sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Mortes em massa e desastre humanitário no cerco da OTAN a Sirte na Líbia


Refugiados da cidade costeira líbia de Sirte relatam que milhares morreram como resultado do bombardeio incessante da OTAN e dos ataques dos "rebeldes" apoiados pelo Ocidente.

O cerco de Sirte, que já dura duas semanas, deixou a cidade sem alimentos suficientes, água potável, remédios e outras necessidades básicas, criando condições infernais para sua população de 100.000 habitantes.



Embora o Conselho Nacional de Transição (CNT), baseado em Benghazi, tenha repetidamente, dado declarações de que os assim chamados rebeldes avançaram em direção ao centro da cidade sob cobertura aérea da OTAN, eles foram, repetidamente, forçados a recuar sob fogo pesado das forças leais ao Coronel Muammar Gaddafi, bem como o que tem sido descrito como voluntários civis.

Frustradas, as milícias anti-Gaddafi bombardearam a cidade costeira com rodadas de artilharia, tiros de tanques e foguetes Grad, provocando terrível destruição.

Milhares de refugiados que têm tentado escapar da cidade, são forçados a passar por barreiras impostas pelas forças apoiadas pela OTAN, onde muitos são tomados como prisioneiros, acusados de serem apoiadores de Gaddafi.

O Wall Street Journal fez uma reportagem sobre um dessas barreiras, descrevendo filas de carros e caminhões, cheios de civis e carregados de colchões e outros pertences:

"À medida que os refugiados chegavam, os combatentes de Misrata verificavam os seus nomes em listas de suspeitos de apoio a Gaddafi. Alguns homens eram presos, enquanto que diziam a outros que esperassem no lado da estrada com suas famílias.

"'Vamos punir até mesmo aqueles que apoiaram Muammar somente com palavras,' disse um combatente barbudo a um homem que protestava por ter sido detido. 'Somos os cavaleiros que libertaram a Líbia.'"

Relatos de dentro da cidade indicam uma catástrofe humanitária que se aprofunda. O grupo de socorro Médécins sans frontières (MSF - Médicos sem Fronteiras) relataram, quarta-feira, que estavam em contato com médicos do principal hospital de Sirte, e que eles enfrentavam uma situação cada vez mais impossível.

"Se a situação continuar por mais alguns dias ou semanas, será catastrófico. Já agora, os médicos do hospital não conseguem fazer seu trabalho de maneira adequada, e se persistir assim, a situação ficará dramática," disse o Dr. Mego Terzian, chefe dos programas de emergência do MSF-França à agência de notícias Reuters.

"Eles relataram que o hospital está lotado de feridos," disse Terzian. "Há outros tipos de emergências - pediátricas, ginecológicas e pacientes com doenças crônicas que não estão recebendo tratamento.

"Foram-nos relatadas grandes dificuldades, falta de eletricidade, água e medicamentos básicos para manter a sala de emergências em funcionamento, incluindo anestesia, antibióticos, analgésicos e bolsas de sangue," disse à Reuters.

O representante dos MSF disse que os médicos de Sirte contactaram o grupo para pedir suprimentos médicos de emergência, mas o Conselho Nacional de Transição "proibiu" voluntários dos MSF de cruzarem as linhas de cerco para auxiliarem a população.

Terzian disse que o grupo estava verificando se poderia levar sumprimentos por via marítima, mas não estava otimista. Os navios de guerra da OTAN estavam mantendo um bloqueio da costa mediterrânea da Líbia, parte integral do bárbaro cerco a Sirte.

Um outro médico, entrevistado pela Associated Press, disse que muitos dos feridos estavam sendo levados para o hospital Ibn Sina, no centro da cidade, eram civis que, aparentemente, tinham sido atingidos pela artilharia rebelde. O médico, Eman Mohammed, relatou que o hospital não tinha oxigênio nas salas de operação e pouco pessoal para tratar os pacientes.

A falta de alimentos, água, eletricidade e outras necessidades básicas também está custando caro à população em geral, particularmente, às crianças da cidade. Relatando de uma clínica na cidade de Harawa, há apenas algumas milhas de Sirte, a AFP disse que um grande número de famílias estava levando crianças pequenas com diarreia severa e vômitos.

"A maioria dos pacientes que chegam são crianças," Valentina Rybakova, uma médica ucraniana que trabalha na Líbia há oito anos, disse à AFP. "Assisti 120 pacientes desde a manhã e 70 por cento delas eram crianças. Esta é uma grande crise humanitária. Estamos tentando obter ajuda de todos, mas o maior problema é que essas pessoas não têm acesso a água limpa para beber." Ela disse que sua clínica, também, estava sofrendo de falta de medicamentos, bem como uma crítica insuficiência de enfermeiras.

"A situação, na cidade, é muito problemática," Muftah Mohammed, um vendedor de peixes que estava deixando Sirte, contou à AFP. "As crianças estão ,particularmente, em má condição. Não há leite para elas. Temos sobrevivido somente com macarrão há vários dias."

"Não há comida, não há remédios, e, todas as noites, por cinco ou seis horas, a OTAN bombardeia todo tipo de construções," Sami Abderraman, 64, disse ao jornal espanhol El País, quando tentava deixar Sirte. "Centenas de mulheres e crianças morreram como animais." Abderraman estimou que cerca de 3.000 pessoas tenham sido mortas no cerco.

Outro refugiado, que pediu para que seu nome não fosse mencionado, disse ao El País que "As pessoas que ficaram vão lutar até a morte."

Riab Safran, 28, falou ao Times de Londres enquanto seu carro era revistado em uma barreira rebelde à saída de Sirte. "Foi pior do que terrível," ele disse. "Eles atacaram todo tipo de construção, escolas, hospitais." Disse que sua família dormiu na praia para evitar as bombas da OTAN e a artilharia rebelde, que destruiu sua própria casa no sábado.

Ali Omar, que fugiu da cidade com 27 membros da sua família, relatou a carnificina levada a cabo pelos rebeldes apoiados pela OTAN em seu avanço a Sirte desde Benghazi no leste.

"Os do leste estão exterminando tudo à sua frente," disse Omar, que tem 42 anos. Ele e sua família, contou, foram retidos dentro de sua casa por artilharia pesada durante sete horas no domingo.

Vários refugiados relataram aos repórteres que os que permanecem na cidade temem a violência nas mãos dos "rebeldes" pelos relatos de que muitos do que fogem estão sendo detidos e as mulheres, retiradas dos carros que deixam a cidade.

Entre os mais temerosos estão os refugiados que fugiram de Tawergha, uma cidade acerca de 25 milhas ao sul de Misrata cuja população é composta, predominantemente, de líbios negros. As milícias anti-Gaddafi acusaram os residentes de Tawergha de terem participado do cerco de Misrata pelas tropas do governo e retaliaram com uma limpeza étnica completa. Casas e lojas, na cidade, foram queimadas e cobertas com pichações racistas. As novas autoridades de Misrata anunciaram planos para demolir a cidade inteira para que nenhum dos residentes de Tawergha possa, jamais, retornar.

Estima-se que cerca de 5.000 refugiados de Tawergha tenham buscado refúgio em Sirte e, agora, temem que sejam massacrados pelas milícias que atacam de Misrata pelo oeste. Os refugiados de Tawergha que conseguiram escapar de Trípoli também não encontraram refúgio lá. As milícias de Misrata que controlam barreiras na capital os detiveram e os prenderam em campos de prisioneiros, acusando-os de "mercenários."

A incapacidade dos "rebeldes" apoiados pelo Ocidente de sobrepujar Sirte e Bani Walid, outra cidade em poder das forças de Gaddafi, à oeste, aprofundou a crise no CNT, que tem, repetidamente, falhado em levar a cabo os anunciados planos para formar um governo provisório e tem visto sua autoridade ser alvo de críticas de milicianos fundamentalistas.

Esta crise motivou apelos do CNT para que a OTAN intensifique seus bombardeios de Sirte e Bani Walid.

As exigências levaram a uma enfática negativa da OTAN de que não estivesse fazendo o suficiente para apoiar os cercos das duas cidades. "OTAN não reduziu sua atividade na Líbia," disse o portavoz da aliança, Coronel Roland Lavoie, que ressaltou que as aeronaves da OTAN conduziram 100 missões, na terça, incluindo 35 "ataques a alvos."

Desde o início da guerra contra a Líbia, no passado março, a OTAN conduziu 24.140 missões, incluindo 9.010 ataques a alvos, deixando boa parte do país em ruínas e matando e ferindo milhares.

O Coronel Lavoie acrescentou: "O número de ataques depende do perigo contra a população civil em conformidade com nosso mandato. Nosso objetivo não é apoiar as forças de solo do CNT, é por isso que não há coordenação operacional com as tropas do CNT."

Esta afirmação é, claro, pura propaganda que nem dissimula o fato de forças especiais, agentes de inteligência e contratados de empresas de mercenários britânicas, francesas, estadunidenses e catarianas terem organizado, treinado e armado os exércitos "rebeldes", cujos avanços só foram possíveis devido aos bombardeios da OTAN.

O assim chamado mandato alegado pela OTAN é a resolução aprovada no Conselho de Segurança das Nações Unidas, no passado março, autorizando uma zona de exclusão aérea e "todas as medidas necessárias para a proteção de civis sob ameaça de ataque."

Na ocasião, os EUA e seus aliados da OTAN alegaram que a intervenção era necessária para deter um suposto massacre iminente de civis, na cidade oriental de Benghazi. Desde então, os bombardeios da OTAN e a guerra civil fomentada pelas potências ocidentais gerou mais perda de vidas do que, jamais, foram ameaçadas pelo regime de Gaddafi.

Agora, a resolução está sendo invocada para justificar que a OTAN e as milícias por ela apoiadas levem a cabo, em Sirte, precisamente o tipo de cerco assassino contra a população civil que as potências imperialistas estadunidense e europeias fingiram prevenir.

A morte e destruição que continua por mais de seis meses desde que a OTAN iniciou seus bombardeios e mais de um mês após ter proclamado a queda do regime de Gaddafi serve para sublinhar o caráter predatório desta guerra, que foi envidada não com base em preocupações "humanitárias", mas em interesses imperialistas.

Texto de Bill Van Auken (Tradução de Sérgio Cardoso Morales)

Fonte: blog do nassif

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A CBN e o coronelismo eletrônico


Não se discute o alto nível do radio-jornalismo da CBN. Critica-se sua parcialidade. Mais que isso, os paradoxos entre seu discurso político e sua prática de alianças.

No discurso, seus analistas ignoram completamente as limitações do federalismo brasileiro, a política de alianças – que garante a governabilidade -, a necessidade de pragmatismo político. Dividem o Brasil entre o supostamente país moderno (dos quais ELES são porta-vozes) e o Brasil anacrônico, dos Sarneys e companhia. Aliás, é um contraponto salutar, para reduzir o poder de influência dos coronéis.

Fonte:http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif

Mas hoje em dia a principal fonte de poder dos coronéis regionais é a rede Globo e a rede CBN de rádio.

De onde emana o poder político dos coronéis regionais? Em grande parte, do controle da mídia local. E esse poder deriva fundamentalmente da política de alianças com as redes nacionais de rádio e TV. Especialmente das Organizações Globo e da rede CBN.

No âmbito político, o chamado presidencialismo de coalizão é uma amarra fantástica: sem maioria, governos não governam. No caso das redes nacionais de comunicação, a definição dos sócios regionais é uma questão meramente econômica: seleciona-se o parceiro que dê melhor retorno econômico. Como a imprensa regional depende bastante das forças políticas locais, aceita-se o que tem de mais retrógrado por motivação financeira – não por governabilidade.

