quarta-feira, 29 de junho de 2011

Um breve panorama sobre a questão Líbia


A OTAN dá mais um passo em sua estratégia para derrubar Kadhafi, como noticiado pelos principais jornais no mundo, a França forneceu armamento aos rebeldes que lutam contra o governo Líbio.

Vamos traçar uma breve linha do desenrolar dos fatos que culminaram nesta minha postagem. Primeiro, após a onda de manifestações no que o ocidente intitulou “Revolução Árabe”, ou “Crise no Oriente Médio”, um grupo insurgente líbio iniciou a insurreição nos bastiões da resistência, á saber Benghazi, Derna e Tobruk , já conhecidos de longa data quando há algumas décadas estes grupos financiados pelos EUA e seus aliados ensaiaram um levante sem sucesso contra o governo de Kadhafi. O grupo iniciou uma onda de ataque contra as tropas do governo, sob a bandeira de manifestantes, algo que logo nas primeiras imagens ficou claro se tratar de um golpe contra o governo líbio, que reagiu energicamente na repressão.

Quero deixar aqui um ponto importantíssimo para que possamos ter uma visão real do que se passa na Líbia, a Carta das Nações Unidas defende que o Estado Soberano utilize dos meios que se façam necessários para garantir sua integridade institucional, algo que ficou claro quando “manifestantes” atacaram órgãos representantes do Estado Líbio com fuzis e granadas, armas classificadas como instrumentos de guerra, dando com isso a legalidade para que Kadhafi lança-se suas tropas para conter o movimento rebelde.

Segundo, em momento algum houve qualquer prova de desrespeito aos direitos humanos pelas tropas leais ao governo, uma vez que, ao contrário do divulgado pela grande mídia global, o governo realizou bombardeios contra seus próprios paióis de armamento nas cidades tomadas pelos insurgentes a fim de evitar que tais armas caíssem nas mãos destes criminosos. Posteriormente foram realizados ataques de artilaria contra posições rebeldes nas cidades ocupadas.

Terceiro, Kadhafi após apelo internacional tentou estabelecer cessar fogo, porém o mesmo foi rompido pelos rebeldes, sendo revidados pelo governo Líbio, que por conseguinte foi acusado pela ONU de atacar “civis inocentes”. Daí presenciamos uma forte pressão européia e americana para aprovar sanções contra o governo líbio e autorizar uma ação militar orquestrada pela OTAN, sob a prerrogativa de “ajuda humanitária” e “salvaguarda de civis”. Estabeleceu-se então uma zona de exclusão aérea.

Antes de passar ao próximo ponto, vamos aqui esclarecer o que seria uma zona de exclusão aérea. Esta zona trataria teoricamente de uma área a ser demarcada no mapa, onde qualquer aeronave militar seria proibida de sobrevoar, sob pena de ser abatida em caso de violação desta zona. Tal missão não tem qualquer prerrogativa para ataque a tropas terrestres, uma vez que a zona é de exclusão aérea e não zona desmilitarizada, até pelo fato que, caso se institui-se uma zona desmilitarizada, os rebeldes também deveriam respeitar tal área. Outro fator importante de se salientar é que tal missão em teoria não explicita atacar bases fora da zona de exclusão ou
prédios do governo.

Quarto, foi posteriormente divulgado que semanas antes do início das hostilidades na Líbia, representantes do grupo rebelde e um de seus líderes que residia há mais de 20 anos nos EUA, se reuniram secretamente em Paris com membros da inteligência daquele país.Demonstrando assim claramente se tratar de uma ação orquestrada pelos interesses ocidentais.

Quinto, após um longo período de bombardeios ás tropas leais ao governo de Kadhafi, ficou claro ao estrategistas da OTAN que os rebeldes não possuem capacidade de vencer as tropas legais apenas com o apoio aéreo, a OTAN passou a atacar zonas civis de Trípole a fim de neutralizar o governo, bombardeando onde possivelmente estaria Kadhafi, com isso vitimando em um desses ataques criminosos, filhos e netos do governante Líbio. Ainda observamos um aumento exponencial de vítimas desta guerra após a entrada da OTAN, que supostamente entrou para salvar vidas, tem matado mais do que protegido com suas bombas e munições “sujas”, conforme denunciamos aqui constantemente.

A penúltima medida foi condenar Kadhafi no TPI, para assim dar legalidade ao assassinato do mesmo em uma provável ação da OTAN, que como bem sabemos é expert em despejar bombas a esmo, como no Iraque, Afeganistão e outros exemplos do passado recente.

Hoje vemos a França fornecer armas e mísseis a estes rebeldes como forma de tentar finalmente derrubar o governo Líbio representado por Kadhafi, que embora seja ignorado pela comunidade internacional, possui apoio da grande maioria da população líbia, tendo mesmo levado o país á uma extraordinária posição nos índices de desenvolvimento humano e social nas últimas décadas.

Agora eu convido o amigo leitor a tirar suas próprias conclusões, para isso peço porém que leia o histórico de todas as notícias que postamos aqui, traçando assim um panorama real do que se passa naquela nação.

texto de Angelo D. Nicolaci Fonte:GeoPolitica Brasil

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Antecedentes da catástrofe grega


A Grécia não é apenas um bloco monolítico de oprimidos, acossados pelo poder financeiro mundial. A opressão financeira ganhou vertiginosa transparência nos dias que correm. Mas por trás das multidões desesperadas que afluem às ruas e cercam o parlamento tentando retomar o controle sobre o seu destino, a incapacidade que está no cerne da tragédia grega clássica, existe uma história de conflitos sociais devastadores.

Ela, história, explica, em parte, como foi que se chegou ao atual desfecho expresso em uma dívida externa de 30 mil euros per capita, democraticamente atribuída a cada um dos 11,9 milhões de habitantes do país.

Sob a sanguinária ditadura dos coronéis, que dominou a Grécia de 1967 a 1974, a elite local viveu um período de fastígio e evasão fiscal ímpar no planeta. Grosseiramente pode-se dizer que o endividamento externo que hoje passa de 115% do PIB serviu de biombo à complacente justiça fiscal dos quartéis.

Pesquisas indicam que sob o tacão dos coronéis menos de 100 mil abnegados pagavam imposto de renda na Grécia. Um Olimpo de transgressores. Conta-se que uma tentativa de afrontar a evasão com o rastreamento aéreo das piscinas encravadas nas mansões da plutocracia local foi driblada por uma corrida às capas de grama sintética, que confundiam as imagens dos satélites.

Ao restaurar a democracia, a esquerda não teve a coragem de retirar as capas que recobriam privilégios e caixas milionários de investidores, empresas e bancos.

O endividamento externo persistiu como a solução de compromisso na busca da linha de menor resistência. Com o ingresso na UE, os controles ficaram mais rígidos. Como se sabe, pelo Tratado de Maastricht, um país membro não pode ter déficit fiscal superior a 3%.

A saída encontrada pelos governantes para contornar a linha fiscal estreita foi pagar polpudas consultorias a grandes bancos norte-americanos e financeiras, como a indefectível Goldman Sachs, hábeis em montar operações de engenharia contábil para manter a irrigação do caixa público sem afrontar Maastricht, nem penalizar a elite local.

As capas de grama sintética cederam lugar então a um longo manto tecido pela criatividade deliquente da grande finança. Um dos artifícios chancelados pelo selo da Goldman Sachs foi penhorar receitas futuras do Estado grego, em troca de antecipações de recursos, naturalmente subtraídas taxas e descontos polpudos para a remuneração do intercurso entre consultores e bancos credores.

O saque ao futuro incluiu, por exemplo, anos e anos de taxas de embarque e desembarque em aeroportos, penhorados pelo Estado grego. Como o dinheiro antecipado foi gasto em outras áreas, é de se supor que o futuro do tráfego aéreo no país, desprovido de fundos para novos investimentos, terá sérios problemas pela frente. A irresponsabilidade ganha cores berrantes quando se sabe que o turismo representa mais de 14% do PIB grego.

O fato é que durante anos, o Estado se endividou sem registrar o rombo como déficit público, graças aos meninos espertos da Goldman Sachas. Quando estourou a crise mundial, a retração dos investidores pôs em xeque a ciranda grega e o déficit verdadeiro explodiu.

Muito superior ao limite previsto pela UE, imaginou-se inicialmente que ele seria de 10,5%, tendo sido revisto agora para algo em torno de 12%, mas alguns acham que pode ir além. É nessa quadratura do círculo que os pacotes ortodoxos negociados pelo governo socialista de Papandreu pretendem transferir à população, na forma de cortes de serviços, salários, privatizações e, ah, sim, impostos, a tarefa de sanear décadas de ladroagem fiscal e covardia política.

Assim fica mais fácil entender a fúria da multidão que cercou o Parlamento grego no centro de Atenas, na última terça-feira, 21 de junho, quando 155 deputados eleitos pelo povo deram seu voto de confiança à forma como o ministro Papandreu busca resolver esse passivo histórico.

Fonte: Carta Maior

sábado, 25 de junho de 2011

A crise da "sociedade de mercado"


I
A particularidade da “sociedade de mercado” que se difundiu com extrema rapidez do século XIX em diante, dos centros às periferias, recebe um novo embate, variado, inconcluso, popular, desde regiões muito distintas.

Há algo da “promessa” do ideário liberal que, como ocorreu na Segunda Guerra Mundial, parece estar desvanecendo-se no ar: suas instituições fundamentais atravessam uma fase de muito desprestígio, o que antecipa um próximo período de rearranjos organizacionais, culturais e ideológicos de diversas magnitudes, sem que possa especular-se ainda sobre seus tempos de desenvolvimento nem sobre suas direções.

Mas pela cadeia de respostas e “indignações” que se manifestam diariamente neste novo ciclo de crise capitalista pode afirmar-se, retomando K. Polanyi, que uma (nova) Grande Transformação está ocorrendo de maneira cada vez mais explícita: a pretensão da autorregulação pressuposta em uma “sociedade de mercado” perdeu novamente sua força retórica moralizante e estruturadora dos comportamentos.

O que está se reclamando de diferentes formas é, no fundo, que a sociedade não fique como refém exclusivo do mercado, ou seja, que exista alguma forma de “intervenção social” sobre o mesmo, de regulação, com a variedade de opções e contradições que supõe um pedido desta natureza; em resumo, a sociedade antes que o mercado, e não o contrário.

II
O fim da primeira versão do padrão ouro internacional constituiu um momento chave na história do capitalismo, distinguindo duas épocas: representou um freio ao liberalismo (econômico) como modelo civilizatório, com sua variada edificação conceitual de ideologias conexas e instituições, dando lugar a uma transformação radical nas ideias sobre os destinos coletivos, inclusive deixando espaço de atuação para aquelas opções que terminaram por constituir um dos capítulos mais dolorosos da história do homem em sociedade.

No entanto, por processos históricos superpostos e derivados daquelas mudanças, após as modificações nos padrões de transação monetária dos anos 70 e a internacionalização das forças produtivas, acoplados à gravitação crescente dos circuitos de valorização financeira, um (novo) liberalismo conseguiu se reposicionar como modelo de sociedade, em paralelo com a hegemonia estadunidense.

