quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Gastadores e farsantes


Existe um ponto falso na discussão economica americana. Os políticos conservadores gostam de se apresentar como cidadãos austeros, que defendem o dinheiro do contribuinte e evitam o desperdício. É uma forma de acusar os adversários de irresponsáveis e populistas, interessados em cortejar o eleitorado com favores do Estado.

O problema é que os supostos campeões da austeridade não conseguem sequer cumprir o ponto número 1 de seu discurso — a promessa de economizar dinheiro público. Na prática, foram eles que deram a principal contribuição para elevação do déficit americano.

O retrospecto mostra isso. Veja o levantamento. Em 1981, quando o republicano Ronald Reagan recebeu o governo do democrata Jimmy Carter, o déficit era de 1 trilhão de dólares. Reagan fez uma campanha de denúncia contra os gastos, atacou as despesas com a Previdencia — pouco depois, o mesmo discurso chegaria ao Brasil — mas no fim de seu governo conseguiu elevar o défict em US$ 1,9 trilhão.

Ou seja: desde 1776 os EUA acumulou um déficit de US$ 1 trilhão. Em oito anos de governo Reagan, subiu em US$ 1,9 trilhão.

Mas não foi só. Em quatro anos de mandato o também republicano George Bush pai elevou o défict em US$ 1,5 trilhão. Em oito anos Bill Clinton elevou em US$ 1,4 trilhão. Em tres anos Barack Obama acumulou US$ 2,4 trilhões.

Na relação de presidentes gastadores, George Bush filho deixou um recorde histórico — e por isso merece uma atenção à parte. Sua contribuição para o déficit americano foi de US$ 6,4 trilhões. Bush filho gastou muitas vezes mais do que seus antecessores. Seu custo final é igual a 400% dos gastos de seu próprio pai. Quem conhece a tumultuada convivência entre ambos até teria o direito de perguntar: tantas despesas seriam expressão trilionária de um imenso complexo de Édipo?

Uma forma simples de examinar esses números é acusar os republicanos americanos do mais conhecido dos pecados políticos — o costume de pregar uma coisa e fazer seu oposto. Este pecado é verdadeiro, obviamente.

Mas há uma lição a ser apreendida com essa hipocrisia. Ela demonstra que a decisão de gastar — ou não — jamais representa uma escolha em si, mas é expressão de determinadas políticas e de determinados interesses. As despesas de toda administração estão sempre subordinadas a suas opções. Não há governo de contadores.

Observação: Qualquer semelhança com o Brasil é mera coincidência, veja os números dos 8 anos de FHC e 8 anos de Lula no tocante ao déficit público, você terá uma boa surpresa, em termos de endividamento FHC "gastou" bem mais que o Lula.