Ou seja, a Globo e seu braço CBN são polos centrais da força política de coronéis regionais. E, no âmbito nacional, praticam a crítica contra a força... dos coronéis regionais dos quais são associados.

É o que explica a Rede Globo ter como afiliados ACM, na Bahia, Sarney, no Maranhão, os Collor, em Alagoas – entre outros.

Volte-se, agora, ao caso CBN, especificamente a Manaus.

No momento, a CBN Manaus empreende uma campanha terrível contra uma cidadã, uma médica sem vinculações políticas – simpatizante de José Serra nas últimas eleições – que, nos confins do país, tenta exercer uma função cidadã denunciando os esbirros dos coronéis políticos locais.

Ela denunciou ações do prefeito de Manaus e passou a sofrer represálias terríveis, uma perseguição pessoal que afeta sua vida profissional e familiar – é mãe de uma recém-nascida. Indagada sobre a perseguição, a direção nacional da CBN respondeu que ela que se defendesse na Justiça. Mariza Tavares, bela jornalista, endossou a atuação de Ronaldo Tirandentes, representante do coronelismo eletrônico mais truculento e anacrônico.

A partir das pesquisas do nosso Stanley Burburinho, algumas informações sobre o braço da CBN Manaus, o empresário Ronaldo Tiradentes, com fortes ligações com o coronel local Amazonino Mendes.

Tiradentes já foi denunciado por compra do diploma de jornalista. O autor da denúncia é o jornalista Marcos Losekann no livro "O ronco da pororoca: histórias de um repórter na Amazônia". Detalhe: Losekann é correspondente da própria Globo em Londres (clique aqui). Tiradentes já admitiu publicamente a compra do diploma de segunda grau.

Mais: Tiradentes incumbiu a repórter Andréa Vieira da perseguição à médica Bianca Abidaner. A repórter foi nomeada Assessora Técnica da Prefeitura de Manaus pelo próprio Amazonino Mendes. No mesmo dia, Marcos Paz Tiradentes, irmão de Ronaldo, foi nomeado DAS-1 da Secretaria Municipal de LImpeza Pública, pelo mesmo Amazonino.

Aqui os dados sobre a assessora. Aqui o documento de sua nomeação para a assessoria da prefeitura. Aqui, a nomeação de Marcos Paz.

De que lado, afinal, está a CBN? Do suposto país moderno ou do que mais atrasado existe na política nacional?

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Lula em Paris: imprensa sabuja dá vexame


Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?

Começa assim, acreditem, com esta pergunta indecorosa, a entrevista de Deborah Berlinck, correspondente de "O Globo" em Paris, com Richard Descoings, diretor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences- Po, que entregou o título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente Lula, na tarde desta terça-feira.

Resposta de Descoings:

"O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico (...) O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences- Po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente do diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade".

A entrevista completa de Berlinck com Descoings foi publicada no portal de "O Globo" às 22h56 do dia 22/9. Mas a história completa do vexame que a imprensa nativa sabuja deu estes dias, inconformada por Lula ter sido o primeiro latino-americano a receber este título, que só foi outorgado a 16 personalidades mundiais em 140 anos de história da instituição, foi contada por um jornalista argentino, Martin Granovsky, no jornal Página 12.

Tomei emprestada de Mino Carta a expressão imprensa sabuja porque é a que melhor qualifica o que aconteceu na cobertura do sétimo e mais importante título de Doutor Honoris Causa que Lula recebeu este ano. Sabujo, segundo as definições encontradas no Dicionário Informal, significa servil, bajulador, adulador, baba-ovo, lambe-cu, lambe-botas, capacho.

Sob o título "Escravocratas contra Lula", Granovsky relata o que aconteceu durante uma exposição feita na véspera pelo diretor Richard Descoings para explicar as razões da iniciativa do Science- Po de entregar o título ao ex-presidente brasileiro.

"Naturalmente, para escutar Descoings, foram chamados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático (...). Um dos colegas perguntou se era o caso de se premiar a quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado(...).

"Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção", foi a pergunta seguinte. O professor sorriu e disse: "Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o julgamento da História este assunto e outros muito importantes, como a eletrificação das favelas em todo o Brasil e as políticas sociais" (...). Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente, não damos lições de moral a outros países.

"Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa de Lula era parte da ação afirmativa do Sciences Po. Descoings o observou com atenção, antes de responder. "As elites não são apenas escolares ou sociais, disse. "Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro-mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas".

No final do artigo, o jornalista argentino Martin Granovsky escreve para vergonha dos jornalistas brasileiros:

"Em meio a esta discussão, Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e escravos. Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão irritados".

Desde que Lula passou o cargo de presidente da República para Dilma Rousseff há nove meses, a nossa grande imprensa tenta jogar um contra o outro e procura detonar a imagem do seu governo, que chegou ao final dos oito anos com índices de aprovação acima de 80%.

Como até agora não conseguiram uma coisa nem outra, tentam apagar Lula do mapa. O melhor exemplo foi dado hoje pelo maior jornal do país, a "Folha de S. Paulo", que não encontrou espaço na sua edição de 74 páginas para publicar uma mísera linha sobre o importante título outorgado a Lula pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris.

Em compensação, encontrou espaço para publicar uma simpática foto de Marina Silva ao lado de Fernando Henrique Cardoso, em importante evento do instituto do mesmo nome, com este texto-legenda:

"AFAGOS - FHC e Marina em debate sobre Código Florestal no instituto do ex-presidente; o tucano creditou ao fascínio que Marina gera o fato de o auditório estar lotado".

Assim como decisões da Justiça, criterios editoriais não se discute, claro.

Enquanto isso, em Paris, segundo relato publicado no portal de "O Globo" pela correspondente Deborah Berlinck, às 16h37, ficamos sabendo que:

"O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido com festa no Instituto de Estudos Políticos de Paris - o Sciences- Po _, na França, para receber mais um título de doutor honoris causa, nesta terça-feira. Tratado como uma estrela desde sua entrada na instituição, ele foi cercado por estudantes e, aos gritos, foi saudado. Antes de chegar à sala de homenagem, em um corredor, Lula ouviu, dos franceses, a música de Geraldo Vandré, "para não dizer que eu não falei das flores.

"A sala do instituto onde ocorreu a cerimônia tinha capacidade para 500 pessoas, mas muitos estudantes ficaram do lado de fora. O diretor da universidade, Richard Descoings, abriu a cerimônia explicando que a escolha do ex-presidente tinha sido feita por unanimidade".

Em seu discurso de agradecimento, Lula disse:

"Embora eu tenha sido o único governante do Brasil que não tinha diploma universitário, já sou o presidente que mais fez universidades na história do Brasil, e isso possivelmente porque eu quisesse que parte dos filhos dos brasileiros tivesse a oportunidade que eu não tive".

Para certos brasileiros, certamente deve ser duro ouvir estas coisas. É melhor nem ficar sabendo.

Fonte:http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Imprensa brasileira foi à França reclamar de premiação a Lula


Não pode passar batido um dos momentos mais patéticos do jornalismo brasileiro. Acredite quem quiser, mas órgãos de imprensa brasileiros como o jornal O Globo mandaram repórteres à França para reclamar com Richard Descoings, diretor do instituto francês Sciences Po, por escolher o ex-presidente Lula para receber o primeiro título Honoris Causa que a instituição concedeu a um latino-americano.

A informação é do jornal argentino Pagina/12 e do próprio Globo, que, através da repórter Deborah Berlinck, chegou a fazer a Descoings a seguinte pergunta: “Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?”.

No relato da própria repórter de O Globo que fez essa pergunta constrangedora havia a insinuação de que o prêmio estaria sendo concedido a Lula porque o grupo de países chamados Bric’s (Brasil, Rússia, Índia e China) estuda ajudar a Europa financeiramente, no âmbito da crise econômica em que está mergulhada a região.

A jornalista de O Globo não informa de onde tirou a informação. Apenas a colocou no texto. Não informou se “agrados” parecidos estariam sendo feitos aos outros Bric’s. Apenas achou e colocou na matéria que se pretende reportagem e não um texto opinativo. Só esqueceu que o Brasil estar em condição de ajudar a Europa exemplifica perfeitamente a obra de Lula.

Segundo o relato do jornalista argentino do Pagina/12, Martín Granovsky, não ficou por aí. Perguntas ainda piores seriam feitas.

Os jornalistas brasileiros perguntaram como o eminente Sciences Po, “por onde passou a nata da elite francesa, como os ex-presidentes Jacques Chirac e François Mitterrand”, pôde oferecer tal honraria a um político que “tolerou a corrupção” e que chamou Muamar Khadafi de “irmão”, e quiseram saber se a concessão do prêmio se inseria na política da instituição francesa de conceder oportunidades a pessoas carentes.

Descoings se limitou a dizer que o presidente Lula mudou seu país e sua imagem no mundo. Que o Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula. E que por ele não ter estudo superior sua trajetória pareceu totalmente “em linha” com a visão do Sciences Po de que o mérito pessoal não deve vir de um diploma universitário.

O diretor do Science Po ainda disse que a tal “tolerância com corrupção” é opinião, que o julgamento de Lula terá que ser feito pela história levando em conta a dimensão de sua obra (eletrificação de favelas e demais políticas sociais). Já o jornalista argentino perguntou se foi Lula quem armou Khadafi e concluiu para a missão difamadora da “imprensa” tupiniquim: “A elite brasileira está furiosa”.

Texto de Eduardo Guimarães
Fonte: http://www.blogcidadania.com.br

domingo, 25 de setembro de 2011

Indústria e governo negociam redução de Imposto de Importação

Depois de elevar o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos carros importados em 30 pontos percentuais, até dezembro de 2012, o governo federal reduziu para 2% o Imposto de Importação para bens de capital e de informática e telecomunicações pelo mesmo prazo. Os percentuais originais variam de 14% a 16%. A lista dos itens foi duplicada no Diário Oficial da União na quarta-feira.

A medida foi tomada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério da Indústria e do Comércio, pelo regime de Ex-tarifário. Este é um mecanismo rotineiramente adotado pelo governo em atendimento a reivindicações empresariais para baratear a entrada de componentes, peças e outros itens por ela especificados, não produzidos no país.

O incentivo fiscal, previsto nas resoluções 68 e 70 da Camex, abrange uma lista de mais de 200 itens, entre eles estão máquinas como “prensas-tesouras hidráulicas” e “equipamentos automáticos de medição tridimensional de carrocerias e subconjuntos de veículos automotores”.

Um artigo da resolução trata especificamente de sistemas integrados, aos quais a alteração tributária “somente se aplica quando se tratar da importação da totalidade dos componentes especificados em cada sistema, a serem utilizados em conjunto na atividade produtiva do importador”.

De acordo com o ministério, é importante ressaltar que as concessões em questão referem-se apenas a equipamentos com especificações restritas, não contemplando todo o universo de produtos abrangidos pelos respectivos códigos da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM).

Os investimentos globais previstos nos projetos que serão beneficiados pela redução das alíquotas são de US$ 1,5 bilhão e os investimentos em importações serão superiores a US$ 460 milhões, segundo informações do ministério. Os setores com maiores participações nesses investimentos são os de telecomunicações, siderúrgico, químico, de autopeças, de mineração e de geração de energia.

Em nota, o ministério explica: “O regime de Ex-tarifário possibilita, entre outros avanços, o aumento da inovação tecnológica por parte de empresas de diferentes segmentos da economia e a preservação do nível de proteção à indústria nacional de bens de capital, uma vez que a redução tarifária só é concedida para bens que não possuem produção no país, além de contribuir para o aumento da competitividade de bens destinados ao mercado externo.