Agora, esse mesmo (neo)liberalismo que foi se desenvolvendo desde então como discurso e prática econômica se desenhou ideologicamente sobre uma similar pretensão de “sociedade de mercado” autorregulada, com o acréscimo de que, pelas complexidades das circunstâncias, essa mesma pretensão devia ser equalizada por meio de alguns organismos supranacionais chave – FMI, Banco Mundial, Banco Central Europeu, entre outros – que dariam curso e projeção ao próprio “equilíbrio natural”.

Como aquele, agora é este neoliberalismo que está sob suspeita, sobretudo a partir da crise do capital financeiro (2008) que colocou a maioria dos países centrais diante da impossibilidade de, por um lado, reestabelecer uma dinâmica de acumulação que reverta a situação de default generalizado e, por outro controlar as derivas da própria especulação financeira que, longe de ter se moderado, espalha-se para múltiplos segmentos – como as commodities alimentares, questão que pode tornar o panorama global ainda menos auspicioso.

III
O que hoje se ativa em distintas partes do mundo é, como nos anos 30 do século XX, uma crítica profunda ao liberalismo, agora neoliberalismo. Evidentemente não se expressa de uma forma orgânica nem homogênea, o que debilita em certa medida a ressonância de questionamentos comuns feitos em diferentes tempos, espaços e idiomas.

Mas no centro das críticas populares, massivas, desordenadas, estão quase os mesmos elementos de antanho, com suas novas roupagens: em grandes traços e segundo as idiossincrasias de cada território, os protestos se dirigem contra as limitações das fórmulas representativas do Estado – ao fim das contas, a garantia de que as engrenagens sociais mantenham os privilégios – e as incapacidades derivadas para exercer a administração, e também contra a vacuidade na qual caiu a ficção liberal do consumo e do progresso individual, que espatifou contra a materialidade das realidades.

Uma crise econômica e substantivamente ideológica, de sentido, que não anula o sistema de um instante para outro, muito pelo contrário, mas que afeta a legitimidade e a autoridade de suas instituições no médio e longo prazo, questão não menor no que diz respeito à reprodução de uma determinada ordem social.

Se agora, esta ficção da “sociedade de mercado” autorregulada se fratura na Grécia e na Espanha, esse movimento é resultado de um processo que vem de vários anos e de outros países. Talvez suas primeiras manifestações tenham surgido nas periferias; neste sentido, o ciclo de protestos sociais latino-americanos que deu lugar a certos governos progressistas deve somar-se a essa lista.

Não é causalidade, então, que seja no Chile – na contramão destes governos e dos processos que os forjaram – onde também se replica o atual descontentamento, a partir de um rígido esquema universitário exclusivamente orientado à figura de um consumidor privilegiado.

IV
Como socialização política, o liberalismo/neoliberalismo volta a colapsar; como modelo organizador da sociedade volta a evidenciar sua incapacidade de modo contundente. Nisso consiste, a atual crise do capitalismo: a sucessão de “indignados” não faz mais do que exibir o fracasso de sua proposta civilizatória, a inconsistência de seus princípios, a contradição de suas instituições.

A pretensão autorregulatória neoliberal se desmancha dia após dia, do mesmo modo que suas “promessas”. Resulta fundamental que as demandas de intervenção e regulação desta crise não se resolvam autoritariamente como no século passado, uma tendência latente se se leva em conta os triunfos das direitas políticas em boa parte dos países europeus.

Neste sentido, certas medidas políticas definidas por alguns governos latino-americanos parecem estar à altura das circunstâncias, o que é inclusive, admitido por acadêmicos estadunidenses e europeus. Não é pouco, levando em conta o tradicional lugar que foi outorgado à região.

Por Amílcar Salas Oroño - Professor do Instituto de Estudos da América Latina e Caribe, da Universidade de Buenos Aires.

Fonte: Carta Maior

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Porto Rico, uma colônia dos EUA; gringos queriam o mesmo para Cuba


O Comitê de Descolonização das Nações Unidas (ONU) retomou, nessa segunda-feira (20), o debate sobre a situação de Porto Rico. O Comitê debate anualmente a questão, há pelo menos três décadas, sem que se resolva o pleito dos que querem o fim da centenária relação de dependência dessa ilha com os Estados Unidos (EUA). Diante desse quadro, a Frente Socialista de Porto Rico denuncia a inação do Comitê e o acusa de cumplicidade com os EUA.

A Frente pede que a questão seja discutida no âmbito do Pleno da Assembleia Geral das Nações Unidas. “Seguir postergando essa discussão e intervenção internacional é converter-se em cúmplice de um sistema que continua em seu plano de aniquilar uma nacionalidade com o intuito de manter um enclave econômico-militar no Caribe”, afirma o Comunicado de Imprensa da Frente Socialista.

Este ano, o debate no Comitê está sendo realizado aproximadamente uma semana depois da visita de Barack Obama, presidente dos EUA, a Porto Rico. Durante a visita, o tema veio à tona pelos protestos de movimentos sociais. Eles reivindicaram independência e liberdade para presos políticos que lutam pela descolonização da ilha.

A visita foi a primeira de Obama, após 50 anos da ida de John F. Kennedy. Barack Obama, que estaria fazendo campanha para sua reeleição em 2012, prometeu realizar plebiscito sobre o tema. Os movimentos rechaçam e duvidam de tal postura, já que sequer podem manifestar livremente suas opiniões atualmente, diante da repressão aos independentistas. Oscar López Rivera, por exemplo, é o preso político mais antigo do hemisfério, detido há quase três décadas.

Nesse sentido, o comunicado da Frente Socialista de Porto Rico denunciou também “a criação de um grupo especial do FBI [Departamento Federal de Investigações] para perseguir e deter os lutadores políticos, classificando-os em uma nova categoria de terroristas domésticos, a qual permite às agências repressivas federais dos Estados Unidos violarem nossos direitos e utilizar todos os recursos para perseguir os independentistas”.

O Comitê discute um projeto de resolução, apresentado por Bolívia, Equador, Nicarágua e Venezuela. O projeto enfatiza a urgência de que o governo estadunidense assuma sua responsabilidade de propiciar um processo que permita aos porto-riquenhos exercer seu direito inalienável à autodeterminação. Tal ação de solidariedade desses países é recebida com apreço pelos membros da Frente.

“O projeto de resolução afirma que Porto Rico é e seguirá sendo, por sua cultura, história e tradições e, especialmente, pela inquebrantável vontade de seu povo, uma nação latino-americana e caribenha, com uma identidade nacional própria, que os porto-riquenhos souberam manter mesmo com o processo colonizador ao qual estão submetidos”, afirmou o diplomata cubano, Pedro Núñez Mosquera, com representação no Comitê.

Breve histórico
Porto Rico esteve sob colonização espanhola por cerca de 400 anos. Em 1898, o exército estadunidense invadiu a ilha durante a chamada Guerra Hispano-cubano-americana e o território passou a ser colônia norte-americana. Desde então, os porto-riquenhos têm nacionalidade norte-americana. Desde 1952, Porto Rico está sob o status de Estado Livre Associado. Até hoje, parte de sua população a luta pela total desvinculação com os Estados Unidos, mesmo sofrendo intimidações e repressões.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O que conta mais: formação ou informação?


Pessoas nascidas até a penúltima década do século passado, atribuíam ao “canudo” condição sine qua non para a conquista de bons empregos e ganhos.

Se você tem mais de 30 anos, provavelmente, tenha sido muito cobrado, pela família, a conquistar formação universitária e aprovação em concurso público para melhorar de vida. Pessoas nascidas até a penúltima década do século passado, atribuíam ao "canudo" condição sine qua non para a conquista de bons empregos e ganhos.

Naquela época, os dois momentos mais importantes na vida da família eram formar e casar os filhos. Não raro, quando um descendente conseguia o tão sonhado diploma, os pais se orgulhavam em contar a novidade aos amigos, e os almoços e jantares com familiares era de praxe para comemorar a conquista.

Os tempos mudaram e, atualmente, ter uma boa formação superior conta, mas sozinha ela já não garante o sucesso profissional de mais ninguém. O foco mudou da formação para informação. Antes, ao pegar o diploma dizia-se, "ralei, mas agora estou formado". A idéia era que com a graduação concluída, a pessoa não precisaria mais se preocupar com os estudos.

O conceito agora é outro, a pessoa que busca uma boa colocação no mercado precisa, também, de muitas e boas informações. Uma boa formação pode até abrir algumas portas no mercado de trabalho, mas é preciso também ter cultura geral admirável para que o candidato conquiste as melhores posições. Fique atento, pois como já dissemos, possuir muita informação não basta, é preciso ter boas informações e usá-las de forma direcionada e inteligente.

Do que adianta saber, por exemplo, que a árvore mais antiga do planeta é uma conífera que vive na Suécia e tem 9.550 anos de idade; que a biblioteca do Congresso americano tem 650 quilômetros de prateleiras e livros em 470 idiomas; que alguns mosquitos batem as azas 600 vezes por segundo ou que a China tem o computador mais veloz e poderoso do planeta. Ter boas informações e não usá-las corretamente, é como ter boas sementes e não ter terra para semeá-las.

É preciso lembrar que a informação de qualidade pode salvar vidas e o real valor dela, depende do que fazemos com ela. Vale ainda enfatizar que a informação não é um conjunto de fatos e sim conhecimento, e para que tenha valor é preciso ser verdadeira, completa e usada com habilidade. Veja, o exemplo, da experiente professora de piano que vira para o aluno e diz: "eu ouço todas as notas, mas eu não ouço nenhuma música". Logo, decorar o almanaque mundial poderá não lhe ser muito útil.

Vamos ser claros, a informação não é apenas aprendizagem, não é poesia, arte, fé ou sabedoria, ela é conhecimento constantemente lapidado. Portanto, não poderá ser encontrada em cópias na impressora, não surge com o estalar dos dedos. Ela pode e deve ser adquirida em bons livros, revistas, jornais, internet e na sala de aula com professores competentes.

O caminho para o sucesso é pavimentado com formação e informação de qualidade, além disso, não devemos esquecer de que a aprendizagem não é obra do acaso, ela precisa ser conquistada com ardor.

Texto de Evaldo Costa - Diretor do Instituto das Concessionárias do Brasil Escritor, consultor, conferencista e professor.

Fonte: http://www.administradores.com.br/

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Marcha dos Indignados toma a Espanha e ameaça se alastrar pela Europa


A Espanha, em convulsão por causa da política de arrocho fiscal promovida pelo governo, em meio à mais séria crise do capitalismo na Europa, vivencia uma nova Marcha dos Indignados já a partir desta segunda-feira.

Os manifestantes sairam nesta manhã (20 de junho) de Valência para percorrer 500 km em 34 dias e finalizar em 23 de julho em Madri, anunciou o movimento no dia seguinte às manifestações que reuniram pelo menos 200 mil pessoas em toda a Espanha.

A marcha de 34 dias é o início de outras mobilizações dos chamados “indignados”. Está previsto que mais grupos partam de outras cidades, como Barcelona, em 25 de junho, e Cádiz, dia 23, para seguir para Madri, onde será realizada um novo megaprotesto em 24 de julho. O grupo que partiu de Valência (leste) tem a intenção de passar por 29 cidades e povoados. Milhares de manifestantes protestaram no domingo nas ruas de Madri e em quase uma centena de cidades espanholas, na primeira grande manifestação do Movimento 15-M desde seu surgimento há um mês.

