sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Pagar R$ 3 bi no amorzinho? Não dá

A discussão sobre financiamento de campanhas eleitorais ganha importancia especial por suas relações com a corrupção política.

Os argumentos de quem defende a manutenção do atual sistema de financiamento, que assegura a empresas privadas o direito de pagar pelos palanques de milhares de candidatos, o que lhes permite tentar cobrar favores e privilégios mais tarde, parecem pouco consistentes para alimentar uma discussão séria.

A base do argumento é assustar o eleitor com a ideia de que, caso o Congresso venha a aprovar o sistema de financiamento público exclusivo, as eleições serão pagas com o dinheiro de impostos. Fica subentendido que, se as novas regras forem aprovadas, os impostos podem subir.

Ninguém gosta das mordidas do Leão, é claro. Não se fez, ainda, um cálculo preciso sobre as despesas que teriam de ser cobertas.

Mas deve-se reconhecer que mesmo neste caso o financiamento público seria melhor. Seria mais barato e o dinheiro público estaria mais protegido contra ações delinquentes.

Na realidade, o cidadão comum já paga integralmente pelo custo das campanhas eleitorais. Apenas não se admite disso.

Isso porque o custo da generosidade das contribuições privadas é repassada para a população em superfaturamento, tráfico de influencia, serviços desnecessários e verbas desviadas. É um sistema caríssimo e ruim para o país. Mas muito eficiente para duas partes do negócio.

Os políticos, que querem construir máquinas milionárias de arrecadação capazes de acumular poder e muitas vezes separam uma fatia para seu enriquecimento, colhem benefícios imensos.

Empresas e personalidades interessadas em privatizar o poder de Estado também saem ganhando.

O eleitor é sacrificado. Pois os votos deixam de ter peso igual na urna, como determina a boa regra democrática. Alguns valem muito mais, não é mesmo?

Todos nós temos nossas preferencias políticas. Com um pouco de boa vontade, até seríamos capazes de dar um dinheiro para ajudar nossos candidatos a defender nossas idéias. Mas não custa cair na real e verificar o que está em jogo.

As ultimas eleições custaram R$ 3,2 bilhões só na contabilidade oficial. Isso porque, ao contrário do que acontece nos países onde há financiamento publico, cujo total é definido no orçamento, aqui não há limites para gastos nem receitas.

O partido arrecada tudo o que consegue e as empresas gastam aquilo que consideram adequado para seus negócios. É um investimento pesado e terá de ser cobrado, após a vitória. Não há amorzinho ideologico que pague uma conta dessas.

Texto de Paulo Moreira Leite
Fonte: http://colunas.epoca.globo.com