O coordenador da subseção do Dieese no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Fausto Augusto Junior, questiona, porém, se com o forte incentivo para a importação de algumas peças, em algum momento haverá disposição de investimento para a produção das mesmas no Brasil. Segundo ele, o acordo que levou à redução do imposto foi costurado no final de 2010.

Fonte:correiodobrasil

Comissão Europeia pressionou Grécia a subir déficit


Um novo escândalo de maquiagem das contas públicas volta a abalar a Grécia. A denúncia de um membro do instituto de estatísticas grego diz que o Eurostat os pressionou a aumentar artificialmente o déficit de 2009 de 12% para 15,4% e assim poder justificar as brutais medidas de austeridade atualmente em vigor.

Zoe Georganda, professora de econometria e membro do Conselho do ELSTAT, o instituto de estatística que publica os dados das contas públicas, disse à imprensa grega que “o déficit de 2009 foi artificialmente inflacionado para parecer que o país sofria o maior déficit da Europa, acima até dos 14% da Irlanda”.

“Isto permitiu justificar as medidas duras contra a Grécia. O défice grego foi finalmente calculado em 15,4%, quando na realidade rondava os 12% do PIB”, revelou Georganda. Ela lembrou também que o presidente do ELSTAT rejeitou todas as opiniões contrárias que se exprimiram na reunião do Conselho. Segundo a economista, os responsáveis do Eurostat, que depende da Comissão Europeia presidida por Durão Barroso, obrigaram a Grécia a integrar nas suas contas os gastos das empresas públicas, mas não as suas receitas.

Na sequência do escândalo, o ministro das finanças grego decidiu exonerar todo o Conselho do ELSTAT, à exceção do seu presidente, Andreas Georgiu, que tomou posse do cargo em Agosto de 2010, vindo diretamente do Departamento de Estatísticas do FMI. Georgiu era funcionário do FMI desde 1989 e foi chamado esta semana ao parlamento grego para dar explicações, a pedido dos conservadores da Nova Democracia e da coligação de esquerda Syriza, que agora também quer ver os membros demitidos do Conselho do ESTAT e o então ministro das finanças e atual ministro do ambiente, Yiorgos Papakonstantinou, a darem mais explicações aos deputados.

Andreas Georgiu disse ao parlamento que “essas alegações não têm base nenhuma” e que não foi o Eurostat que obrigou às sucessivas revisões em alta do déficit nos últimos dois anos, que provocaram a desconfiança em relação ao financiamento à Grécia e consequente subida dramática dos juros exigidos, o que forçou o país a fechar o acordo com o FMI.

Apesar dos desmentidos do responsável pelas estatísticas, os gregos ainda têm presente na memória o escândalo da ocultação da dívida grega em 2001, com a cumplicidade da Goldman Sachs, que usou produtos derivativos para maquiar as contas. O então diretor da Goldman Sachs para a Europa era Mario Draghi, foi agora nomeado pelos países da zona euro para substituir Jean-Claude Trichet no cargo de governador do Banco Central Europeu.

O grupo denominado Iniciativa pela Criação duma Comissão de Auditoria da Dívida Pública Grega acusa o governo de Papandreu de ter querido “apresentar a política dos memorandos como necessária e obrigatória e é por isso que recorreu a estes métodos inaceitáveis que tinham como objectivo enganar o povo”. Sobre o Eurostat, a Iniciativa diz que a sua participação nesta montagem “mostra que a sua pretensa independência é uma fraude”.

Em comunicado, a Iniciativa voltou a exigir a abertura dos livros da dívida “num momento em que descobrimos que o Governo, o FMI e a UE são perigosos e estão desprovidos de qualquer credibilidade”.

Fonte: Correiodobrasil

sábado, 24 de setembro de 2011

O Tea Party original e o nosso


Mede-se o grau de desenvolvimento político de um país pela transparencia
de suas disputas cotidianas. Neste sentido o universo político americano é mais avançado do que o brasileiro.

Um bom exemplo é o Tea Party. Trata-se de um grupo de extrema direita fanatizado, que tem um respeito absoluto e reverente pelo mercado.

Diz acreditar que o indivíduo é a principal alavanca do progresso humano. Condena o Estado acima de quase todas as coisas — menos para realizar guerras de conquista. Afirma, querendo ser levado a serio, que toda medida destinada a criar um regime de bem-estar social não passa de um esforço na direção de uma ditadura comunista.

É ridículo, como cultura política, e regressivo, como fenômeno histórico. A crise economica dos EUA, grande parte provocada por essas idéias, é uma demonstração do caráter nocivo deste condomínio conservador. Mas é mais honesto do que ocorre no Brasil.

Nosso Tea Party é difuso, anti-social e não se apresenta como tal. Esconde sua visão de mundo atrás da bandeiras extremistas, que fingem não ser de direita nem esquerda.

Está presente nos partidos políticos, mas também em artigos da mídia e em gabinetes de alto poder econômico e decisiva influencia política.

Seu discurso considera o Estado é uma entidade mal-assombrada que só deveria existir para perseguir os desajustados e os inconformados. Combate toda idéia que poderia levar a uma melhoria na proteção social e denuncia qualquer esforço para diminuir a concentração de renda.

Agindo num país muito mais pobre e desigual do que o original americano, nosso Tea Party faz uma tradução adaptada e empobrecida da mesma retórica. Procura se esconder atrás de causas universais para esconder que se move em nome de interesses bem particulares.

Nessa versão tropicalizada, alega que tudo o que sobrevive às voltas do Estado não é embrião de comunisno mas fruto de um roubo. Como os originais americanos, nosso Tea Party adora o setor financeiro. Seus integrantes falam como se fossem anarquistas de direita mas, num tributo (sem ofensa) às mazelas nacionais, seus verdadeiros líderes e inspiradores tiveram vários flertes e até muito mais do que isso nos tempos da ditadura militar.

Em matéria de liberdades públicas, nosso Tea Party confunde liberdade de expressão com direito de venda. É contra todo e qualquer protecionismo, a menos que se destine a proteger seu mercado.

Mas alimenta uma doutrina contra uma intervenção dos poderes públicos, mesmo que patrocinada por autoridades escolhidas pelo voto popular, para modificar a distribuição de renda e assegurar benefícios aos brasileiros que não tem renda para adquiri-los. Acham que combater a desigualdade social é ir contra a natureza humana.

Por coerencia, nosso Tea Party é contra um regime de saúde pública, que considera errado num país grande e baixa renda per capta como o nosso. Os sistemas públicos tendem a nivelar as pessoas e, de seu ponto de vista, isso é ruim.

Os mais atirados dizem que o SUS é uma utopia socialista, inviável em função de nossa renda per capta — seguindo um raciocínio que leva a crença de que o salve-se quem puder deveria virar artigo da próxima Constituição.

Os mais preparados preferem a linha policial. Alegam que todo aumento de gasto nessa área será desviado e roubado. É irracional e irreal mas funciona. Um número impressionante de brasileiros acredita nisso sem fazer contas simples.

É difícil saber quem rouba de quem quando se constata que nossa saúde privada consome 55% de todos os gastos com saúde do país mas só atende 25% da população. É um imenso e escandaloso programa de transferencia de renda ao contrário. Todo dinheiro gasto com saúde pelo cidadão comum pode ser descontado do imposto de renda, privando o Estado de recursos que seriam úteis para a educação, para as obras públicas e até para a saúde. Mas estamos falando de ideologias, não de realidades.

Uma pessoa que tem um plano de saúde privado razoável irá gastar em torno de R$ 400 por mes ou mais. São R$ 4800 por ano. Nem em dez anos deixaria uma quantia equivalente se tivesse de pagar uma contribuição de 0,1% em sua movimentação financeira como contribuição a saúde.

Continuaria tendo direito a assistencia médica mesmo que perdesse o emprego e não tivesse um centavo no banco. E faria parte de um sistema onde aqueles que tem mais pagam mais. Pode não ser correto do ponto de vista da igualdade alimentado pelo Tea Party. Mas é o justo conforme o padrão ético de muitas pessoas e toda escola progressista de diminuição da desigualdade.

Com frequencia, sempre que tem de enfrentar uma cirurgia delicada o cliente de um plano privado tem de travar uma longa batalha para valer seus direitos, que nem sempre serão respeitados. Nem todos os remédios nem tratamentos que sua doença exige serão oferecidos de forma gratuita. Como acontece também no SUS, poderá ser forçada a lutar por eles na Justiça. Mas o cidadão do plano privado não acha que está sendo roubado quando paga sua mensalidade.

Tampouco fica inquieto quando seus médicos fazem greve para denunciar ganancia patronal. No fundo, recusa-se a acreditar numa realidade matemática: os planos de saúde só podem ficar de pé enquanto não precisam entregar os serviços que cobram. No dia em que você precisa mesmo desses serviços, é expelido dos planos, ou forçado a pagar mensalidades inviáveis para a maioria das pessoas da mesma faixa de risco. Não é maldade. É plano de negócios.

Um raciocínio parecido aplica-se a Previdencia Social, cuja falencia é anunciada periodicamente como uma fatalidade técnica — mas que tem apresentado uma contabilidade menos complicada ano a pós ano, graças a uma política oficial que faz o óbvio e apenas ele: defende os empregos formais, facilita o registro em carteira e multa a empresa que não cumpre suas obrigações.

Nesse terreno dificil, o Tea Party deixa no ar a sugestão de que a aposentadoria privada é uma alternativa séria e que a Previdencia, quanto menos dinheiro tiver, menos roubará. O problema é que as previdencias privadas até podem ser úteis para quem pode pagar por elas, mas todo analista sério sabe que nenhuma oferece os mesmos benefícios, pelo mesmo preço, como o INSS.

Há uma boa razão para nosso Tea Party assumir uma identidade esquiva e fugidia. Seu discurso pode até existir nos Estados Unidos, país com uma história muito diferente da nossa, onde a economia privada atingiu uma força sem paralelo na América ou no Velho Mundo. No Brasil, com uma condição histórica muito diferente, um grau de desigualdade maior e carencias também maiores, o Estado oferece um padrão mínimo de assistencia que não é desprezível, embora seja totalmente insuficiente. Nesse geografia, o Tea Party só pode atuar na sombra, procurando causas universais para interesses bastante privados.

Texto de Paulo Moreira Leite
Fonte:http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

SUS exige verba mas mídia vende tributação insuportável, diz Jatene


O diretor geral do Instituto do Coração (Incor) e ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, lançou nos últimos dias, em dobradinha com o atual ministro, Alexandre Padilha, o livro “40 anos de medicina. O que mudou”. São 200 páginas abrangendo a experiência de metade de uma vida que Jatene, aos 82 anos, sintetiza apontando a tecnologia como principal elemento transformador.

O avanço tecnológico levou à descoberta de novos tratamentos, permitiu diagnósticos melhores, praticamente erradicou doenças. Mas também afetou a relação entre paciente e médico, que se tornou mais impessoal. E encareceu custos na medicina, exigindo cada vez mais investimentos de um Estado que assumiu o compromisso constitucional de dar saúde gratuita para toda a população.

O problema dos custos é de difícil solução, na opinião de Jatene, porque o debate sobre o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS) tornou-se um tabu duro de quebrar.

"Quem controla a mídia faz a população acreditar que a carga tributária é insuportável", disse o médico à Carta Maior. "Mas, se você tirar a Previdência Social do orçamento, e a Previdência é um dinheiro dos aposentados que o governo apenas administra, vai ver que a nossa carga tributária está abaixo de 30%. É pouco para um país como o Brasil."