A praça Netuno, no centro da capital espanhola, perto da Câmara de Deputados, foi o ponto de encontro de seis marchas multitudinárias que partiram de vários pontos da cidade até reunir entre 35.000 e 40.000 pessoas, segundo a polícia, enquanto em Barcelona até 50.000 manifestantes caminharam no centro da cidade, segundo números da polícia regional catalã.

As seis “colunas” se encontraram na praça Netuno, reunindo pessoas de todas as idades, de crianças em carrinhos de bebê a idosos, em frente a barreiras colocadas por um cordão de policiais para impedir que os manifestantes pudessem chegar até as portas da Câmara.

O pacto de estabilidade da zona do euro e o rigor orçamentário que ela impõe, os políticos acusados de corrupção e de ignorar os cidadãos, e o desemprego que afeta 21,29% da população e cerca da metade dos menores de 25 anos foram os grandes motes do protesto.

O movimento 15-M, que acabou ficando conhecido como o dos “indignados”, nascido espontaneamente no dia 15 de maio e que tem reunido milhões de jovens espanhóis exasperados pelas consequências da crise econômica, organizou várias mobilizações no último mês, especialmente acampamentos de protesto em várias cidades.

Domingo 19 de junho dia marcado por protestos
Milhares de manifestantes tomaram as ruas de Madri e de outras cidades espanholas, neste domingo, em uma série de manifestações contra o desemprego e as medidas de austeridade pretendidas pelo governo da Espanha e de outros países europeus.

As manifestações, convocadas por jovens ativistas que se autointitulam “os indignados”, vêm crescendo desde um protesto há três semanas, durante o qual acamparam no centro da capital espanhola.

Os “indignados” prometeram manter a pressão sobre o governo, usando o slogan A Europa para seus cidadãos. Eles também rejeitam a proposta conhecida como Europacto, que pretende aumentar a competitividade entre os países da União Europeia (UE). Críticos do Europacto veem a iniciativa como um sinal de cortes de gastos públicos ainda mais severos.

Outro slogan usado pelos manifestantes de Madri é “Não à violência”, depois que um protesto realizado na semana passada em Barcelona terminou em confrontos com a polícia. Os “indignados” se concentraram na Praça Netuno, no centro de Madri, próxima ao prédio do Parlamento. Dezenas de outros protestos foram marcados para esta segunda-feira, em outras cidades espanholas, como Sevilha e Valência.

O desemprego entre a população jovem espanhola chega a 43%. A crise econômica no país deixou mais de 1 milhão de famílias em que todos os integrantes estão desempregados.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Entenda a crise na Grécia e suas implicações

A crise financeira da Grécia pode ter profundas implicações para outros países europeus e para a economia mundial.

Num momento de protestos em Atenas contra as medidas de austeridade impostas pelo governo, o premiê George Papandreou tenta se manter no cargo, após anunciar mudanças no seu gabinete.

O premiê tenta também aprovar novas medidas de contenção de gastos necessárias para que a União Europeia e o FMI continuem efetuando os pagamentos do pacote de resgate que prometeram à Grécia.

A próxima parcela de 12 bilhões de euros (cerca de R$ 27 bilhões) do pacote quase certamente será paga, o que deve sustentar o governo grego por mais algumas semanas.

É provável que um segundo pacote seja discutido por ministros das Finanças do bloco europeu neste domingo, mas ainda não está claro quais serão os termos do novo acordo.

Por que a Grécia já precisa de um segundo pacote de resgate?
O pacote original foi aprovado há pouco mais de um ano, em maio de 2010. A razão para o resgate é que o país estava tendo dificuldades em obter dinheiro emprestado no mercado para quitar suas dívidas. Por isso recorreu à União Europeia e ao FMI.

A ideia era dar à Grécia tempo para sanear sua economia, o que reduziria os custos para que o país obtivesse dinheiro no mercado.

Mas isso não ocorreu até agora. Pelo contrário: a agência de classificação de risco S&P recentemente deu à Grécia a pior nota de risco do mundo (dentre os países monitorados pela agência).

Assim, o país continua tendo diversas dívidas a serem quitadas, mas não é capaz de obter dinheiro comercialmente para refinanciá-las.

Por que a Grécia está nessa situação?
A Grécia gastou bem mais do que podia na última década, pedindo empréstimos pesados e deixando sua economia refém da crescente dívida.

Nesse período, os gastos públicos foram às alturas, e os salários do funcionalismo praticamente dobraram.

Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era afetada pela evasão de impostos - deixando o país totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de crédito de 2008.

O montante da dívida deixou investidores relutantes em emprestar mais dinheiro ao país. Hoje, eles exigem juros bem mais altos para novos empréstimos que refinanciem sua dívida.

O que a Grécia está fazendo para reverter a crise?
A Grécia apresentou planos para cortar seu deficit de maneira escalonada. Para alcançar isso, o Parlamento grego aprovou em maio um pacote de medidas de austeridade para economizar 4,8 bilhões de euros.

O governo quer congelar os salários do setor público e aumentar os impostos e ainda anunciou o aumento do preço da gasolina.

Pretende também aumentar a idade para a aposentadoria, em uma tentativa de economizar dinheiro no sistema de pensões, já sobrecarregado.

A população reagiu com protestos, alguns deles violentos.

Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por forças externas, como especuladores internacionais e banqueiros da Europa central.

Os dois maiores sindicatos do país classificaram as medidas de austeridade como "antipopulares" e "bárbaras".

Por que a Grécia não declara moratória de suas dívidas?
Se o país não fosse membro da zona do euro, talvez fosse tentador declarar a moratória, o que significaria deixar de pagar os juros das dívidas ou pressionar os credores a aceitar pagamentos menores e perdoar parte da dívida.

No caso da Grécia, isso traria enormes dificuldades. As taxas de juros pagas pelos governos da zona do euro têm sido mantidas baixas ante a presunção de que a UE e o Banco Central Europeu proveriam assistência a países da região, justamente para evitar calotes.

Uma moratória grega, além de estimular países como Irlanda e Portugal a fazerem o mesmo, significaria um aumento de custos para empréstimos tomados pelos países menores da UE, sendo que alguns deles já sofrem para manter seus pagamentos em dia.

Se Irlanda e Portugal seguissem o caminho do calote, os bancos que lhes emprestaram dinheiro seriam afetados, o que elevaria a demanda por fundos do Banco Central Europeu.

Por isso, enquanto a Europa conseguir bancar a ajuda aos países com problemas e evitar seu calote, é provável que continue fazendo isso.

Então por que os países europeus não concordam logo com um novo pacote de resgate?

O problema é que o governo alemão quer que os bancos compartilhem as agruras de um segundo resgate.

Isso significaria que, em vez de a Grécia tomar dinheiro emprestado da UE para pagar dívidas de vencimento imediato, os bancos teriam de concordar em renegociar essas dívidas, provavelmente em termos mais favoráveis aos gregos.

O governo francês e o Banco Central Europeu advertiram que tal reestruturação da dívida seria considerada por muitos como uma moratória, o que, por sua vez, continuaria dificultando que a Grécia voltasse a tomar empréstimos comercialmente.

Mas governos europeus talvez estejam sendo influenciados pela quantidade de dinheiro que seus próprios bancos já emprestaram aos gregos.

A agência de classificação de risco Moody's já declarou que pode rebaixar a nota dos três maiores bancos da França por causa de sua vulnerabilidade à dívida grega.

A crise na Grécia pode se espalhar?
Se a Grécia promover um calote, os problemas podem se espalhar para a Irlanda e Portugal.

Mesmo sem uma moratória, ainda pode haver dificuldades, já que os pacotes de resgate oferecidos a esses dois países foram estruturados para ajudar Lisboa e Dublin até que seus governos fossem novamente capazes de obter dinheiro no mercado - como no caso de Atenas.

Um calote grego pode fazer com que investidores questionem se a Irlanda e Portugal não seguirão o mesmo caminho.

O problema real diz respeito ao que acontecerá com a Espanha, que só tem conseguido obter dinheiro no mercado a custos crescentes.

A economia espanhola equivale à soma das economias grega, irlandesa e portuguesa. Seria muito mais difícil para a UE estruturar, caso seja necessário, um pacote de resgate para um país dessa dimensão.

Fonte: BBC Brasil

domingo, 19 de junho de 2011

Teste de conhecimento diplomático

Responda rápido: considerando o período democrático, quem foi o primeiro presidente brasileiro que condecorou e bajulou um ditador violento, condenado por perseguir, torturar e executar adversários políticos, alvo de repúdio internacional por corrupção e desrespeito a democracia?

Você errou se cravou o nome de Luiz Inácio Lula da Silva depois de pensar no primeiro-ministro do Irã Mahmoud Amadinejad.

Em 1999 o presidente Fernando Henrique Cardoso entregou a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração brasileira, ao ditador do Peru, Alberto Fujimori,

um dos queridinhos do autoritarismo conservador da América Latina.

Uma pequena pequena reportagem do UOL, com data de 22 de julho de 1999, decreve: naquele dia FHC tomou o avião e foi até Lima entregar a condecoração brasileira. Reuniu-se com empresários, fez uma pequena palestra e no fim do dia tomou o avião de volta.

Cumprindo seu terceiro mandato consecutivo, o presidente peruano era considerado um risco para a democracia na América Latina. Falava-se mesmo em “fujimorização” para descrever a formação de ditaduras que nascem por dentro, pela traição aos principios de uma democracia.

Depois de eleito pelo voto popular, Fujimori fechou o Congresso, perseguiu a oposição e manipulou a Justiça. Criou um serviço secreto que identificava e assassinava adversários. Montou um esquema de corrupção dirigido pelo chefe do serviço secreto, que comprava o silencio da grande mídia com o pagamento de propinas — e filmava a cena de pagamento aos empresários para que fossem chantageados no futuro. A tortura era rotina no país.

Rejeitado pela comunidade internacional, Fujimori tornou-se uma espécie de marginal diplomático, repudiado até pelo governo americano, com o qual manteve, inicialmente, uma profunda identificação ideológica e geopolítica.

Apenas um ano depois de condecorado pelo governo brasileiro, Fujimori acabou afastado do poder numa operação apoiada pelo governo americano. Conseguiu fugir do país mas voltouao Peru e hoje cumpre pena de vinte anos de prisão.

Do ponto de vista dos direitos humanos e da democracia, o apoio de Brasilia só pode ser classificado como um vexame, que enfraquecia os esforços da oposição peruana para denunciar o regime e forçar seu isolamento internacional. Adversário de Fujimori, o escritor Mario Vargas Llosa liderara uma campanha de denuncia permanente contra a violencia do governo.

Estive em Lima, naquela época. Fiz uma entrevista exclusiva com Fujimori em seu gabinete. Andei pela rua, conversei com empresários que adoravam seu governo, entrevistei adversários politicos e lideranças civis perseguidas. Fujimori possuia uma base popular real, que agradecia seu esforço para controlar a economia e impor a ordem num país atingido pela violencia terrorista do grupo Sendero Luminoso.

