quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Wagner Rossi no Ministério da Agricultura consolida o poder de Michel Temer no PMDB paulista


Mantido no comando do Ministério da Agricultura, Wagner Rossi tem base política em Ribeirão Preto, interior paulista, e boa interlocução com a bancada ruralista e empresários do agronegócio. Ao lado de Moreira Franco, representa a 'cota' do vice-presidente Michel Temer no ministério. Sua permanência no cargo sela o poder de Temer sobre o PMDB paulista, uma das bases antilulistas do partido que fez sua última eleição sob o comando do ex-governador Orestes Quércia, afastado por doença.

Rossi, com 67 anos, chegou ao ministério em março de 2009, indicando a vitória de Temer sobre o antecessor Reinhold Stephanes (PMDB), que preferia o secretário-executivo da Pasta, José Gerardo Fonteles. Na época, o partido disse ter firmado acordo de "porteira fechada" para a Agricultura, com direito a trocar todos os cargos que quiser por indicações de filiados ao partido.

Temer também teve influência na indicação de Rossi para os dois cargos anteriores pelos quais o ministro passou, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), entre 1999 e 2000, e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), entre 2007 e 2010.

Dentro do PMDB, Rossi e Temer estão do mesmo lado e acompanham quem está no Executivo - nacional e estadual. O ministro foi secretário de Esportes e de Educação no governo de Orestes Quércia em São Paulo entre 1987 e 1990. Na Assembleia Legislativa foi líder do governo e na gestão seguinte, de Luiz Antonio Fleury Filho, hoje sem partido, seguiria o governador no rompimento com Quércia. Fleury deu a Rossi duas das principais secretarias de sua gestão: Infraestrutura Viária e Transportes.

No governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, quando o PMDB estava alinhado ao PSDB, Rossi foi vice-líder do PMDB na Câmara. Também sob influência de Temer, representou os pemedebistas no comando da campanha de José Serra à Presidência em 2002. Sua aproximação com o atual governo se deu no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o PMDB passou para a base aliada.

Em suas passagens por estatais cobiçadas pelo PMDB, como a Codesp e a Conab, Rossi foi citado em suspeitas de irregularidades. Em 2001, no ano seguinte ao deixar a presidência da Companhia Docas de São Paulo, o pemedebista foi "ameaçado" pelo senador Antonio Carlos Magalhães (DEM), morto em 2007, que disse, à época, ter um "dossiê" sobre o porto de Santos com supostas irregularidades envolvendo o pemedebista. Rossi negou e disse ter sido alvo de pressão política, por ter feito nomeações técnicas.

Na Conab, onde era responsável por gerenciar um Orçamento de mais de R$ 5,5 bilhões, uma auditoria do Tribunal de Contas da União apontou problemas ao longo de várias gestões nas áreas de armazenagem e jurídica da estatal. O pente-fino do TCU, feito dois anos e meio depois de Rossi assumir a estatal, indicou problemas na gestão, como contratações irregulares.

O pemedebista, à época, reconheceu os problemas e disse que estava corrigindo as "imperfeições". Na estatal, foi acusado de lotear cargos, o que ele também nega. A Conab tem 21 superintendências estaduais e 96 unidades armazenadoras de grãos. O potencial para influenciar e captar votos nas regiões agrícolas é expressivo e a estatal é estratégica por operar o amplo programa de subsídios financeiros da política agrícola.

No Ministério da Agricultura, a gestão de Rossi ainda é considerada "tímida" por parlamentares e pela Contag. O ministro tem boa aceitação na bancada ruralista, mas divide o agronegócio.

Para o empresário do etanol Maurílio Biagi, Rossi fez um bom trabalho na Pasta. "Se o Wagner continuar, estamos bem servidos. O ministério precisa ser político", disse Biagi, próximo ao deputado federal Antonio Palocci (PT-SP).

Já na análise de outro representante do agronegócio de São Paulo, o cargo pede alguém menos político. "A ligação dele no ministério é política, pelo Michel Temer. Ele é um político profissional. Não é o que a gente gosta. Preferimos pessoas que sejam do setor", afirmou. Na avaliação do empresário que pediu para não ser identificado, Rossi abriu bom diálogo com o segmento, mas não há segurança sobre o comprometimento do ministro com o empresariado. "Ninguém sabe o que ele pensa."

O secretário de Política Agrícola da Contag, Antoninho Rovaris, também diz não saber quais são as propostas de Rossi. "Não conseguimos visualizar uma postura mais concreta do ministro sobre diferentes assuntos. Não temos conhecimento sobre ele. Não sabemos o que pensa sobre o Código Florestal, por exemplo. Stephanes, bem ou mal, se posicionava", comenta. "Tivemos mais conversa com Stephanes. Com Rossi não houve essa possibilidade e só conseguimos conversar com o segundo escalão do ministério", diz Rovaris.

A gestão de Rossi no governo Dilma, no entanto, deve ser diferente. Parlamentares da bancada ruralista veem no próximo governo uma grande possibilidade de aumentar suas conquistas. "Há diferença de quando se é base e quando se é governo. Hoje o PMDB é governo", resumiu o deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), coordenador político da Frente Parlamentar da Agropecuária na Câmara.

Com dois mandatos como deputado estadual e três como federal, Rossi é elogiado por parlamentares por ter um "bom trato" e saber "receber as demandas". Deputados ressaltam que Rossi começou sua trajetória na década de 70, em Ribeirão Preto, como empresário e produtor rural.

Além das atividades políticas, Rossi já lecionou em grandes universidades de São Paulo: USP, Unicamp e a federal de São Carlos. É formado em Direito, em Administração de Empresas, pós-graduado em Economia Política e é PhD em Administração e Economia da Educação. É casado, tem cinco filhos e treze netos.

Fonte:http://www.brasilagro.com.br e Valor