O leitor confere a seguir os principais trechos da breve entrevista exclusiva, concedida por telefone na última segunda-feira (19), antes de os deputados derrubarem a criação de um novo imposto para custear a saúde pública no Brasil.

Como o senhor resumiria o livro: o que mudou na medicina em 40 anos?

Jatene: O que mudou é realmente a tecnologia. Não só no Brasil, mas no mundo inteiro. O diagnóstico à distância, por meio de exames, afastou o médico dos pacientes, a conversa ficou abreviada.

Mas a tecnologia também dever ter ajudado, não?

Jatene: Ajudou muito, criou vacinas contra poliomelite, sarampo. Hoje, são doenças que não existem mais. E também criou técnicas menos invasivas.

O perfil epidemiológico do brasileiro mudou muito também? Isso tem impacto nos custos da saúde, que ficam maiores?

Jatene: Claro, esse é o grande problema.

E O SUS, que está fazendo 21 anos, está preparado para essa nova situação?

Jatene: É preciso que as pessoas entendam aritmética: é preciso ter recursos. Eu estimo que o orçamento do SUS precise dobrar, mas não há nenhuma possibilidade de dobrar.

Então o senhor é a favor de um novo tributo?

Jatene: Quando estive no governo, eu defendi a CPMF. Mas não estou mais. Apontar as fontes de financiamento não é responsabilidade minha, mas do governo e do Congresso.

Com essa sua experiência de médico e gestor, o que o senhor diria que conta mais para melhorar a saúde no Brasil: gestão ou financiamento?

Jatene: As duas coisas ao mesmo tempo são importantes. Já avançamos muito na gestão, os grandes hospitais de São Paulo, por exemplo, buscam gestores públicos. Mas faltam recursos.

Fonte: agência Carta Maior

Lucro, e não imposto, faz brasileiro pagar o carro mais caro

O Brasil tem o carro mais caro do mundo. Por quê? Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção.

Outro vilão seria o “alto valor da mão de obra”, mas os fabricantes não revelam quanto os salários – e os benefícios sociais - representam no preço final do carro. Muito menos os custos de produção, um segredo protegido por lei.

A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. Mas as histórias que você verá a seguir vão mostrar que o grande vilão dos preços é, sim, o Lucro Brasil. Em nenhum país do mundo onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB,o carro custa tão caro para o consumidor.

Com um mercado interno de um milhão de unidades em 1978, as fábricas argumentavam que seria impossível produzir um carro barato. Era preciso aumentar a escala de produção para, assim, baratear os custos dos fornecedores e chegar a um preço final no nível dos demais países produtores.

Pois bem: o Brasil fechou 2010 como o quinto maior produtor de veículos do mundo e como o quarto maior mercado consumidor, com 3,5 milhões de unidades vendidas no mercado interno e uma produção de 3,638 milhões de unidades.

Três milhões e meio de carros não seria um volume suficiente para baratear o produto? Quanto será preciso produzir para que o consumidor brasileiro possa comprar um carro com preço equivalente ao dos demais países?

Segundo Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, “é verdade que a produção aumentou, mas agora ela está distribuída em mais de 20 empresas, de modo que a escala continua baixa”. Ele elegeu um novo patamar para que o volume possa propiciar uma redução do preço final: cinco milhões de carros.

A carga tributária caiu e o preço do carro subiu
O imposto, o eterno vilão, caiu nos últimos anos. Em 1997, o carro 1.0 pagava 26,2% de impostos, o carro com motor até 100cv recolhia 34,8% (gasolina) e 32,5% (álcool). Para motores mais potentes o imposto era de 36,9% para gasolina e 34,8% a álcool.

Hoje – com os critérios alterados – o carro 1.0 recolhe 27,1%, a faixa de 1.0 a 2.0 paga 30,4% para motor a gasolina e 29,2% para motor a álcool. E na faixa superior, acima de 2.0, o imposto é de 36,4% para carro a gasolina e 33,8% a álcool.

Quer dizer: o carro popular teve um acréscimo de 0,9 ponto percentual na carga tributária, enquanto nas demais categorias o imposto diminuiu: o carro médio a gasolina paga 4,4 pontos percentuais a menos. O imposto da versão álcool/flex caiu de 32,5% para 29,2%. No segmento de luxo, o imposto também caiu: 0,5 ponto no carro e gasolina (de 36.9% para 36,4%) e 1 ponto percentual no álcool/flex.

Enquanto a carga tributária total do País, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, cresceu de 30,03% no ano 2000 para 35,04% em 2010, o imposto sobre veículo não acompanhou esse aumento.

Isso sem contar as ações do governo, que baixaram o IPI (retirou, no caso dos carros 1.0) durante a crise econômica. A política de incentivos durou de dezembro de 2008 a abril de 2010, reduzindo o preço do carro em mais de 5% sem que esse benefício fosse totalmente repassado para o consumidor.

As montadoras têm uma margem de lucro muito maior no Brasil do que em outros países. Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência fora-de-estrada. Derivados de carros de passeio comuns, esses carros ganham uma maquiagem e um estilo aventureiro. Alguns têm suspensão elevada, pneus de uso misto, estribos laterais. Outros têm faróis de milha e, alguns, o estepe na traseira, o que confere uma aparência mais esportiva.

A margem de lucro é três vezes maior que em outros países
O Banco Morgan concluiu que esses carros são altamente lucrativos, têm uma margem muito maior do que a dos carros dos quais são derivados. Os técnicos da instituição calcularam que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5 a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam: Fox e Palio Weekend. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais.

O Palio Adventure (que tem motor 1.8 e sistema locker), custa R$ 52,5 mil e a versão normal R$ 40,9 mil (motor 1.4), uma diferença de 28,5%. No caso do Doblò (que tem a mesma configuração), a versão Adventure custa 9,3% a mais.

O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, concluiu que, no geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior que a de outros países.
O Honda City é um bom exemplo do que ocorre com o preço do carro no Brasil. Fabricado em Sumaré, no interior de São Paulo, ele é vendido no México por R$ 25,8 mil (versão LX). Neste preço está incluído o frete, de R$ 3,5 mil, e a margem de lucro da revenda, em torno de R$ 2 mil. Restam, portanto R$ 20,3 mil.

Adicionando os custos de impostos e distribuição aos R$ 20,3 mil, teremos R$ 16.413,32 de carga tributária (de 29,2%) e R$ 3.979,66 de margem de lucro das concessionárias (10%). A soma dá R$ 40.692,00. Considerando que nos R$ 20,3 mil faturados para o México a montadora já tem a sua margem de lucro, o “Lucro Brasil” (adicional) é de R$ 15.518,00: R$ 56.210,00 (preço vendido no Brasil) menos R$ 40.692,00.

Isso sem considerar que o carro que vai para o México tem mais equipamentos de série: freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos. O motor é o mesmo: 1.5 de 116cv.

Será possível que a montadora tenha um lucro adicional de R$ 15,5 mil num carro desses? O que a Honda fala sobre isso? Nada. Consultada, a montadora apenas diz que a empresa “não fala sobre o assunto”.

Na Argentina, a versão básica, a LX com câmbio manual, airbag duplo e rodas de liga leve de 15 polegadas, custa a partir de US$ 20.100 (R$ 35.600), segundo o Auto Blog.
Já o Hyundai ix35 é vendido na Argentina com o nome de Novo Tucson 2011 por R$ 56 mil, 37% a menos do que o consumidor brasileiro paga por ele: R$ 88 mil.

Fonte: http://www.correiodoestado.com.br/ e UOL CARROS 29/06/2011 01h00

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Mais próximos do abismo

O Premio Nobel de Economia Paul Krugman encerrou uma das últimas notas de seu blogue com a palavra “deprimente.”

Krugman se referia ao comportamento de economistas que, nos dois lados do Atlantico, inundaram os meios políticos e financeiros com análises erradas sobre a origem da crise econômica e, em consequencia, ofereceram saídas também erradas para resolver o problema.

Krugman está convencido de que muitos economistas agiram assim para preservar o próprio ego – e também por conveniencia política.

É possível ter uma idéia desses erros pelo comportamento dos mercados nos últimos dias. As bolsas despencam, as empresas perdem valor e bancos de grande porte são rebaixados, gerando um ambiente de novas e maiores incertezas. Meses atrás, contudo, os executivos do Banco Central Europeu eram parabenizados pelo rigor na exigencia de medidas de austeridade por parte dos países em dificuldade.

Muitos economistas ficaram de cabelos em pé diante do colapso do mercado em 2008 mas passaram os dois anos seguintes tentando dar a impressão de que tudo voltaria a ser como era antes do desmanche do Lehman Brothers. O saldo foi um desastre, nos Estados Unidos, e uma tragédia, na Europa.

Verdade que as respostas foram diferentes, nos dois casos. Mas, de uma forma ou de outra, americanos e europeus apostaram na boa vontade dos mercados para resolver o problema.

A questão, nos dois lados do Atlantico, era a mesma — falta de demanda. E isso ninguém soube encaminhar. Pois seus analistas diziam que era preciso controlar o déficit dos governos e evitar gastos exagerados — o que só era verdade, matematicamente, no caso da economia grega.

Como Krugman, o também Premio Nobel Joseph Stiglitz e outros economistas não se cansaram de explicar, esta era uma prioridade capaz de agradar aos meios políticos conservadores e ao velho sistema financeiro. Permitia retornar ao mundo ideológico anterior a 2008 — mas não podia dar certo. Como todos irão se recordar, aqueles bonus milionários e indecentes voltaram a ser pagos para os felizardos que comandam grandes instituições.

O problema é que sem dinheiro no bolso, as famílias não compram. Se não compram, o consumo cai, a produção diminui e o desemprego aumenta. As empresas produtivas entram em dificuldade e não podem pagar seus credores. As contas do governo pioram, porque as receitas caem. O sistema financeiro balança e o céu pode cair sobre nossas cabeças. É isso que está acontecendo agora.

Num editorial recente, a Economist, insuspeita de qualquer preferencia intervencionista, conclamou os governos da Europa a fazer um pacto para salvar a economia do Velho Mundo e impedir que um colapso continental possa levar o planeta inteiro para o abismo. Outros economistas influentes, capazes de manter o bom senso numa hora de grande tensão, recomendam o mesmo remédio.

É deprimente, como escreveu Paul Krugman, constatar que não são idéias originais mas estavam na mesa há mais de um ano, quando se considerou que a melhor receita para enfrentar a crise da Grécia era cortar investimentos, diminuir o emprego e aumentar a pobreza, obrigando aquele país a devolver aos bancos, centavo por centavo, aqueles emprestimos que havia obtido quando o crédito barato produzia ilusões nos dois lados do balcão.

A Economist sustenta que, com disposição política, em poucos dias seria possível promover mudanças dramáticas na Europa, em regime de urgencia. Mas o problema é esse: disposição política. A economia mundial é dirigida por instituições e executivos habituados a concentrar lucros e socializar prejuízos. Estas instituições mantém uma clientela política a seu serviço, com um comportamento servil que, no caso americano, chega ao limite do grotesco com a facção do Tea Party.

Nesta situação, eles tem horror a assumir suas responsabilidades e a oferecer sua própria cota de sacrifício. Não seria possível estimular o crescimento sem reescalonar dívidas e isso representa uma queda nos lucros das instituições credoras. Também seria preciso colocar dinheiro nos bolsos vazios, pois é preciso que voltem às compras para a economia voltar a funcionar. Mas como fazer isso depois de jogar a culpa pela crise nas costas dos países pobres?