Nem por isso deixava de ser um ditador — com vários traços semelhantes a Mahmoud Amadinejad. Naquele período, um presidente eleito da Guatemala fechou o Congresso e tentou governar com apoio do Exército e medidas de força. Acabou sendo forçado a renunciar em menos de uma semana. Mesmo assim, entrou para a História das tristes democracias latino-americanas como o primeiro seguidor do fujimorismo.

A liberação de nossos arquivos diplomáticos talvez possa nos ajudar a entender, um dia, o motivo para o apoio brasileiro ao ditador vizinho — da mesma forma que também poderá explicar o apoio sem condições ao governo iraniano.

Mesmo assim, permanece uma outra pergunta: entender por que a entrega de uma medalha ao ditador vizinho jamais levou FHC a receber críticas tão duras como aquelas que alvejaram Luiz Inácio Lula da Silva em função de seu apoio a Ahmadinejad.

Seria o preconceito contra Lula? Seria uma campanha disfarçada para usar a diplomacia para para ajudar a oposição? Seria ignorancia? Esquecimento?

sábado, 18 de junho de 2011

Geração T: indivíduos que sabem de tudo, mas não avaliam nada


Entre os indivíduos que fazem parte das famosas gerações X e Y, foi identificado um comportamento que classifica uma parcela deles em uma nova modalidade, a Geração T.

Apesar de não limitar a uma faixa de idade, a geração T é formada principalmente por jovens que sabem de absolutamente tudo que está acontecendo no mundo, mas não são capazes de analisar, comparar ou emitir qualquer opinião a respeito de nenhum assunto.

O “Tê” vem justamente da palavra testemunha, já que tais indivíduos não passam de meros espectadores dos fatos. De acordo com o profissional de comunicação e ex-executivo de marketing Luciano Pires, esse grupo “sabe de tudo, mas não sabe o porquê das coisas”.

Comportamento
Entre suas principais características, é possível dizer que o que eles mais sabem fazer é contar para os outros o que viram. Segundo Pires, observa-se que esse público, ao participar de eventos ou ao ter contato com as informações, é capaz apenas de reproduzir o que lê ou ouve, sem formar opinião sobre nada

Pires tenta explicar esse comportamento recorrendo à tecnologia. Segundo ele, as facilidades que a tecnologia proporciona, como o rápido acesso às informações e a simplicidade em se conectar com as pessoas, faz com que os jovens se esqueçam do conteúdo, se entregando "de corpo e alma" ao processo.

“É como um estudante de propaganda que, fascinado pelo design do anúncio, acaba deixando de lado os atributos de venda do produto. Ou um diretor de cinema que, da mesma forma, fascinado pelos efeitos especiais, deixa de lado a riqueza do roteiro e das ideias”, explica ele. Essa lógica nada mais é do que o tradicional conflito entre forma e conteúdo.

Geração T no trabalho
Mas, se foi identificada uma geração que está mais interessada em reproduzir e se conectar do que avaliar e criticar, seria interessante também entender como esse comportamento pode afetar a construção de suas carreiras.

Os jovens da geração T, no ambiente de trabalho, são aqueles que fazem o que são mandados fazer, que vão para onde são mandados ir e que o máximo que conseguem é criticar, seja o chefe, a empresa ou a vida.

No seu comportamento não se observa um espírito crítico, capaz de melhorar os processos. É exatamente neste ponto que sua carreira não vai para frente, já que as empresas estão em busca justamente de profissionais que tenham capacidade de julgamento e que saibam tomar decisões. “A geração T julga e decide pela cabeça dos outros”, salienta Pires.

É importante ressaltar que o principal problema dessa geração não está relacionado com sua eficiência operacional, mas sim com sua atitude, uma atitude tão superficial frente ao que acontece no mundo que atrofia sua capacidade de julgar, criticar e analisar.

Fonte: Infomoney e admnistradores

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O novo ensino médio


Foi pensando nas grandes mudanças tecnológicas e na velocidade com que a informação se propaga nos dias de hoje é que o Conselho Nacional de Educação (Conae) promoveu debates que culminam agora nas mudanças das diretrizes nacionais para o Ensino Médio brasileiro. Dois pontos se destacam entre as mudanças.

Primeiro, o incentivo à pesquisa por parte dos estudantes, que passam a precisar mais dos professores para ajudá-los a procurar o conhecimento em vez de simplesmente ouvir o conteúdo deles.

Segundo, a maior autonomia das escolas ao formatar a grade curricular, tanto na forma do conteúdo quanto no tempo de formação do Ensino Médio – por exemplo, os estudantes noturnos podem se formar em quatro anos em vez de três.

Fonte: Carta Capital e Conae

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O poder dos donos


A demissão do ministro Palocci desvela os prodígios do transformismo dos donos do poder. Entre mortos, afogados e defenestrados, sobrevive impávida a estrutura do poder real, aquele contubérnio entre o dinheiro, a mídia e a política, cujas entranhas, costuradas no golpe de 1964, foram rasgadas no documentário Cidadão Boilensen.

Os poderes dos donos mandam e desmandam, reforçados agora pela presença dos yuppies cosmopolitas da finança globalizada. A grande inovação dos modos contemporâneos, além da internet, do celular e do iPad, é soft power.

Nos subterrâneos, onde são transacionadas as mercadorias entre o poder político e o poder econômico já não se ouve, felizmente, o grito dos torturados, mas os sussurros das mesas de operação das grandes empresas privadas. (financeiras e não financeiras).

As burocracias do Estado são convidadas a mediar a concorrência entre os grupos e instadas a escolher "ad hoc" as regras a serem aplicadas. Governo após governo mudam os rumos, mas sobrevivem os métodos. Há que admirar o requinte dos poderosos nos cuidados de patrocinar e preservar o sistema de relações perigosas entre o público e o privado.

A vulnerabilidade do Estado brasileiro não decorre de sua incompetência, como pretende a vulgata liberal, mas de sua importância na “administração” dos mercados.

Não só no Brasil, mas em todas as partes são notórias as dificuldades de escapar à força dos interesses particularistas e de fixar políticas em nome do interesse geral.

No livro The American Empire and the Political Economy of Global Finance, o cientista político Leo Panich rejeita a dicotomia Estado versus Mercado e aponta “as complexas interrelações entre as carreiras- e os interesses públicos e privados como a essência das -rela-ções– entre o Estado e o Mercado”.

O peso político das classes proprietárias na representação parlamentar e na máquina do Executivo promove sistematicamente a distribuição de favores entre os competidores. As relações viciadas entre Estado e os privados fomentam a busca de vantagens e privilégios.

As agências públicas se envolvem no “jogo das regras”, sempre empenhadas em contemplar os velhos interesses e dar guarida aos novos setores que buscam o amparo das políticas “públicas”.

Os estudos internacionais sobre o tema mostram que o Estado transformou-se numa arena em que se digladiam os grandes interesses e corre grana à vontade para financiar candidatos favoráveis à consecução de objetivos dos grandes grupos privados.

Não por acaso os cidadãos de todas as partes estão sempre sobressaltados diante da iminência de serem abalroados por uma sucessão de paradoxos. Nos Estados Unidos, por exemplo, as inovações dos mercados financeiros não teriam avançado sem a prestimosa colaboração dos republicanos Reagan e Bushs I e II, mais o democrata Clinton. Com o auxílio deles, Wall Street voltou a dominar os plenários do Congresso e os escritórios do Executivo.

A independência moral e política se esvai nas eleições, cada vez mais caras. Por isso, ninguém foi capaz, até agora, de propor o óbvio: aprovar uma lei de financiamento público das campanhas eleitorais, condição mínima para que seja instaurado por aqui um regime parecido com a democracia.

Há quem torça o nariz para a ideia do financiamento público exclusivo. Os adversários argumentam com a escassez de recursos diante de prioridades mais prioritárias. Escuto meus botões: o que poderia ser mais importante numa sociedade que se pretende democrática e republicana do que a qualidade da representação popular e a igualdade de condições na disputa eleitoral?

Mais do que isso: as normas do mercado passaram a ditar as regras da vida política. No Brasil de hoje, essa lógica fatal vem contaminando as instâncias decisivas do poder estatal. O sistema partidário e o financiamento das campanhas eleitorais parecem ter sido engendrados com o propósito de transformar o Congresso num mercado de balcão, no qual os gritos de “compro” e “vendo” tornam ridícula a hipocrisia dos discursos moralistas dos plenários.

O arbítrio, o favorecimento, o segredo, a obscuridade e o nepotismo eram os demônios que os valores da República restaurada em 1985 pretendiam exorcizar. Pois os curupiras da Pátria Amada estão aí, livres e folgazões, gargalhando sobre as nossas incríveis esperanças.

Ao contrário do que se divulga, os senhores não se tornaram menos ferozes. Aprenderam a usar métodos mais sutis e eficientes para torturar coletivamente os cidadãos com as técnicas da desinformação, do massacre ideológico e da “espetacularização” da política.

É uma questão menor saber se a corrupção no governo A é maior do que a no governo B.

Texto de Luiz Gonzaga Belluzzo

Fonte: Enviado por luisnassif, sab, 11/06/2011 - 14:34 Da Carta Capital

terça-feira, 14 de junho de 2011

Governadores de SP deixaram de cobrar as obrigações das concessionárias de energia elétrica


Nos editais de privatização das empresas AES e Duke, existe uma clausula que obriga os dois agentes a expandirem em 15% sua capacidade instalada até o ano de 2007. Na prática isso significa que ambas seriam - e ainda são - obrigadas a erguer uma usina de aproximadamente 300MW no estado de São Paulo.

As empresas jamais cumpriram tal cláusula e durante todo período do primeiro governo Alckmin jamais foram autuadas, cobradas ou pressionadas pela Secretaria de Energia, embora o não cumprimento da obrigação pudesse resultar na revogação do próprio contato de concessão.

No apagar das luzes do governo Alckmin, no último dia de mandato do Secretário Mauro Arce, a Secretaria de Energia chegou a revogar a obrigação, mas tal decisão foi revista pela nova secretária Dilma Penna.

Ou seja, durante muitos anos, praticamente durante todo o governo Alckmin, o estado de São Paulo deixou de cobrar as obrigações das concessionárias.

A retribuição da Duke Energy era através de contribuições de campanha, por vias transversas, financiando supostos programas de educação ambiental em alguns municípios às margens do Paranapanema através de uma empresa chamada Walm Ambiental. Eram os chamados Núcleos de Educação Ambiental (NEAPAS).

Foi a maneira encontrada em 2002 para doar recursos para a campanha de José Serra à presidência, já que a "compliance" da Duke não permitia a doação a partidos políticos.

A figura chave desse modelo era Delson Amador, estreitamente ligado a Andréa Matarazzo.

Por isso mesmo não estão claros os motivos da guerra declarada entre o governo Alckmin e a Eletropaulo. Há razões de sobra, no péssimo atendimento da concessionária. Mas não parece ser o motivo central.

Fonte:http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Os ricos cada vez mais ricos


Eu, você e a torcida do Flamengo, do Corinthians, do Santos, do Palmeiras, do
Vasco, passamos os últimos anos ouvindo o discurso de que o esforço
individual e o mérito de cada um constituiam o melhor caminho para construção de
uma sociedade mais justa e próspera.

Parecia a redescoberta da pedra fundamental das sociedades humanas.
Ninguém formulou essa visão de forma tão clara e coerente como a primeira
ministra britânica Margareth Tatcher.

