversação dos recursos públicos, como se o país fosse “terra de ninguém”, desconsiderando-se os inegáveis avanços institucionais desde 1988. É importante notar o novo papel do Ministério Público, com poderes inéditos na história brasileira, desde 1988; a recente criação das Defensorias Públicas estaduais, que contribuem para a melhoria do acesso à Justiça pelos mais pobres; as funções fiscalizatórias da Corregedoria Geral da União; as revisões no papel dos tribunais de contas, entre tantas outras instituições e marcos legais organizados em torno dos conceitos de controles internos, externos e sociais (caso, deste último, das organizações da sociedade politicamente organizada na fiscalização do Estado).

Texto de Francisco Fonseca, no Le Monde
Fonte: correiodobrasil

Exageros sobre a crise

Agentes do mercado financeiro e suas forças auxiliares que não se libertaram do vício dos "derivativos" fizeram um grande esforço de mídia para mostrar que a valorização do dólar em relação ao real é apenas consequência das medidas de restrição cambial adotadas pelo governo brasileiro. E, num tom ainda mais exacerbado, após a traulitada que tomaram no câmbio, disseram que a desvalorização do real é a "gota dágua" que vai fazer transbordar os limites de nossa meta de inflação.

Grande exagero e uma boa dose de terrorismo, por várias razões:

1- Com exceção do iene, todas as moedas do mundo se desvalorizaram ante o dólar americano. Não se trata, portanto, de um fenômeno brasileiro.

2- O dólar se fortaleceu porque os investidores acreditam que ele ainda é o refúgio mais seguro quando aumentam os riscos nos mercados financeiros, independentemente do fato de ter "perdido" um dos três "A" da agência de qualificação (que, por sinal, está sob investigação por suspeita de fraudes).

3- Com a transferência dos capitais para os Estados Unidos, a tendência do dólar é a de continuar se valorizando.

4- Há problemas de inflação em todos os países com a continuação da crise, cada qual com diferentes causas e intensidade.

A meta de inflação é um instrumento útil para estabilizar as expectativas inflacionárias e para ajudar os bancos centrais a manterem taxas adequadas às políticas econômicas traçadas pelos governos. Por ser um sistema bastante inteligível, ele reduz os custos sociais nos ajustes salariais, quando se tem de discutir não só a distribuição dos ganhos de produtividade, mas também a inflação futura. Sendo crível, ela permite limitar a discussão a um só aspecto: como distribuir o aumento da produtividade entre capital e trabalho.

É importante manter a credibilidade da meta, mais ainda nesses momentos de crise perturbando a economia internacional, para lidar com o aumento da inflação não apenas no Brasil, mas em boa parte de nossos parceiros comerciais. A inflação que nos atinge tem um forte componente externo, com aumentos nos preços de muitos produtos que importamos e pela influência da variação das taxas de câmbio, enquanto internamente ela é produzida basicamente no setor de serviços.

Em síntese, são três os problemas que podem afetar a meta de inflação no Brasil: o aumento dos preços externos, a variação da taxa de câmbio e, internamente, os preços dos serviços cuja elevação se dá por causa do desequilíbrio na estrutura da oferta e da procura de mão de obra. Esse último fator não é passível de ser modificado por medidas de política monetária. A correção demanda mais tempo e fortes investimentos do governo no preparo da mão de obra para melhorar a qualificação do trabalhador e ajustar oferta e procura.

Quanto à inflação produzida pelos preços externos, a tendência é de queda, pois a demanda mundial está encolhendo e a recessão não vai embora rapidamente. Mesmo na China, a expectativa é de contenção das taxas de crescimento econômico. Com o grande devorador decommodities diminuindo o ritmo das importações, os preços serão menos pressionados e a tendência é mesmo de queda nas cotações.