Está claro que se perdeu muito tempo acreditando em opções previsivelmente erradas. Em função disso, prejuízos e dificuldades tornaram-se desnecessariamente maiores. Boas idéias parecem não dar certo porque ninguém consegue acreditar nelas, como escreveu Vinícius Freire, na Folha, para explicar o efeito nulo das últimas medidas do Federal Reserve para reanimar a economia americana.

Mas parece claro que não há mais tempo a perder. O problema é saber quem será capaz de aproveitá-lo. Este é o drama no momento.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Suicídio europeu

Está cada vez mais claro para os observadores mais lúcidos do atoleiro econômico europeu que a política de cortar gastos e fazer do combate à inflação revelou-se um fiasco.

Também parece evidente que dar continuidade a um fracasso tão evidente é uma forma de suicídio econômico planejado.

Há um ano, era a Grécia que se encontrava à beira do abismo. Vários pacotes depois, Portugal, Espanha, Irlanda e Italia já se colocaram na mesma posição. Quanto a Grécia, que deveria ter sido salva por uma política de ajustes nos gastos públicos, ficou um pouquinho mais próxima da derrocada.

A idéia de que os países europeus haviam se transformado num bando de gastadores irresponsáveis era absurda em vários casos importantes. A Espanha e a Irlanda, por exemplo, tem uma máquina pública ajustada e eficiente que funcionava no azul até o dia em que a alta dos juros do Banco Central Europeu modificou sua posição.

A Italia exibia uma contabilidade menos elogiável mas nada de muito grave, dizem os especialistas. Mas a situação tornou-se preocupante depois que, em nome do combate à inflação, os juros foram elevados para um limite próximo do insuportável. Nessa situação, não só os italianos já foram levados a aprovar dois pacotes de austeridade, de utilidade duvidosa. Mas até os franceses entraram na roda, exibindo uma fragilidade desnecessária.

Qual o problema da economia europeia?
Se o problema fosse ameaça de inflação, já estaria resolvido. Os preços pararam de subir por um problema de outro tipo: falta demanda. O continente avança para uma recessão tão grotesca que não há o risco dos preços crescerem. O risco é o Velho Mundo desabar por um longo período, arrastando uma parcela importante da economia mundial consigo.

A questão, aos poucos, tornou-se política. Os governantes europeus passaram os últimos meses com um discurso afinado contra a inflação. Convenceram seus eleitores de que não iriam aumentar suas próprias despesas nem auxiliar populações que, erradamente, eram apontadas como perdulárias e irresponsáveis — numa atitude pouco elegante, quando se recorda que foi a Europa desenvolvida quem financiou e recebeu belíssimos dividendos com a outra fatia do continente. Se é possível falar em irresponsabilidade, no caso, a culpa era das duas partes.

Agora, fica difícil mudar o discurso e alterar o rumo político sem correr o risco de quebrar a cara. O eleitorado pode sentir-se duas vezes enganado. Quando lhe disseram que a crise estaria limitada a um grupo de países pobres e economicamente irrelevantes. E quando lhe prometeram que seria possível sair dela sem uma partilha de sacrifícios e novos estimulos ao crescimento.

Sem isso, será uma marcha programada para o abismo. Em dúvida?

Texto de Paulo Moreira Leite

Fonte: http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite

domingo, 18 de setembro de 2011

Globo e Folha manipularam "notícias" contra o PT nas eleições de 2010




O desmentido do "consultor" da Folha

Ex-presidiário escolhido pelo Jornal Nacional para atacar Dilma em 2010, pede desculpas ao PT nos tribunais

Você se lembra do ex-presidiário Rubnei Quicoli, que a TV Globo abriu seus microfones e câmeras no Jornal Nacional para entrar nas casas dos brasileiros fazendo denúncias na base do "gogó" contra Dilma Rousseff e o PT durante a campanha eleitoral de 2010?

Pois é... ele pediu desculpas ao PT nas barras dos tribunais (na 9a. Vara Cível do TJDFT).

O ex-presidiário responde processo movido pela direção nacional do PT nas varas Cível e Criminal.


Mesmo com um passado de ex-presidiário por receptação de roubo de cargas, entre outros crimes (confira aqui), o Jornal Nacional da TV Globo o escolheu como pauta para fazer denúncias mirabolantes contra a então candidata Dilma Rousseff e o PT, sem qualquer credibilidade, sem qualquer prova, só na base do "gogó".

Nós, blogueiros "sujos", desmontamos a farsa, revelando a folha corrida do "empresário", apresentado como se fosse impoluto no Jornal Nacional.

Quem aposta na TV Globo levar ao ar pelo menos uma notinha da retratação?

http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/2011/09/ex-presidiario-esco...

Fonte:Enviado por luisnassif, sab, 17/09/2011 - 09:11 Por Assis Ribeiro

Barulho demais contra o aumento IPI "dos carros importados" II


Nos volantes da nação

Estou espantado com determinados argumentos que envolvem o debate sobre o aumento no IPI de automóveis importados que não tiverem 65% de produção nacional.

Parece que estamos numa simples discussão entre comerciantes e consumidores, entre gastar um pouco mais ali, perder um pouco mais ali.

Mas não é isso. O debate envolve — goste-se ou não dessa palavra — uma idéia de nação.

Não custa lembrar que o aumento do IPI diz respeito a automóveis acessíveis a poucos brasileiros. A medida atinge, segundo os importadores, menos de 5% do mercado.

Não chegamos, quero acreditar, no mundo do Tea Party, que pretende abolir os direitos democráticos e instalar o regime do mais forte numa terra de ninguém.

Ainda que seja um simples aumento de impostos, a medida envolve perguntas e opções que dizem respeito a manutenção do emprego, ao progresso tecnológico, as opções do país diante de uma crise muito mais feia do que se imaginava seis meses atrás. Será que nada disso tem importancia?

Quem condena o aumento do IPI deveria argumentar a partir daí. Seria melhor deixar tudo como está? Por que? Seria bom para quem?

Acho engraçado quando se ameaça o Brasil com ações na Organização Mundial do Comércio. E daí? Os países desenvolvidos estão sempre lá. Ora batem, ora apanham. Faz parte do jogo. Campeões do discurso das fronteiras abertas, os EUA são campeões de ações de seus parceiros, inconformados com práticas protecionistas. É preciso ser um bocado ingenuo para não encarar o fato de que a hipocrisia é um dos grandes combustíveis do comércio internacional.

Chego a rir da seriedade que se dá a acusação dos importadores de que lobistas da industria atuaram para pressionar o governo para baixar o decreto que eleva o IPI até o fim de 2012. Queriam que a industria agisse como?

É assim que se faz, em qualquer parte do mundo. Os lobistas de todos os lados estão aí, em todos os gabinetes, com argumentos e contra-argumentos, para defender os clientes. Funciona desse jeito.

Também é sintomático que ninguém pergunte aos importadores por que eles não consideram a possibilidade de segurar possíveis repasses nos preços para consolidar-se no mercado. Tem gente que deve achar que essa questão pode ser interpretada como falta de educação, não é mesmo?

O país não pode ficar na situação absurda de tratar a industria automobilística com neutralidade, como se sua saúde fosse indiferente ao destino dos brasileiros. Não pode ser comparada a uma loja de bugigangas, mesmo maravilhosas.

Não conheço país onde uma industria compete nas mesmas condições do que o comércio — a menos, claro, que suas autoridades considerem que a destruição dessa industria pode ser benefica para os interesses dos cidadãos.

Queiramos ou não, a industria automobilística faz parte de nossa história. Foi construída com subsídios, envolveu doações e até favores do Estado brasileiro que, ao longo de décadas, considerou que ela poderia cumprir um papel estruturante (você gosta da palavra?) em nosso desenvolvimento.

Eu acho até que o Estado foi generoso demais com as multinacionais instaladas aqui. Se tivesse tido uma atuação mais firme, cobrando contrapartidas melhores, talvez tivesse sido possível avançar na consolidação de uma produção autonoma e competitiva, como se fez na Coréia. Mas isso diz respeito a decisões tomadas há meio século, não na semana passada.

O debate em torno do IPI não pode ser tratado como uma questão de pagar um pouco mais ou um pouco menos por um carrão maravilhoso. Há mais do que o imenso prazer de apanhar o volante de um automóvel último tipo.

Texto de Paulo Moreira Leite

Fonte:http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/2011/09/17/

sábado, 17 de setembro de 2011

Barulho demais contra o aumento IPI "dos carros importados"


Parece que a compra de carros importados tornou-se uma grave questão nacional, um assunto de vida ou morte capaz de mobilizar observadores e comentaristas para acusar o governo de protecionismo, nacionalismo e outros substantivos que o ideário moderno considera graves e anacrônicos.

Minha opinião é que este imposto veio tarde. O Brasil está perdendo empregos e é preciso defendê-los. A alta do IPI é uma medida nessa direção. Talvez não seja a melhor, não é simpática e certamente irá gerar reações azedas fora do país.

A verdade é que no mundo inteiro, a compra e venda de automóveis importados é controlada de acordo com os interesses de cada país, que podem mudar de um momento para outro.

Isso porque ela pode implicar na remessa de divisas e também estimular a desindustrialização. Até ontem, condenava-se o governo por prejudicar a industria. Hoje, depois que o governo decidiu tomar uma providência no sentido contrário, é condenado mais uma vez. Vamos combinar que assim é fácil.

Quem diz que o governo irá obrigatoriamente prejudicar o consumidor trabalha com o pressuposto de que a industria não só pode como deve repassar os aumentos de custos para os compradores de seus automóveis. Mais uma vez, raciocinam na era pré-Warren Buffett, aquele bilionário que lembrou ao mundo que os muito ricos também pode fazer um pouquinho de sacrifícios.

Pergunto: será que as empresas que importam carros para o Brasil não tem interesse em fazer um pouquinho de força para manter espaço — só até o fim de 2012, diz a regra — num dos mercados mais prósperos do mundo nos dias de hoje? Será que não consideram que vale a pena sacrificar um pouco só de seus lucros?

Se ainda assim essas empresas decidirem aumentar seus preços, vão perder mercado. Será uma grave ofensa ao futuro do país?

Grande vendedora de carros importados do mundo, a Coréia construiu uma industria com base num protecionismo de ferro — e nenhum coreano acha que isso ruim. Ali não havia nem montadora. Quem queria vender carro para o mercado coreano era obrigador a transferir tecnologia para empresas locais que, pouco a pouco, passaram a fabricar automóveis por sua conta. Foi assim que surgiu a Hyundai, objeto de desejo de tantos brasileiros, e outras marcas procuradas.
Esse modelo de produção nacional foi um dos responsáveis pela revolução na educação coreana. A economia precisava de braços e de cérebros e criou um sistema educacional para produzí-los.

A unanimidade dos estudiosos considera que o Brasil já perdeu o trem para essa etapa da história. Nem por isso é preciso abaixar os braços e não tomar nenhuma atitude para defender empregos e aperfeiçoar nossa tecnologia.

Pressionado pelos fanáticos do mercado de sua época, Juscelino Kubistcheck fez uma industria automobilística pioneira, mas alimentada por concessões demasiadas aos investidores externos. O saldo está aí.

Fonte:PAULO MOREIRA LEITE http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Abaixo a corrupção da mídia


Senhoras e senhores,

Estamos aqui hoje para nos manifestar contra a corrupção, mas não como aqueles que estiveram neste mesmo local no último dia 7 de setembro dizendo que se manifestavam pelo mesmo motivo. O que aquelas pessoas fizeram, na verdade, foi um ato orquestrado por grandes impérios de comunicação e que teve como objetivo favorecer partidos políticos.