Principal personalidade da reconstrução conservadora do mundo desenvolvido iniciado nos anos 80, Tatcher defendia uma doutrina segundo a qual a união das liberdades individuais com a redução do papel do Estado em todos os níveis da existência constituem o único caminho seguro para a prosperidade e a civilização de nosso tempo.

Radical e coerente, Tatcher traçou uma fronteira ideológica no mundo de seu tempo. Sustentava a idéia de que a noção de classes sociais era uma ficção política, destinada a engordar burocratas e aproveitadores de organizações sociais, sem base na vida real. Ao longo de décadas, suas convicções eram repetidas pelo mundo inteiro, como verdades autoevidentes e sem merecer dúvida nem contestação. Com a presença de Ronald Reagan na Casa Branca, o tatcherismo conquistou o aliado que necessitava para expandir-se pelo mundo.

Trinta anos depois, o resultado está aí, à vista de todos. Segundo pesquisa
escomendada pelo governo britânico, cujas conclusões não foram contestadas por
ninguém, aquele país que já foi um símbolo do equilíbrio social possível no regime
capitalista avança em ritmo acelerado para a terceiromundização de suas relações
sociais. Claro que a Inglaterra está longe de um Brasil, de uma Bolívia. Mas os dados inidicam que caminha para este mesmo lugar.

O dado essencial envolve a fatia dos ricos no bolo da riqueza nacional. Em 1979, a
parcela que vive no topo do topo da pirâmide, e que envolve 0, 1% da população,
embolsava 1,3% da renda total do Reino Unido. Hoje, essa mesma faixa da
população recebe 5%; passará a 14% em 2030, se for mantida a tendência atual.
Vamos combinar que um enriquecimento desse tipo não é apenas moralmente
questionável nem socialmente iníquo. Pode ser um perigo para a economia.

Em nenhum país do mundo é fácil retirar bilhões de libras do bolso da classe média e dos mais pobres para colocá-lo no cofre dos mais ricos, num processo regressivo que os próprios pesquisadores dizem que pode levar o país de volta aos tempos da Rainha Vitória, anteriores à construção do Estado do bem-estar social que marcou o século XX.

Para convencer um eleitorado educado e desconfiado como os ingleses, Tatcher não se apresentava como uma conservadora, mas como uma inovadora, quase uma revolucionária em sua doutrina que defendia um capitalismo popular capaz de beneficiar todo cidadão que, sem consideração de origem, tivesse animo para arregaçar as bancas e pegar duro no trabalho.

As grandes promessas de melhoria social se reveleram pura retórica.

Seu valor maior era o velho egoísmo individual como argumento para o progresso.

Ao combater os sindicatos, uma guerra permanente travada em nome das liberdades do indivíduo, Tatcher apenas facilitou a redução dos salários e o corte de benefícios, pois diminuiu o poder de barganha dos mais fracos.
Na vanguarda das privatizações que se tornariam um processo universal, a primeira ministra anunciou que as ações de estatais poderiam ser adquiridas por trabalhadores, que passariam a embolsar parte de seus lucros.

Longe do discurso, as melhores oportunidades estavam sendo abertas para aquele 0,1% da população que já estava na parte de cima da pirâmide social, mostra a pesquisa. Os outros 99,9% foram convocados, gentilmente ou compulsoriamente, a abrir o bolso para entregar mais uma parcela de seus ganhos, que já eram menores. A revolução revelou-se, como ocorre tantas vezes, uma contra-revolução.

Há um aspecto especialmente dramático neste processo. Você pode até achar que a desigualdade faz parte da vida humana assim como a natureza produz animais ferozes como um crocodilo e outros mansos como um urso panda, ou vegetações espinhosas que resistem às intempéries e também orquídeas frágeis que necessitam de cuidado a todo momento. Isso envolve a visão de mundo de cada um.

Mas a desigualdade se torna um problema grave e sério quando passa a comprometer os esforços de crescimento de uma sociedade e torna difícil construir uma economia saudável e equilibrada. Ela produz interesses e gera instrumentos de poder que trabalham automáticamente pela sua reprodução e é por isso que a pesquisa inglesa indica que pode crescer muitas vezes mais daqui para a frente.

A questão pode ser resumida assim: a desigualdade reduz os mercados de consumo, afeta os investimentos e encarece a produção, tornando o crescimento caro, complicado, e até inviável. Os negócios que o capitalismo necessita para se alimentar todos os dias tornam-se difíceis, tortuosos, arriscados demais.

Não sou eu quem diz isso, mas um professor de Chicago que foi considerado o mais influente economista do mundo depois da crise de 2008-2009 num levantamento da Economist, insuspeita de simpatias heterodoxas de qualquer tipo.

A lição de Raghuran Rajan — acredito que, como eu, você nunca ouviu falar desse nome — é que a desigualdade está na origem daquele processo que levou à pior crise do sistema capitalista em 80 anos.
Ele acredita que, com a criação de um universo social cada vez mais desigual as empresas e os governantes são obrigados a tomar medidas até temerárias para facilitar o crédito e estimular o consumo de todas as maneiras, numa ação que produz de crises e catástrofes em vez de prosperidade.

Acho difícil ler uma descrição tão simples e clara da crise das hipotecas de segunda llnha, o processo que levou os barões das finanças do mundo inteiro a emprestar a quem não podia pagar, numa espiral delirante e inescrupulosa de crédito e ganancia que jogou o mundo no abismo. Não por acaso, foi no pós-crise que as idéias de Raghuran Rajan se tornaram tão influentes, como nota a Economist.

Dois anos depois da crise, a Inglaterra patina. A economia do Velho Mundo não sái do lugar e desmorona nos países mais fracos. A decepção com os trabalhistas levou os conservadores para o governo, numa gestão que multiplica políticas de austeridade, corta gastos públicos e concentra renda. Dá para entender porque se acredita que a desigualdade vai seguir crescendo, concorda?

Texto de PAULO MOREIRA LEITE

Fonte: revista Época

O abandono dos desempregados nos EUA


Os mais recentes dados econômicos puseram fim a qualquer esperança de uma retomada rápida na criação de empregos norte-americana, que atravessa seca tão longa que o período médio de desemprego para os norte-americanos sem trabalho é de quase 40 semanas, agora.

Mas não existe vontade política para fazer coisa alguma a respeito da situação. Em lugar de estarem dispostos a investir mais na criação de empregos, os dois partidos concordam em que é hora de cortar gastos,processo que destruirá empregos. A única diferença entre eles é de grau.

E o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) tampouco sairá em resgate dos desempregados. Na terça-feira, o chairman da instituição, Ben Bernanke, reconheceu a severidade do quadro econômico mas deu a entender que nada fará a respeito.

E o alívio às dívidas dos mutuários da habitação,o que poderia ter feito muito para promover uma recuperação econômica generalizada foi simplesmente excluído da agenda.

O programa de assistência hipotecária em vigor foi um fracasso, despendendo apenas uma fração mínima dos recursos alocados, mas não parece existir interesse em reformular e reiniciar o esforço.

A situação é semelhante na Europa, e possivelmente até pior. A retórica de política monetária dura e rejeição a medidas de alívio de dívidas adotada pelo Banco Central Europeu (BCE) faz com que Bernanke soe liberal.

O que explica essa paralisia da política econômica dos dois lados do Atlântico? Estou cada vez mais convencido de que ela é uma resposta a pressões de grupos de interesses.

De forma consciente ou não, as autoridades econômicas estão atendendo de forma quase exclusiva aos interesses daqueles que vivem de renda os investidores que derivam renda elevada de ativos financeiros, e que no passado emprestaram grandes somas, muitas vezes de maneira insensata, mas agora estão sendo protegidos contra prejuízos em detrimento de todo mundo mais.

É claro que não é dessa maneira que aquilo que defino como a "Aliança da Dor" defende suas posições. Em lugar disso, os argumentos contrários a medidas de assistência aos desempregados são expressados em termos de risco econômico. Qualquer coisa que seja feita para criar empregos resultará em disparada das taxas de juros, inflação descontrolada e assim por diante.

Mas esses riscos parecem se recusar a tomar forma concreta. As taxas de juros continuam próximas de suas mais baixas marcas da História, e a inflação, desconsiderado o preço do petróleo, o qual é determinado por mercados e eventos mundiais e não pela política econômica norte-americana, continua baixa.

E diante desses riscos hipotéticos é preciso expor a realidade de uma economia que continua profundamente deprimida, a grande custo tanto para os trabalhadores de hoje quanto para o futuro de nosso país. Afinal, como podemos esperar prosperar dentro de duas décadas quando milhões de jovens formandos estão, na prática, tendo negada a chance de iniciar suas carreiras, agora?

Se você solicitar uma teoria coerente para justificar o abandono dos desempregados, não encontrará resposta. Em lugar disso, os membros da "Aliança da Dor" parecem estar improvisando ao longo do caminho, inventando motivos sempre mutáveis para suas receitas políticas imutáveis.

Embora o motivo ostensivo para causar dor não pare de mudar, porém, todas as receitas políticas da "Aliança da Dor" têm algo em comum: protegem os interesses dos credores, não importa a que custo. Gastos públicos bancados por déficit poderiam criar trabalho para os desempregados,mas isso talvez prejudique os interesses dos credores.

Medidas mais agressivas do Fed poderiam gerar o estímulo que nos tiraria da crise de fato, até mesmo economistas republicanos argumentaram que certa dose de inflação poderia ser a receita correta, mas os interesses dos credores são atendidos pela deflação, não pela inflação.

E quem são esses credores de quem falo? Não se trata de proprietários laboriosos e frugais de pequenas empresas ou seus funcionários, ainda que os interesses dos grandões sejam bem servidos pela ficção de que suas ideias servem para proteger os pequeninos que respeitam as regras.

A verdade é que os proprietários de pequenas empresas e os trabalhadores sofrem muito mais com a economia fraca do que sofreriam, digamos, com uma modesta inflação que ajude a promover recuperação.

Não, os únicos verdadeiros beneficiários das políticas da Aliança da Dor (além do governo chinês) são os credores, os banqueiros e os indivíduos ricos com muitos títulos de dívida em suas carteiras de investimento.

E isso explica por que os interesses dos credores têm papel político tão importante; não só é essa a classe que faz as maiores doações a campanhas políticas mas também é essa a classe que conta com acesso pessoal às autoridades,muitas das quais se tornam funcionárias dessas pessoas quando saem do governo.

O processo de influência não requer necessariamente corrupção aberta (ainda que ela também ocorra). O necessário é apenas a tendência de presumir que aquilo que é bom para as pessoas com as quais as autoridades convivem, as pessoas que tanto impressionam nas reuniões,afinal elas são ricas, inteligentes e contam com ótimos alfaiates, e deve ser bom para a economia em geral.

Mas a realidade é exatamente a oposta: políticas favoráveis aos credores estão paralisando a economia. Esse é um jogo no qual a maioria perde, e no qual a tentativa de proteger os credores contra quaisquer prejuízos está infligindo prejuízos muito maiores a todo mundo mais. E a única maneira de promover recuperação real é abandonar esse jogo.

