sábado, 17 de setembro de 2011

Barulho demais contra o aumento IPI "dos carros importados"


Parece que a compra de carros importados tornou-se uma grave questão nacional, um assunto de vida ou morte capaz de mobilizar observadores e comentaristas para acusar o governo de protecionismo, nacionalismo e outros substantivos que o ideário moderno considera graves e anacrônicos.

Minha opinião é que este imposto veio tarde. O Brasil está perdendo empregos e é preciso defendê-los. A alta do IPI é uma medida nessa direção. Talvez não seja a melhor, não é simpática e certamente irá gerar reações azedas fora do país.

A verdade é que no mundo inteiro, a compra e venda de automóveis importados é controlada de acordo com os interesses de cada país, que podem mudar de um momento para outro.

Isso porque ela pode implicar na remessa de divisas e também estimular a desindustrialização. Até ontem, condenava-se o governo por prejudicar a industria. Hoje, depois que o governo decidiu tomar uma providência no sentido contrário, é condenado mais uma vez. Vamos combinar que assim é fácil.

Quem diz que o governo irá obrigatoriamente prejudicar o consumidor trabalha com o pressuposto de que a industria não só pode como deve repassar os aumentos de custos para os compradores de seus automóveis. Mais uma vez, raciocinam na era pré-Warren Buffett, aquele bilionário que lembrou ao mundo que os muito ricos também pode fazer um pouquinho de sacrifícios.

Pergunto: será que as empresas que importam carros para o Brasil não tem interesse em fazer um pouquinho de força para manter espaço — só até o fim de 2012, diz a regra — num dos mercados mais prósperos do mundo nos dias de hoje? Será que não consideram que vale a pena sacrificar um pouco só de seus lucros?

Se ainda assim essas empresas decidirem aumentar seus preços, vão perder mercado. Será uma grave ofensa ao futuro do país?

Grande vendedora de carros importados do mundo, a Coréia construiu uma industria com base num protecionismo de ferro — e nenhum coreano acha que isso ruim. Ali não havia nem montadora. Quem queria vender carro para o mercado coreano era obrigador a transferir tecnologia para empresas locais que, pouco a pouco, passaram a fabricar automóveis por sua conta. Foi assim que surgiu a Hyundai, objeto de desejo de tantos brasileiros, e outras marcas procuradas.
Esse modelo de produção nacional foi um dos responsáveis pela revolução na educação coreana. A economia precisava de braços e de cérebros e criou um sistema educacional para produzí-los.

A unanimidade dos estudiosos considera que o Brasil já perdeu o trem para essa etapa da história. Nem por isso é preciso abaixar os braços e não tomar nenhuma atitude para defender empregos e aperfeiçoar nossa tecnologia.

Pressionado pelos fanáticos do mercado de sua época, Juscelino Kubistcheck fez uma industria automobilística pioneira, mas alimentada por concessões demasiadas aos investidores externos. O saldo está aí.

Fonte:PAULO MOREIRA LEITE http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/