O terceiro problema importante é o câmbio. Que influência pode ter a valorização do dólar em relação ao real (na verdade, todas as moedas se desvalorizaram em relação ao dólar, exceto a moeda japonesa, como disse) para o comportamento da inflação no Brasil? Quando o dólar se valoriza, o preço das commodities cai porque ele é mais ou menos constante em dólares. Não se sabe em que proporção, mas esse movimento vai reduzir os preços. Algumas pessoas chamam a atenção para o fato de que a desvalorização do real foi um pouquinho maior do que a do dólar australiano, mas isso se explica porque este tinha se valorizado menos do que o real, antes. Outros tentam convencer-nos de que a desvalorização vai produzir uma desgraça inflacionária, o fim das metas da inflação, mas a experiência que vivemos anteriormente mostrou efeito diametralmente contrário.

Se os preços caírem 5% e o dólar valorizar 10%, o efeito será de 5% sobre aquilo que vem do exterior, quer dizer, o resultado será de aumento no preço internamente, mas se diluindo ao longo de meses, de forma que a repercussão sobre a taxa de inflação e sobre as metas será realmente pequena. O que essa pregação meio terrorista esconde é que o Brasil enfrenta um desequilíbrio por causa da diferença entre as taxas de juro interna e externa, que não permite que o sistema de metas inflacionárias funcione mais adequadamente.

Texto de Delfim Netto

Fonte: Carta Capital

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

"CQC" eles não têm senso de humor!

O CQC é um programa invasivo, agressivo e intolerante. Seu humor explora o “politicamente incorreto”, criando cenas constrangedoras para todos os “entrevistados”.

Ele abusa dos preconceitos étnicos e de gênero. Ele também beira as idéias fascistas, fazendo a negação da ação política e ridicularizando as instituições democráticas da sociedade. Ele generaliza as críticas e destrói reputações. É adepto da “presunção de culpa”, tão em voga na mídia brasileira – num total desrespeito à Constituição.

Tremem diante das críticas
Mas os “homens-de-preto”, que adoram esculhambar os outros, não aguentam qualquer tipo de crítica. Na verdade, eles não têm senso de humor. São autoritários, arrogantes e presunçosos. Fazem tudo, custe o que custar, por audiência e grana, muita grana. Quando pressionados, eles revelam a sua mediocridade.

Que o diga Rafinha Bastos, que pediu demissão da Band após ser questionado por suas piadas de péssimo gosto – “Eu comeria ela e o bebê, não tô nem aí”, afirmou ao ser perguntando sobre a gravidez da cantora Wanessa Camargo; “mulheres feias deveriam agradecer caso fossem estupradas, afinal os estupradores estavam lhes fazendo um favor, uma caridade”, respondeu à revista Rolling Stone.

Agora, pressionado, ele revela seu verdadeiro caráter. A própria Folha, que também investe na negação e na escandalização da política, sentiu na carne a “humor” de Rafinha Bastos. Veja a nota publicada ontem na sua versão online:*****”Chupa o meu cacete”, diz Rafinha a repórter da Folha


Rafinha Bastos, do “CQC”, respondeu hoje com palavrões a repórter da equipe da coluna de Mônica Bergamo, da Folha, quando questionado sobre piadas que fez no domingo em um show em São Caetano do Sul.”Chupa o meu grosso e vascularizado cacete”, afirmou ele à coluna por e-mail.

Ontem, durante o stand-up que fez na cidade do ABC, Rafinha fez piadas com o ator Fábio Assunção e com a Nextel, que o contratou para anúncios publicitários.

Ao dizer que uma operadora de telefonia móvel teria um serviço usado apenas por “prostitutas e traficantes”, o apresentador, de acordo com relato publicado pelo site da revista “Veja”, disse: “É celular usado por traficante, e o pior é que eles sabem disso. Não é à toa que têm Fábio Assunção como garoto-propaganda.”


Assunção não quis se manifestar sobre os comentários de Rafinha.A Nextel disse: “Acreditamos em personalidades como Fábio, que superam limites e que constroem uma nova história de vida. E, principalmente, em todo ser humano que acredita na transformação e na evolução”.


Fonte: Por Altamiro Borges - correiobrasil

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Reação provinciana às condecorações de Lula


Confesso que o esforço de determinados políticos, observadores e acadêmicos para reclamar das condecorações internacionais recebidas por Luiz Inácio Lula da Silva já passou o limite da boa educação, do bom gosto e até do ridículo.