Texto de Paul Krugman Traduação de Paulo Migliacci

Fonte: blog do Nassif - Folha de S.Paulo

domingo, 12 de junho de 2011

O terror de Battisti e nossa democracia


Começo a ler previsíveis declarações de repúdio e alarme diante da libertação de Cesare Battisti, após decisão do Supremo Tribunal Federal.

Confesso que ficaria mais confortável se essas mesmas vozes tivessem se levantado com igual veemencia quando o Brasil recusou-se a extraditar um carrasco nazista conhecido como o “Monstro de Sobibor”.

Também gostaria de ter ouvido condenações mais firmes diante da permanencia do ditador Alfredo Stroessner em nosso país para fugir da justiça do Paraguai.

Não deixa de ser irônico, por outro lado, que os protestos contra a libertação de Cesare Battisti tenham dado uma rara oportunidade ao primeiro-ministro italiano Sylvio Berlusconi aparecer em todas as TVs para falar de um assunto um pouco mais
sério, digamos assim.

Eu já estava me acostumando com a idéia de que o chefe de governo da Italia só sabia falar de corrupção, prostitutas e bunga-bunga, o que me deixava deprimido ao lembrar da riqueza da cultura italiana, de meus antepassados que vieram da Bota…

Confesso que nunca admirei ações terroristas — e os atos pelos quais Battisti foi condenado, corretamente ou não, se incluem nessa categoria. Uma coisa são ações armadas, de guerrilha. Outra são ações que envolvem a morte de inocentes, criando um ambiente de incerteza e insegurança que só prejudica as democracias e dão legitimidade a medidas de força.

Alguém tem dúvidas sobre quem foi o maior beneficário do maior ato terrorista da história, que foi o ataque de 11 de setembro? Quem acumulou forças? Quem pagou a conta?

Não por acaso, o apogeu do terror na Italia dos anos 70 envolveu um conflito entre organizações de esquerda e grupos de extrema-direita. O maior atentado de todos, em Bolonha, foi obra da extrema-direita. No fim das contas, sempre se soube quem iria vencer e jamais se eliminou, por completo, a suspeita de que boa parte dos atentados terroristas de esquerda tivessem sido forjados nas entranhas da máquina policial do governo italiano, dominada pela CIA e outros serviços de espionagem.

Minha crítica ao terror envolve sua concepção política, uma forma armada de arrogancia de quem se coloca acima da população e acima da lei, para cometer atos de violência em nome de uma causa que só ele compreende e apoia.

Deixando as boas e más intenções de lado, há um espírito narcisista e antidemocrático nessa atividade, alimentada por uma visão que despreza a consciencia do cidadão comum e a vontade popular.

Um aspecto nem de longe secundário é que as ações terroristas só podem ser concebidas a partir de uma visão de quem manipula o bem mais precioso que a natureza ofereceu a cada pessoa, que é a vida humana, única e insubstituível.

Mas a decisão de autorizar Battisti a permanecer no Brasil tem uma legitimidade que vai além de suas idéias e de seus atos. Envolve a nossa democracia.

Como tantos casos extremos, um caso como este não permite uma só resposta, muito menos de caráter científico. Pressupõe a divergencia e o conflito de opinião.

Um regime democrático não pretende oferecer, sempre, a resposta técnicamente mais correta para os problemas que dividem a sociedade. Seu compromisso envolve a representação política, o mandato popular — e isso implica em aceitar que, vez por outra, ou até muito mais vezes do que outras, sejamos obrigados a conviver com decisões com as quais nem todos estão de acordo.

Vamos combinar: quem acredita que existem respostas tecnicamente adequadas para todas as questões são tecnocratas, partidários de um regime de sábios que, com muito boa vontade, podemos definir como uma ditadura para quem tem diploma em pós-graduação.

Eu acredito na democracia e acho que, cedo ou tarde, ela é o melhor caminho para uma população atingir um melhor padrão de bem estar e desfazer injustiças da história.

Não preciso concordar com as idéias de Battisti para aceitar sua permanencia no país. A decisão se baseia nas convicções de um presidente eleito duas vezes. Sua legitimidade foi referendada pelo Supremo por 6 votos a 3.

Podemos até acreditar que se o Brasil outro presidente, também eleito, é muito possível que a decisão fosse diferente. Quem sabe. Battisti viveu em liberdade na França do socialista François Mitterrand. Foi preso quando o conservador Jaques Chirac ganhou a eleição. Ninguém se sentiu inseguro por causa disso.

Assegurar a permanencia de Alfredo Stroessner no Brasil pode ter sido uma decisão correta, ou não. Isso muda conforme várias considerações, inclusive de natureza política. Mas não foi legítima. Sua base foi uma decisão de uma ditadura militar, que prestava serviços a um aliado do outro lado da fronteira.

Essa diferença faz todas as diferenças.

Texto de Paulo Moreira Leite Fonte http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite

sábado, 11 de junho de 2011

Nuvens negras no horizonte



Ainda não se passaram três anos e já se delineiam duas sérias ameaças em nível global, que podem indicar um primeiro desdobramento da crise financeira originada nos Estados Unidos em 2008.

É a situação crítica da questão fiscal dos Estados Unidos e Grécia. Os holofotes agora estão na Grécia, mas não levará tempo para se dirigirem aos EUA.

Vale recordar. Na primeira tentativa de sair do buraco, a Grécia acertou com o FMI que sua economia deveria encolher 4% em 2010, 2,6% em 2011 e o desemprego, de 9,4% em 2009, subiria para 14,8% em 2012. Esse o custo da redução do déficit fiscal de 13,6% do PIB em 2009, para 8,1% em 2010 e 6,5% em 2012.

Mesmo assim, sua dívida se estabilizaria em 150% do PIB! Mas em 2010 em vez de conseguir a meta de déficit de 8,1%, obteve 10,5%, o que acendeu a luz vermelha.

Os holofotes agora estão na questão fiscal da Grécia, que precisará de um novo empréstimo em 2012. Com um crescimento mais baixo que o esperado, a tendência é o agravamento fiscal e a necessidade de mais empréstimos que, se vierem, trarão sérias dificuldades de satisfazer as condições impostas pelo FMI, com impacto social crescente e sério risco político ao governo.

A aposta dos “salvadores” (Banco Central Europeu – BCE, países da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional – FMI) ao concederem o primeiro socorro era de que uma profunda restrição fiscal, com rebaixamento de salários, demissões no setor público e freada no crescimento econômico, seria capaz de gerar os excedentes para honrar as parcelas dos empréstimos, que tiveram prazos mais alongados.

Esse aperto fiscal deveria ser imposto à população e as reações foram imediatas com paralisações e manifestações de massa, que na ocasião poderia inviabilizar as negociações em curso. Mas o governo grego conseguiu vencer o primeiro round e aprovou as duras exigências dos financiadores, mas com importante condição: a dívida teria que ser integralmente paga, sem nenhum prejuízo aos credores.

Esse socorro financeiro implica em dois problemas fiscais, de solução quase impossível, pois crescem as despesas com o serviço da dívida pelo forte aumento do endividamento e cai a arrecadação pela redução da atividade econômica e pelo aumento da inadimplência dos contribuintes, ou seja, forma-se um “sanduíche” fiscal.

Os credores, no entanto, partiram da premissa de que a redução das despesas públicas seria suficiente para superar esses dois problemas. Não foi o que aconteceu e nem acontecerá. Assim, seria necessário reduzir o valor a ser pago no serviço da dívida, ou seja, seu deságio, com perda para os credores.

Mas, o deságio não bastaria para solucionar o problema, pois os desequilíbrios macroeconômicos já existentes tornam necessários outros esforços para viabilizar o equilíbrio de suas contas internas e externas.

Atualmente ocorre déficit na balança comercial de 4% do PIB, maior déficit comercial entre os países da região do euro. Se esse déficit persistir, terá de captar o volume total em instituições de crédito estrangeiras, mesmo se os déficits orçamentários pós-inadimplência puderem ser financiados com captações domésticas.

A simples ameaça do deságio na Grécia precipitou a elevação dos riscos das dívidas de Portugal e Espanha. Portugal foi o primeiro a pedir socorro e já está seguindo o mesmo caminho grego. Tomou em maio recursos do FMI e da União Europeia de US$ 110 bilhões, que representa 47% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

O último pacote de auxílio do FMI ao Brasil, em 1998 foi de US$ 40 bilhões ou 4,7% do PIB. Assim, esse socorro a Portugal foi, em termos de tamanho de sua economia, 10 vezes maior do que o nosso.

Para situar a gravidade do problema que ronda a Europa, o pacote da Grécia de US$ 156 bilhões foi também de 47% do PIB e o da Irlanda de US$ 120 bilhões, 52,9% do PIB, segundo matéria publicada no jornal Estado de São Paulo (22/maio).

Esses socorros foram também sem deságio nas dívidas e será apenas questão de tempo para evidenciar a falta de visão dos “salvadores” e o agravamento da inevitável deterioração fiscal nesses países.

Não tem como escapar do deságio das dívidas. Esse deságio, por sua vez, poderá trazer novos desdobramentos na rede financeira europeia já fragilizada pela crise iniciada nos Estados Unidos com as hipotecas de alto risco (subprime) e por a nu os títulos podres em posse do BCE ao socorrer o sistema bancário da Irlanda, Grécia, Espanha entre outros países.

A nova tentativa de socorro à Grécia continuará tentando preservar os credores, alongando mais a dívida, sem reestruturá-la, com nova injeção de empréstimos, e o calote será inevitável e maior, mais a frente. É uma exigência do BCE para tentar empurrar com a barriga os títulos podres em seu poder cujo montante é desconhecido.

O mesmo poderá ocorrer com Portugal, mais à frente à Espanha e, em seguida a Itália, países de maior expressão econômica na zona do euro.

É claro que isso atingirá o sistema bancário das economias mais sólidas como França e Alemanha, agravando a crise européia com repercussões em outros países fora da área. Como existe forte relação entre os sistemas financeiros de Europa e Estados Unidos, esse país certamente será afetado.

Em 16 de maio de 2011, os Estados Unidos atingiram o teto de US$ 14,294 trilhões da dívida pública e o Departamento do Tesouro planeja anunciar que vai parar de emitir e reinvestir títulos do governo em certos fundos de pensão públicos, parte de uma série de medidas para adiar a moratória até 2 de agosto de 2011.

Essas medidas do Tesouro visam ganhar tempo para a Casa Branca e líderes do Congresso chegarem a um acordo de redução do déficit, para atingir número suficiente de congressistas a votar o aumento da dívida.

A disputa política entre republicanos e democratas pode fornecer o combustível necessário para começar a por em dúvida a capacidade do país honrar o pagamento aos credores, que estão espalhados por todo o mundo, especialmente países que acumularam fortes reservas ligadas ao dólar, como China, Japão, Alemanha e o Brasil.

Para agravar esse quadro o déficit fiscal previsto ao final deste ano pode atingir US$ 1,7 trilhões ou 11% do Produto Nacional Bruto (PNB).

A tentativa de ativar a economia via elevação da liquidez é outro motivo de preocupação. De 2004 a 2008 a base monetária girava em torno de US$ 0,8 trilhão e a disparada sem cessar a partir de 2009 a elevou para US$ 2,4 trilhões. Apesar disso, os empréstimos bancários ficaram estabilizados desde o final de 2008 em US$ 9 trilhões, evidenciando o deslocamento dessa elevação da liquidez para fora dos EUA.