Antes de prosseguir, é bom explicar que este Ato Público não pertence a nenhum partido político, a nenhum sindicato, a nenhum grupo de interesse. Foi convocado pelo Movimento dos Sem Mídia, que luta pela democratização da comunicação no Brasil, ou seja, para que essa comunicação não continue na mão de meia dúzia de famílias.

Quem são esses impérios de comunicação? São a Globo, os jornais Folha de São Paulo e Estado de São Paulo e a revista Veja e alguns outros que repetem o que eles dizem. Esses veículos estimularam a manifestação que ocorreu aqui no Masp no último dia 7 usando artigo escrito por um jornalista espanhol ligado a esses empresários de comunicação.

O jornalista espanhol Juan Arias disse que os brasileiros seriam acomodados com a corrupção porque não saem às ruas para protestar como no país dele. Escreveu aquilo apesar de que seu povo está indo às ruas porque a Espanha está em uma terrível crise econômica, com desemprego nas alturas. Os brasileiros não fazem o mesmo porque este país está indo muito bem, obrigado.

Os tais impérios de comunicação, dessa forma, passaram a reproduzir sem parar aquele texto sem sentido em seus jornais, revistas, rádios, televisões e portais de internet. Poucas semanas depois, aparecem essas manifestações “contra a corrupção” como a que aconteceu aqui no Masp no último dia 7 de setembro.

Naquela manifestação, o que se viu não foram críticas a toda corrupção, mas a políticos e ao partido aos quais as famílias Marinho (dona da Globo), Frias (dona da Folha de São Paulo), Mesquita (dona do Estadão) e Civita (dona da revista Veja) se opõem há muito tempo, ou seja, ao Partido dos Trabalhadores, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à presidente Dilma Rousseff.

Não foi por outra razão que aquela manifestação que ocorreu há cerca de duas semanas aqui neste mesmo local tinha faixas e cartazes acusando de corrupção o ex-presidente Lula, o PT e a presidente Dilma e foi acompanhada por políticos do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB. Foi um ato político disfarçado de “marcha contra a corrupção”.

Não há brasileiro que não saiba que a Globo e os outros veículos já mencionados – e alguns menores que agem sob sua influência – fazem oposição ao PT e a todos os políticos deste partido ou a ele aliados. Desde 1989, quando Lula disputou sua primeira eleição presidencial, que esses impérios de comunicação fazem isso.

E por que fazem? Porque são contra a distribuição de renda, contra a melhora de vida do povo mais pobre e a favor da corrupção, pois todos sabem que quando denunciam políticos eles são sempre do PT e de partidos aliados e nunca do PSDB e dos aliados dele. E o que é pior: só denunciam quem se vende, quem se corrompe, mas nunca quem suborna porque são empresas que anunciam nesses jornais, revistas, tevês etc.

Durante semanas, esses veículos martelaram esses atos públicos artificiais que sairiam às ruas no 7 de setembro. Com publicidade dessa dimensão sendo veiculada sem parar nas televisões, rádios, jornais, revistas e portais de internet, claro que inocentes úteis que acharam que estavam se manifestando “contra a corrupção” foram atraídos e engrossaram as manifestações.

Se quisessem se manifestar contra a corrupção, os que estiveram aqui no Masp naquele dia também acusariam o governo de São Paulo, que impede que uma única CPI contra si seja aprovada na Assembléia Legislativa, onde há mais de cem pedidos de investigação que não vão para frente porque a imprensa, diferentemente do que faz contra o PT, não divulga.

E não divulga porque o governo de São Paulo acaba de gastar NOVE MILHÕES DE REAIS comprando assinaturas da Folha, do Estadão e da Veja, por exemplo. Dinheiro dos seus impostos, cidadão, que vai para o bolso desses impérios de comunicação.

Um bom exemplo de escândalos do PSDB que a mídia esconde está nas obras do Rodoanel, contra as quais pesam denúncias de superfaturamento. Ou, por exemplo, as obras de limpeza do rio Tietê, que neste ano transbordou porque o ex-governador José Serra diminuiu aquelas obras e aumentou gastos em publicidade que infestou a tevê durante o ano passado, quando o ex-governador disputou a Presidência da República.

A corrupção da mídia, portanto, está em ela jamais expor empresas que subornam políticos corruptos simplesmente porque são suas anunciantes. Assim, atacando só quem se vende e nunca quem compra políticos, a corrupção no Brasil não diminuirá nunca.

Há, sim, escândalos e corrupção nos governos do PT, do PSDB, de todos os partidos. Por isso há que investigar a todos e não só aos inimigos políticos das famílias Marinho, Frias, Civita, Mesquita e outros empresários da comunicação que acobertam políticos amigos e denunciam os políticos inimigos até mesmo quando não há prova alguma.

Nada a espantar vindo de impérios de comunicação que ajudaram a implantar e a sustentar a ditadura militar que manteve este país nas trevas de 1964 a 1985 e que torturou e assassinou pessoas apenas porque tinham opinião política diferente.

Ser contra a corrupção é ser contra quem corrompe e quem é corrompido. É não dar propina ao guarda de trânsito, é não subornar funcionário público para ele “agilizar” aquele processo em um órgão público. Não será atacando só os políticos inimigos e protegendo os amigos que este país reduzirá a corrupção, portanto.

O Movimento dos Sem Mídia, assim, é contra TODA a corrupção e não apenas contra a corrupção de alguns. Por isso, quando você, cidadão, ler ou ouvir esses jornalistas que se vendem aos patrões dizendo só aquilo que eles querem, acusando só petistas e aliados e dizendo que não votando neles a corrupção acabará, não acredite. É tramóia.

Corrupção existe no mundo inteiro. Em governos de todos os partidos. Há que dificultá-la, mas nunca se conseguirá acabar com toda ela. Não adianta demonizar a classe política porque sem políticos não há democracia. Voltaremos à ditadura militar, a um tempo em que os políticos eram amordaçados por generais que roubavam sem ter quem contestasse.

Assim sendo, se você quer uma imprensa que combata toda a corrupção, é preciso que essa imprensa não fique na mão de meia dúzia. Nos Estados Unidos, por exemplo, um mesmo empresário não pode ter jornal e televisão na mesma cidade. No Brasil, a Globo tem tudo – jornal, revista, TV, rádio, portal de internet – em todas as cidades.

Isso se chama concentração de propriedade de meios de comunicação. O que se quer, assim, é aprovar leis que existem em todos os países desenvolvidos e que não permitem que uma Globo use concessão pública como é um canal de tevê para fazer jogo político em favor dos partidos e políticos amigos.

Esses impérios de comunicação acusam quem pede leis para a comunicação de querer “censura”. É mentira. Ninguém quer que esses impérios não falem o que pensam. Só o que se quer é que quem pensa diferente da Globo possa ir em suas tevês contradizer a família que as controla, pois a faixa de onda eletromagnética que usam é uma concessão do povo.

Isso não é e nem jamais será censura.



MOVIMENTO DOS SEM MÍDIA – São Paulo, 17 de setembro de 2011

Fonte:http://www.blogcidadania.com.br

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A lei e o caos aereo

Uma juiza de São Paulo decidiu paralisar as obras de construção do terceiro terminal do Aeroporto de Guarulhos.

O argumento é que os trabalhos foram feitos sem licitação e que isso pode dar margem ao tráfico de influencias entre a empreiteira e a Infraero, responsável pela obra.

O problema é que a lei autoriza a dispensa de licitação em casos de urgencia e é dificil alguém negar que o principal aeroporto do país já enfrenta esta situação — e olha que nem estamos falando de Olimpíada nem de Copa do Mundo.

Embora tenha examinado esta hipótese, a juiza que assinou a sentença — que tem caráter liminar — alega que a Infraero teve tempo de sobra para realizar as reformas, cuja necessidade é reconhecida há mais de dez anos.

Por trás da decisão fica a sugestão de que ocorreu uma emergencia provocada artificialmente, para que a empreiteira vitoriosa fosse escolhida sem licitação. Será?

Os dois lados tem argumentos razoáveis. O convívio de empreiteiras com os cofres públicos é marcado por episódios lamentáveis e conhecidos.

A Delta, que constrói o terceiro terminal de Guarulhos, já foi acusada de ter um tratamento favorecido no governo de Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro. Seu proprietário mantém laços de convívio familiar com o governador.

Mas para ficar encarregada dos trabalhos no aeroporto ela dispustou uma pré-licitação, com outras quatro empresas, e saiu-se vitoriosa porque ofereceu o menor preço.

Não se mostrou, até o momento, nenhum indício de que tenha ocorrido fraude ou qualquer irregularidade neste processo. Este é o problema.

Na Infraero, informa-se que o TCU chegou a dar um parecer favorável em função da urgencia.

Você colocaria sua mão no fogo? Eu não.

Mas isso não elimina outra questão: o aeroporto necessita mesmo de um novo terminal, que irá ampliar sua capacidade em 6 milhões de passageiros por ano.

Se a Infraero for realizar uma licitação pelos padrões e prazos normais, será preciso esperar de um ano a um ano e meio pelo início dos trabalhos.

Você acha justo com os passageiros? Eu não.

Alguns anos atrás a Infraero já colocou de pé uma licitação para tocar este terceiro terminal. O processo foi dominado por grandes empreiteiras, que produziram um acordo escandoloso que jogava o preço final para perto de 1 bilhão de reais. As evidencias de corrupção envolviam grandes empresas — a Delta não se encontrava entre as suspeitas — e eram tão grandes que a licitação foi anulada. Por isso chegou-se a situação de hoje.

Eu acho que as obras devem ser retomadas e todo indício de irregularidade deve ser investigado com cuidado redobrado. Entendo os argumentos da Justiça. São muito razoáveis tem apoio na lei.

Mas acho pior punir 6 milhões de passageiros por uma suspeita que não foi demonstrada.

O que você acha?

Texto de PAULO MOREIRA LEITE

Fonte:http://colunas.epoca.globo.com

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Grande Mídia reage ao Congresso do PT com ameaças golpistas

O documento final do 4º Congresso Nacional do PT, Partido dos Trabalhadores, defende um marco regulatório para as comunicações, com propostas de regulamentação de artigos da Constituição que proíbem a propriedade cruzada e a formação de oligopólios.

Além disso, o texto é contra as concessões de emissoras de rádio e TV para políticos. Este é, em síntese, um resumo do texto que em nenhum momento questiona ou investe contra a liberdade de imprensa prevista na Constituição em vigor. Por que o noticiário que lemos todos os dias dá impressão tão diferente?

Estão tentando esconder o que realmente o documento estabelece e tendo a ousadia de inventar o que o documento não diz. O texto não mexe com a liberdade de expressão, direito estabelecido na Constituição da República, assim como não prevê terremotos às segundas, quartas e sextas.

Os veículos de informação e até entidades conceituadas como a Ordem dos Advogados do Brasil, OAB, no entanto, estão repetindo inverdades. Com que objetivo? Enganar os cidadãos que não estão atentos? Manter intocáveis oligopólios proibidos na Constituição mas que existem no setor? Forçar a barra para que os donos passem a ser vistos como vítimas inocentes do PT?

Essa história de atribuir ao partido decisões que nunca estiveram previstas em seus documentos tem a finalidade equivocada de sempre: assustar o povo brasileiro. E o único sentido dessa desinformação perversa é tentar impedir que o Estado deixe de ser uma máquina de privilégio dos atuais donos do mercado para se transformar em um centro de prestação de serviço à população.