Lula recebeu sua mais nova condecoração há duas semanas em Paris. Até hoje a imprensa continua publicando textos que procuram convencer o leitor, basicamente, do seguinte: os pobres intelectuais do mundo desenvolvido são tão despreparados, tão ignorantes e tão incultos, que não sabem quem é Lula, nunca ouviram falar das mazelas de seu governo e só por isso insistem em lhe dar títulos honorários.

Num artigo publicado no Estadão, hoje, um professor do interior de Minas Gerais tenta convencer o público que os intelectuais europeus estão confundindo Lula com a reencarnação do “bom selvagem,” aquele mito da obra de Jean-Jaques Rousseau.

É até preconceituoso, quando se recorda que o “bom selvagem” não tinha um conteúdo de classe social, mas era uma referencia a civilizações consideradas primitivas pelo pensamento colonial europeu.

É preciso apostar alto na ignorancia do leitor para imaginar que ele vai acreditar que os intelectuais dos países desenvolvidos vivem na Idade da Pedra, sem internet e sem uma imprensa de qualidade, que nos últimos anos tem feito reportagens extensas e profundas sobre o Brasil.

Posturas deste tipo são apenas mesquinhas e provincianas.

Mesquinhas, porque envolvem interesses menores e inconfessáveis, frequentemente eleitorais, apenas disfarçados por um palavrório de tom indignado.

Provincianas, porque a condecoração de um presidente da Republica por instituições respeitadas, como a Ecole de Sciencies Politiques, de Paris, que, com afetada intimidade, alguns comentaristas chamam de Siencies Po, deveria ser motivo de orgulho para qualquer brasileiro.

Outro ponto é que o aplauso acadêmico internacional pelas realizações do governo Lula contém um ensinamento importante para um pais desigual e hierarquizado, onde a boa educação só é acessível a uma minoria.

Estou falando de um preconceito antigo e mal disfarçado contra brasileiros e brasileiras que não puderam frequentar a escola como se deve, na idade em que seria preciso, não tem o domínio perfeito da língua, não respeitam normas cultas, cometem erros de concordancia e exibem um vocabulário muitas vezes limitado.

Com frequencia, essas pessoas costumam ser tratados como cidadãos de segunda classe, pré-destinados a ocupações inferiores e que nada devem fazer além de ganhar a vida em atividades braçais.

Ao premiar um presidente que teve pouca educação formal, mas foi capaz de obter um reconhecimento popular como nenhum outro na história recente do país, as universidades estrangeiras informam que é recomendável enxergar além do estererótipo.

Talvez por isso as condecorações irritem tanto a tantos. O reconhecimento é uma advertencia contra aqueles que valorizam demais os diplomas que conseguiram pendurar na parede. Não faltam motivos concretos para se fazer uma crítica política a Lula e a seu governo. Todo cidadão bem informado tem sua lista de críticas e sua análise.

Mas o esforço para criticar as condecorações internacionais é esforço inglório.

Nem os brasileiros foram convencidos por estes argumentos, como se viu na campanha presidencial e também pelas pesquisas de opinião, que sugerem que Lula está próximo do nível da santificação junto ao eleitorado. Vencidos em casa, seus adversários querem ganhar a eleição no exterior. Além de feia, é uma batalha perdida.

Texto de Paulo Moreira Leite
Fonte:http://colunas.epoca.globo.com

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

“A nova classe média”: preferências econômicas e políticas

Em comparação com os últimos cinquenta anos, o Brasil convive atualmente com uma experiência inédita na transformação de sua estrutura social. As políticas de elevação real do salário mínimo, de expansão da oferta de crédito e de ampliação dos programas de transferência de renda estimularam o crescimento do PIB com base no avanço do mercado interno e originaram um tripé socioeconômico virtuoso caracterizado pelo aumento do mercado formal de trabalho, pela redução da pobreza e pela melhora na distribuição de renda.