É possível que as agências de classificação de risco, que dormiram no ponto na crise de 2008/2009, não tenham o mesmo comportamento agora. Alguns sinais já apontam nessa direção. O primeiro foi dado pela Standard & Poor’s que rebaixou de ‘estável’ para ‘negativa’ a perspectiva de rating de crédito soberano de longo prazo dos Estados Unidos. Com isso sinalizou que poderá piorar a nota da dívida americana. As razões apontadas para a decisão foram o persistente déficit orçamentário e o elevado endividamento do país.

De acordo com a agência, mesmo após dois anos após a eclosão da crise financeira que abalou o mercado de hipotecas dos EUA, o governo do presidente Barack Obama dá sinais de que não chegou num acordo sobre como reverter a deterioração fiscal por que passa o país atualmente, nem aponta soluções para as pressões fiscais de longo prazo.

O dólar já vem de longo processo de perda de valor perante outras moedas e commodities, e isso expressa a doença que se abate lentamente sobre a economia americana. As análises sobre as perspectivas deste país oscilam a cada dia ao sabor de dados sobre pedidos de desemprego, construção de novas moradias, produção industrial, inflação, etc.

Fato é que a reação aos fortes estímulos dados desde 2008 produziram efeitos pífios e os déficits fiscais passaram de 3% do PNB em 2008 e poderão atingir 11% neste ano, e a dívida sobe de forma ameaçadora, indicando claros riscos em seu pagamento.

Para agravar esse quadro a elevação dos preços do petróleo e outras commodities subtraem o poder aquisitivo dos americanos, com reflexos negativos sobre o consumo que representa 70% do PIB do país. Isso afeta o crescimento econômico, a arrecadação e eleva o déficit fiscal.

Parecem esgotados os instrumentos monetários para tirar o país da crise. A forte injeção de dólares feita pelo Fed (banco central americano) e os juros negativos não conseguiram estimular o consumo. É incerto se terminará em junho a escalada da injeção de US$ 600 bilhões. Essa elevação da liquidez já dá sinais de problemas com a inflação, que começam a aparecer no front de preocupações do Fed. E nada mais potente para retirar o poder aquisitivo do americano do que a inflação.

A forma que seria possível para romper com esse agravamento é a ampliação das exportações e contenção das importações, para gerar empregos suficientes para tirar da letargia o mercado interno. Mas não é isso que vem ocorrendo no nível necessário, pois a disputa no mercado internacional cresceu fortemente como consequência da crise de 2008.

Face a esse quadro, o melhor para o Brasil é apostar as fichas da saúde econômica e financeira naquilo em que somos bons: alto potencial de mercado interno inexplorado. Assim, é bom repensar as políticas do pé no freio, que podem fragilizar o País aos trancos que poderão vir de fora.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Smith, Keynes e os paradoxos da ciência econômica


Ontem (5 de junho) foi aniversário de nascimento de dois dos pensadores mais influentes na história da ciência econômica, Adam Smith e John Maynard Keynes. Muitos têm falado e escrito sobre eles, mas poucos fizeram uma comparação de suas vidas e de suas obras, e esta é a ocasião para fazê-lo, no momento em que o capitalismo, sistema que um deles impulsionou e o outro tentou salvar, debate-se em uma profunda crise. Nosso objetivo é expor, em grandes linhas, algumas de suas coincidências e diferenças, o que nos permitirá compreender, também, os limites do sistema econômico em que vivemos.

1. Toda teoria econômica deve ser considerada nos marcos de sua época e as ideias de ambos tiveram a ver com a problemática que tocou a viver a cada um. As razões dos êxitos que os acompanhou estão vinculadas com seus acertos em decifrar e entender as tendências e fenômenos históricos predominantes. No caso de Adam Smith, a emergência de um modelo capitalista de desenvolvimento na Europa do século XVIII, marcado pela Revolução Industrial no plano econômico e por mudanças políticas que destruíram ou restringiram privilégios das monarquias absolutas. No de Keynes, a época do declínio e da primeira grande crise do capitalismo, que não começou, como assinala ele próprio em seus Ensaios de Persuasão (1931), com a queda da Bolsa de Wall Street em 1929, mas sim antes, no primeiro pós-guerra, através de sintomas sobre os quais advertiu precocemente, como o fim do padrão ouro e os desequilíbrios crescentes do sistema econômico internacional. Uma evolução histórica que coincide com sua etapa de formação e desenvolvimento como economista.

2. Nem um nem outro foram meramente economistas. Entenderam a ciência econômica como fazendo parte de saberes mais amplos que permitiam uma compreensão das sociedades de seu tempo e da natureza dos indivíduos que as constituíam. Adam Smith iniciou sua carreira universitária como titular da cadeira de Lógica e Filosofia Moral, na Universidade de Glasgow, onde elaborou, progressivamente, suas teorias sobre o direito, a moral e o Estado, que se plasmaram em sua obra “Teoria dos Sentimentos Morais” (1759) e em suas “Leituras sobre Jurisprudência”. Sua teoria econômica deriva de suas concepções éticas onde o egoísmo domina a esfera econômica enquanto que o altruísmo funda as bases da vida social. Neste sentido, não é possível compreender sua obra principal, “A Riqueza das Nações” (1776), sem relacioná-la com um corpus ideológico e filosófico no qual se enquadram suas contribuições para a economia política.

Keynes também tinha uma formação filosófica e uma visão mais ampla da realidade de sua época. Não era viciado nos modelos econométricos que só podiam apreender aspectos limitados da realidade e, ainda que professor em Cambridge e funcionário em distintos momentos de sua vida, caracterizava-se a sim mesmo, irônica ou modestamente, como um “publicista”, um autor que escreve para o pública de forma periódica com o objetivo de difundir suas ideias. Em todo caso, para Keynes, todo economista deveria possuir uma rara combinação de qualidades: matemático, historiador, homem político e filósofo. Estudar o presente à luz do passado e com a perspectiva do futuro, sem deixar de lado nenhuma das instituições criadas pelo homem.

3. Ambos concebiam o capitalismo como um sistema. Não obstante, para Smith, era o estágio mais elevado na evolução econômica. Keynes, em troca, considerava esse sistema como uma fase no desenvolvimento histórico da humanidade, ainda que a mais conveniente no momento. Adam Smith viu a economia como um todo orgânico, natural que, por meio do mercado, tende a um equilíbrio. O homem, ao perseguir seu próprio interesse individual buscando o máximo benefício, trabalha necessariamente para fazer com que a receita anual de uma sociedade seja a máxima possível. Ele é levado a isso por “uma mão invisível” que “o conduz a promover um fim que não estava em suas intenções”. Em troca, Keynes diz, criticando o laissez faire, que “não é verdade que os indivíduos possuem, a título prescritivo, uma liberdade natural no exercício de suas atividades econômicas”. Não existe, segundo ele, nenhum pacto que possa conferir direitos perpétuos aos proprietários de bens. Além disso, não é correto deduzir dos princípios da economia política que o mundo é governado pela Providência, e que o interesse pessoal trabalha sempre em favor do interesse geral.

4. As teorias de ambos tentavam modificar determinadas condições econômicas e políticas. Em “A Riqueza das Nações”, destaca-se a preocupação de Smith com as políticas mercantilistas que caracterizavam os monopólios coloniais. O livre comércio era uma condição necessária para o florescimento da competição, dos baixos preços e da expansão dos mercados. Em consequência, a divisão do trabalho, principal motor do incremento das forças produtivas, não encontraria travas para sua completa generalização e derivaria em uma maior riqueza das nações. Alguns de seus seguidores deduziram disso que as crises seriam impossíveis dentro do sistema na medida em que o poder de compra do mercado dependeria da ampliação da produção e das receitas que isso geraria.

Pelo contrário, Keynes demonstrou em sua “Teoria Geral” (1936) – e os anos 20 e 30 dariam razão a ele – que o aumento das receitas pode não resultar em um crescimento similar do consumo, e aquela parte que se poupa não necessariamente é dirigida para a atividade produtiva, diretamente ou por meio de financiamento. Essa insuficiência nos níveis de consumo e investimento, que não cobrem a oferta existente, traz graves consequências sobre o produto e o emprego, originando as crises. Deste modo, como diz Joan Robinson, o economista inglês retoma o problema moral que a teoria do livre mercado havia aparentemente abolido: sua incapacidade para gerar ocupação plena e a necessidade de formas de regulação do sistema econômico. Diante desse diagnóstico, competiria ao Estado garantir o pleno emprego: aumentando o gasto público, reformando o sistema fiscal, melhorando a distribuição de renda e regulando o comércio exterior.

5. Adam Smith não representa, no entanto, completamente, a teoria ortodoxa atual que se impôs nos anos do neoliberalismo. Em sua época, o livre comércio supunha a competição de muitos capitalistas em resposta ao controle monopolista do comércio por parte de certas corporações privadas e estatais. Hoje, em um mundo marcado por companhias multinacionais de caráter oligopólico, o mesmo princípio implica o domínio dos mercados por parte de umas poucas empresas que determinam a produção e os preços, captando para si a maior parte do excedente gerado pela acumulação do capital, tanto na esfera propriamente econômica como na financeira. Por sua parte, as políticas keynesianas tampouco significam que a intervenção do Estado consista no resgate daqueles setores, empresas e bancos, que provocaram a crise atual e o posterior ajuste das receitas da maior parte da população. Está muito longe do pensamento de Keynes subsidiar o mercado financeiro e rebaixar salários e aposentadorias.

6. Nem Smith nem Keynes merecem ser avaliados pelo que não são, estejamos ou não de acordo com seus postulados. Em troca, valorizá-los pelo que são vai nos ajudar a criar um pensamento próprio que responda a nossas próprias necessidades e circunstâncias históricas.

Fonte: Carta Maior

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O cinismo ocidental e Muamar Kaddafi


O que se passa na Líbia e ao redor dela mostra convincentemente que a comunidade internacional movimenta-se a uma reconstrução dos antigos métodos fascistas de conduzir os assuntos e processos internacionais, e isso de uma maneira sem precedentes e limites. Nunca na história da humanidade a idéia das normas dos direitos humanos se virou contra ela própria. Apresentar bombardeios aniquiladores como ação humanitária é cinismo. Os antecedentes da história, a adoção e a aplicação da resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, é alge e cúmulo do que pode ser entendido por cinismo. Em vez de garantir apoio à comunidade dos povos, o Conselho de Segurança (e já não é a primeira vez) sanciona o armamento de bandidos, redistribui propriedade nacional em favor de companhias e bancos ocidentais, aniquila a soberanidade de uma nação e bombardeia, num exercício de exterminação, o próprio povo que ele diz querer salvar de males piores.