A verdade é que a grande mídia não aprendeu nada e segue praticando o jornalismo do medo. E pensar que se dizem democratas... Serão? Se fossem, aceitariam o debate sobre as comunicações no Brasil.

Todas as forças democráticas lutaram pela abolição da censura. E hoje vão à luta para distinguir o interesse geral da população dos interesses dos grupos beneficiados por concessões de rádio e televisão. Esse é um fato que se sobreporá à velhacarias da mídia tradicional, que pretende manter seus privilégios indefensáveis. A regulação da mídia é necessária e é uma obrigação inscrita em nossa Constituição.

Fonte: texto extraído do blog do Brizola Neto e título extraído do blog cidadania

domingo, 11 de setembro de 2011

Existe saúde gratis?

Nove meses depois da terceira derrota consecutiva nas urnas, a oposição permanece firme em sua estratégia pós-eleitoral: fingir que não se sabe qual a mensagem produzida pelo eleitor para tentar bloquear toda iniciativa do governo que não lhe interessa.

É do jogo democrático. Aquilo que se perde nas urnas tenta-se recuperar nos bastidores.Vale tentar. Só não vale se fazer bobo nem criar histeria.

Esse debate tem relevancia especial quando o governo Dilma dá sinais de que pretende levantar recursos para financiar a saúde pública, que podem incluir a criação de uma taxa semelhante à CPMF que foi exinta (por 1 voto) no Senado. O fim da CPMF foi única vitoria da oposição no segundo mandato de Lula.

Detalhe político: os principais líderes da votação foram incapazes de renovar seus mandatos nas urnas nas eleições seguintes. Que vexame, não?

Detalhe nos costumes: as investigações da Operação Castelo de Areia revelaram que se criou um esquema de verbas clandestinas para financiar a bancada que derrubou a CPMF. Foram milhões de dólares desviados de estatais ligadas ao PSDB e a grandes empreiteiras, num esquema articulado pela FIESP.

Listas de arrecadadores foram publicadas em jornais e revistas, com datas, valores, origens. O repórter Walter Nunes publicou na Época reportagens muito instrutivas a respeito. Havia quantias, nomes, e até cargos.

Mas, talvez pela falta de um porta-voz tão articulado como o ex-deputado Roberto Jefferson, que denunciou o mensalão do PT, desta vez ninguém falou do mensalão anti-CPMF. Seria muito mais honesto e divertido, concorda? Também ajudaria a entender tamanha combatividade da bancada da oposição para derrotar uma idéia que nasceu no governo de Fernando Henrique Cardoso, por obra de um médico tão respeitado como Adib Jatene. Até por uma questão de respeito a si mesma, a oposição não deveria ter combatido a CPMF com tanto empenho assim.

Já disse em mais de uma ocasião que, no debate sobre verbas para a saúde, Dilma precisa chamar Warren Buffett, o bilionário americano que declarou que acha injusto pagar tão poucos impostos impostos em meio a uma crise tão grande.

É isso. A crise mundial levou bilionários do mundo inteiro a aceitar a idéia de que os ricos também podem colocar a mão no bolso e fazer um pouquinho de sacrifício para ajudar seus países a tirar o pé da lama. E isso pode implicar, no Brasil, em pagar 0,1% de sua movimentação bancária para ter hospitais melhores, médicos mais aplicados, enfermeiros melhor treinados. (O,1% equivale à milionesima parte da movimentação bancária de uma pessoa. Se você movimenta R$ 120 000 por ano, faça a conta de quantos reais irá deixar na CPMF por esse período…) Mas a proposta está ainda em estudos, ninguém sabe qual é a idéia, exatamente. Só não vale empurrar para o Pre-Sal, que só começa a jorrar alguma coisa depois de 2015, quando muita coisa pode mudar no ambiente político, vamos combinar.

E não vale dizer que é preciso cortar primeiro os gastos para cobrar uma nova taxa depois. Afinal, ninguém quer fazer mau juizo da competencia do governo do PSDB para examinar as contas do governo, não é mesmo?

Verdade que parte das verbas da saúde foram desviadas de suas funções originais e será preciso cuidar para evitar novos abusos. Também é preciso dar conta de imensos problemas de gestão que o Estado brasileiro enfrenta e que se manifestam no setor. Mas não vamos brincar com as dores e doenças dos outros.

Não vamos por a mão na cabeça e fingir num gesto dramático que é preciso refundar o Brasil toda vez que se quer encarar um problema sério. Essa é a melhor forma de não resolver nada.

A idéia de criar novas taxas é inatacável do ponto de vista de um governo ocupado em controlar suas despesas. Madrinha de novos e velhos conservadores, a primeira-ministra britanica Margaret Tatcher não se cansou de fazer isso.

O patrono dos economistas do Estado minimo, Milton Friedman, dizia que não há almoço gratis. Verdade. Entre num posto de saúde perto de sua casa e responda rápido: há saúde grátis?

texto de PAULO MOREIRA LEITE

Fonte:http://colunas.epoca.globo.com/p

sábado, 10 de setembro de 2011

O Globo quer serviço público sem servidor público?


A manchete de O Globo – Governo Lula contratou três vezes mais servidores do que Fernando Henrique – serve para fazer “onda”, mas não serve para os leitores entenderem coisa alguma sobre a política do Governo Federal em relação ao funcionalismo.

Não conta que Lula deixou o Governo com menos funcionários que FHC recebeu de Itamar. Nem que gasta menos com eles do que FHC gastou no último ano de seu, digamos, governo. Quatro e meio por cento do PIB, contra 5% do último ano de FHC, como você vê no gráfico

Postei, no blog Projeto Nacional , uma análise dos números da pesquisa divulgada ontem à tarde pelo IPEA, de onde tirou a sua manchete.

Lá, pergunto o que aconteceria se a redução do número de funcionários fosse como FHC fazia e O Globo aplaudia.

Texto de Brizola Neto

“Imagine o caro leitor que a notícia fosse dada da seguinte forma: Polícia Federal tem menos agentes que em 2003 ou Universidades federais dobram matrículas mas não contratam professores ou Número de ações duplica, mas União tem os mesmos advogados que em 2003.”

O número de servidores públicos no Brasil, em relação ao número de trabalhadores no setor privado, apresentava, em 2006, proporção menor até do que os EUA e da maioria dos países latinoamericanos; 12,5%, contra 14,8% dos americanos.E como o número de funcionários federais crescei à modestíssima taxa de 1,5% ao ano no Governo Lula, enquanto o de trabalhadores em geral cresceu quase 3%, essa proporção ainda deve ter se reduzido ainda mais.

Mas o leitor de O Globo, não precisa saber disso, não é mesmo? Basta acreditar no dogma neoliberal de que não precisamos de serviços públicos. Só de um Banco Central para pagar juros à turma da grana.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Marcha contra corrupção acerta Globo, CBF, Sarney, Roriz, Justiça...


A capital brasileira vive dias de baixíssima umidade e altas temperaturas, e não é diferente neste 7 de setembro. Às 13h05, registram-se 34° em termômetro perto da Esplanada dos Ministérios. A grande e central avenida, sede dos Poderes da República, esvazia-se aos poucos. Por duas horas, duas horas e meia, acolhera uma marcha inédita. Mobilizadas por uma das redes sociais mais populares da internet, o Facebook, pessoas comuns toparam botar roupa preta sob sol escaldante e protestar no feriadão.

Batizada de “Marcha contra a Corrupção”, dispara no atacado contra a falta de ética, indignação alimentada por escândalos envolvendo autoridades federais e pela não cassação de uma deputada local. No varejo, acerta alvos como a TV Globo e os presidentes da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, e do Senado, José Sarney. Ali, há quem flerte com a ideia de alvejar o Congresso não só metaforicamente. Queixas contra indignação seletiva. E uma espécie de quebra de decoro ambiental a ser varrida pela “marcha dos garis” que se seguirá.

Passa das 10h, quando a passeata começa a deixar para trás o Museu da República, local combinado para a concentração. Até voltar ao ponto de partida, os manifestantes vão percorrer 3,5 km, ou 32 campos de futebol. A exemplo de uma escola de samba, são liderados por uma comissão de frente, com pessoas perfiladas a segurar, na altura do peito, uma faixa preta com as palavras “corrupção não” em branco. Na aglomeração, muitos portam vassouras, em referência à faxina da presidenta Dilma Rousseff na área dos Transportes.

Mais atrás, numa das primeiras alas, um jovem empunha sobre a cabeça, preso a um bastão, cartaz que diz “Sorria, você está sendo manipulado”. A inscrição encima desenho que reproduz, em preto e branco, o logotipo da TV Globo. Seu portador recusa-se a revelar o nome. Conta apenas que tem 20 anos e estuda arquitetura. Mas qual a razão dessa crítica dirigida? “A Globo manipula tudo. Não basta vir na marcha. A TV vai manipular muita coisa aqui”, diz.

Do início ao fim do ato, vão se ouvir, algumas vezes, manifestantes ressuscitarem antigo grito de protesto contra a maior emissora do país: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”. “Vou ter de fingir que não vi...”, diz uma jornalista das Organizações Globo que está cobrir a marcha.

Ricardo Teixeira, da CBF, que considera a emissora uma aliada, também é alvo do protesto. Junto com três ou quatro amigos, Felipe Guedes, de 22 anos, anda pela Esplanada carregando uma grande bandeira contra o cartola. “Ele é tão corrupto quanto o Congresso, é o mais corrupto do Brasil”, afirma Felipe, que diz ter anulado o voto para presidente nos dois turnos da eleição de 2010.

Conspiração inspiradora
Felipe faz cursinho e trabalha como roadie, ajudante de ordens de conjuntos musicais em cima ou fora dos palcos. Um roadie auxilia gente como Caio Zenon, músico de 18 anos que também foi à marcha. Está caracterizado, dos pés à cabeça, como Guy Fawkes – ou, ao menos, como o soldado britânico aparece caracterizado em páginas de um romance em quadrinhos e nas telas do cinema, em obras homônimas (V de Vingança).

Fawkes foi enforcado no início do século XVII, depois de capturado e torturado até confessar participação em plano para explodir o parlamento britânico num dia em que o rei da época, Jaime I, estaria lá.

No ato brasiliense do século XXI, Caio não é o único a buscar inspiração em Fawkes, mas é um dos mais entusiasmados. Enquanto outros têm só uma máscara, usa peruca e fantasia preta. “Explodir o Congresso seria uma boa ideia”, comenta, seriamente. “A gente elegeu alguém [Dilma] que não está cumprindo o que prometeu. Essa marcha é um esforço para mudar isso.”

Na eleição do ano passado, Caio já tinha idade para tentar mudar o país por meio do voto. Mas preferiu não votar.

Na iminência de chegar à idade em que o voto torna-se facultativo como foi para Caio em 2010, o aposentado José Roberto Loureiro, de 69 anos, participa da marcha paramentado como pediam os organizadores: de preto. No ano passado, cravou Dilma Rousseff nos dois turnos. E diz não estar arrependido. “Para mim, é principalmente um protesto contra o Congresso e essa Justiça que não pune ninguém.”

O aposentado marcha de mãos dadas com a esposa. Para Zuleika Loureiro, de 64, o ato serve para reclamar de dois dos sobrenomes mais famosos da política nacional. “Esse caso da Jaqueline Roriz é uma vergonha. O Sarney também é uma vergonha, ele é dono do Maranhão."