Essa combinação de fatores tem como uma de suas principais consequências um fenômeno nem sempre analisado com o devido cuidado e rigor: o crescimento daquilo que se chama de modo inapropriado de “classe C” ou “nova classe média”.

Embora o adensamento das camadas intermediárias seja um fenômeno incontestável, a maior parte das pesquisas que captam essa mudança incorre em dois erros:

- Há uma associação superficial entre renda individual e classe social. O fato, por exemplo, de um trabalhador industrial qualificado e um professor universitário auferirem a mesma renda pode ser encarado como um indicador macroeconômico de redução da desigualdade. Mas, sociologicamente, diz muito pouco, ou quase nada, sobre seus estilos de vida distintos e seus hábitos de consumo diferentes. Tais ganhos, certamente, serão utilizados a partir de referências culturais e entre redes sociais que não garantem nenhum laço de pertencimento de classe, pelo contrário: o mais provável é que a realização do consumo revele status sociais ainda muito desiguais. Nesse sentido, há muitas diferenças entre o estilo de vida da classe média estabelecida e da chamada “nova classe média” que estão longe de ser transpostas.

- Há uma relação inadequada entre renda média e estrato médio. Na maior parte das vezes, os estudos que abordam o assunto referem-se à média em seu sentido algébrico, ou seja: média é a posição matemática daquilo que está igualmente distante dos pontos extremos. Como a distribuição de renda no país é historicamente severa, como há uma distância muito grande entre os muito ricos e os extremamente pobres, o agrupamento intermediário orbita numa vasta faixa de rendimentos que vai, aproximadamente, de R$ 1000 a R$ 5000. Essa zona de estratificação dilatada impede análises mais criteriosas. Sendo assim, as denominações “classe C” e “nova classe média” são infelizes, posto que transmitem a impressão de que o Brasil está se tornando aquilo que não é: um país em que os remediados são a maioria e no qual a pobreza vai tornando-se um problema residual.

Para compreender essas mudanças em sua inteireza é preciso empreender uma análise que incorpore outras variáveis como estrutura ocupacional, acesso a mercadorias privadas e a serviços públicos, padrões de consumo, entre outros.

Perfil e preferências econômicas:
Sob essa perspectiva o que se evidencia é que o mais adequado é denominar o estrato que ascendeu socialmente e economicamente nos últimos anos de nova classe trabalhadora urbana. Do ponto de vista ocupacional, trata-se de vendedores, balconistas, motoristas, motoboys, profissionais de telemarketing, os diversos tipos de auxiliares que atuam em empresas e comércios, recepcionistas, cabelereiros, garçons e uma heterogeneidade de trabalhadores qualificados.

Do ponto de vista da educação, seus integrantes na maioria são aqueles que utilizam as escolas públicas ou escolas particulares com mensalidades mais baixas; e do ponto de vista da saúde, são aqueles que necessitam dos hospitais públicos ou de planos de saúde mais baratos. Esse balanceio instável entre os serviços públicos e as possibilidades privadas mais “em conta” se reproduz em outras esferas: habitação, transporte, segurança, alimentação, cultura, lazer, entretenimento etc.

Por esses motivos, ao contrário da classe média estabelecida que se queixa dos impostos inadvertidamente, a nova classe trabalhadora percebe com contrariedade o aumento de impostos, taxas e tarifas pois sua elevação lhe afeta mais diretamente o poder de compra, mas ela também reconhece a importância e a necessidade dos serviços públicos pois depende deles mais frequentemente.

Essa nova classe trabalhadora, em grande medida, trabalha de 10 a 14 horas por dia, tem dois ou mais empregos, trabalha de dia enquanto estuda a noite, e nas grandes cidades enfrenta horas de transporte público enquanto se desloca entre a casa e o trabalho. Também por esses motivos, ao contrário da classe média tradicional que tudo atribui ao mérito individual, a nova classe trabalhadora percebe sua ascensão como fruto do esforço individual e de privações, mas sabe que precisa contar frequentemente com alguma rede de solidariedade e laços fraternos entre os amigos e os vizinhos.