A comunidade mundial tem o direito de na Assembléia Geral da ONU levantar a questão da legalidade ou criminalidade das ações do Conselho de Segurança. O levantamento dessas questões pode basear-se em:

1): O artigo 2 da Carta Magna da ONU diz: -“Nada dentro da presente Carta autoriza as Nações Unidas intervir em casos que estejam essencialmente dentro da jurisdição nacional de cada Estado, nada há que requeira os Membros das Nações Unidas a subjugar esses aspectos nacionais à ONU, baseando-se na presente Carta; mas esse princípio que não prejudique a aplicação ou enforcamento de medidas abaixo do capítulo VII”, o qual estabelece muito claramente que o Conselho de Segurança não tem absolutamente nenhum direito de nem mesmo falar de sanções contra a Líbia. Tudo o que o Conselho de Segurança poderia fazer sem ultrapassar os limites dos direitos autorizados seria sondar a possibilidade de intervir na situação criada pelos revoltosos na Líbia. Portanto, os membros do Conselho de Segurança que tomaram parte em preparar e passar a Resolução 1973 deveriam ser responsabilizados por excederem sua autoridade e isso onde havia finalidades criminosas. Em concordância com o fato deveriam enfrentar justiça em Corte Criminal internacional.

(2): Mesmo a extensão da ilegal Resolução 1973 é limitada à imposição de uma zona de trafego aéreo proibido, “no-fly zone”, o que de maneira alguma dá autorização a fazer a infra-estrutura civil do país, as forças armadas, ou grupos residenciais de Kadafi como alvo de ataque. A Resolução 1973 também não autoriza o apoiar militarmente a oposição armada da Líbia. Conseqüentemente, os atuais passos da OTAN, a justo título, merecem uma investigação criminal.

3): O Conselho de Segurança tem uma Comissão Militar própria, que é suposta de organizar as ações militares da ONU. Ela deveria analisar as situações em que a ONU tem intenção de intervir, planejar os aspectos técnicos da operação e sugerir a emissão de um mandato para uma eventual missão. Porque os Estados Unidos e a OTAN tomam a si mesmos o monopólio de interpretar realizar ou implementar a Resolução do Conselho de Segurança? Só isso já constitui um crime contra o Direito Internacional.

Nas ações do Conselho de Segurança e da OTAN manifesta-se uma finalidade criminosa contra os direitos humanos. O próprio Conselho de Segurança assim como a OTAN deveriam cair abaixo da jurisdição “Organização de Crimes Contra a Humanidade.” Cairia bem organizar um novo processo do tipo do processo de Nuremberg num futuro próximo. Seria muito possível e desejável. Hitler e seu círculo começaram suas atividades no desassossego junto ao Tratado de Versailles, as quais foram seguidas nas agitações contra as normas dos direitos humanos e culminaram nos históricos crimes contra a humanidade. A lição deveria nos ter ensinado que atrás de cada pessoa morta, seja essa um soldado, um oficial, um elemento da oposição ou um cidadão qualquer do mundo, o culpado tem que se submeter à processo criminal e responder perante a ele.

Os americanos organizaram o processo contra S. Milosevic [Slobodan] e Saddam Hussein e a conseqüência foi à execução dos dois. O do segundo mencionado foi um ato aberto, o do primeiro, um ato às penumbras. Entretanto, em primeiro lugar não se apresentaram provas jurídicas convincentes quanto às alegações de culpa e em segundo lugar aquilo a que foram acusados nem de longe chega aos pés dos massivos crimes perpetuados pelos Estados Unidos e a OTAN.

Que é que se poderia acrescentar quanto a não envolvimentos em assuntos internos de outros países? Quanto à criminalidade da instigação à violência e resistência às autoridades poderíamos por ex. perguntar-nos como reagiriam as autoridades americanas se Kadafi assediasse os manifestantes em Visconsin, estado norte-americano onde não há muito tempo iam demonstrações massivas contra o governo, e através de seus representantes oficiais líbios oferece-se aos revoltosos financiamento e armas para serem usadas contra Washington.

De que é que Kadafi é acusado? De ter regido a Líbia por mais de 40 anos? De ter usado de violência contra insurgentes armados, entre os quais se encontravam Al-Qaeda membros, alguns traidores agora contratados, assim como representantes da polícia secreta do bloco ocidental? A autodenominada maior democracia do mundo- América, já há muito é governada, e isso de forma absoluta, por oligarquias do grande capital, muitos, verdadeiros mafiosos.

Quanto a isso se podia ler já no tempo de Kennedy, que foi assassinado conquanto tentando tirar da Reserva Federal (que se constitui por 12 bancos particulares da Wall Street) o direito do monopólio na impressão do dólar. Nessa ocasião ele também olhava em seu meio à procura de apoio para seu projeto para a construção de um sistema mínimo de controle das atividades dos bancos e comunidades bancárias.

Também podemos lembrar-nos aqui que mafiosos saqueiam e pilham não só outros povos, mas a sua própria sociedade e caso se queira levar o princípio da democracia ocidental sem limites a todos com mais de vários decênios de anos no poder, então é de urgência começar com as monarquias da Europa e Oriente Médio. Uma tal proposta iria provavelmente causar uma imensa confusão na Inglaterra. Na Jordânia uma proposta semelhante é só para esquecer, já para não se mencionar outras mais.

Em seu longo termo no poder Kadafi levou a nação à não dependência na esfera da politica-economia- e finanças, assim como trabalhou para colocar os recursos do país à favor de seus cidadãos, com a finalidade de desenvolvê-lo para bem de todos.

Hoje a Líbia é o país mais próspero do norte da África. No seu testamento, datado 5 de abril 2011, Moamar Kadafi fala sobre o porquê dos representantes dos interesses ocidentais quererem matá-lo:- “Eles compreendem que nosso país, independente e livre não está abaixo das rédeas coloniais, que a minha visão, a minha revolução foi e continua sendo clara para o meu povo. E eu lhes asseguro que vou lutar até meu ultimo suspiro para a nossa independência. Então nos ajudem todos que confiem no justo e na liberdade.”

Ve-se que a democracia liberal não tem por onde acusar o líder da Líbia pelo que ele fez para seu país, que tornou o mais próspero do continente africano, com excelente gratuito serviço de saúde, um sistema de grandes subvenções com muitos elementos gratuitos na área da habitação, alta segurança social, um elevado numero de cidadãos abastados ou vivendo confortavelmente. Pode-se dizer que a Europa ou os Estados Unidos supera essa abastança para a maioria dos seus cidadãos?

Falando dos seus oponentes internos Kadafi diz que “relacionando-se com americanos e visitantes de outros países eles podem falar que se precisa de “liberdade” e “democracia.” O que absolutamente não é compreendido é que estariam frente à lei da selva, onde todos são sujeitos aos mais fortes… Kadafi aponta para o fato que muitos ainda não compreenderam que na América não haveria serviço médico de qualidade que fosse gratuito, que não haveria hospitais que fossem gratuitos e que estivessem abertos para eles, que também não haveria educação que fosse gratuita, nem habitação que se pudesse conseguir sem muito dinheiro, assim como não haveria segurança social digna do nome” E continuando Kadafi apontou também para o fato que “fazia o que podia para seus irmãos africanos, que ele fazia pelos países da União Africana tudo que estava em seu poder para ajudar as pessoas compreenderem a idéia de uma verdadeira democracia onde, como em seu país, quem tinha o poder de governar era a organização popular.”

Acrescentou que na Líbia a democracia tinha se realizado com órgãos como os Conselhos e as Confederações onde os chefes das tribos e as pessoas podiam discutir e decidir as grandes decisões para o país. Por ex. ressaltou que todas as pessoas podiam tomar parte na discussão da realização do mais grandioso projeto no continente africano. Projeto esse que foi desenvolvido para dar à sociedade da Líbia água proveniente de lagos subterrâneo. Apesar da realidade do caráter do território do país e do calor do clima africano, na Líbia não há falta d água. Vias de transporte, portos, terminais, aeroportos são modernos e efetivos. Acrescentou que, no entanto para os Estados Unidos isso não seria visto como democracia porque o que gostariam de ver seria uma democracia à americana.

Democracia à americana sendo o imenso sistema capitalista, esse modelo fascista de governo de povos e processos, onde os mais ricos pegam todos os principais- internos e externos- postos de decisão e onde os presidentes e parlamentos são como marionetes, dando a impressão de que falam e agem pelo país, mas na realidade não tem esse poder real, porque o poder real está nas mãos de quem controla o dinheiro, ou em outras palavras no círculo da Wall Street.

O que é que Obama prometeu aos eleitores se não o acabar com as guerras? Mas, o presidente não pode conduzir o país contrariamente as decisões tomadas atrás das culissas. As decisões tomadas nas culissas determinam o caminho a ser tomado e essas decisões, elas sim vêem do poder real, dos que para começar agiram para que ele, Obama, se tornasse presidente e incondicionalmente e em primeiro lugar, defendesse os interesses deles mesmos. [Obama, assim como todos os outros antes dele, foi por assim dizer escolhido de antemão e, depois de provas de fogo, promovido ao posto.]

Por outras palavras quem manda é a coerção que controla o dinheiro. A divisa “o que é bom para a General Motors também é bom para a América” à já muito tempo cedeu lugar ao moto o que é bom para “Goldman Sachs” também é bom para a América. É a crença que pensam adequadas, mas não se contentam em tê-la só para a América. Estão determinados a forçá-la a toda humanidade. [A divisa “da General Motors” refere-se à economia baseada na produção industrial que hoje, por assim dizer, já não existe na América. A divisa “Goldman Sachs” refere-se à especulação financeira, que hoje é à base da economia americana, sendo o ex. maior do sistema de especulação financeira o que levou ao colapso de 2008.]

O que é com Kadafi que enraivece tanto a oligarquia financeira colonial-imperialista? Em primeiro lugar a sua independência, assim como a da Líbia. Num mundo unipolar isso não poderia acontecer, e se acontece não poderia ser aceito, porque isso faria que a realidade já não seria unipolar, com um único centro de poder absoluto, ou seja, o colonial-imperialista.

Em segundo lugar está a realização e desenvolvimento da idéia socialista. Até mesmo a denominada “Dzjamaria,” o socialismo líbio, os oligarcas do mundo vêem como um perigo e uma idéia inaceitável, e esse perigo para eles é duplo. Toda a África do Norte e o Oriente Médio. Todo o mundo Islâmico parece estar à procura de um modelo para desenvolvimento e Líbia como um país Islâmico de grande prosperidade pode ser visto como um atraente e ótimo modelo a ser seguido. Principalmente se ela se mostrar à altura de vencer as admoestações do bloco colonial-imperialista na região. Daí se compreende todos os esforços e gastos para desacreditar e liquidar os resultados socialistas da Líbia.

Em terceiro lugar, o líder líbio no ano passado trabalhou muito ativamente na União Africana e entre os países pertencentes à OPEC (na sigla inglesa, os países produtores de petróleo) para persuadi-los a promover o “ouro-negro” ou o “dinheiro-ouro”. Uma forma de pagamentos e trocas em ouro por ouro. Por ex. ouro por petróleo.

Tudo isso leva o bloco colonial-imperialista à decisão de “democratizar” a Líbia. Sem nos aprofundarmos no assunto do padrão concreto da democracia nos países árabes, compreendemos que tudo isso leva ao modelo de “democratização” tipo ao do empregando no Iraque. Democratizar, quer dizer, liquidar a Líbia. Na arena mundial “a democratização” é para ser continuada com a Síria, Irã, com os escombros do Iraque, com o Paquistão, com a construção Curda, com o Yemem, na Caucásia e na Ásia Central. Todos na lista como potenciais alvos de “democratização.” E isso ainda não é tudo…


Fonte: Patria Latina