“Sarney, ladrão, devolve o Maranhão” é um dos hits da manifestação. Alguns dos cantos são puxados pelo estudante Igor Tinto Janix, de 23 anos. Megafone à mão, tenta controlar a velocidade da passeata, como um diretor de harmonia em desfile de carnaval. “Estamos cansados de tanta corrupção e safadeza explícitas. Já são 500 anos de corrupção mas antes tinham preocupação de esconder, agora está tudo explítico”, afirma Igor, que diz ter votado em Marina Silva (ex-PV) no primeiro turno do ano passado e nulo no segundo.

É Igor quem aponta Walter Magalhães, empresário de 28 anos, à reportagem. Walter é o principal organizador da marcha, ideia que ele atribui a duas amigas, as irmãs Daniella e Lucianna Kalil. O trio criou uma página para o ato no Facebook, e agora Walter está junto à comissão de frente do ato. “É um protesto para o povo se conscientizar que ele é o culpado por quem está aí. É preciso votar com consciência”, diz Walter. Em quem ele votou para presidente em 2010? “Isso não é relevante.”

Roriz: combustível
A recente vitória da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) contra um pedido de cassação, conta Walter, foi o principal combustível da marcha, planejada de início por causa de denúncias de corrupção no governo Dilma Rousseff. Até Jaqueline escapar, dia 30 de agosto, 10 mil pessoas haviam confirmado, via Facebook, presença na marcha. Dali até a véspera do ato, outras 16 mil resolveram aderir.

Jaqueline foi a julgamento pelos colegas por ter sido flagrada, em vídeo, recebendo dinheiro de um esquema celebrizado como “mensalão do DEM”, escândalo tornado público em 2009 e que levou à cassação do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda. A filmagem é de 2006, mas só apareceu no início do ano.

Entre os parlamentares, prevaleceu a tese de que a colega não poderia ser cassada por algo feito antes do mandato. Resultado: 265 votos secretos a favor da ré e 166 votos secretos, contra. “Voto secreto, não, eu quero ver a cara do ladrão”, grita-se na marcha.

O “mensalão do DEM” pregado à memória recente pelo julgamento de Jaqueline contribui para a irritação do estudante de pedagogia Thiago Magalhães, quando ele vê um jovem sacar máscara com a foto do deputado cassado José Dirceu (PT) e reunir em torno de si um grupo a bradar contra o “mensalão do PT”. “E o mensalão do DEM? E o mensalão do DEM?”, grita Thiago.

“A marcha contra a corrupção é uma reivindicação legítima e importante”, diz o estudante, que usa um boné vermelho do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). “Mas, para além disso, precisamos discutir mais questões que são estruturais, como a reforma política e a reforma agrária. A corrupção incomoda muito a classe média, mas há outros males que atingem toda a sociedade”, completa Thiago, que diz ter votado em Dilma nos dois turnos no ano passado.

Parada militar: reforço
Apesar de 26 mil pessoas terem dito no Facebook que iriam à marcha, quando o ato começa, a Polícia Militar (PM) conta duas mil, informa a major Ana Luíza Azevedo. A massa vai encorpar a partir das 11h, quando terminar o desfile militar que acontece na mesma Esplanada, mas nas faixas de rolamento que levam ao sentido oposto, separadas das outras por um gramado de mais ou menos 100 metros.

A parada militar foi vista por algo entre 30 mil e 40 mil pessoas, nas contas da PM. E é com este número que a polícia trabalhará oficialmente, no fim do dia, ao informar o tamanho do ato contra a corrupção.

Dilma Rousseff assiste ao desfile de 7 de setembro pela primeira vez como presidenta, ladeada por ministros. A presença do presidente da República é uma tradição no evento, mas não deixa de ser outro gesto simpático de Dilma na direção da caserna, ao optar por seguir o costume.

Uma semana antes, mandara ao Congresso proposta de orçamento 2012 com um orçamento militar quase 50% maior, um dos aumentos mais generosos. Prova também do prestígio do ministro da Defesa, Celso Amorim, que assumiu prometendo reforçar as finanças das forças armadas para deixá-las mais adequadas ao peso geopolítico que o Brasil conquistou.

No último domingo, Dilma estivera pela primeira vez na solenidade mensal em que se troca a bandeira brasileira hasteada na Praça dos Três Poderes, onde ficam as sedes do governo federal, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Quando a marcha contra a corrupção chega à Praça, uma parte dos manifestantes vai para a frente do Palácio do Planalto, local de trabalho da presidenta, e grita: “Oh Dilma, cadê você?, eu vim aqui só para ter ver”. Não foi a única menção à presidenta no ato. Um dos cantos recorre a palavrões, para garantir rima e sonoridade. “Oh Dilma, como é que pode? Eles que roubam e a gente é que se fode.”

Na noite da véspera, Dilma pôde ser vista por todos os brasileiros, em pronuncimamento à nação feito pela TV, o que também é praxe para presidentes nas comemorações da Independência. No finzinho do discurso de 10 minutos, dá um recado sobre corrupção. Diz a presidenta que o Brasil é "um país que, com o malfeito, não se acumplicia jamais. E que tem na defesa da moralidade, no combate à corrupção, uma ação permanente e inquebrantável”.

Marcha derradeira
Quando os protestantes contra a corrupção voltam para a casa, começa a última marcha do dia na Esplanada dos Ministérios. Seus participantes também estão uniformizados, como os militares que primeiro haviam marchado. Todos carregam vassoura, como alguns na passeata do Facebook.

É uma manifestação silenciosa e remunerada, para quem “faxina” não é retórica, mas realidade. A marcha dos garis varre o produto de uma espécie de quebra do decoro ambiental e urbanístico de alguns dos que ocuparam a Esplanada para atacar a falta de decoro ético na política. Garrafas de água, latas de refrigerante e cerveja, abanadores de papel, sacolas plásticas, palitos de sorvete... Tudo forma o rastro de uma manifestação em que se via uma faixa condenar mudanças no Código Florestal brasileiro que o Congresso está a discutir.

Vestido de laranja, vassoura em punho, Bras Costa, de 42 anos, cata três embalagens de salgadinhos no gramado em frente ao Palácio do Itamaraty, a sede do ministério das Relações Exteriores. Está a recolher lixo desde o meio dia. Não sabe o que acaba de acontecer na Esplanada, quem protestava e por quê. Mas lamenta a sujeira que o obriga a trabalhar no feriado. “Acho que cada um poderia fazer melhor a sua parte e não deixar tanto lixo”, diz Costa, que declara ter votado em Marina Silva (ex-PV) no primeiro turno, depois em José Serra (PSDB).

texto de André Barrocal e Foto de Marcello Casal - ABr

Fonte: Carta Maior

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

PT busca descolar partido e governo


O documento aprovado no Congresso do PT é uma tentativa de resgatar a organicidade política do partido que, depois de oito anos de governo Lula (e oito meses de Dilma) acabou se conformando como uma mera unidade pró-governo. É uma tentativa de sair da arena da luta meramente institucional com os partidos aliados e ganhar a opinião pública para suas bandeiras.

Não se recomenda reduzir o Congresso do PT, realizado no final de semana, a um mero jogo de cena. A ausência de debates acalorados ou a não explicitação de grandes divergências internas dizem mais do que isso. Ao longo de oito anos de governo, e no início de um terceiro mandato na Presidência, era inevitável que mudanças se produzissem num partido que sempre funcionou como uma frente de tendências de esquerda, setores sindicais e grupos ligados à Igreja Progressista.

O PT passa por um processo de mudança que se iniciou em 1998, após a terceira derrota de Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pela Presidência. Ao longo do tempo, sofreu defecções próprias de um partido que se consolidou na oposição e como partido de esquerda que, uma vez no poder, não teria condições de governabilidade se não optasse por uma política de alianças mais ampla e maleável.

Muita água rolou debaixo da ponte desde a formação do PT, em 1980. Sofreu rachas que resultaram no PSTU e no PSol; não apenas perdeu setores ligados à Teologia da Libertação, como os que lá permaneceram vivem o ostracismo a eles imposto nos dois últimos papados (de João Paulo II e de Bento XVI); amargou as crises do chamado Mensalão e dos "Aloprados", que resultaram não apenas em desgaste popular, mas em perdas de quadros importantes para a dinâmica interna, sangria iniciada na formação do Ministério petista; foi de alguma forma redimido pelo sucesso dos governos Lula, mas para isso teve que pegar carona na popularidade de um líder carismático que detinha o poder do presidencialismo.

O resultado foi um esvaziamento de quadros dirigentes, uma crise interna que se estendeu no tempo, inclusive pela falta de mediadores com o peso de Lula, e uma perda de peso relativo em relação aos demais partidos da base aliada, embora permaneça com uma grande bancada no Congresso.

Essa conjunção de desgraças poderia ter reduzido o partido a pó, à semelhança do que acontece com o desidratado DEM, ex-PFL. Não foi o que aconteceu. Primeiro, porque continua partido do governo - e num sistema presidencialista, isto não é pouco, nem para o PT (embora, por justiça, é preciso lembrar que o partido, desde a sua criação, teve um crescimento eleitoral contínuo, mesmo na oposição, e apenas sofreu uma queda eleitoral em 2006, quando era governo e apesar da reeleição de Lula). Em segundo lugar, porque a sangria de quadros não alterou a realidade de que o partido ainda é o único que dispõe de quadros, não apenas os nascidos de sua organização mas também os originários da esquerda pré-redemocratização.

A vantagem disso é que, mesmo com a proliferação de grupos articulados em torno de líderes paroquiais (isso também existe no PT), prevalece, inclusive numericamente, a ideia de que a organicidade partidária é a grande vantagem de que desfruta em relação aos partidos da base aliada, nas contendas com o governo.

As dificuldades que o governo Lula e o PT enfrentaram a partir de 2005 também colocaram como questão eleitoral para o partido a atração dos movimentos sociais, afastados nos primeiros anos de governo petista, e a inclusão dos setores que ascenderam à sociedade de consumo nesse período graças às políticas de inclusão do governo petista.

Se o partido não capitalizar esses setores agora, não conseguirá dividir esse legado com Lula. Ou o perderá para o PSDB, que investe na "nova classe média" partindo do conceito clássico de que esse setor social tem grande tendência ao conservadorismo. O PSDB quer conquistar os setores que emergiram no governo petista pela direita; o PT tenta fidelizá-lo com um discurso mais progressista, para não perder o apoio das classes mais baixas que, se não chegaram às classes médias, ascenderam à sociedade de consumo nos governos petistas.

A defecção de grupos de esquerda e a divisão das responsabilidades de governo com tendências que se desentendiam internamente permitiram o milagre da unidade, num momento de crise em que se apostaria na fatalidade da desunião. A saída de Lula do governo e uma aposta na incapacidade da presidenta Dilma Rousseff nas questões de natureza política reiteravam essa previsão. Não foi tão ruim assim. E, pensando bem, pode ser uma grande chance para o PT encontrar o equilíbrio entre os interesses do partido e as exigências do governo.

O documento do PT, aprovado no encontro, é uma tentativa de resgatar a organicidade política do partido que, depois de oito anos de governo Lula (mais oito meses de Dilma) acabou se conformando como uma mera unidade pró-governo. É uma tentativa de ter suas próprias bandeiras, no suposto de que o partido deve assumir o papel de abrir espaço, na sociedade, para medidas de caráter mais progressista. Entenda-se a manifestação política do Congresso do PT como uma tentativa de sair da arena da luta meramente institucional com os partidos aliados e ganhar a opinião pública para suas bandeiras. Por enquanto, o único mérito é tentar retomar o seu papel de intelectual orgânico. Será um grande mérito, contudo, se conseguir levar essa missão a bom termo.

texto de Maria Inês Nassif - Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

Fonte; blog do luis nassif - carta maior