Mais do que outros estratos, esse grupo se beneficia da expansão do crédito ao consumidor e está satisfeito com a possibilidade de adquirir novos bens considerados indispensáveis para o conforto doméstico e para a melhora na qualidade de vida na cidade, esse grupo está disposto a encontrar sua sociabilidade pelos caminhos do consumo.

Ideias e preferências políticas:
Esse conjunto de ambiguidades leva a crer que a nova classe trabalhadora não necessariamente tem uma consciência conservadora. Pelo contrário, esse setor está potencialmente disponível e aberto a visões mais progressistas, seus valores e seu voto podem ser conquistados pela esquerda.

Para compreender a relação entre as preferências econômicas e políticas dessa nova classe trabalhadora é fundamental considerar que o aumento do poder de compra possibilitou o acesso a novos canais de formação e informação, mais do que isso: tais canais têm sido ocupados, sobretudo, por um número significativo de jovens, é a partir desse grupo que se irradiam certas opiniões políticas e eleitorais.
A progressiva ampliação do acesso à educação e à internet tem promovido uma importante mudança em suas exigências e interesses políticos. No atual contexto, o eixo da formação de opinião se deslocou dos pais ou de velhas lideranças locais (representantes comunitários, padres e pastores) para os filhos.

A maior parte desses jovens tem níveis de escolaridade mais elevados do que os dos pais, estão conquistando uma melhor inserção profissional e seguem atentos para as mudanças tecnológicas, por isso eles são ouvidos com maior atenção dentro das suas famílias e comunidades, atuando como referências prioritárias para a formação de opinião, de forma mais incisiva do que as propagandas e a própria televisão.

Os pais dessa nova geração enxergavam o mundo pela ótica da carência que marca a periferia, observavam os políticos considerando aquilo que não havia sido feito e permaneciam mais suscetíveis à promessas de campanhas eleitorais. Já essa nova geração, ao circular por novos espaços como a universidade e as redes sociais, enxerga o mundo por uma ótica mais ampla, dispõem de um maior número de referências para operar comparações, avaliam os políticos e os partidos considerando aquilo que deveria ter sido feito e nutrem maior desconfiança com relação a promessas de campanhas eleitorais. Vale ainda notar que, se, por um lado, eles não desejam o estilo de vida da elite, por outro lado, eles desejam continuar ascendendo socialmente.

Essa disposição para a mudança, entretanto, passa por marcos ambivalentes: esses jovens acreditam na política, mas não crêem em partidos; reconhecem a importância da coletividade, mas almejam crescer individualmente; buscam transformações, mas são pouco afeitos a rupturas; anseiam por novas ideias, mas são também pragmáticos. Em suma, esse novo caldo cultural exigirá renovações tanto na forma como se realiza a política partidária quanto no conteúdo das políticas públicas que se implementam.

A mistura entre valores do liberalismo, do individualismo, da ascensão pelo trabalho e do sucesso pelo mérito, com valores mais solidários e coletivistas relacionadas à atuação do Estado, à universalização de direitos, à ampliação da inclusão social, permeiam a visão de mundo e o imaginário dessa nova classe trabalhadora.

Diante dessas ambiguidades, é fundamental que o PT formule um discurso e uma prática capazes de mobilizar esse setor da sociedade, sinalizando com mais clareza um programa que dialogue com os anseios dessa nova classe trabalhadora, a partir de novas linguagens e de novos métodos de organização e convencimento político.

A nova classe trabalhadora entendida como um novo sujeito político pode fazer toda a diferença nos embates sociais, políticos, ideológicos e eleitorais que serão travados de agora em diante.

Texto de *William Nozaki é Economista, professor da UFSCar, doutorando em desenvolvimento econômico (IE/Unicamp) e membro da equipe da Escola Nacional de Formação do PT; Patricia Rodrigues é Socióloga, assistente de pesquisa do Centro Sérgio Buarque de Holanda da Fundação Perseu Abramo, militante da Marcha Mundial de Mulheres e do Movimento de Moradia.

Fonte: agência Carta Maior e blog escrivinhador