quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Suicídio europeu

Está cada vez mais claro para os observadores mais lúcidos do atoleiro econômico europeu que a política de cortar gastos e fazer do combate à inflação revelou-se um fiasco.

Também parece evidente que dar continuidade a um fracasso tão evidente é uma forma de suicídio econômico planejado.

Há um ano, era a Grécia que se encontrava à beira do abismo. Vários pacotes depois, Portugal, Espanha, Irlanda e Italia já se colocaram na mesma posição. Quanto a Grécia, que deveria ter sido salva por uma política de ajustes nos gastos públicos, ficou um pouquinho mais próxima da derrocada.

A idéia de que os países europeus haviam se transformado num bando de gastadores irresponsáveis era absurda em vários casos importantes. A Espanha e a Irlanda, por exemplo, tem uma máquina pública ajustada e eficiente que funcionava no azul até o dia em que a alta dos juros do Banco Central Europeu modificou sua posição.

A Italia exibia uma contabilidade menos elogiável mas nada de muito grave, dizem os especialistas. Mas a situação tornou-se preocupante depois que, em nome do combate à inflação, os juros foram elevados para um limite próximo do insuportável. Nessa situação, não só os italianos já foram levados a aprovar dois pacotes de austeridade, de utilidade duvidosa. Mas até os franceses entraram na roda, exibindo uma fragilidade desnecessária.

Qual o problema da economia europeia?
Se o problema fosse ameaça de inflação, já estaria resolvido. Os preços pararam de subir por um problema de outro tipo: falta demanda. O continente avança para uma recessão tão grotesca que não há o risco dos preços crescerem. O risco é o Velho Mundo desabar por um longo período, arrastando uma parcela importante da economia mundial consigo.

A questão, aos poucos, tornou-se política. Os governantes europeus passaram os últimos meses com um discurso afinado contra a inflação. Convenceram seus eleitores de que não iriam aumentar suas próprias despesas nem auxiliar populações que, erradamente, eram apontadas como perdulárias e irresponsáveis — numa atitude pouco elegante, quando se recorda que foi a Europa desenvolvida quem financiou e recebeu belíssimos dividendos com a outra fatia do continente. Se é possível falar em irresponsabilidade, no caso, a culpa era das duas partes.

Agora, fica difícil mudar o discurso e alterar o rumo político sem correr o risco de quebrar a cara. O eleitorado pode sentir-se duas vezes enganado. Quando lhe disseram que a crise estaria limitada a um grupo de países pobres e economicamente irrelevantes. E quando lhe prometeram que seria possível sair dela sem uma partilha de sacrifícios e novos estimulos ao crescimento.

Sem isso, será uma marcha programada para o abismo. Em dúvida?

Texto de Paulo Moreira Leite

Fonte: http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite